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Geopolítica e oração.

Enviado: 20 Abr 2006, 05:18
por spink
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20/04/2006
O que os muçulmanos ouvem nas orações de sexta-feira

Daniel Steinvorth e Bernhard Zand

Há realmente um choque de culturas entre o Islã e o Ocidente? SPIEGEL documenta os sermões de sexta-feira em mesquitas ao redor do mundo. Enquanto os imãs guiam suas congregações, eles louvam os prazeres do paraíso, semeiam as sementes da dúvida na autoridade do governo... e às vezes pregam o ódio.

Na última segunda-feira, o dia 12 de Rabi al-Awal de 1427, o tráfego parou na maioria dos países islâmicos, foi feriado para os funcionários públicos e nas escolas. No dia 12 de Rabi os muçulmanos do mundo comemoram o nascimento do Profeta Maomé.

Os egípcios comemoram o Maulid al-Nabi, uma espécie de Natal islâmico. Em cidades por todo o delta do Nilo, milhares tomam as ruas tocando tambores e trombetas. As meninas pequenas ganham bonecas e os meninos ganham cavalos feitos de açúcar. É o maior festival religioso do Egito.

No Paquistão, os fiéis colocam um menino, vestido de beduíno, em um cavalo e desfilam com ele pelas ruas, representando a volta do Profeta na forma de uma criança -aparentemente sem violar a proibição de representações do Profeta que o mundo muçulmano costuma defender tão veementemente. Mas neste ano a volta de Maomé terminou em um banho de sangue, quando um homem-bomba explodiu a si mesmo e 57 outras pessoas durante as orações na cidade de Karachi, no sul do Paquistão.

O Islã tem muitas faces e na sexta-feira, antes do aniversário do Profeta, os correspondentes da SPIEGEL visitaram mesquitas da Nigéria até a Indonésia para ouvir os sermões dos imãs. Eles estavam lá, em parte, para investigar uma suspeita que tem crescido no Ocidente, especialmente desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Será que as mesquitas se transformaram de local de oração para um ninho de extremismo e centro de doutrinação islamita? Há realmente um perigoso choque de culturas em andamento, como muitas pessoas temem na Europa e nos Estados Unidos?

Pregadores radicais têm contribuído ativamente para esta impressão. Em uma mesquita em Berlim, uma equipe de televisão gravou secretamente o sermão de um imã turco que descreveu os alemães como ímpios e reclamava de seu suposto mau cheiro. Em Londres, o pregador de ódio Abu Hamza Al Masri convocou os fiéis a matarem turistas do sexo feminino no Egito, dizendo: "Se uma mulher, mesmo uma mulher muçulmana, está nua e você não tem como cobri-la, é legítimo matá-la".

Outros agentes do Alcorão falam moderadamente quando se dirigem a platéias ocidentais, mas suas palavras se tornam decididamente mais radicais quando se dirigem a muçulmanos. Em uma entrevista para a SPIEGEL, o imã de televisão Yusuf Al Qaradawi, talvez atualmente um dos eruditos islâmicos mais influentes do mundo, reconheceu de forma magnânima que há espaço no céu para cristãos e judeus devotos. Mas em seu site em língua árabe, pouco tempo depois, ele deixou claro que acredita que cristãos e judeus não são nada mais que infiéis.

Geopolítica e oração

Mas certamente tais exemplos de mentalidade estreita podem ser encontrados em qualquer grande religião ou credo. Tais palavras de ódio e discriminação são realmente representativas das milhares e milhares de orações de sexta-feira que milhões de muçulmanos ao redor do mundo atendem semanalmente? E quanto aos que ocasionalmente dormem demais e perdem as orações matinais ou aqueles cujas vidas não giram exclusivamente em torno de sua religião? As respostas a estas questões variam muito, mas falando de forma geral os muçulmanos mais devotos se vêem ameaçados pelo Ocidente secular, com os imãs mais zelosos da região convocando os fiéis a lutarem em nome de Alá.


Al Azhar, Cairo
A mesquita e universidade foi estabelecidas há mais de mil anos pelo comandante fatimida Gauhar Al Sikilli e é considerada o centro mais importante de aprendizado no Islã sunita até hoje. O pregador de sexta-feira, o dr. Id Abd Al Hamid Yussuf, 65 anos, é completamente contrário ao uso do Islã para fins políticos. O Profeta perdoava aqueles que cometiam injustiças contra ele. Ele perdoou o assassino de seu tio, Hamsa. Ele perdoou seu povo quando o baniu de Meca (...) o Islã se espalhou pelo mundo por meio do argumento e convicção, mas não por meio da espada, como os inimigos do Islã têm alegado. O Islã só usou a espada quando foi atacado (...) O Profeta proibia o extremismo e o fanatismo. Ele disse: "Eu fui enviado a vocês por generosidade de Deus. A noite se tornou dia. Qualquer um que se desviar deste caminho cairá vítima da ruína". Para alguns, a religião é como um labirinto. Entre com cautela, porque aquele que abordar a religião como um extremista perecerá em seu extremismo.
Enquanto os imãs em locais como Istambul e Jacarta tendiam a dedicar seus sermões à exegese teológica, as orações de sexta-feira no Paquistão, Irã e Faixa de Gaza eram marcadamente mais políticas. Neste locais, eruditos religiosos incitavam seus ouvintes a um frenesi sagrado e traçavam uma linha clara entre a Dar al-Islam, ou Casa do Islã, e a Dar al-Harb, ou Casa da Guerra -as duas esferas nas quais as escolas de pensamento islâmicas dividiram o mundo.

Mas ao mesmo tempo, freqüentemente no mesmo sermão, os imãs pedem a Deus ajuda para enfrentar seus apuros cotidianos, emitem apelos morais aos seus próprios líderes políticos e constantemente retornam ao maior lamento do mundo islâmico: uma comparação entre o presente sombrio e o passado glorioso.

As notícias da sexta-feira anterior continham todos os ingredientes chaves de um sermão político dramático. O exército israelense tinha acabado de lançar um ataque contra dois escritórios das Brigadas de Al Aksa na Faixa de Gaza, e tanto os Estados Unidos quanto a União Européia tinham anunciado sua intenção de suspender a ajuda financeira ao governo palestino liderado pelo Hamas. Dez pessoas foram mortas naquela quinta-feira quando uma bomba explodiu na cidade iraquiana de Najaf, e outras 70 morreram em Bagdá enquanto deixavam a mesquita após as orações de sexta-feira. As autoridades do governo em Washington também deixaram claro que eram contrárias às ambições do primeiro-ministro iraquiano, Ibrahim al-Jaafari, de permanecer no cargo.

A disputa nuclear entre o Irã e o Ocidente teve nova escalada quando os líderes religiosos iranianos condenaram como inaceitável as exigências da Organização das Nações Unidas de que o país encerrasse seu programa de enriquecimento de urânio. Naquele fim de semana, a revista "The New Yorker" revelou que a Casa Branca estava desenvolvendo planos para um ataque militar contra as instalações nucleares do Irã. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad prontamente respondeu anunciando que sua teocracia tinha tido sucesso no enriquecimento de urânio e que agora se considerava membro do clube nuclear mundial. Mas Didin Hafiduddin, o imã da Mesquita de Istiqlal, em Jacarta, capital da Indonésia, não fez menção da precária situação geopolítica em seu sermão, dado em uma das maiores casas de oração do mundo.

Intitulado "Profissionalismo e Administração Honesta", ele soava mais como uma apresentação do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, do que uma feroz retórica religiosa. Hafiduddin falou aos fiéis do país islâmico mais populoso sobre José, o Israelita, o homem encarregado de administrar a economia do faraó egípcio. Ele traçou paralelos entre a história -que também é mencionada na Bíblia- e a luta da Indonésia moderna contra a corrupção.

"Pode me confiar os tesouros da terra e você verá que saberei guardá-los", José orienta o faraó na sura do Alcorão que leva seu nome. Ninguém foi um administrador mais eficiente do que José, pelo menos segundo o imã de Jacarta. Os líderes de hoje deviam seguir o exemplo de José, ele disse, acrescentando que "corrupção, preguiça e fraude provocam a destruição". Por outro lado, disse o imã indonésio, Deus recompensa o profissionalismo e uma "ética rígida de trabalho" com felicidade e satisfação.

Governos criticados

O apelo moral para a própria liderança política é um tema freqüente nos sermões dos pregadores muçulmanos -mas também uma resposta natural às condições autocráticas rígidas em muitos países islâmicos. Era quase uma atenuação quando o xeque Ibrahim Abu Bakr Ramadan, um imã na cidade nigeriana de Kano, disse que a "injustiça que emana de nossa liderança é a pior parte de nossa sociedade", em referência aos esforços do presidente Olusegun Obasanjo de fazer emenda à Constituição para que possa ser reeleito após o término de seu atual mandato, em 2007.

Em Peshawar, Paquistão, Maulana Khalil Ahmad comparou as religiões monoteístas do mundo e -talvez sem causar surpresa- elogiou o Islã como sendo a mais completa delas: "As contradições predominam, especialmente no cristianismo e no judaísmo, assim como no comunismo". Mas isto foi brando em comparação aos sermões que outro imã local, Abd al-Akbar Chitrali, fez no mesmo local uma semana antes, quando zombou da afirmação do presidente paquistanês, Pervez Musharraf, de ter dado uma verdadeira democracia ao Paquistão. Musharraf, se queixou o imã, está tentando introduzir o "secularismo ocidental" de seu ídolo, o líder turco Mustafa Kemal Atatürk. O fundador da Turquia moderna, disse Chitrali, foi um homem que "transformou mesquitas em igrejas e mandou assassinar eruditos religiosos. Me escutem, muçulmanos! Kemal Atatürk não é nosso ideal. Musharraf não está apenas tentando aplacar o Ocidente e os Estados Unidos, mas também está tentando permanecer permanentemente no poder".

Muitos imãs no Egito e na Turquia nutrem reservas semelhantes em relação aos líderes de seus países, mas pouco disto vem à tona em seus sermões. As forças de segurança de ambos os países mantêm uma vigilância atenta nas mesquitas. No Egito, o grão-xeque da Universidade al-Azhar, tradicionalmente a autoridade mais alta no ensinamento religioso sunita, é nomeado diretamente pelo presidente, essencialmente o tornando o porta-voz do governo.

Isto explica a natureza tranqüila do sermão na Universidade Al Azhar na noite após o aniversário do Profeta. O orador, o xeque Id Abd al-Hamid Yusuf, elogiou Maomé como sendo o mais completo de todos os profetas,dizendo: "Nós nunca teremos sucesso em fazer justiça à sua memória".

Para assegurar que o discurso religioso não se transformará repentinamente em um ataque político, centenas de policiais ficam posicionados nas ruas ao redor da mesquita de al-Azhar no Cairo toda sexta-feira, durante as orações. Os fiéis raramente promovem manifestações após as orações nos últimos anos, e quando o fizeram, muitos dos "manifestantes" eram policiais disfarçados. Mas tais precauções foram desnecessárias na sexta-feira anterior ao aniversário do Profeta. De fato, o imã Yusuf alertou sua platéia contra os excessos do fervor religioso, dizendo que "o extremista não ara a terra, nem permite que qualquer flor cresça".


Mesquita Azul, Istambul
A casa de oração, concluída em 1616 sob o sultão Ahmet 1º, é uma das maiores mesquitas de Istambul, que visavam representar a fé e o poder do Império Otomano. O imã da mesquita, Emrullah Hatipoglu, fez o sermão. Não há ciência sem Deus. Nós vemos todas as coisas que podem acontecer nas escolas quando as crianças não aprendem em nome de Deus. Quando atualmente há assassinatos nas escolas, quando um desenvolvimento inumano se torna uma ameaça, nós devemos nos perguntar o que levou a tal desenvolvimento. Deus diz no Alcorão: Assassinar uma pessoa inocente é o mesmo que assassinar toda a humanidade (...) o Alcorão permeia nossas vidas. Mas há problemas com nossas atitudes em relação ao Alcorão. Nós não o aplicamos em toda parte. Vamos presumir que estamos administrando um supermercado. Nós somos autorizados a vender produtos que são proibidos no Islã, bens que não são legítimos? Não? Mas muitos muçulmanos fazem isto. Os bens devem estar de acordo com os padrões estabelecidos pela Turquia e pelas regras de proteção ao consumidor, mas não nas do Alcorão. A venda de álcool e carne de porco é permitida? E quanto ao Alcorão? Isto tudo, meus irmãos muçulmanos, é pecado.
Emrullah Hatipoglu, o imã da Mesquita Azul de Istambul, faz o melhor para tirar proveito da liberdade que lhe é dada pelo Escritório de Assuntos Religiosos do governo. Em seus sermões, Hatipoglu argumenta contra a visão da elite secular do país de que o Islã é uma religião retrógrada que é contra a ciência. O Alcorão começa com as palavras "Leia, em nome de seu Senhor, que criou", e o Islã moderno, disse Hatipoglu, deveria obedecer a esta exortação para se educar. "Física, química, matemática, astronomia (...) leia isto!" ele disse. Mas ele também acredita que os fiéis devem ler o Alcorão com o mesmo entusiasmo. "Não há desculpa. Ninguém pode alegar que não pode ler o Alcorão. Vocês não têm computadores e CDs?"

Isto foi seguido por um catecismo que soava como um discurso de campanha do atual primeiro-ministro, Tayyip Erdogan, nos anos 90, quando ainda era prefeito de Istambul e lutava contra a oferta álcool, a prostituição e contra a inevitável ocidentalização da Turquia. Hoje, de olho no ingresso na União Européia, Erdogan praticamente abandonou sua retórica islâmica, mas o conflito entre o Islã controlado pelo governo e o establishment secular da Turquia, especialmente as forças armadas, continua fervendo.


Mesquita de Nur, Faixa de Gaza
Nesta mesquita, no campo de refugiados de Jabaliya, com ligações com o movimento extremista Hamas, as orações de sexta-feira terminaram com um apelo aos palestinos para que se levantem contra os ocupantes israelenses. O sermão foi dado pelo imã Talal al-Majdalawi, de 38 anos. Quando os judeus se retiraram da Faixa de Gaza, nós achávamos que tínhamos ganho toda a liberdade do mundo. Mas então veio o bombardeio. Isto é um sinal para vocês, fiéis, que sua batalha contra os judeus ainda está muito longe de terminar. Ele prova que o conflito não está ocorrendo entre nós, mas com os judeus infiéis. Este é o motivo para dizerem, sempre que houver um ataque com foguetes: Deus seja louvado, não há outro Deus senão o Deus único e Ele é nosso protetor. Nós dizemos aos judeus: "O que vocês estão fazendo conosco atualmente está escrito no livro de Deus". Lá está dito: "Vocês sofrerão medo e fome". Mas nós também semearemos medo e terror, como nunca viram antes, nos corações daqueles que nos provocam medo e fome hoje. Com a ajuda de Deus, nós não devemos ter medo de nada. Nós não devemos ter medo se uma bala atinge seu alvo ou se somos ameaçados (...) Isto não nos amedronta. Isto deve nos tornar mais fortes em nossa luta contra os judeus.
As frentes são muito mais claras na Palestina, ainda mais do que no Irã. Na Faixa de Gaza, o imã Talal al-Majdalawi passou 25 minutos falando sobre o aniversário do Profeta e da necessidade de refletir constantemente em Deus e no sagrado Alcorão. Ele reservou os últimos cinco minutos de seu sermão para sua mensagem política: "Duzentas balas foram disparadas contra nós ontem", disse o imã. "O que nos impede de pensar em Deus toda vez que uma destas balas atinge seu alvo?"

Sua lógica é do tipo que há muito determina o discurso dos islamitas radicais: quanto mais forte o inimigo nos atacar, quanto mais claramente ele nos apresentar sua suposta superioridade, mais unidos e determinados na oposição a eles devemos nos tornar. Tudo, incluindo o bombardeio noturno da força aérea israelense, segue a grande sabedoria divina. "Não odeie o mal, porque pode ser o presente de Deus para você", ele diz. Esta é a resposta islamita para a questão da teodicéia. Se Deus é onipotente, por que há tanto mal no mundo?

Hojjatolislam Ahmed Khatami, falando para milhares de muçulmanos iranianos no pátio da Universidade de Teerã, lidava com um problema semelhante. Ele começou a porção política de seu sermão com uma menção ao terremoto devastador na província iraniana de Lorestan, elogiando o "diligente regime islâmico por superar estas dificuldades". Mas a congregação também queria ouvir algo mais. Quando Khatami assumiu a tribuna, os fiéis cantaram: "Morte à América! Morta à Inglaterra e sua traição! Energia nuclear é nosso direito natural!" E Khatami não os decepcionou. Ele mencionou a controvérsia em torno das charges dinamarquesas de Maomé e pediu para que sunitas e xiitas se unissem diante "deste insulto ao Profeta". Citando o Alcorão, ele defendeu o direito de resistência. "Nossa resistência é o que provoca respeito por nossa revolução de 27 anos. Eles prepararam muitas crises para nossa grande nação, mas nós as deixamos para trás com nossas cabeças erguidas." Então ele voltou sua atenção para o conflito nuclear do Irã com o Ocidente.


Universidade de Teerã
O sermão de sexta-feira na Universidade de Teerã é realizado exclusivamente por altos membros do clero xiita governante do país. O aiatolá Ali Khamenei, o líder religioso supremo do Irã, nomeia pessoalmente os pregadores do campus, entre os quais Hojjatolislam Ahmed Khatami é um novato. Ele pregou para milhares de fiéis. Os irmãos xiitas e sunitas se vêem diante de um inimigo comum, um cuja meta é atacar o Islã. Isto não se limita apenas aos xiitas. Qualquer insulto ao Profeta é um insulto a toda a religião. Por este motivo, os xiitas e os sunitas devem lutar para conseguir uma maior cooperação e unidade em seus corações neste sentido. Xiitas e sunitas devem viver juntos como irmãos... Nossos inimigos estão usando o conto de fadas da energia nuclear para provocar uma crise. O Conselho de Segurança da ONU se tornou um fator de incerteza e injustiça, em vez de um fórum para a segurança do mundo (...) Segundo o direito internacional, nós temos o direito de controlar a tecnologia e obter energia nuclear. O Conselho de Segurança quer nos impedir de dominar tal tecnologia. Há uma lei da selva e ela diz: o mais forte prevalecerá. Mas nossa nação deixou claro que nós queremos nosso direito. Nós defenderemos nosso direito com nosso sangue e até nosso último suspiro. "Eles nos deram um mês para encerrarmos nossa pesquisa", ele disse, se referindo ao Conselho de Segurança da ONU. "Um mês ou um ano -vocês podem nos dar quantos ultimatos quiserem." O Irã insiste em seu direito e isto, disse o imã, significa que "nós defenderemos nosso direito com nosso sangue e até nosso último suspiro".
Estas palavras lembram os discursos do líder revolucionário iraniano aiatolá Khomeini. Khatami mencionou as recentes manobras navais do Irã "nas águas azuis do Golfo Pérsico", e então emitiu sua ameaça: "Se vocês ousarem demonstrar mesmo um pequeno sinal de agressão contra o regime islâmico, nós atacaremos sua boca com nossos punhos". Seu sermão terminou com um apelo a Deus para que proteja seu amado Irã, conceda sucesso aos líderes dignos e para que aceite os iranianos como soldados do Wali-e-Asr -o décimo segundo imã, ou escondido. "Acelere sua ressurreição", ele rogou ao Todo-Poderoso.

Por todo o mundo, as orações de sexta-feira são o ponto alto da semana na vida do muçulmano devoto. Foi em uma sexta-feira que Adão entrou no Jardim do Éden, foi em uma sexta-feira que ele o deixou. Os fiéis acreditam que Maomé disse que o dia da ressurreição também seria em uma sexta-feira. Maomé supostamente também teria dito que "Deus ordenou tanto aos judeus quanto aos cristãos a celebrarem a sexta-feira como dia de adoração, mas eles ignoraram Seu comando". Os muçulmanos vêem o Alcorão como a última e mais completa revelação de Deus, e todo sermão de sexta-feira serve como lembrete de tal crença.