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O que a Navalha de Occan não é...
Enviado: 11 Abr 2006, 13:19
por Res Cogitans
Navalha de Occam: Dadas duas hipóteses que explicam o mesmo fenômeno, escolhe-se a mais simples.
Por que?
-A NO nos diz qual das duas é a correta.
>>Errado. A NO não tem este poder, a utilização desta ferramenta espistemológica não garante que a mais simples seja a correta.
-A NO nos diz qual das duas é a mais coerente.
>>Errado. A coerência de uma hipótese não é avaliada pela NO. Uma hipótese coerente seria a que tem as crenças formando um padrão com sentido, ou seja, as crenças e/ou suas conclusões não se contradizem. Se temos uma hipótese simples contraditória e uma complexa coerente, não tem sentido usar a NO.
Continua.... ou não...
Enviado: 11 Abr 2006, 13:42
por Johnny
Já estão para lançar a G4 e vocês ainda estão no tempo da navalha? Eita retrocesso!
PS: É brincadeirinha viu gente!
Re.: O que a Navalha de Occan não é...
Enviado: 11 Abr 2006, 14:06
por user f.k.a. Cabeção
Formulação atual da Navalha de Ockham:
- Dadas diferentes explicações possíveis para determinado fenômeno, escolhemos a que utiliza-se de menos premissas não-verificadas.
Vejam que a ferramenta só se aplica a explicações possíveis, ou seja, que não incorporem elementos contraditórios com o que foi observado ou contraditórios entre si. Não adianta ser apenas "simples", é importante que se verifique a sua consistência.
Dessa forma, muitas explicações que outrora eram "mais simples" podem vir a ser descartadas futuramente por contradizerem a experiência, ou por não terem resultados igualmente satisfatórios na classificação e previsão de fenômenos. É o caso, por exemplo, da antiga classificação da matéria como tendo partes diferentes de água, fogo, terra e ar, elementos tidos como primitivos. Apesar de ser mais simples do que a tabela periódica de Mendelev, essa teoria não pode ser sugerida pela navalha de Ockham a partir do momento que entram resultados que mostram que a classificação periódica de Mendelev é mais adequada.
A Navalha de Ockham pode ser tida como um princípio fundamental e auto-evidente de pensamento, mas isso não impede que sua utilização tenha algumas justificativas razoáveis.
A justificativa de que a Navalha de Ockham seja uma ferramenta para simplificar as explicações é, no mínimo, imprecisa. Explicações simples e complexas são muito sujeitas a interpretação que cada um faz delas. Na Física clássica, temos a formulação de Newton, com a famosa equação do movimento, e a definição vetorial de força, mas isso não impediu a criação de um formalismo "mais complexo" por Lagrange, onde a força não é definida. A Navalha de Ockham não nos faz optar pelo formalismo Newtoniano, por ser aparentemente mais "simples". Na verdade, é possível provar matematicamente que ambas as formulações são equivalentes, de modo que cada uma tem a sua ocasião de aplicação adequada.
Então, quando se usa a Navalha? Esse princípio é usado quando possuímos explicações diferentes e mutuamente exclusivas para um determinado fenômeno, ou seja, duas teorias explicativas, e quando não podemos aplicar, dadas limitações experimentais, um teste que nos forneça uma resposta precisa sobre qual é verdadeira. Nessas condições, a teoria escolhida é aquela que depende de um menor número de premissas não-verificadas.
O que é uma premissa não-verificada? Nada mais é do que uma assunção da qual depende a consistência da nossa teoria, que não foi ou não pode ser observada na ocasião. Uma premissa não verificada, de acordo com a formulação de Ockham, é um elemento negativo numa teoria, pois uma vez que a veracidade dessa premissa não implique necessariamente na teoria ser válida, sua falsidade faz com que aquela formulação também seja. O que torna as tais premissas pontos de fragilidade no arcabouço teórico construído sobre elas, e portanto, é passível a criação de uma lógica modal na qual essas premissas assumem valores negativos (não farei isso porque dá trabalho e é chato ficar testando consistências).
Nessa lógica, as proposições passam a ter valores gradativos, com pedependência inversamente proporcional ao valor das premissas não verificadas, e dessa forma, a Navalha de Ockham operaria escolhendo as proposições de maior valor epistemológico.
Re.: O que a Navalha de Occan não é...
Enviado: 11 Abr 2006, 15:27
por Res Cogitans
-A NO diz qual é a mais provável das duas hipóteses.
Não é bem isso. Chamemos H1 da hipótese 1 e H2 da hipótese 2 (bem criativo, não?). H1 depende da premissa não justificada P1 e H2 precisa das premissas não justificadas P2 e P3. A maneira de verificar se H1 é mais provável que H2 seria comparar a probabilidade de P1 com o produto das probabilidades de P2 com P3. Dá pra notar que este tipo de raciocínio é inaplicável.
Porém, contudo, todavia sabemos que a ATITUDE de escolher as hipóteses mais simples nos levam a um maior número de hipóteses corretas que a ATITUDE de escolher as hipóteses mais complexas.
Enviado: 11 Abr 2006, 18:14
por Dante, the Wicked
O fato é que esta é uma interpretação errônea da obra de Ockham. O que veio a ser chamado de navalha é o seguinte princípio:
entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem
O que significa: Os seres [ou entidades] não se multiplicam sem necessidade.
Um problema filosófico correnta na idade média era a questão dos universais. Ele pode ser sucintamente explicado assim:
Tem-se as entidades individuais e particulares: Dante, Res Cogitans, Cabeção, meu computador, a calculadora do Cabeção, meu cachorro etc. Tem-se entidades mais gerais: forista do RéV, ser humano, mamífero, aparelho eletrônico etc.
As primeiras certamente existem. Quanto às segundas (chamadas de universais), existiriam ou seriam apenas nomes que damos às coisas que tem propriedades em comum?
Ockham era um partidário da segunda posição: a nominalista.
Enviado: 13 Abr 2006, 11:45
por Dante, the Wicked
Entenderam?
Re.: O que a Navalha de Occan não é...
Enviado: 13 Abr 2006, 11:57
por Res Cogitans
Sim. O princípio da economia encontrado na metologia científica é comumente chamado de Navalha de Occam, da maneira que ele é concebido hoje o nome não faria exatamente juz ao princípio de Occam mas fazer oq...