Capitalismo desenfreado.

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spink
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Capitalismo desenfreado.

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http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/ ... 2u121.jhtm


18/04/2006
"O capitalismo desenfreado causará problemas bastante reais", diz economista de Harvard

Frank Hornig

O economista da Universidade Harvard Kenneth Rogoff discute os perigos do capitalismo desenfreado, a ganância de presidentes de corporações e um problema fundamental com a economia dos Estados Unidos.

Spiegel - Professor Rogoff, a economia dos Estados Unidos está se expandindo, enquanto o presidente Bush comemora altos índices de crescimento. Mas a maioria dos norte-americanos acredita que ainda está enfrentando uma recessão. Quem está certo?

Rogoff - Eu também questionei se o povo está ficando maluco. Mas o fato é que a parcela correspondente aos salários no crescimento econômico total está encolhendo.

Spiegel - Em outras palavras, a maior parte da população não tem se beneficiado da recuperação e está justificadamente desapontada?

Rogoff - A parcela da renda nacional relativa aos trabalhadores permaneceu constante por cem anos. É por isso que a teoria de Marx segundo a qual somente os capitalistas se beneficiam do capitalismo e os trabalhadores são explorados estava completamente errada. Nada poderia estar mais longe da verdade. Os trabalhadores ganharam mais à medida que as economias cresceram.

Spiegel - E isso não é mais verdade?

Rogoff Houve um notável declínio no fator trabalho em todos os países ricos nos últimos 20 anos. Os ricos estão ficando mais ricos, mas aqueles que estão na extremidade mais pobre da sociedade não estão progredindo tão rapidamente quanto os capitalistas.

Spiegel - Então, no final das contas, Marx estava certo?

Rogoff - Ainda estamos muito distantes de tal cenário. Os trabalhadores não estão sendo explorados. Mas se a parcela do crescimento econômico desfrutada por eles não aumentar, isso poderá se transformar em uma causa potencial de tensão social em todo o mundo. A questão é que, até o momento, as tentativas de reverter essa tendência nos Estados Unidos fracassaram. Os funcionários da Boeing conseguiram pouquíssimas concessões ao fazerem greve no outono passado. Agora esses funcionários estão em uma posição mais frágil --tanto na aviação quanto em outras indústrias.

Spiegel - Enquanto isso, os presidentes de corporações e os banqueiros de Wall Street estão faturando lucros recordes.

Rogoff - Nunca houve um momento melhor para se ficar rico. É surpreendente constatar quanto dinheiro as pessoas são capazes de ganhar com os fundos hedge e o setor de equities privadas, e como as famílias afluentes estão bem de vida. Tendo em vista essas contradições, não é de se surpreender que os norte-americanos médios vejam a economia de uma forma diferente daquela como a percebem George W. Bush e os seus amigos. Estes podem manipular as estatísticas o quanto quiserem, mas está claro que o que estamos presenciando é uma distribuição injusta de riqueza.

Spiegel - Isso não parece incomodar ninguém, contanto que o sonho de passar de lavador de pratos a milionário ainda existir.

Rogoff - Eu digo aos meus filhos que um homem como Bill Gates tem uma fortuna pessoal de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 213 bilhões). Eles não conseguem sequer compreender tal coisa. A seguir eu explico que ele tem mais dinheiro do que alguns países. Se possuímos tais extremos em nossa sociedade, não posso entender por que deveríamos abolir o imposto sobre heranças. Isto não prejudicou a economia, e compensou o desequilíbrio na distribuição de renda ao longo de gerações.

Spiegel - As reduções de impostos de bilhões de dólares para os super-ricos -- como ocorre no caso da eliminação do imposto sobre heranças-- teriam como objetivo gerar crescimento para todos. Os conservadores gostam de dizer que uma enchente da maré ergue todos os barcos.

Rogoff - O desastre de Nova Orleans deixou dolorosamente claro o que acontece com as pessoas que estão na pobreza profunda: elas sequer possuem um barco. Mais reduções de impostos é a abordagem errada, enquanto não tivermos sequer um plano de saúde universal para as crianças. Para mim isso é ultrajante.

Spiegel - Essas injustiças seriam o preço pago pelo baixo desemprego e o crescimento econômico vigoroso nos Estados Unidos?

Rogoff - O capitalismo desenfreado nos Estados Unidos não pode ser sustentado socialmente. Ele gera tensões. Se passarmos por mais cinco anos como os cinco últimos, começaremos a presenciar uma maior fricção social. Afinal, as pessoas não estão observando o seu próprio desempenho, mas o desempenho dos seus vizinhos, e o seu lugar na sociedade. Essas enormes desigualdades não são uma característica particularmente desejável.

Spiegel - Os presidentes das corporações ocidentais são conduzidos pela globalização, ou eles usam a situação em proveito próprio?

Rogoff - Nós reagimos às forças do mercado e tentamos proteger os empregos --e esta a imagem que vários gerentes fazem de si próprios. Não fazem idéia do quanto as pessoas estão furiosas com eles. Vejam os casos de aquisições industriais nos quais os presidentes demitidos recebem indenizações de US$ 50 milhões (cerca de R$ 106 milhões), e 5.000 trabalhadores ficam de mãos abanando. Este tipo de coisa acontece a toda hora. Por um lado, isso mostra que temos um sistema econômico flexível e que permitimos as mudanças. Por outro, é uma ingenuidade completa achar que isso não cria tensões.

Spiegel - Mas as companhias e países que se opõem à globalização não acabam se prejudicando?

Rogoff - Não existem respostas simples. Por exemplo, é claro que seria uma atitude suicida nacionalizar as nossas indústrias. Mas aqueles que afirmam que a economia está crescendo e tudo está muito bem estão simplesmente se recusando a reconhecer a existência dessas fissuras no sistema. E por falar nisso, tal lacuna é muito maior na China. Ao longo da costa chinesa, prevalece o século 21, mas se você viajar ao interior do país, onde vivem dois terços dos chineses, experimentará o século 18. Essas são desigualdades incompreensíveis. Eles possuem uma forma extremamente tosca de capitalismo.

Spiegel - Segundo o economista inglês do século 19, David Ricardo, o livre comércio é bom para todos. De acordo com a teoria dele, as nações ricas industrializadas simplesmente teriam que se concentrar mais em se tornarem ainda mais tecnologicamente avançadas para compensar as suas perdas com a transferência de certas indústrias para países de mão-de-obra barata.

Rogoff - Ricardo nunca esteve certo. É claro que há mais vencedores do que perdedores, e os lucros dos vencedores excedem o sofrimento dos perdedores. Mas a afirmação de que todos se beneficiam simultaneamente com o livre comércio é simplesmente incorreta.

Spiegel - Protecionismo...

Rogoff - ...não é uma solução. Não podemos reverter o movimento do relógio. Mas o capitalismo desenfreado causará problemas bastante reais. Veremos que a desregulamentação cada vez maior perderá o apoio político da população no longo prazo.

Spiegel - Se indústrias inteiras são transferidas para o Extremo Oriente, como é que novos empregos podem ser criados no Ocidente?

Rogoff - As nossas indústrias de alta tecnologia estão obtendo lucros tremendos, mas para metalúrgicos de 50 anos de idade ou indivíduos que trabalham na indústria da aviação é difícil, o mesmo impossível, uma melhora de suas situações. O problema --pelo menos nos Estados Unidos-- não é que as pessoas não conseguem obter empregos. O problema é que essas pessoas não estão mais encontrando empregos que proporcionem a elas dignidade e um status social decente. Esta tremenda pressão descendente para a obtenção de trabalhadores sem qualificação já ocorre há muito tempo. Mas agora a transferência das indústrias para outros países está também começando a afetar pessoas em empregos de qualificação média ou elevada --aquelas que se sentiam seguras nos seus empregos.

Spiegel - Você está dizendo que nem mesmo uma educação de primeira classe é capaz de proteger uma pessoa da concorrência dos chineses?

Rogoff - Você sabe, quando eu era jovem, fui jogador profissional de xadrez. Naquela época, o melhor jogador em Nova York era capaz de ganhar a vida de forma bem razoável. Mas agora os indianos e os chineses se tornaram brilhantes jogadores profissionais de xadrez. Eles embarcam em um avião e jogam no mundo todo. Isso gerou uma pressão dramática sobre o rendimento dos enxadristas. Hoje em dia, o melhor enxadrista na Argentina não é mais capaz de ganhar a vida jogando xadrez.

Spiegel - Qual é o lugar da Alemanha no mundo globalizado?

Rogoff - Mesmo se a economia de vocês crescer um pouco neste ano, a tendência é de queda. Vocês necessitam de reformas no mercado de trabalho, no sistema tributário, na área de governança corporativa e no setor de educação. O seu sistema escolar é muito bom quando comparado com o dos Estados Unidos, mas as suas universidades não são competitivas.

Spiegel - Então você já descartou uma das maiores economias do mundo?

Rogoff - Por favor, não me entenda mal. Se Berlim finalmente promovesse algumas reformas decisivas, o seu país poderia superar os Estados Unidos em crescimento por 20 anos. A Alemanha possui uma riqueza incrível --com a sua cultura, educação e população altamente qualificada. O país só precisaria flexionar um pouco os seus músculos para obter índices de crescimento da ordem de quatro ou cinco por cento nos próximos anos, e transformar-se em um milagre econômico, como fez nas décadas de 1950 e 1960. Mas isso não acontecerá enquanto vocês estiverem neste estado de paralisia política.
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Johnny
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Mensagem por Johnny »

Bem vindos ao Brazil!
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Claudio Loredo
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Re.: Capitalismo desenfreado.

Mensagem por Claudio Loredo »



O comunismo é injusto porque iguala os desiguais. Já o capitalismo selvagem também é injusto porque desiguala demais as pessoas. Por isso, o ideal é não termos nem um extremo e nem outro.


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Johnny
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Re.: Capitalismo desenfreado.

Mensagem por Johnny »

O ideal é sermos independentes financeiramente e o resto que se foda!
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