Religião é Veneno

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Por que cresce o ateísmo?
Jornal "O Lutador"-nº 3545 - 01 a 10 de abril/2006
Dom Aloísio Roque Oppermann scj

Apesar de já ter lido muito, e de ter vasculhado inúmeras obras escritas por ateus militantes, em suas fileiras não me lembro de ter encontrado um autor humilde, desconfiado de suas luzes. Vi muita convicção, às vezes beirando à arrogância, e uma disposição leniente para se abrir à verdade. Tais pessoas abertas à verdade certamente existem, mas até o momento estão fora do meu horizonte de conhecimento. Com certeza, não será o Saramago...

Certa feita me doaram - com a maior boa fé - um livro sobre Jesus Crlsto. Quando me dei ao trabalho de ler o calhamaço (eram mais de 700 páginas), descobri que se tratava de escritor (?) francês, em aberta diatribe contra a pessoa de Jesus. Confesso que os argumentos que o tal filho de Deus apresentou contra o Salvador, eram fraquíssimos. Verdadeira construção sem armação. O argumento mais forte que ele sacou contra Jesus foi o de afrmar que a obra de Cristo era bonita demais para ser verdadeira. Como se perdoar aos inimigos e fazer o bem ao semelhante fosse assim tão fácil.

Quero relatar aos meus amigos um fato simples, mas sintomático. Mostra a militância pouco inteligente, e ao mesmo tempo devastadora, que se levanta contra a fé do nosso povo sobre a existência de um Ser Supremo. Origem dessa pertinaz campanha? O homem moderno considera a Deus como um rival, e não como um amigo, um estimulador de grandes iniciativas. A descoberta da subjetividade nos tempos modernos coloca um falso dilema: ou eu, ou Deus. Se dou espaço à divindade, a minha auto-estima está destruída.

Um adolescente de rua, ao passar em frente à ca­tedral de Uberaba, reconhecendo-me, veio correndo ao meu encontro, e com ar de grande esperteza perguntou-me: “Sr. Bispo, quem é que criou a Deus”? Respondi-lhe que Deus não pode ser criado por ninguém. Se fosse, esse outro que o tivesse feito, seria o verdadeiro Deus. O jovem ficou surpreso com a minha resposta. Na verdade, repugna à mente humana repetir o mesmo esquema ao infinito: um Deus que tivesse sido criado por outro, e este por sua vez teria sido criado por mais um outro, e assim sucessívamente até o infinito. Precisamos reconhecer que algo não teve começo, mas sempre existiu, porque um ser só pode agir depois de já ter existência. A matéria é impossível de ser eterna, porque o universo só pode ter começado de 14 bilhões de anos para cá.
O Ser Supremo é o único que pode ter existido sempre, porque Ele vive (é) fora do tempo. Ele é um perpétuo agora. É o único Ser necessário. Os outros podem existir ou não, O tempo só começou com a criação. Hoje se apresenta corno tese do aparecimento do universo a “grande explosão” - o Big Bang -, da qual se teriam originado todas as realidades do cosmo. Nós podemos aceitar essa explicação evolucionista, contanto que deixemos espaço para a iniciativa poderosa do Criador. A nossa fé aceita a Escritura quando diz: “O Senhor é o formador de todas as coisas.” (Jr 10, 16)

Arcebispo de Uberaba, MG
roqueopp@aol.com

O que você respondeu a ele, Fernando?

Deise Garcia escreveu:Cresce tanto e continua sempre minoria!

Eles alardeiam que o ateísmo está crescendo feito “a coisa” para botar medo nos fiéis, principalmente depois de dizer que ateus são imorais e comedores de carne humana.

O ateísmo está crescendo em todo lugar. Mas não como esses homens de saia afirmam.

Fernando. E não consegui responder pra ele. Você pode passar meu e-mail e reenvio pra ele..

Alenônimo escreveu:

Deise Garcia escreveu:Cresce tanto e continua sempre minoria!

Eles alardeiam que o ateísmo está crescendo feito “a coisa” para botar medo nos fiéis, principalmente depois de dizer que ateus são imorais e comedores de carne humana.

Então eles querem que todos pensem que vocês são os canibais da nova geração?



O ateísmo está crescendo em todo lugar. Mas não como esses homens de saia afirmam.

Ah, tudo cresce ... desemprego, hospitais sem vagas, presídios super-lotados, consumo de drogas ...
Ficaremos estarrecidos quando cair!

Minha resposta segue abaixo, mas não sei se seria bom mandar para ele, já que não terei como manter um debate depois. Daria a impressão de que eu corri da raia.

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Prezado Dom Aloísio,

Li seu artigo "Por que cresce o ateísmo?" em "O Lutador" nº 3545 e gostaria de fazer alguns comentários.

>> Vi muita convicção, às vezes beirando à arrogância, e uma
>> disposição leniente para se abrir à verdade.

Será que uma instituição que proclama que fora dela não há salvação não estaria sendo mais arrogante que pessoas que não vêem motivos para acreditar em deuses? Mas que, nem por isso, descartam a possibilidade de que eles existam?

>> Quando me dei ao trabalho de ler o calhamaço (eram mais de
>> 700 páginas), descobri que se tratava de escritor (?) francês,
>> em aberta diatribe contra a pessoa de Jesus.

Por que a interrogação depois de "escritor"? Seria porque o senhor não gostou do que leu?
Seria esse escritor La Sagesse? Confesso que também não gosto do estilo dele, mas, quanto aos argumentos, o senhor só apontou um, realmente tolo, portanto não tenho como julgá-los. Entretanto, o fato de ter escolhido justamente esse me fez lembrar do trecho abaixo, que escrevi tendo em mente os pregadores evangélicos:

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Para explicar as contradições bíblicas, os líderes evangélicos costumam apelar para recursos que vão do idiota ao desonesto:
-Listam um monte de pequenas divergências entre textos, facilmente
explicáveis, dando a seus seguidores a impressão de que os ateus e
céticos estão fazendo muito barulho por nada e que não há motivos
para preocupação. As verdadeiras contradições são deixadas de fora.
-Inventam possibilidades que, emboram não sejam absurdas, não
estão mencionadas em lugar nenhum. Como a Bíblia, para eles, é
inerrante, qualquer explicação é mais aceitável que questioná-la.
E argumentam que, se existe a tal possibilidade, então a
contradição está explicada satisfatoriamente. Ponto final.
-Apelam para os velhos argumentos do contexto, da interpretação
literal versus figurada ou, em desespero de causa, de que não cabe
a nós questionar o que não podemos entender.
-Fingem que não viram e torcem para que ninguém veja e faça
perguntas.
-Mentem e distorcem, sabendo de antemão que poucos lêem a Bíblia e
não se darão ao trabalho de conferir, confiando cegamente em seus
pastores.
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>> O homem moderno considera a Deus como um rival, e não como
>> um amigo, um estimulador de grandes iniciativas. A descoberta
>> da subjetividade nos tempos modernos coloca um falso
>> dilema: ou eu, ou Deus. Se dou espaço à divindade, a minha
>> auto-estima está destruída.

Será realmente assim que pensam os ateus? Onde está a maior auto-estima: em se achar uma criatura especial de um deus todo poderoso, destinada a uma vida eterna, ou em se ver apenas como uma criatura efêmera, sem objetivo, sem propósito (nas palavras do Pe.Vieira, "pó que se agita por um tempo, arrastado pelo vento, e depois volta ao chão") ?

Que "amigo" é esse que precisa decretar, como primeiro mandamento, que temos que amá-lo?
Amor não se exige, se conquista. Com suas ameaças ("Ou me ama ou queimará no inferno para sempre"), esse tal de Deus merece, no máximo, nosso temor.

>> Respondi-lhe que Deus não pode ser criado por ninguém. Se
>> fosse, esse outro que o tivesse feito, seria o verdadeiro
>> Deus. [...] Precisamos reconhecer que algo não teve começo,
>> mas sempre existiu, porque um ser só pode agir depois de já
>> ter existência.

Por que "precisamos"? Por que tudo tem que ter sido criado por alguém, mas Deus não precisa? Por que a regra não se aplica a Deus? Por decreto? Se temos que parar em algum lugar, por que não supor que o universo sempre terá existido? Pelo menos o universo está aí, à vista. Existe.

>> A matéria é impossível de ser eterna, porque o universo só
>> pode ter começado de 14 bilhões de anos para cá.

Mais imposições. A ciência não diz que o universo só pode ter começado há 14 bilhões de anos. O que ela diz é que o universo que conhecemos surgiu de uma grande explosão há 14 bilhões de anos. O que havia antes? Não sabemos. Admitir nossa própria ignorância é mais sensato que inventar um deus para explicar o que não sabemos. E talvez nunca venhamos a saber.

A discussão não termina em "Não sabemos, portanto foi Deus". Termina em: "Não sabemos".

>> O Ser Supremo é o único que pode ter existido sempre,
>> porque Ele vive (é) fora do tempo.
>> Ele é um perpétuo agora. É o único Ser necessário.

Bela teoria, mas apenas uma teoria. Sem comprovação, nunca passará de teoria, por mais bela que seja.

>> Nós podemos aceitar essa explicação evolucionista, contanto
>> que deixemos espaço para a iniciativa pode­rosa do Criador.
>> A nossa fé aceita a Escritura quando diz: “O Senhor é o
>> formador de todas as coisas.” (Jr 10, 16)

Esta não seria uma afirmativa arrogante e impositiva? Suponho que o senhor tivesse apenas católicos em mente quando escreveu seu artigo, mas citar um livro sagrado (um entre tantos...) não serve como argumento se o senhor quiser atingir um público mais amplo.

Finalizando, convido-o a dar uma olhada na seção de artigos do site http://www.ateusdobrasil.com.br.

Talvez encontre lá argumentos menos "fraquinhos".

Atenciosamente,
Fernando Silva

pow.. pena que nao teja dando pra mandar essa resposta
eh algo bem à altura

Ainda bem que somos minoria, e espero que continue assim.