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Arte e fé.

Enviado: 21 Abr 2006, 08:06
por spink
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidi ... 200601.htm


TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

A direção do Banco do Brasil em Brasília retirou do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) do Rio a obra "Desenhando em Terços", da artista plástica Márcia X (1959-2005), que integra a exposição "Erotica - Os Sentidos na Arte". A justificativa para a censura foi a centena de reclamações que o banco diz ter recebido contra a foto de dois terços que desenham um pênis cada e que se encontram formando uma cruz.
Censura para artistas e produtores da exposição, a decisão, segundo a assessoria do banco, "não observou só questões de imagem e aspectos empresariais, mas o ambiente onde atua, já que o banco acredita firmemente na liberdade de expressão".
A exposição foi vista por cerca de 56 mil pessoas em São Paulo (entre 12 de outubro do ano passado e 8 de janeiro deste ano) sem que houvesse registro de manifestação contrária a nenhuma obra.
"Foi com surpresa que recebemos a notícia. Nosso sentimento é de perplexidade, porque a retirada de uma obra de qualquer exposição é de pertinência apenas do curador", reclamou a produtora de "Erotica", Maria Ignez Mantovani Franco.
No Rio desde 20 de fevereiro, "Erotica" já foi vista por mais de 70 mil pessoas, com público diário estimado em 1.400. Na mostra há 110 obras, incluindo desenhos, fotos, gravuras, pinturas e instalações de mais de 50 artistas, entre os quais Pablo Picasso, Auguste Rodin, Anita Malfatti, Lygia Pape, Tunga e Alfredo Nicolaiewsky.
"É muito sério censurar um trabalho. É a volta da censura. Causar polêmica é válido, leva ao debate, mas retirar o quadro é muito ruim", criticou Nicolaiewsky.
A exposição deve ir para Brasília no próximo dia 15, mas, segundo a direção do banco, ainda não foi decidido se "Desenhando em Terços" fará parte da mostra.
O ex-deputado Carlos Dias (PTB) registrou notícia-crime na 1ª DP, no centro, por considerar a obra uma "afronta à fé católica". "Não foi algo fortuito, não é que eu não tenha gostado do quadro em termos artísticos, até porque para mim isso nem é arte. Mas esse quadro é uma agressão à Igreja Católica. Achei um absurdo."
O ex-deputado afirmou ainda que ficou "chocado" com a presença de crianças de escolas públicas em visitas guiadas na exposição. Ele, que é pré-candidato ao governo do Estado pelo PTB, foi o autor da lei que institui o ensino religioso nas escolas do Estado. Segundo a assessoria do banco, os critérios de acessibilidade à exposição foram feitos em concordância com a Justiça de Infância e Adolescência: a exposição é proibida para menores de 12 anos e permitida para jovens entre 12 e 18 na companhia de responsáveis.
Os estudantes que freqüentam a exposição têm obrigatoriamente a autorização dos pais, dentro do programa educativo do CCBB. No Rio, 16 escolas levaram 680 alunos para a exposição.
Professora de artes da Escola Municipal Henrique Magalhães, Simone Fernandes de Figueiredo, levou 34 alunos da 8ª série à exposição. "Trabalhar a sexualidade do aluno está nos parâmetros curriculares nacionais. Fui à exposição antes, vi se era interessante levá-los e ali falamos sobre a sexualidade, sobre o amor, o erotismo. Não é pornografia. Eles viram o quadro [de Márcia X] e ninguém se ofendeu, ninguém se chocou. Isso desmistifica a questão do sexo e faz parte da educação sexual. Tirar o quadro é retroceder."

Enviado: 21 Abr 2006, 08:08
por spink
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Re.: Arte e fé.

Enviado: 21 Abr 2006, 11:10
por Fernando Silva
"O Globo" 21/04/06

Artistas protestam contra veto a obra erótica

A retirada da obra “Desenhando em terços” da exposição “Erotica - Os sentidos na arte”, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), detonou uma guerra santa. Artistas plásticos protestaram ontem contra o que consideram um ato de censura à peça de Marcia X. Quinze artistas caminharam do Paço Imperial ao CCBB e, lá, abriram um cartaz mostrando um pênis e outros defendendo a liberdade de expressão.

- Foi uma covardia. Eles podem vir discutir, mas nunca chamar a polícia sem diálogo - reclamou Márcio Botner.

Já Franklin Cassaro decidiu, em protesto, retirar da mostra a sua obra “Coleção de vulvas metálicas”, enquanto a de Marcia X. estiver excluída.

O Banco do Brasil (BB) informou, em nota, que a decisão de retirar a peça da exposição partiu de sua diretoria em Brasília, depois de ter recebido mais de 700 e-mails reclamando da exibição dos terços formando dois pênis. Alguns clientes chegaram a ameaçar encerrar a conta. A exposição já tinha passado, sem problemas, por São Paulo. O BB tinha adotado cuidados especiais com a exposição, pondo na entrada uma placa informando que a mostra era proibida para menores de 12 anos. Segundo a direção do BB, o banco não poderia ignorar os protestos e optou pela retirada para a preservar o restante da mostra.

O BB informou ainda que o futuro da peça na mostra dependerá da Justiça. A organização católica Opus Christi - formada por 1.200 jovens em todo o mundo - tenta obter uma liminar proibindo a exibição de imagens sagradas na exposição. Na nota, o BB afirma que, “se não houver interrupção na mostra do Rio por decisão judicial, a idéia é levar a coletânea completa para a nova etapa”.

O curador da exposição, Tadeu Chiarelli, se disse perplexo com a decisão do BB. Segundo ele, chegou-se a pensar em reservar uma sala da exposição apenas para a obra de Marcia X., falecida no ano passado.

- Essa decisão tem meu total repúdio, não só por eu ser curador, mas como cidadão. Eu, o CCBB e a produção da exposição estávamos conversando sobre a possibilidade de separar a obra e fomos surpreendidos por essa decisão unilateral do banco, cortando uma tradição de diálogo entre as partes. Foi uma atitude extremamente autoritária e arbitrária. A Márcia X. é uma artista que deve ser respeitada - disse o curador.

A Opus Christi é uma congregação apostólica de jovens que recebeu o reconhecimento do Pontifício Conselho para Leigos do Vaticano em 1997, ano de sua fundação. Tem representação em quatro capitais brasileiras e sua sede no Rio fica no Grajaú. A entidade, segundo o presidente João Carlos Rocha, entra em ação sempre que alguém vai de encontro aos sentimentos da coletividade católica, fere os direitos humanos e da cidadania ou atinge a moral e a ética do ser humano. Para isso, a organização tem um departamento jurídico composto por quatro advogados. Professor de filosofia da PUC, João Carlos foi ao CCBB e reclamou de um quadro que mostrava uma imagem de São Jorge ao lado de um homem com a mão dentro da cueca:

- A Constituição assegura a liberdade de expressão, mas faz ressalvas quanto a ofensas à religião - disse.

Enviado: 21 Abr 2006, 11:32
por user f.k.a. Cabeção

Pelo que compreendi, a exposição era patrocinada pelo Banco do Brasil. Mesmo sendo uma empresa de controle estatal, ela tem o direito de definir quais obras pretende expor em suas apresentações, de modo a não ofender seus clientes e os demais cidadãos que venham a comparecer à mostra.

Vê-se claramente que se trata de uma "obra" ofensiva aos católicos, sendo que a ofensa é o único fator que adiciona a esta o caráter de "arte". Como o patrocinador não tem interesse nenhum em compactuar com as intenções ofensivas da autora, ele tem sim o direito de vetar.

O que seria errado é que, se um eventual patrocinador decidisse exibi-la, o Estado intervisse em nome da Igreja na exposição particular. Isso seria atentar contra a Liberdade de Expressão.


Re.: Arte e fé.

Enviado: 21 Abr 2006, 11:38
por spink
:emoticon5:

Re.: Arte e fé.

Enviado: 21 Abr 2006, 12:32
por Aurelio Moraes
:emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:

Tem mais é que sacanear o catolicismo mesmo!

Re.: Arte e fé.

Enviado: 21 Abr 2006, 12:42
por spink
http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2 ... 15862.jhtm


21/04/2006 - 11h30
Cardeal diz que camisinha pode ser "mal menor" contra a aids

Roma, 21 abr (EFE).- O cardeal emérito de Milão, Carlo Maria Martini, afirmou que, "em certas ocasiões", o uso do preservativo pode ser pode ser "um mal menor" na luta contra a aids, e lembrou os casais em que um dos cônjuges é soropositivo.

A opinião foi expressada por Martini durante uma longa conversa com o cirurgião Ignazio Marino, publicada hoje pelo semanário italiano "L'Espresso".

Na conversa, eles discutiram, entre outros assuntos, as células-tronco, a fecundação assistida e as adoções.

Ao abordar a questão da aids, o jesuíta disse que "é preciso fazer de tudo para combater" a doença.

"Sem dúvida, o uso do preservativo pode constituir, em certas situações, um mal menor", por exemplo, no caso de que "um dos cônjuges tenha aids. Este é obrigado a proteger o outro, e este deve poder se proteger".

O religioso e o médico também falaram sobre fecundação assistida, os embriões congelados durante anos sem ter o destino decidido e a possibilidade de que uma mulher seja fecundada com o sêmen de um terceiro se com o de seu parceiro não for capaz de fazê-lo.

Martini se disse "prudente" ao falar sobre a fecundação por meio de doação, da mesma forma que quando se trata de decidir "sobre o destino de embriões que poderiam estar destinados a morrer e cuja implantação em uma mulher, mesmo solteira, parece preferível à pura e simples destruição".

Sobre os embriões congelados, que possivelmente nunca serão utilizados, o cardeal emérito disse que "onde há um conflito de valores, parece-me eticamente mais significativo me inclinar pela solução que permite que uma vida se expanda, em vez de deixá-la morrer. Mas entendo que nem todos serão desta opinião".

Marino, médico de prestígio internacional, se pergunta sobre os embriões congelados, se é melhor "deixá-los morrer no frio" ou usar suas células-tronco para pesquisa.

Nessa questão, o jesuíta afirmou que não vê "possível pensar no uso de células-tronco embrionárias para a pesquisa. Seria contra todos os princípios expostos até agora".

Martini refletiu ainda sobre a adoção de crianças por solteiros e afirmou que a família composta por homem e mulher é, primordialmente, a que reúne as condições para criar uma pessoa.

Mas, na falta de um casal, o religioso considera que "no limite, pessoas solteiras também poderiam dar algumas garantias essenciais".

Enviado: 21 Abr 2006, 12:46
por spink
Mesmo sendo uma empresa de controle estatal, ela tem o direito de definir quais obras pretende expor em suas apresentações, de modo a não ofender seus clientes


O que seria errado é que, se um eventual patrocinador decidisse exibi-la, o Estado intervisse em nome da Igreja na exposição particular.


Não consigo perceber a diferença.

Enviado: 21 Abr 2006, 13:11
por Fernando Silva
user f.k.a. Cabeção escreveu:Mesmo sendo uma empresa de controle estatal, ela tem o direito de definir quais obras pretende expor em suas apresentações, de modo a não ofender seus clientes.

O que seria errado é que, se um eventual patrocinador decidisse exibi-la, o Estado intervisse em nome da Igreja na exposição particular.

Uma empresa privada pode fazer o que quiser, desde que dentro da lei.
Uma empresa estatal tem que ser imparcial, já que é propriedade de todos. Não pode ceder às reclamações de uma seita sem mais nem menos. Tem que haver um consenso.

Enviado: 21 Abr 2006, 13:15
por Storydor
penna escreveu:
Mesmo sendo uma empresa de controle estatal, ela tem o direito de definir quais obras pretende expor em suas apresentações, de modo a não ofender seus clientes


O que seria errado é que, se um eventual patrocinador decidisse exibi-la, o Estado intervisse em nome da Igreja na exposição particular.


Não consigo perceber a diferença.


No 1ºquote, quer dizer que se a BB patrocinou, ela tem o direito de fazer o que quiser com a exposição.
No 2º quote, ele quis dizer que se um patrocinador qualquer fizesse uma exposição daquele tipo, o Estado não deveria intervir em nome da igreja.
Entendeste?

Re: Re.: Arte e fé.

Enviado: 21 Abr 2006, 13:15
por Hugo
Mr.Hammond escreveu::emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:

Tem mais é que sacanear o catolicismo mesmo!


:emoticon45:

Enviado: 21 Abr 2006, 13:30
por Flavio Costa
Storydor escreveu:No 1ºquote, quer dizer que se a BB patrocinou, ela tem o direito de fazer o que quiser com a exposição.
No 2º quote, ele quis dizer que se um patrocinador qualquer fizesse uma exposição daquele tipo, o Estado não deveria intervir em nome da igreja.

Resumindo: quem patrocina uma exposição é que tem o direito de escolher o que vai exibir.

Enviado: 21 Abr 2006, 14:45
por user f.k.a. Cabeção
Fernando Silva escreveu:Uma empresa privada pode fazer o que quiser, desde que dentro da lei.
Uma empresa estatal tem que ser imparcial, já que é propriedade de todos. Não pode ceder às reclamações de uma seita sem mais nem menos. Tem que haver um consenso.



A minha opinião é de que o patrocínio, por parte de um órgão estatal, de qualquer atividade cultural é no mínimo suspeito e totalmente indesejável (a não ser, é claro, pela patotinha favorecida pela verba pública).

Agora, como não é isso que está em questão, penso que a empresa deve ter o direito de determinar o que será exposto, se não, com argumentos tão válidos, eu poderia levar um saco de excremento em mandá-los exibir como arte, já que são uma "estatal mecenas" que deve ser imparcial e exibir qualquer coisa.

Se a diretoria do BB considera a exposição de ofensas a determinada religião prejudicial para instituição, essa decisão deve ser acatada, uma vez que eles destinam a verba para tal.

Re.: Arte e fé.

Enviado: 24 Abr 2006, 05:58
por spink
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidi ... 200624.htm


Opus Christi agora quer boicotar banco

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de barrar, no Rio de Janeiro, a exposição da obra "Desenhando com Terços", da artista plástica Márcia X, e de investir contra outra, sem título, de Alfredo Nicolaiewsky, a associação de jovens católicos Opus Christi quer boicotar o Banco do Brasil caso as peças sejam expostas no centro cultura da instituição em Brasília, próxima parada da mostra.
Eles pretendem fazer um apelo aos católicos para que encerrem suas contas no banco caso as obras, que fazem parte da exposição erótica "Os Sentidos da Arte", sejam expostas em Brasília.
No Rio, a mesma exposição foi motivo de polêmica na quarta-feira passada, quando a direção do banco decidiu retirar da exposição a obra de Márcia X, onde dois terços formam o desenho de dois pênis sobrepostos.
A obra de Nicolaiewsky, que retrata são Jorge ao lado de um homem seminu, segue na mostra. Na quinta-feira à noite, a associação pediu ao plantão judiciário a retirada do quadro, mas não obteve resposta. Novo pedido será encaminhado à Justiça.
Ontem, durante a missa de comemoração do dia de são Jorge em Quintino (zona norte do Rio), a Opus Christi coletou 850 assinaturas para compor petições individuais que serão encaminhadas ao Ministério Público Federal, em Brasília, com o intuito de impedir a exposição das obras.
"Estamos investindo pesado na campanha "Blasfêmia Não" e vamos promover um boicote ao Banco do Brasil. Queremos coletar mil assinaturas de católicos dispostos a cancelar suas contas. Se as obras blasfemas, que agridem os católicos por usaram símbolos da nossa divindade, forem expostas, no dia seguinte cancelaremos as contas", afirmou o presidente da Opus Christi, João Carlos Rocha.

Artistas revidam
A classe artística do Rio também vai colher assinaturas com o objetivo de devolver à exposição, ainda no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, a obra de Márcia X.
Eles encaminharam manifesto à direção do banco e pedem um pronunciamento do ministro da Cultura, Gilberto Gil. No texto, os artistas consideram que a obra foi "vítima de violento ataque por parte de fanáticos religiosos".
O presidente da Funarte, Antonio Grassi, vai encaminhar o manifesto ao ministro. A Funarte é a responsável pelas artes visuais do governo federal. "Vamos levar ao ministro nossas preocupações. Toda forma de censura deve ser repudiada", defendeu Grassi.
A exposição termina no domingo no Rio e segue para Brasília, onde será inaugurada no próximo dia 15. A assessoria de imprensa do banco informou na quinta-feira que a intenção é levar a exposição completa à capital do país. A mostra já passou por São Paulo, onde foi vista por 56 mil pessoas. Mais de 70 mil visitaram a exposição no Rio.

Enviado: 25 Abr 2006, 00:00
por carlo
Fernando Silva escreveu:
user f.k.a. Cabeção escreveu:Mesmo sendo uma empresa de controle estatal, ela tem o direito de definir quais obras pretende expor em suas apresentações, de modo a não ofender seus clientes.

O que seria errado é que, se um eventual patrocinador decidisse exibi-la, o Estado intervisse em nome da Igreja na exposição particular.

Uma empresa privada pode fazer o que quiser, desde que dentro da lei.
Uma empresa estatal tem que ser imparcial, já que é propriedade de todos. Não pode ceder às reclamações de uma seita sem mais nem menos. Tem que haver um consenso.



Fernando Silva, vc não acha cara, que uma empresa tem que ter lucro? E que se vc desagrada uma parte da sua clientela vc corre o risco de perdê-la? E que ao perder esta fatia do mercado seus lucros diminuem? Afinal casas bancárias, privadas ou mista como é o caso do BB têm que ter lucro não? Sinceramente... Se eu fosse católico e acreditasse na lenda do cristianismo eu jamais iria a uma casa bancária que na suas dependências tivesse uma cruz feita com figuras de falus.

Re.: Arte e fé.

Enviado: 29 Abr 2006, 09:09
por spink
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opinia ... 200603.htm


ARTE CRUCIFICADA

O Banco do Brasil (BB) errou ao retirar da mostra "Erótica -Os Sentidos da Arte" o trabalho da artista Márcia X (1959-2005) que retratava dois pênis desenhados com terços religiosos. Ninguém obriga o BB a patrocinar eventos artísticos, muito menos exposições polêmicas como "Erótica", cujo insofismável teor sexual está anunciado no título.
Entretanto, uma vez que o banco decidiu lançar-se nessa empreitada, deve seguir as regras do jogo. E a praxe internacional não poderia estar mais bem estabelecida. Cabe à instituição financiadora definir o tema da exposição e designar seu curador. A partir daí, o responsável indicado, valendo-se preferencialmente de critérios estéticos, é o único apto a decidir o que entra e o que sai da mostra. A exclusão do trabalho de Márcia X se deu à revelia do curador, o que basta para qualificar a intervenção do BB como censura.
Católicos que tenham se sentido ofendidos com o desenho da autora têm o legítimo direito de protestar e até mesmo de ameaçar fechar suas contas na instituição bancária. Trata-se de manifestação não-violenta que faz parte do jogo democrático. O BB, contudo, deveria ter resistido à pressão e mantido-se fiel ao compromisso assumido com o meio artístico quando decidiu patrocinar a mostra. O banco não pode alegar que desconhecia o caráter polêmico de uma exposição dedicada ao erotismo.
A liberdade de expressão artística, garantida pelos artigos 5º, IX e 220, da Constituição, é um dos fundamentos do Estado democrático e existe justamente para assegurar que autores possam divulgar idéias ofensivas a parcelas significativas da sociedade. Com efeito, ninguém precisa de autorização legal para dizer o que todos querem ouvir.
Nesse episódio, a direção do BB meteu os pés pelas mãos. A um só tempo, mostrou que não tem apreço à liberdade artística, sacrifica princípios elevados ao menor sinal de pressão e, pior, não sabe bem o que financia com seus recursos