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efeito gaveta (file-drawer effect)

Enviado: 10 Nov 2005, 15:03
por al
efeito gaveta (file-drawer effect)
Efeito gaveta é a prática em que pesquisadores incorrem quando engavetam estudos que apresentam resultados negativos. Resultado negativo não é quando se descobre que algo nos afeta negativamente, e sim quando não se encontra nada estatisticamente significativo, ou que tenha conseqüência causal. Pode também se referir à descoberta de algo que seja contrário a pesquisas prévias, ou ao que era esperado.

A prática de se relatar e publicar somente pesquisas com resultados positivos cria uma falsa representação do assunto sob investigação, especialmente se for feita uma meta-análise.

Uma das críticas que têm sido feitas à parapsicologia é de que seus pesquisadores ignoram estudos com resultados negativos. Em 1975, a American Parapsychological Association estabeleceu uma política oficial contra o relato seletivo de resultados exclusivamente positivos.

Foram feitas muito poucas pesquisas sobre o volume da prática de se engavetar estudos com resultados negativos por parte de pesquisadores científicos. Brian Martinson, investigador da HealthPartners Research Foundation, conduziu um estudo para a revista científica Nature (publicado em junho de 2005). Martinson e colegas enviaram uma enquete a milhares de cientistas e receberam 3.274 respostas. Foi permitido aos respondentes que permanecessem anônimos. Mais de 5 % dos cientistas que responderam admitiram ter "descartado dados porque a informação contradizia suas pesquisas anteriores", e mais de 15 % admitiram ter ignorado observações por "terem tido a sensação" de que eram incorretas. * O estudo foi patrocinado pelo National Institutes of Health.

leitura adicional

Filed under F (for forgotten) de Dan Vergano, 16 de maio de 2001
Stenger, Victor J. (2002). "Meta-Analysis and the File-Drawer Effect." Skeptical Briefs.
Scientists who do not publish trial results are "unethical" de Gavin Yamey, BMJ
Bias against negative studies in newspaper reports of medical research de G. Koren e N. Klein

©copyright 2005
Robert Todd Carroll
traduzido por
Ronaldo Cordeiro
Última atualização: 2005-11-05

Re.: efeito gaveta (file-drawer effect)

Enviado: 11 Nov 2005, 18:09
por Zangari
Além da política adotada publicamente pela Parapsychological Association, há vários estudos de avaliação da possibilidade de interpretação pelo "file-drawer effect" dos dados obtidos em experimentos parapsicológicos, demonstrando que para que os dados obtidos nesses estudos se tornassem dentro do esperado pelo acaso, seriam necessários mais estudos na média ou abaixo dela do que a possibilidade (de tempo em termos da quantidade de pesquisadores da área) permitiria! Em um dos estudos, Honorton chegou a essa conclusão e foi seguido, curiosamente, pela conhecida cética de psi, Susan Blackmore:

The first is Honorton's meta-analysis of early ganzfeld experiments, covering 1974-1982. Although he restricted himself to 28 out of the then available 42 experiments, he did so because those 28 used the same scoring system. The results gave a 38% hit rate. He estimated that there needed to be 423 other studies scoring at chance to reduce this result to non-significance. In other words: "one psi ganzfeld session per hour for over 6 years, assuming 40-hour weeks and no vacations!" (Honorton, "Meta-analysis of psi ganzfeld research: a response to Hyman", Journal of Parapsychology 49, 1985). Blackmore investigated the extent of unpublished studies, and in a survey she found that the 31 unpublished studies she found were not less successful than the published ones, and Hyman agreed that this "file-drawer" problem could not account for the results.

Fonte:
SkepticlReport.com
A History of Psi in the Ganzfeld
Part 1
http://skepticreport.com/psychics/ganzfeld1.htm

Re.: efeito gaveta (file-drawer effect)

Enviado: 11 Nov 2005, 18:11
por Aurelio Moraes
Ceticismo e Parapsicologia

Weber Dalla Vecchia
Inter Psi / CENEP / COS / PUC-SP
weberdv@uol.com.br

Muito longe de esgotar o tema, o pretendido neste artigo é abordar alguns aspectos relacionados às controvérsias suscitadas pela alegação da existência de uma classe de fenômenos - os ditos parapsicológicos ou psi - que escapam aos paradigmas científicos atuais, e que, por isto mesmo, são chamados de anômalos.

O modo de pensar crítico deveria ser aplicado para qualquer alegação. O cientista tem mesmo de ser cético, pois se qualquer alegação fosse aceita sem critérios, a ciência perderia muito em eficácia, e, conseqüentemente, em credibilidade. O ceticismo força o uso de métodos experimentais apurados, e portanto a utilização e produção de medidas mais corretas e de idéias mais elaboradas e consistentes. Um pouco de senso crítico aplicado em muitas alegações New Age, revela porque muitos têm dúvidas sobre a realidade dos fenômenos parapsicológicos. Há mesmo muita confusão com argumentos usados por entusiastas não críticos da existência de psi.

Algumas análises críticas de pesquisas parapsicológicas foram muito construtivas. Os antigos experimentos de telepatia originaram as atuais técnicas de Ganzfeld, que continuam sendo aperfeiçoadas; e os experimentos com dados cederam lugar aos Geradores de Números Aleatórios (RNG); apenas para citar dois exemplos.

O ceticismo exacerbado, porém, também é um problema, pois é preconceituoso e não aplica a crítica em suas afirmações. Muitos argumentos estereotipados e simplistas são usados para negar psi. Contudo, os mesmos ficam bem enfraquecidos após uma análise mais apurada.

Os fenômenos parapsicológicos são tachados de crenças populares ilógicas e primitivas, e a pesquisa dos mesmos é menosprezada como ocultismo em roupagem pseudocientífica, sendo acusada de possuir apenas uma fachada de metodologia científica.

As críticas à pesquisa psi, de que é uma pseudociência, têm dificultado muito seu desenvolvimento, gerando falta de interesse e preconceito de cientistas sérios, o que acarreta falta de verbas e escassez de programas.

Ironicamente, os mesmos céticos que tentam bloquear a pesquisa psi através de argumentos retóricos de que é ridícula, também são os responsáveis por perpetuar os muitos mitos populares associados aos fenômenos psi. Muitos cientistas sérios, temendo por suas reputações, têm prevenção em investigar as alegações psi, e os céticos extremos são especializados em criticismo, e não conduzem pesquisas. Como os crentes extremos não estão interessados em conduzir estudos científicos rigorosos, poucos sobram, então, para conduzir as investigações.

Um exemplo de atitude inflexível contra a pesquisa dos fenômenos psi, é a adotada pelo grupo americano CSICOP (Comitê Para Investigação Científica de Alegações de Paranormalidade), que reúne cientistas e outras pessoas, cujos propósitos originais, eram examinar objetivamente os indícios de fenômenos paranormais. Seu periódico, o "Skeptical Inquirer", tem artigos que mesclam pesquisa parapsicológica com assuntos como tarô, astrologia, abominável homem das neves, vampiros, OVNIs, bruxaria, poder das pirâmides; o que contribui para a impressão de que este não é um ramo de pesquisa que é conduzido muito seriamente.

Uma crítica freqüentemente aduzida para explicar os resultados da pesquisa psi, é que os resultados positivos foram obtidos devido a fraudes. Ora, este ramo da ciência, assim como todos os outros, não está imune à ocorrência de certos atos desonestos. Comparando a parapsicologia com a psicologia, contudo, pode-se dizer que há um modo diferenciado de reação frente às fraudes. Na pesquisa psi, quando identificado um caso, os próprios parapsicólogos o divulgam no intento de mostrar a seriedade do seu campo de estudo, uma vez que já sofre preconceito por parte de outros cientistas. Também são grandes os esforços no sentido de reproduzir os resultados experimentais, o que pode auxiliar na identificação de práticas fraudulentas. Na psicologia, o interesse na reprodução dos experimentos é bem menor, sendo que, se os dados são teorica e intuitivamente plausíveis, normalmente não há a preocupação em se fazer simples duplicações.

Outros ataques visam uma suposta incompetência dos pesquisadores psi em conduzir experimentos bem feitos, dizendo que os resultados favoráveis se devem a falhas metodológicas, relatórios seletivos e tratamentos estatísticos deficientes. Tais argumentos têm sido refutados já há muito. Pesquisa realizada por especialistas em metodologia científica da Universidade de Harvard, apontou que a investigação experimental psi tem sido conduzida segundo padrões científicos apropriados, não raro se mantendo fiel a protocolos mais rigorosos que os encontrados atualmente nas pesquisas físicas e sociais.

Alguns céticos chegam a dizer até, que quando houver o "experimento perfeito", o fenômeno psi desaparecerá, não levando em conta o fato de que eles têm sido convidados a participar de muitos experimentos, tanto no planejamento, como condução e análise de resultados. Por que não sugeririam o "perfeito experimento" e não o realizariam ou dele participariam, os auto intitulados céticos? Deveriam, pelo menos, especificar as condições sob as quais a pesquisa poderia refutar as críticas.

"As Leis da Natureza seriam violadas por psi", é outro argumento brandido pelos céticos. Contra o mesmo, basta lembrar que as "leis da natureza" não são fixas, e sim idéias bem estabelecidas sempre sujeitas a expansão e refinamento, de acordo com evidências provenientes de novas observações.

Outras críticas dizem que não há teorias de psi. Isto não é verdade; há, sim, muitas teorias que tentam explicar psi, o que não quer dizer que elas o façam satisfatoriamente de modo global. Porém, a falta de teorias completas eficazes sobre psi, não implica que esses fenômenos não existam. Aliás, a maioria dos parapsicólogos não alegam entender o que psi é. Eles projetam experimentos tentando obter efeitos semelhantes aos expontâneos.

Infelizmente, não há uma regularidade das críticas às diferentes disciplinas. Aquelas bem aceitas pela maioria dos integrantes da comunidade científica, são tratadas mais benevolentemente pelos céticos. Por exemplo, os céticos não questionam a psicologia, mesmo que esta ainda não consiga explicar bem processos elementares como a consciência.

Também é inválido como crítica enfocar o fato de que muitos fenômenos que antes pensávamos ser paranormais terem hoje explicações normais. Ora, este é o objetivo da ciência: a explicação do mundo a nossa volta; sendo que ela deve tentar entender também aqueles fenômenos que em determinada ocasião configurem anomalias.

A suposta falta de replicabilidade dos experimentos é muitas vezes apontada nas críticas. Ao contrário de muitos experimentos em física e química onde poucas variáveis significativas estão envolvidas e podem facilmente ser feitos por qualquer pessoa, os fenômenos psi, assim como os sociais e psicológicos, envolvem mutíssimas e complexas variáveis muito difíceis ou impossíveis de serem diretamente controladas. No caso de psi, são usados argumentos estatísticos para demonstrar a "replicabilidade". O fato de não se conseguir provocar um fenômeno no momento desejado, não quer dizer que o mesmo não exista. Para avaliar a replicabilidade em psi, usa-se uma técnica que é muito aplicada em ciências médicas, comportamentais e sociais para integrar os dados de numerosos resultados independentes. É a chamada meta-análise. A mesma, em psi, tem mostrado que os resultados esperados pelo acaso são grandemente superados.

A própria meta-análise tem sido objeto de críticas na pesquisa psi, porém. em muitas delas os resultados criticados foram removidos, e as freqüências continuaram as mesmas.

Outra crítica que se faz, é que enquanto outras ciências vão se construindo sobre seus dados prévios, na parapsicologia a base de dados é quase sempre descartada. O que não é verdade. Os experimentos se sofisticam, o que não quer dizer que os resultados anteriormente obtidos percam valor.

Uma outra tentativa de desvalorizar as evidências, é falar que os efeitos psi são muito fracos e desinteressantes. Certamente essa é uma avaliação que carrega grande subjetividade. Todavia, serem "fracos e desinteressantes" não significa que não existam. A hoje tão útil e comum eletricidade, cento e cinqüenta anos atrás não servia para nada.

Embora os céticos freqüentemente falem das hipóteses alternativas plausíveis, eles quase nunca testam suas idéias.

De qualquer forma, durante muitas décadas, a afirmação padrão cética foi que psi era impossível porque violava algumas mal especificadas leis físicas, ou porque o efeito não era repetível. Também era fácil de alegar que qualquer experimento bem sucedido era devido ao acaso ou fraude. Atualmente, muitos céticos bem informados sabem que os resultados são bem maiores que o esperado pelo acaso. O foco mudou da existência de efeitos interessantes para suas apropriadas interpretações. Muitos céticos, agora, admitem que os experimentos psi demonstram algo, mas não admitem a possibilidade de psi.

A ciência, sendo uma construção do ser humano, tem seus substratos psicológicos e sociológicos. A retórica ofensiva e os ataques pessoais são freqüentes nas discussões sobre psi, e o próprio modo como a ciência trata as anomalias em geral, serve para mostrar o lado humano do funcionamento da mesma.

A despeito dos parapsicólogos deplorarem esses artifícios de retórica, assim é que uma controvérsia científica é disputada. Não é tanto a lógica do caso que determina o desfecho, mas sim a habilidade retórica dos que advogam para cada um dos lados.

Se de um modo algumas análises céticas de pesquisas parapsicológicas demonstraram-se muito construtivas, de outro, as reações do establishment científico à parapsicologia tendem a ir mais além, ao se utilizar de críticas para mantê-la com o status marginal e negar a ela os privilégios de uma disciplina científica. Certas atitudes céticas criam e mantém um limite cultural entre a parapsicologia e o restante das ciências.

A ciência, de uma forma geral, teria a ganhar se o ardor missionário de muitos céticos fosse exercido mais construtivamente, com mais propostas e trabalho, além das críticas.
Referências

FREIRE-MAIA, N. (1991). A Ciência Por Dentro. Petrópolis : Editora Vozes
IRWIN, H. J. (1994). An Introduction to Parapsycology. Jefferson: McFarland
RADIN, D.I. (1997). The Conscious Universe. San Francisco : Harper Edge

http://www.pesquisapsi.com/arquivos/bol-1.html#mat4