Lula diz que sistema de saúde do país é quase perfeito
Enviado: 21 Abr 2006, 11:41
Rio, 21 de abril de 2006 "O Globo"
Lula: país não está longe da perfeição na saúde
Maria Lima
BRASÍLIA. Em discurso anteontem à noite em Porto Alegre, ao inaugurar novas instalações do Grupo Hospitalar Conceição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil “não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde”. A declaração foi duramente criticada ontem por especialistas em saúde e parlamentares da Frente Parlamentar da Saúde no Congresso. Para eles, o presidente ignorou os graves problemas enfrentados pela população brasileira quando precisa de atendimento na rede pública.
Lula falava dos investimentos do governo em saúde, citando especificamente o Programa de Saúde Bucal e o Qualisus, projeto de qualificação do atendimento no sistema hospitalar. A certa altura, o presidente afirmou: “Nós queremos que o povo brasileiro seja tratado com muito mais respeito no Brasil. E só equipes do Saúde Bucal são 15 mil espalhadas pelo Brasil, como os do Saúde da Família, para cuidar das pessoas. Eu acho que não está longe de a gente atingir a perfeição no tratamento de saúde neste país. Para isso, nós temos que fazer mais investimento, como fizemos nesse Qualisus”.
“Ele está no mundo da Lua”
Recém-saídos de uma guerra com a área econômica do governo para garantir o piso constitucional no Orçamento aprovado esta semana, parlamentares como o deputado Sérgio Miranda (PDT-MG), integrante da Frente da Saúde e da Comissão Mista do Orçamento, disseram que ou Lula está se referindo a outro país, ou, influenciado pela viagem do astronauta Marcos Pontes, está no mundo da Lua.
Para os parlamentares, o presidente não sabe o que se passa no país. Eles citaram problemas graves por falta de investimento como carência de leitos em CTI, falta de remédios para tratamento de Aids, longas filas nos ambulatórios, falta de atendimento cirúrgico e de medicamentos de alto custo para doenças crônicas.
— Não sei a qual país ele está se referindo. Às vezes o presidente Lula se comporta como um autista. Está completamente fora da realidade, no mundo da Lua. Esses problemas gravíssimos são a realidade do dia-a-dia da saúde no Brasil, este é o nosso país. Como está em campanha, repete uma inverdade tantas vezes e acredita que pode virar verdade — reagiu Rafael Guerra (PSDB-MG), presidente da Frente Parlamentar da Saúde.
Ele lembrou que a muito custo os parlamentares conseguiram aprovar o repasse de recursos do piso constitucional para a área de saúde no Orçamento de 2006. Mas não conseguiram garantir o pagamento dos restos a pagar pendentes do piso de 2004 e 2005, num total de R$ 800 milhões.
O deputado Sérgio Miranda disse ainda que o setor de saúde passa por uma enorme crise. Segundo ele, o governo defende muito o sistema de atendimento universal, o SUS, mas não existe um financiamento efetivo para o programa. A área de alta complexidade, como a de transplantes, Miranda diz que vai bem, mas o restante, como o atendimento à população de baixa renda, vai mal.
— Todo o miolo da baixa complexidade, de marcação de consultas, operações, medicamentos, vive uma crise enorme, que reflete nos hospitais. O presidente Lula tem uma visão alienada da realidade. Acho que continua viajando pelo espaço com o astronauta — ironizou Miranda.
Para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), a pior crise, no momento, é uma greve que se arrasta há mais de 60 dias na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A paralisação está afetando a importação de medicamentos e agrava o financiamento do coquetel distribuído aos pacientes com Aids. No Rio de Janeiro há falta de antibióticos no Hospital Gafrée e Guinle, que atende a soropositivos, ameaçados de ficar cegos sem os medicamentos.
— A pessoa no governo tem a sensação de um mundo perfeito. Mas não é essa a nossa percepção, nem é o que pensa o paciente que sofre lá na ponta, nas filas, a espera de medicamentos ou de uma consulta — critica Gabeira.
No Piauí, o senador Heráclito Fortes (PFL-PI) disse que o Hospital Universitário e o Pronto Socorro Municipal ainda não entraram em funcionamento porque o governo não investe cerca de R$ 3 milhões em cada obra:
— Para falar uma coisa dessas, o Lula há muito anos não sabe o que é fila, nem conhece o sofrimento de quem padece por falta de assistência médica. O poder isola as pessoas. No Piauí não temos um pronto socorro decente, a emergência funciona há 40 anos na base do improviso e o hospital universitário não tem dinheiro para concluir. Este é o Brasil real que Lula não conhece.
O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) disse que Lula está se recusando a regulamentar a proposta de emenda constitucional da saúde.
Lula: país não está longe da perfeição na saúde
Maria Lima
BRASÍLIA. Em discurso anteontem à noite em Porto Alegre, ao inaugurar novas instalações do Grupo Hospitalar Conceição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil “não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde”. A declaração foi duramente criticada ontem por especialistas em saúde e parlamentares da Frente Parlamentar da Saúde no Congresso. Para eles, o presidente ignorou os graves problemas enfrentados pela população brasileira quando precisa de atendimento na rede pública.
Lula falava dos investimentos do governo em saúde, citando especificamente o Programa de Saúde Bucal e o Qualisus, projeto de qualificação do atendimento no sistema hospitalar. A certa altura, o presidente afirmou: “Nós queremos que o povo brasileiro seja tratado com muito mais respeito no Brasil. E só equipes do Saúde Bucal são 15 mil espalhadas pelo Brasil, como os do Saúde da Família, para cuidar das pessoas. Eu acho que não está longe de a gente atingir a perfeição no tratamento de saúde neste país. Para isso, nós temos que fazer mais investimento, como fizemos nesse Qualisus”.
“Ele está no mundo da Lua”
Recém-saídos de uma guerra com a área econômica do governo para garantir o piso constitucional no Orçamento aprovado esta semana, parlamentares como o deputado Sérgio Miranda (PDT-MG), integrante da Frente da Saúde e da Comissão Mista do Orçamento, disseram que ou Lula está se referindo a outro país, ou, influenciado pela viagem do astronauta Marcos Pontes, está no mundo da Lua.
Para os parlamentares, o presidente não sabe o que se passa no país. Eles citaram problemas graves por falta de investimento como carência de leitos em CTI, falta de remédios para tratamento de Aids, longas filas nos ambulatórios, falta de atendimento cirúrgico e de medicamentos de alto custo para doenças crônicas.
— Não sei a qual país ele está se referindo. Às vezes o presidente Lula se comporta como um autista. Está completamente fora da realidade, no mundo da Lua. Esses problemas gravíssimos são a realidade do dia-a-dia da saúde no Brasil, este é o nosso país. Como está em campanha, repete uma inverdade tantas vezes e acredita que pode virar verdade — reagiu Rafael Guerra (PSDB-MG), presidente da Frente Parlamentar da Saúde.
Ele lembrou que a muito custo os parlamentares conseguiram aprovar o repasse de recursos do piso constitucional para a área de saúde no Orçamento de 2006. Mas não conseguiram garantir o pagamento dos restos a pagar pendentes do piso de 2004 e 2005, num total de R$ 800 milhões.
O deputado Sérgio Miranda disse ainda que o setor de saúde passa por uma enorme crise. Segundo ele, o governo defende muito o sistema de atendimento universal, o SUS, mas não existe um financiamento efetivo para o programa. A área de alta complexidade, como a de transplantes, Miranda diz que vai bem, mas o restante, como o atendimento à população de baixa renda, vai mal.
— Todo o miolo da baixa complexidade, de marcação de consultas, operações, medicamentos, vive uma crise enorme, que reflete nos hospitais. O presidente Lula tem uma visão alienada da realidade. Acho que continua viajando pelo espaço com o astronauta — ironizou Miranda.
Para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), a pior crise, no momento, é uma greve que se arrasta há mais de 60 dias na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A paralisação está afetando a importação de medicamentos e agrava o financiamento do coquetel distribuído aos pacientes com Aids. No Rio de Janeiro há falta de antibióticos no Hospital Gafrée e Guinle, que atende a soropositivos, ameaçados de ficar cegos sem os medicamentos.
— A pessoa no governo tem a sensação de um mundo perfeito. Mas não é essa a nossa percepção, nem é o que pensa o paciente que sofre lá na ponta, nas filas, a espera de medicamentos ou de uma consulta — critica Gabeira.
No Piauí, o senador Heráclito Fortes (PFL-PI) disse que o Hospital Universitário e o Pronto Socorro Municipal ainda não entraram em funcionamento porque o governo não investe cerca de R$ 3 milhões em cada obra:
— Para falar uma coisa dessas, o Lula há muito anos não sabe o que é fila, nem conhece o sofrimento de quem padece por falta de assistência médica. O poder isola as pessoas. No Piauí não temos um pronto socorro decente, a emergência funciona há 40 anos na base do improviso e o hospital universitário não tem dinheiro para concluir. Este é o Brasil real que Lula não conhece.
O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) disse que Lula está se recusando a regulamentar a proposta de emenda constitucional da saúde.