A Questão da Nomenclatura em Parapsicologia
Enviado: 11 Nov 2005, 12:54
A Questão da Nomenclatura em Parapsicologia Imprimir E-mail
Machado, F. R. (1997). A Questão da Nomenclaruta em Parapsicologia. Anuário Brasileiro de Parapsicologia, nº 2. Recife: IPPP.
Profa. Dra. Fátima Regina Machado
Este artigo visa levantar mais uma vez a questão da nomenclatura utilizada em Parapsicologia, principalmente entre os parapsicológos brasileiros. De forma alguma tem a pretensão de esgotar o tema, visto que este tem sido conteúdo de diversas discussões na área e apresenta-se bastante complexo. Este trabalho apenas revisa alguns termos importantes que são utilizados a nível internacional, chamando a atenção para a importância de atualização dos estudiosos em Parapsicologia sobre o que ocorre no campo a nível mundial e a necessidade de falarmos “a mesma língua”.
Nossa Torre de Babel
Curiosamente, ainda figura entre os principais problemas enfrentados pela Parapsicologia no Brasil, o desacôrdo sobre como denominar os fenômenos parapsicológicos. Estudiosos da Parapsicologia que atuam no país - infelizmente, em sua grande maioria, ainda apenas em relação a discussões teóricas e não em pesquisas de campo ou de laboratório - adotam terminologias diversas para designar um mesmo tipo de fenômeno, ou, mais rigorosamente, experiência psi. Isto provoca, em especial, dois contratempos: (a) confunde o público leigo que recebe informações diversas sobre a Parapsicologia, sem solidificar um conhecimento básico e atualizado sobre o assunto; (b) dificulta a comunicação entre os próprios parapsicólogos, que vez por outra não se entendem devido ao fato de não “falarem a mesma língua”, ainda que compartilhem do português como idioma pátrio.
* A questão da nomenclatura não é muito simples de ser resolvida. Os grandes avanços no campo parapsicológico não ocorrem efetivamente em nosso país, onde o desenvolvimento de pesquisas ainda é precário por vários fatores: problemas econômicos, falta de informação, acomodação dos parapsicólogos, impedimentos por motivos políticos ligados a vaidades pessoais etc. Assim sendo, vários novos termos que vão surgindo a nível mundial - e até mesmo os que já figuram de longa data - carecem de uma tradução adequada à nossa língua. Um recurso que tem sido utilizado freqüentemente é manter a sigla em inglês, como é utilizada internacionalmente, e traduzir apenas o referido nome por extenso. (Ex. : ESP, do inglês extra sensory perception, que conhecemos como percepção extra-sensorial.)
Vale lembrar que a Parapsicologia não é provinciana: é uma ciência que se desenvolve a nível internacional e, portanto, não podemos nos fechar em nós mesmos, em nosso país, e decidir sozinhos o que faremos com ela. Estamos imersos no mundo parapsicológico - ainda que estejamos gatinhando dentro dele - por isso é preciso abrir os olhos para o que está além de nossas fronteiras. Obviamente existem barreiras de linguagem (Alvarado, 1989) que ainda dificultam a comunicação entrre pesquisadores, mas ao invés de nos lamentarmos quanto a isto, está na hora de começarmos a nos mexer para resolver isto. Nada impede que reflitamos acerca do campo e façamos sugestões acerca de novas nomenclaturas ou proponhamos novos tipos de pesquisa. Isto, aliás, seria excelente! Porém, há que se ter em mente que isto deveria ser exposto a nível da comunidade científica internacional, que teria a possibilidade de conhecer nossas idéias, discuti-las, criticá-las e, talvez, aceitá-la. Que fique claro não devemos apenas receber informações estrangeiras e aceitá-las passivamente. Antes, defendo o diálogo, através do qual, também podemos avaliar propostas e idéias dos colegas de outros países, criticar, sugerir. [2]
Voltando especificamente à questão da nomenclatura, pode-se dizer que apesar de a grande maioria dos pesquisadores em Parapsicologia adotar a terminologia proposta por Rhine, há ainda muita controvérsia sobre a denominação dos fenômenos parapsicológicos. Essa controvérsia reside principalmente no fato de os termos e denominações de fenômenos ou experiências estarem sujeitos aos avanços das pesquisas as quais, ao lançarem luz sobre determinado meandro parapsicológico, muitas vezes levam à reconsideração da terminologia referente àquele determinado estudo.
No Brasil, a desatualização quanto à terminologia mundialmente vigente - ainda que haja discordâncias - ocorre principalmente por falta de contato da grande maioria dos estudiosos da Parapsicologia com a a literatura e a comunidade científica internacional, o que faz com que muitos ainda utilizem e divulguem termos arcaicos que já há muito caíram em desuso, como a denominação proposta por Richet no Tratado de Metapsíquica (1922).
Discussões sobre nomenclatura em Parapsicologia
Segundo Walter F.Prince (1921), os principais problemas que a diversidade de termos provoca são (a) diferentes significados para um mesmo termo, (b) diferentes termos para um mesmo fenômeno e (c) novas e confusas definições de palavras já em uso na linguagem comum ou científica. Isto foi discutido, entre outros autores, por Nancy Zingrone e Carlos Alvarado que afirmam ser difícil se chegar a um consenso na área. (Zingrone & Alvarado, 1987, p. 67) Vários congressos e conferências foram realizados em tentativas de padronização: Copenhague (1921), Varsóvia (1923), Paris (1927), Atenas (1930), Sienna (1949), Utrech (1953). Além disso, mais recentemente algumas conferências sobre o tema são apresentadas em congressos e artigos a respeito foram publicados. (Beloff, 1979; Lucadou, 1984; Neppe, 1984, Thalbourne, 1985; Zingrone e Alvarado, 1987; Zangari, 1993) Vários glossários foram propostos, porém, o que alcança maior consenso quanto a sua utilidade é o de Thalbourne (1982). (Zingrone & Alvarado, 1987, pp. 65 e 66)
Como já foi dito, entre as várias denominações existentes para designar os fenômenos parapsicológicos, há quem prefira a nomenclatura proposta por Charles Richet utilizada na Metapsíquica[3]. Essa nomenclatura dividia os fenômenos paranormais em dois grandes grupos: os objetivos e os subjetivos. Estes, por sua vez, se subdividiam em várias denominações, muito semelhantes aos termos utilizados pelo Pe. Quevedo em seus livros. (Quevedo, 1982) Abrindo um parêntese, vale dizer que Quevedo utiliza a nomenclatura de Richet pelo fato de ela facilitar o cumprimento dos objetivos de Quevedo: desmascarar os chamados fenômenos espíritas. Sendo essa nomenclatura detalhada, provê recursos para encontrar explicações supostamente científicas para essas ocorrências. (Machado, 1996) Sendo, porém, a nomenclatura de Richet já obsoleta, por ora importa apenas dizer que os fenômenos subjetivos seriam aqueles ocorridos exclusivamente em termos psíquicos, sem ação dinâmica sobre os objetos materiais; os fenômenos objetivos seriam aqueles que envolvem ação física sobre o ambiente em que se manifestam.
Em 1953, foi realizado o I Congresso Internacional de Parapsicologia, na cidade de Utrech, Holanda, com a finalidade de estabelecer uma terminologia única a ser adotada pelos pesquisadores. Optou-se pela nomenclatura proposta por Thouless e Wiesner. Ficou decidido que os fenômenos parapsicológicos em geral seriam chamados de fenômenos psi[4], que foram subdivididos em dois grandes grupos: psi-gamma, correspondente aos fenômenos subjetivos, e psi-kappa, correspondente aos fenômenos objetivos. Alguns pesquisadores que admitem a intervenção de seres incorpóreos chamam os fenômenos que supostamente seriam produzidos por esses seres de psi-theta[5]. Porém, desde há muito, já não se utiliza mais, a nível internacional, os termos psi-gamma e psi-kappa, que já se tornaram, também, obsoletos.
Há ainda a questão da utilização do termo paranormal para designar os fenômenos parapsicológicos. Levanta-se uma série de discussões a respeito disso, questionando-se o sentido dessa denominação. Zangari (1993) expõe a opinião de outros parapsicólogos (Andrade, 1976; Borges, 1992; Irwin, 1989; Quevedo, 1982; Rao e Palmer, 1987; Stanford, 1977) e as discute em um artigo sobre a utilização do termo paranormal. Depois de discutir a etmologia da palavra paranormal, Zangari diz:
“... um fenômeno paranormal seria aquele para o qual a ciência não tem explicação, ou que se encontra fora de nossa expectativa, fora de nossas experiências do dia-a-dia, fora do padrão de experiências às quais estamos acostumados. Será que utilizando ‘fenômeno paranormal’ neste sentido poderíamos definir o campo de estudo da Parapsicologia? (...) Atribuir à Parapsicologia o dever de conhecer o que as outras ciências não conhecem seria o mesmo que imobilizar o progresso das ciências. Como sabemos, as ciências estão, a cada momento, se deparando com perguntas a respeito de seus objetos de estudo. Tais perguntas, por um lado, representam as limitações do conhecimento, mas, por outro, representam o estímulo da pesquisa científica. Se à Parapsicologia coubesse conhecer tudo o que as demaisciências não conhecem, não haveria mais necessidade de outras ciências, o que seria um absurdo. A Parapsicologia não tem tal abrangência.” (Zangari, 1993, p. 14)
Apesar de não haver consenso entre a utilização ou não da expressão paranormal em Parapsicologia, tenta-se amenizar os problemas de significação desse termo através de delimitações de significados que seriam próprias no caso de ele ser aplicado nesse campo de estudo.
Nomenclatura atual
Atualmente, a forma mais comum de se referir aos fenômenos pelos pesquisadores acadêmicos é aquela proposta e/ou utilizada por Joseph Banks Rhine. O Dr. Rhine adotou para denominação dos fenômenos subjetivos o termo percepção extra-sensorial (ESP, do inglês extrasensory perception) e, para os objetivos, psicocinesia. Essa nomenclatura se refere, sobretudo, à função psi, ou seja, à faculdade atribuída à mente capaz de produzir fenômenos psi. (Cf. Rhine, 1934, 1937, 1947, 1953; Rhine et al., 1966; Rhine & Rhine, 1943)
Os termos percepção extra-sensorial (ESP) e psicocinesia (PK) não foram cunhados por J.B.Rhine. O termo percepção extra-sensorial foi usado anteriormente por Pagenstecher (1924), Fisher(1926) e Sainville (1927) com o mesmo sentido empregado pelo Dr. Rhine. O termo psicocinesia foi usado por Holt em 1914 para designar o poder necessário para a realização da comunicação mediúnica, e Boirac usou o termo psicocinesia vital em 1908 com um sentido semelhante à psicocinesia de Rhine. (Zingrone & Alvarado, 1987, p. 51)
Segundo Joseph Rush, um dos autores de Foundations of Parapsychology (1987) um dos livros mais respeitados na área:
“A Parapsicologia (...) é o campo científico que estuda as interações sensoriais e motoras que aparentemente não são mediadas por nenhum mecanismo ou agente físico conhecido.” (Edge et al., 1987, p. 4)
Dependendo do modo como essas interações com o meio-ambiente ou com outros seres humanos ocorrem, há uma denominação específica para designá-las.
A percepção extra-sensorial, conhecida pela sigla ESP se refere a uma capacidade humana ligada à aquisição de conhecimento. Através da ESP as pessoas teriam a possibilidade de adquirir ou receber informações de modo diferente dos meios convencionais, isto é, sem que ninguém lhes diga nada, sem que qualquer pista de linguagem corporal contribua para que as informações sejam conhecidas ou sem que alguma mensagem escrita ou gravada seja recebida. De alguma forma, ultrapassando os limites dos sentidos humanos conhecidos, há a possibilidade de transmissão ou captação de informações. Diz-se transmissão ou captação porque, apesar de todas as pesquisas já realizadas sobre a ESP já terem apontado muitas pistas acerca de seu funcionamento, ainda não está claro se a mensagem envolvida nesse fenômeno é transmitida ou é captada ou ambos ao mesmo tempo. Já surgiram diversas teorias para tentar explicar não apenas esse mecanismo, mas também a natureza da ESP, porém nenhuma ainda foi considerada definitiva. Os testes demonstram - apesar da objeção dos céticos - que realmente algo acontece em certas circunstâncias que parece envolver algum tipo de capacidade humana que se adequa à hipótese de utilização da ESP. Porém essa falta de uma teoria consensual entre os próprios pesquisadores do campo constitui um obstáculo para o convencimento da existência de ESP daqueles que ainda colocam em xeque essa capacidade humana.
É importante dizer que o termo percepção extra-sensorial também é questionadoo que não significa, porém, que devamos abandonar essa denominação imediatamente.
“Muitos parapsicólogos agora concordam que o termo ‘percepçào extra-sensorial’ é uma expressão infeliz, uma vez que sugere que os referidos fenômenos são de natureza perceptiva, ou quase perceptiva. Mas, a menos que nossa visão sobre a percepção comum esteja seriamente equivocada (uma possibilidade que deve ser deixada em aberto), as várias formas de ESP aparentemente envolvem processos aparentemente bem diferentes das modalidades de sentido que nos são familiares. Não estou sugerindo que abandonemos o termo ‘ESP’; no momento ele ele é muito bem entrincheirado para ser amputado. Mas devemos estar alerta para não ficarmos seduzidos a pensar que a ESP seja algo parecido com a percepção comum.” (Braude, 1979, p.3)
Um dos maiores desafios para os estudiosos da ESP é a questão da violação das leis de tempo e espaço propostas pela Física clássica. A percepção extra-sensorial divide-se, didaticamente, em telepatia e clarividência. A telepatia ocorre quando há transmissão ou captação de informação entre duas pessoas. Quando a informação é obtida do meio ambiente, sem o envolvimento de uma outra mente, diz-se que ocorreu um fenômeno de clarividência. As pesquisas evidenciam que não há limites de distância entre a pessoa que “recebe” a informação e a pessoa ou local de onde ela possivelmente teria partido. Portanto, desafia os limites impostos pelo conceito de espaço em Física.
Quanto ao tempo, tanto a telepatia quanto a clarividência podem ser: (a) precognitivas (quando a informação se refere a um fato que ocorrerá no futuro); (b) simulcognitivas (quando o fato está ocorrendo no mesmo momento em que a informação é transmitida ou captada); (c) retrocognitivas (quando diz respeito a um evento ocorrido no passado sobre o qual a pessoa que “recebe” a informação não tinha conhecimento prévio).
Como foi dito, essa divisão é meramente didática e serve mais para estabelecer parâmetros de objetivos nos experimentos feitos em laboratórios. No caso dos fenômenos psi que ocorrem no cotidiano, muitas vezes é impossível distinguir e denominar didaticamente o que ocorreu. Por isso, Rhine introduziu a denominação percepção extra-sensorial em geral para englobar tanto os fenômenos de telepatia quanto os de clarividência. A sigla utilizada para a percepção extra-sensorial em geral é GESP, do inglês general extrasensory perception. (Beloff, 1993, p. 135)
A psicocinesia, outra categoria de fenômenos estudada pela Parapsicologia, diz respeito aos fenômenos extra-motores. Assim, a psicocinesia, ou PK (do inglês psychokinesis), está relacionada à movimentação de objetos sem a intervenção dos músculos ou utilização de algum aparelho ou mecanismo conhecido. Popularmente, a PK é conhecida como a ação da mente sobre a matéria.
A PK está envolvida nos casos das chamadas casas mal-assombradas ou poltergeist onde, tendo sido descartadas as possibilidades de fraude ou de má-interpretação de fenômenos físicos ou químicos considerados naturais, ocorre a movimentação, quebra e desaparecimento de objetos, combustão espontânea, queda de pedras dentro da casa, aparecimento inexplicável de água pelo local ou de fezes nos alimentos, comprometimento das instalações elétricas e sons e vozes cuja origem é desconhecida. A esses fenômenos que são diretamente observáveis, ainda que mais raros do que os de ESP, dá-se o nome técnico de macro-PK. Atualmente, o principal pesquisador dos fenômenos de macro-PK em casos espontâneos do tipo poltergeist é William Roll.
Há ainda outro tipo de PK, a chamada micro-PK, que se refere à influência mental sobre sistemas computadorizados, micro-organismos e sistemas vivos, em geral. Nesses casos, os efeitos da influência psicocinética não podem ser diretamente observados, dependendo do levantamento estatístico das respostas dos computadores ou de aparelhos que meçam a alteração fisiológica dos sistemas vivos. Incluem-se aqui as pesquisas relacionadas às curas através da possível atuação mental sobre um indivíduo doente e à influência no crescimento de plantas, o que é tecnicamente chamado de influência mental direta sobre sistemas vivos ou DMILS, do inglês direct mental influence on living sistems.
Apesar de Joseph Banks Rhine pressupor que a psicocinesia não se trataria de algo físico, mas sim de algo não-fisico, não há consenso entre os pesquisadores que se dedicam à pesquisa de PK sobre o que realmente faz com que aconteça essa modificação. (Palmer, 1993, p. 177) Já se sabe a respeito das razões e condições psicológicas que influenciam na ocorrência de tais casos, mas ainda não está definitivamente demonstrado se a natureza de PK é física ou espiritual (no sentido filosófico do termo). (Machado e Zangari, 1995)
Até o momento, há apenas definições negativas sobre os fenômenos parapsicológicos. Sabe-se o que eles não envolvem, mas não se conseguiu ainda descobrir sua verdadeira natureza. Há quem defenda que evidências obtidas através da pesquisa experimental apontam para a possibilidade de que ESP e PK teriam a mesma natureza, apenas manifestando-se de modo diferente. Talvez os termos ESP e PK também não passem apenas de uma divisão didática. (Braude, 1979)
A Parapsicologia também se ocupa do estudo dos fantasmas e aparições, e das experiências de lembranças de vidas passadas. Isto porque esses tipos de vivências podem constituir fenômenos psi e a situação em que esses fenômenos ou experiências ocorrem são importantes para trazer luz às pesquisas realizadas. É necessário que fique claro que a Parapsicologia não cuida apenas de fenômenos genuinamente parapsicológicos. No caso da investigação de ocorrências espontâneas, por exemplo, todos os eventos ocorridos no local são denominados de experiências psi ou parapsicológicas, e não imediatamente de fenômenos. Isto porque, muitas pessoas que têm a impressão de estar vivenciando um fenômeno psi está, na verdade, interpretando de forma errônea um evento absolutamente de acordo com os padrões considerados normais. Uma porta que se bate, por exemplo, devido à ação do vento, ou lâmpadas que se apagam sozinhas devido a problemas elétricos corriqueiros podem ser interpretados como algum fenômeno misterioso. Daí a importância de se diferenciar experiência parapsicológica de fenômeno parapsicológico. (Irwin, 1989)
No caso das experiências de visão de fantasmas ou aparições, a explicação para a ocorrência seria que essa visão se constituiria em um modo de levar à consciência uma informação obtida inconscientemente por ESP. Ao invés de a pessoa ter uma intuição ou um sonho, ela passa pela experiência de ver alguém que já faleceu ou ainda está vivo, trazendo-lhe a informação. Ou, outra possibilidade, é de que não haja nenhum conteúdo informativo, mas, por um motivo particular, a pessoa em questão aja psicocineticamente no ambiente criando algo que pode até mesmo ser observado por outras pessoas.
Além dos fenômenos citados, a Parapsicologia também tem interesse nas experiências fora-do-corpo, conhecidas como viagens astrais, e nas experiênciências próximas da morte quando há algum indício de envolvimento de um componente psi na experiência, o que, geralmente, não acontece. (Zangari e Machado, 1995)
Quanto às pesquisas experimentais, três termos não podem deixar de ser citados, pois denominam os principais experimentos de ponta da atualidade: ganzfeld, visão remota ou visão à distância e influência mental direta sobre sistemas vivos (já citado e comentado anteriormente).
Ganzfeld, que significa campo completo, é uma técnica experimental que vem sendo aperfeiçoada e variada desde 1974, quando começou a ser utilizada. No experimento ganzfeld, desenvolvido especialmente por Charles Honorton, basicamente o sujeito é instalado confortavelmente em uma poltrona reclinável, com duas meias bolinhas de pingue-pongue sobre os olhos e uma luz vermelha iluminando o ambiente. Com os olhos abertos, ele só enxerga uma amplidão avermelhada que faz com ele perca a noção de profundidade. Além disso, fones de ouvidos com ruído branco propiciam um estado de homogeneização sensorial que facilita a formação de imagens mentais. Enquanto o sujeito se encontra nessa posição, um agente está em outra sala e tenta transmitir a ele um alvo escolhido aleatoriamente[6]. Durante o experimento, o sujeito fala tudo o que lhe vem à mente, e o seu relato é gravado em fita cassete e, ao final do experimento, é comparado com outras quatro figuras uma, dentre as quais, é o verdadeiro alvo. O sujeito escolhe a que mais se aproxima das imagens mentais ou das sensações que teve. Os resultados são, em geral, surpreendentemente bons e muito acima do esperado pela acaso em termos estatísticos. (Honorton, 1974, 1978, 1983, 1985; Honorton et. al., 1990)
No experimento de visão remota ou visão à distância, o sujeito não precisa estar em um estado alterado de consciência para acertar o alvo. O experimento de visão remota consiste basicamente em que uma pessoa se dirija a um determinado local selecionado aleatoriamente e observe todos os seus detalhes, demorando-se por determinado tempo nesse lugar. Enquanto isso, o sujeito tenta descrever onde está essa outra pessoa, narrando imagens que lhe vêm à mente ou desenhando o suposto local. Esses experimentos foram primordialmente desenvolvidos pelos físicos Russell Targ e Harald Puthoff na década de 1970, no Stanford Research Instituto, em Menlo Park, próximo a São Francisco. (Targ & Puthoff, 1978) Os resultados foram estatisticamente significativos. Recentemente foram anunciadas notícias sobre milhões de dólares que foram empregados pelos Estados Unidos durante vinte anos no projeto Star Gate que apoiava pesquisas de visão remota com vistas a futuras aplicações militares. Edwin May, presidente da Parapsychological Association (1996) esteve à frente dessas pesquisas. Os resultados foram bastante significativos. A técnica ainda está sendo aprimorada e variações do experimento têm sido testadas.
Conclusão
Como foi dito no início, este artigo representa apenas uma provocação para, mais uma vez, trazer à tona a discussão a respeito da nomenclatura em Parapsicologia. Fica claro que é de suma importância a atualização em relação aos avanços da área, que até o momento ocorrem principalmente no exterior. Por isso, sugiro a leitura dos artigos e livros sobre o assunto, indicados neste trabalho, pois são fontes riquíssimas de questionamentos e esclarecimentos de questões conceituais, que aqui não pude desenvolver com maior profundidade por questões de delimitações de laudas.
Para que consigamos acertar o passo, é imprescindível que tenhamos uma atitude de abertura em relação ao que “vem de fora” - que, a meu ver, “vem de dentro”, uma vez que, não importa em que país estejamos, fazemos parte de uma comunidade científica única - e a humildade de rever conceitos e idéias. Alegoricamente falando, já não se escreve mais pharmácia e, por mais clássico e elegante que julguemos essa grafia, há que se reconhecer que utilizá-la hoje seria, no mínimo, comportamento de quem parou no tempo.
Obviamente, não há um consenso entre os pesquisadores sobre a nomenclatura em Parapsicologia. E, talvez, esse consenso nunca existirá, uma vez que a ciência não é estagnada. Por isso, sempre novas idéias vão surgindo, o que modifica conceitos. No entanto, um mínimo de acôrdo deve haver para a utilização de conceitos e denominações, ainda que eles não sejam perfeitamente adequados. Afinal, de algum ponto em comum temos que partir para chegarmos a algum lugar. Aí, mais uma vez, está a importância da atualização, pois, caso contrário, perderemos o bonde da história da Parapsicologia, e continuaremos a usar e receitar ungüentos de nossa pharmácia.
Interpsi
Machado, F. R. (1997). A Questão da Nomenclaruta em Parapsicologia. Anuário Brasileiro de Parapsicologia, nº 2. Recife: IPPP.
Profa. Dra. Fátima Regina Machado
Este artigo visa levantar mais uma vez a questão da nomenclatura utilizada em Parapsicologia, principalmente entre os parapsicológos brasileiros. De forma alguma tem a pretensão de esgotar o tema, visto que este tem sido conteúdo de diversas discussões na área e apresenta-se bastante complexo. Este trabalho apenas revisa alguns termos importantes que são utilizados a nível internacional, chamando a atenção para a importância de atualização dos estudiosos em Parapsicologia sobre o que ocorre no campo a nível mundial e a necessidade de falarmos “a mesma língua”.
Nossa Torre de Babel
Curiosamente, ainda figura entre os principais problemas enfrentados pela Parapsicologia no Brasil, o desacôrdo sobre como denominar os fenômenos parapsicológicos. Estudiosos da Parapsicologia que atuam no país - infelizmente, em sua grande maioria, ainda apenas em relação a discussões teóricas e não em pesquisas de campo ou de laboratório - adotam terminologias diversas para designar um mesmo tipo de fenômeno, ou, mais rigorosamente, experiência psi. Isto provoca, em especial, dois contratempos: (a) confunde o público leigo que recebe informações diversas sobre a Parapsicologia, sem solidificar um conhecimento básico e atualizado sobre o assunto; (b) dificulta a comunicação entre os próprios parapsicólogos, que vez por outra não se entendem devido ao fato de não “falarem a mesma língua”, ainda que compartilhem do português como idioma pátrio.
* A questão da nomenclatura não é muito simples de ser resolvida. Os grandes avanços no campo parapsicológico não ocorrem efetivamente em nosso país, onde o desenvolvimento de pesquisas ainda é precário por vários fatores: problemas econômicos, falta de informação, acomodação dos parapsicólogos, impedimentos por motivos políticos ligados a vaidades pessoais etc. Assim sendo, vários novos termos que vão surgindo a nível mundial - e até mesmo os que já figuram de longa data - carecem de uma tradução adequada à nossa língua. Um recurso que tem sido utilizado freqüentemente é manter a sigla em inglês, como é utilizada internacionalmente, e traduzir apenas o referido nome por extenso. (Ex. : ESP, do inglês extra sensory perception, que conhecemos como percepção extra-sensorial.)
Vale lembrar que a Parapsicologia não é provinciana: é uma ciência que se desenvolve a nível internacional e, portanto, não podemos nos fechar em nós mesmos, em nosso país, e decidir sozinhos o que faremos com ela. Estamos imersos no mundo parapsicológico - ainda que estejamos gatinhando dentro dele - por isso é preciso abrir os olhos para o que está além de nossas fronteiras. Obviamente existem barreiras de linguagem (Alvarado, 1989) que ainda dificultam a comunicação entrre pesquisadores, mas ao invés de nos lamentarmos quanto a isto, está na hora de começarmos a nos mexer para resolver isto. Nada impede que reflitamos acerca do campo e façamos sugestões acerca de novas nomenclaturas ou proponhamos novos tipos de pesquisa. Isto, aliás, seria excelente! Porém, há que se ter em mente que isto deveria ser exposto a nível da comunidade científica internacional, que teria a possibilidade de conhecer nossas idéias, discuti-las, criticá-las e, talvez, aceitá-la. Que fique claro não devemos apenas receber informações estrangeiras e aceitá-las passivamente. Antes, defendo o diálogo, através do qual, também podemos avaliar propostas e idéias dos colegas de outros países, criticar, sugerir. [2]
Voltando especificamente à questão da nomenclatura, pode-se dizer que apesar de a grande maioria dos pesquisadores em Parapsicologia adotar a terminologia proposta por Rhine, há ainda muita controvérsia sobre a denominação dos fenômenos parapsicológicos. Essa controvérsia reside principalmente no fato de os termos e denominações de fenômenos ou experiências estarem sujeitos aos avanços das pesquisas as quais, ao lançarem luz sobre determinado meandro parapsicológico, muitas vezes levam à reconsideração da terminologia referente àquele determinado estudo.
No Brasil, a desatualização quanto à terminologia mundialmente vigente - ainda que haja discordâncias - ocorre principalmente por falta de contato da grande maioria dos estudiosos da Parapsicologia com a a literatura e a comunidade científica internacional, o que faz com que muitos ainda utilizem e divulguem termos arcaicos que já há muito caíram em desuso, como a denominação proposta por Richet no Tratado de Metapsíquica (1922).
Discussões sobre nomenclatura em Parapsicologia
Segundo Walter F.Prince (1921), os principais problemas que a diversidade de termos provoca são (a) diferentes significados para um mesmo termo, (b) diferentes termos para um mesmo fenômeno e (c) novas e confusas definições de palavras já em uso na linguagem comum ou científica. Isto foi discutido, entre outros autores, por Nancy Zingrone e Carlos Alvarado que afirmam ser difícil se chegar a um consenso na área. (Zingrone & Alvarado, 1987, p. 67) Vários congressos e conferências foram realizados em tentativas de padronização: Copenhague (1921), Varsóvia (1923), Paris (1927), Atenas (1930), Sienna (1949), Utrech (1953). Além disso, mais recentemente algumas conferências sobre o tema são apresentadas em congressos e artigos a respeito foram publicados. (Beloff, 1979; Lucadou, 1984; Neppe, 1984, Thalbourne, 1985; Zingrone e Alvarado, 1987; Zangari, 1993) Vários glossários foram propostos, porém, o que alcança maior consenso quanto a sua utilidade é o de Thalbourne (1982). (Zingrone & Alvarado, 1987, pp. 65 e 66)
Como já foi dito, entre as várias denominações existentes para designar os fenômenos parapsicológicos, há quem prefira a nomenclatura proposta por Charles Richet utilizada na Metapsíquica[3]. Essa nomenclatura dividia os fenômenos paranormais em dois grandes grupos: os objetivos e os subjetivos. Estes, por sua vez, se subdividiam em várias denominações, muito semelhantes aos termos utilizados pelo Pe. Quevedo em seus livros. (Quevedo, 1982) Abrindo um parêntese, vale dizer que Quevedo utiliza a nomenclatura de Richet pelo fato de ela facilitar o cumprimento dos objetivos de Quevedo: desmascarar os chamados fenômenos espíritas. Sendo essa nomenclatura detalhada, provê recursos para encontrar explicações supostamente científicas para essas ocorrências. (Machado, 1996) Sendo, porém, a nomenclatura de Richet já obsoleta, por ora importa apenas dizer que os fenômenos subjetivos seriam aqueles ocorridos exclusivamente em termos psíquicos, sem ação dinâmica sobre os objetos materiais; os fenômenos objetivos seriam aqueles que envolvem ação física sobre o ambiente em que se manifestam.
Em 1953, foi realizado o I Congresso Internacional de Parapsicologia, na cidade de Utrech, Holanda, com a finalidade de estabelecer uma terminologia única a ser adotada pelos pesquisadores. Optou-se pela nomenclatura proposta por Thouless e Wiesner. Ficou decidido que os fenômenos parapsicológicos em geral seriam chamados de fenômenos psi[4], que foram subdivididos em dois grandes grupos: psi-gamma, correspondente aos fenômenos subjetivos, e psi-kappa, correspondente aos fenômenos objetivos. Alguns pesquisadores que admitem a intervenção de seres incorpóreos chamam os fenômenos que supostamente seriam produzidos por esses seres de psi-theta[5]. Porém, desde há muito, já não se utiliza mais, a nível internacional, os termos psi-gamma e psi-kappa, que já se tornaram, também, obsoletos.
Há ainda a questão da utilização do termo paranormal para designar os fenômenos parapsicológicos. Levanta-se uma série de discussões a respeito disso, questionando-se o sentido dessa denominação. Zangari (1993) expõe a opinião de outros parapsicólogos (Andrade, 1976; Borges, 1992; Irwin, 1989; Quevedo, 1982; Rao e Palmer, 1987; Stanford, 1977) e as discute em um artigo sobre a utilização do termo paranormal. Depois de discutir a etmologia da palavra paranormal, Zangari diz:
“... um fenômeno paranormal seria aquele para o qual a ciência não tem explicação, ou que se encontra fora de nossa expectativa, fora de nossas experiências do dia-a-dia, fora do padrão de experiências às quais estamos acostumados. Será que utilizando ‘fenômeno paranormal’ neste sentido poderíamos definir o campo de estudo da Parapsicologia? (...) Atribuir à Parapsicologia o dever de conhecer o que as outras ciências não conhecem seria o mesmo que imobilizar o progresso das ciências. Como sabemos, as ciências estão, a cada momento, se deparando com perguntas a respeito de seus objetos de estudo. Tais perguntas, por um lado, representam as limitações do conhecimento, mas, por outro, representam o estímulo da pesquisa científica. Se à Parapsicologia coubesse conhecer tudo o que as demaisciências não conhecem, não haveria mais necessidade de outras ciências, o que seria um absurdo. A Parapsicologia não tem tal abrangência.” (Zangari, 1993, p. 14)
Apesar de não haver consenso entre a utilização ou não da expressão paranormal em Parapsicologia, tenta-se amenizar os problemas de significação desse termo através de delimitações de significados que seriam próprias no caso de ele ser aplicado nesse campo de estudo.
Nomenclatura atual
Atualmente, a forma mais comum de se referir aos fenômenos pelos pesquisadores acadêmicos é aquela proposta e/ou utilizada por Joseph Banks Rhine. O Dr. Rhine adotou para denominação dos fenômenos subjetivos o termo percepção extra-sensorial (ESP, do inglês extrasensory perception) e, para os objetivos, psicocinesia. Essa nomenclatura se refere, sobretudo, à função psi, ou seja, à faculdade atribuída à mente capaz de produzir fenômenos psi. (Cf. Rhine, 1934, 1937, 1947, 1953; Rhine et al., 1966; Rhine & Rhine, 1943)
Os termos percepção extra-sensorial (ESP) e psicocinesia (PK) não foram cunhados por J.B.Rhine. O termo percepção extra-sensorial foi usado anteriormente por Pagenstecher (1924), Fisher(1926) e Sainville (1927) com o mesmo sentido empregado pelo Dr. Rhine. O termo psicocinesia foi usado por Holt em 1914 para designar o poder necessário para a realização da comunicação mediúnica, e Boirac usou o termo psicocinesia vital em 1908 com um sentido semelhante à psicocinesia de Rhine. (Zingrone & Alvarado, 1987, p. 51)
Segundo Joseph Rush, um dos autores de Foundations of Parapsychology (1987) um dos livros mais respeitados na área:
“A Parapsicologia (...) é o campo científico que estuda as interações sensoriais e motoras que aparentemente não são mediadas por nenhum mecanismo ou agente físico conhecido.” (Edge et al., 1987, p. 4)
Dependendo do modo como essas interações com o meio-ambiente ou com outros seres humanos ocorrem, há uma denominação específica para designá-las.
A percepção extra-sensorial, conhecida pela sigla ESP se refere a uma capacidade humana ligada à aquisição de conhecimento. Através da ESP as pessoas teriam a possibilidade de adquirir ou receber informações de modo diferente dos meios convencionais, isto é, sem que ninguém lhes diga nada, sem que qualquer pista de linguagem corporal contribua para que as informações sejam conhecidas ou sem que alguma mensagem escrita ou gravada seja recebida. De alguma forma, ultrapassando os limites dos sentidos humanos conhecidos, há a possibilidade de transmissão ou captação de informações. Diz-se transmissão ou captação porque, apesar de todas as pesquisas já realizadas sobre a ESP já terem apontado muitas pistas acerca de seu funcionamento, ainda não está claro se a mensagem envolvida nesse fenômeno é transmitida ou é captada ou ambos ao mesmo tempo. Já surgiram diversas teorias para tentar explicar não apenas esse mecanismo, mas também a natureza da ESP, porém nenhuma ainda foi considerada definitiva. Os testes demonstram - apesar da objeção dos céticos - que realmente algo acontece em certas circunstâncias que parece envolver algum tipo de capacidade humana que se adequa à hipótese de utilização da ESP. Porém essa falta de uma teoria consensual entre os próprios pesquisadores do campo constitui um obstáculo para o convencimento da existência de ESP daqueles que ainda colocam em xeque essa capacidade humana.
É importante dizer que o termo percepção extra-sensorial também é questionadoo que não significa, porém, que devamos abandonar essa denominação imediatamente.
“Muitos parapsicólogos agora concordam que o termo ‘percepçào extra-sensorial’ é uma expressão infeliz, uma vez que sugere que os referidos fenômenos são de natureza perceptiva, ou quase perceptiva. Mas, a menos que nossa visão sobre a percepção comum esteja seriamente equivocada (uma possibilidade que deve ser deixada em aberto), as várias formas de ESP aparentemente envolvem processos aparentemente bem diferentes das modalidades de sentido que nos são familiares. Não estou sugerindo que abandonemos o termo ‘ESP’; no momento ele ele é muito bem entrincheirado para ser amputado. Mas devemos estar alerta para não ficarmos seduzidos a pensar que a ESP seja algo parecido com a percepção comum.” (Braude, 1979, p.3)
Um dos maiores desafios para os estudiosos da ESP é a questão da violação das leis de tempo e espaço propostas pela Física clássica. A percepção extra-sensorial divide-se, didaticamente, em telepatia e clarividência. A telepatia ocorre quando há transmissão ou captação de informação entre duas pessoas. Quando a informação é obtida do meio ambiente, sem o envolvimento de uma outra mente, diz-se que ocorreu um fenômeno de clarividência. As pesquisas evidenciam que não há limites de distância entre a pessoa que “recebe” a informação e a pessoa ou local de onde ela possivelmente teria partido. Portanto, desafia os limites impostos pelo conceito de espaço em Física.
Quanto ao tempo, tanto a telepatia quanto a clarividência podem ser: (a) precognitivas (quando a informação se refere a um fato que ocorrerá no futuro); (b) simulcognitivas (quando o fato está ocorrendo no mesmo momento em que a informação é transmitida ou captada); (c) retrocognitivas (quando diz respeito a um evento ocorrido no passado sobre o qual a pessoa que “recebe” a informação não tinha conhecimento prévio).
Como foi dito, essa divisão é meramente didática e serve mais para estabelecer parâmetros de objetivos nos experimentos feitos em laboratórios. No caso dos fenômenos psi que ocorrem no cotidiano, muitas vezes é impossível distinguir e denominar didaticamente o que ocorreu. Por isso, Rhine introduziu a denominação percepção extra-sensorial em geral para englobar tanto os fenômenos de telepatia quanto os de clarividência. A sigla utilizada para a percepção extra-sensorial em geral é GESP, do inglês general extrasensory perception. (Beloff, 1993, p. 135)
A psicocinesia, outra categoria de fenômenos estudada pela Parapsicologia, diz respeito aos fenômenos extra-motores. Assim, a psicocinesia, ou PK (do inglês psychokinesis), está relacionada à movimentação de objetos sem a intervenção dos músculos ou utilização de algum aparelho ou mecanismo conhecido. Popularmente, a PK é conhecida como a ação da mente sobre a matéria.
A PK está envolvida nos casos das chamadas casas mal-assombradas ou poltergeist onde, tendo sido descartadas as possibilidades de fraude ou de má-interpretação de fenômenos físicos ou químicos considerados naturais, ocorre a movimentação, quebra e desaparecimento de objetos, combustão espontânea, queda de pedras dentro da casa, aparecimento inexplicável de água pelo local ou de fezes nos alimentos, comprometimento das instalações elétricas e sons e vozes cuja origem é desconhecida. A esses fenômenos que são diretamente observáveis, ainda que mais raros do que os de ESP, dá-se o nome técnico de macro-PK. Atualmente, o principal pesquisador dos fenômenos de macro-PK em casos espontâneos do tipo poltergeist é William Roll.
Há ainda outro tipo de PK, a chamada micro-PK, que se refere à influência mental sobre sistemas computadorizados, micro-organismos e sistemas vivos, em geral. Nesses casos, os efeitos da influência psicocinética não podem ser diretamente observados, dependendo do levantamento estatístico das respostas dos computadores ou de aparelhos que meçam a alteração fisiológica dos sistemas vivos. Incluem-se aqui as pesquisas relacionadas às curas através da possível atuação mental sobre um indivíduo doente e à influência no crescimento de plantas, o que é tecnicamente chamado de influência mental direta sobre sistemas vivos ou DMILS, do inglês direct mental influence on living sistems.
Apesar de Joseph Banks Rhine pressupor que a psicocinesia não se trataria de algo físico, mas sim de algo não-fisico, não há consenso entre os pesquisadores que se dedicam à pesquisa de PK sobre o que realmente faz com que aconteça essa modificação. (Palmer, 1993, p. 177) Já se sabe a respeito das razões e condições psicológicas que influenciam na ocorrência de tais casos, mas ainda não está definitivamente demonstrado se a natureza de PK é física ou espiritual (no sentido filosófico do termo). (Machado e Zangari, 1995)
Até o momento, há apenas definições negativas sobre os fenômenos parapsicológicos. Sabe-se o que eles não envolvem, mas não se conseguiu ainda descobrir sua verdadeira natureza. Há quem defenda que evidências obtidas através da pesquisa experimental apontam para a possibilidade de que ESP e PK teriam a mesma natureza, apenas manifestando-se de modo diferente. Talvez os termos ESP e PK também não passem apenas de uma divisão didática. (Braude, 1979)
A Parapsicologia também se ocupa do estudo dos fantasmas e aparições, e das experiências de lembranças de vidas passadas. Isto porque esses tipos de vivências podem constituir fenômenos psi e a situação em que esses fenômenos ou experiências ocorrem são importantes para trazer luz às pesquisas realizadas. É necessário que fique claro que a Parapsicologia não cuida apenas de fenômenos genuinamente parapsicológicos. No caso da investigação de ocorrências espontâneas, por exemplo, todos os eventos ocorridos no local são denominados de experiências psi ou parapsicológicas, e não imediatamente de fenômenos. Isto porque, muitas pessoas que têm a impressão de estar vivenciando um fenômeno psi está, na verdade, interpretando de forma errônea um evento absolutamente de acordo com os padrões considerados normais. Uma porta que se bate, por exemplo, devido à ação do vento, ou lâmpadas que se apagam sozinhas devido a problemas elétricos corriqueiros podem ser interpretados como algum fenômeno misterioso. Daí a importância de se diferenciar experiência parapsicológica de fenômeno parapsicológico. (Irwin, 1989)
No caso das experiências de visão de fantasmas ou aparições, a explicação para a ocorrência seria que essa visão se constituiria em um modo de levar à consciência uma informação obtida inconscientemente por ESP. Ao invés de a pessoa ter uma intuição ou um sonho, ela passa pela experiência de ver alguém que já faleceu ou ainda está vivo, trazendo-lhe a informação. Ou, outra possibilidade, é de que não haja nenhum conteúdo informativo, mas, por um motivo particular, a pessoa em questão aja psicocineticamente no ambiente criando algo que pode até mesmo ser observado por outras pessoas.
Além dos fenômenos citados, a Parapsicologia também tem interesse nas experiências fora-do-corpo, conhecidas como viagens astrais, e nas experiênciências próximas da morte quando há algum indício de envolvimento de um componente psi na experiência, o que, geralmente, não acontece. (Zangari e Machado, 1995)
Quanto às pesquisas experimentais, três termos não podem deixar de ser citados, pois denominam os principais experimentos de ponta da atualidade: ganzfeld, visão remota ou visão à distância e influência mental direta sobre sistemas vivos (já citado e comentado anteriormente).
Ganzfeld, que significa campo completo, é uma técnica experimental que vem sendo aperfeiçoada e variada desde 1974, quando começou a ser utilizada. No experimento ganzfeld, desenvolvido especialmente por Charles Honorton, basicamente o sujeito é instalado confortavelmente em uma poltrona reclinável, com duas meias bolinhas de pingue-pongue sobre os olhos e uma luz vermelha iluminando o ambiente. Com os olhos abertos, ele só enxerga uma amplidão avermelhada que faz com ele perca a noção de profundidade. Além disso, fones de ouvidos com ruído branco propiciam um estado de homogeneização sensorial que facilita a formação de imagens mentais. Enquanto o sujeito se encontra nessa posição, um agente está em outra sala e tenta transmitir a ele um alvo escolhido aleatoriamente[6]. Durante o experimento, o sujeito fala tudo o que lhe vem à mente, e o seu relato é gravado em fita cassete e, ao final do experimento, é comparado com outras quatro figuras uma, dentre as quais, é o verdadeiro alvo. O sujeito escolhe a que mais se aproxima das imagens mentais ou das sensações que teve. Os resultados são, em geral, surpreendentemente bons e muito acima do esperado pela acaso em termos estatísticos. (Honorton, 1974, 1978, 1983, 1985; Honorton et. al., 1990)
No experimento de visão remota ou visão à distância, o sujeito não precisa estar em um estado alterado de consciência para acertar o alvo. O experimento de visão remota consiste basicamente em que uma pessoa se dirija a um determinado local selecionado aleatoriamente e observe todos os seus detalhes, demorando-se por determinado tempo nesse lugar. Enquanto isso, o sujeito tenta descrever onde está essa outra pessoa, narrando imagens que lhe vêm à mente ou desenhando o suposto local. Esses experimentos foram primordialmente desenvolvidos pelos físicos Russell Targ e Harald Puthoff na década de 1970, no Stanford Research Instituto, em Menlo Park, próximo a São Francisco. (Targ & Puthoff, 1978) Os resultados foram estatisticamente significativos. Recentemente foram anunciadas notícias sobre milhões de dólares que foram empregados pelos Estados Unidos durante vinte anos no projeto Star Gate que apoiava pesquisas de visão remota com vistas a futuras aplicações militares. Edwin May, presidente da Parapsychological Association (1996) esteve à frente dessas pesquisas. Os resultados foram bastante significativos. A técnica ainda está sendo aprimorada e variações do experimento têm sido testadas.
Conclusão
Como foi dito no início, este artigo representa apenas uma provocação para, mais uma vez, trazer à tona a discussão a respeito da nomenclatura em Parapsicologia. Fica claro que é de suma importância a atualização em relação aos avanços da área, que até o momento ocorrem principalmente no exterior. Por isso, sugiro a leitura dos artigos e livros sobre o assunto, indicados neste trabalho, pois são fontes riquíssimas de questionamentos e esclarecimentos de questões conceituais, que aqui não pude desenvolver com maior profundidade por questões de delimitações de laudas.
Para que consigamos acertar o passo, é imprescindível que tenhamos uma atitude de abertura em relação ao que “vem de fora” - que, a meu ver, “vem de dentro”, uma vez que, não importa em que país estejamos, fazemos parte de uma comunidade científica única - e a humildade de rever conceitos e idéias. Alegoricamente falando, já não se escreve mais pharmácia e, por mais clássico e elegante que julguemos essa grafia, há que se reconhecer que utilizá-la hoje seria, no mínimo, comportamento de quem parou no tempo.
Obviamente, não há um consenso entre os pesquisadores sobre a nomenclatura em Parapsicologia. E, talvez, esse consenso nunca existirá, uma vez que a ciência não é estagnada. Por isso, sempre novas idéias vão surgindo, o que modifica conceitos. No entanto, um mínimo de acôrdo deve haver para a utilização de conceitos e denominações, ainda que eles não sejam perfeitamente adequados. Afinal, de algum ponto em comum temos que partir para chegarmos a algum lugar. Aí, mais uma vez, está a importância da atualização, pois, caso contrário, perderemos o bonde da história da Parapsicologia, e continuaremos a usar e receitar ungüentos de nossa pharmácia.
Interpsi