O petróleo é nosso. E do Irã também.
Enviado: 28 Abr 2006, 19:05
Coluna Josias de Souza, 22 de abril de 2006
*** O Petróleo é nosso. E do Irã também ***
No Planalto
O Brasil está em festa. A máquina marqueteira do governo foi acionada para faturar eleitoralmente a obtenção da auto-suficiência na produção de petróleo. Significa dizer que a Petrobras vai produzir em 2006 uma média diária de barris de óleo (1,9 milhão) superior à média de consumo nacional
(1,8 milhão de barris por dia).
Sem querer estragar os festejos, vai aqui um aviso aos navegantes: não há razão para tanto regozijo. Antes de soltar fogos, convém prestar atenção na encrenca que está sendo armada no mercado petrolífero mundial. Vale a pena, de resto, notar que o êxito brasileiro foi construído sobre os pilares do
crescimento econômico medíocre.
Na mesma sexta-feira em que Lula, imitando o gesto de Getúlio Vargas, molhou as mãos de olho na bacia de Campos (RJ), o perigo se insinuava nas cotações do mercado internacional. O petróleo negociado em Nova York fechou acima de US$ 75 o barril.
No mercado de Londres, referência na Europa, a cotação do barril bateu em US$ 73,18, um pequeno recuo em relação ao preço da véspera (US$ 74), o nono recorde consecutivo. A alta mundial do petróleo tem nome. Chama-se Mahmud Ahmadineyad.
Mercê de suas aspirações nucleares, o presidente do Irã, segundo maior produtor da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e quarto maior produtor do mundo, injeta nervosismo na cena internacional. A perspectiva de que a ONU imponha sanções ao Irã ou de que Washington resolva
jogar bombas sobre a cabeça de Ahmadineyad, impregnam o futuro da economia global de dúvidas.
Admita-se que os novos patamares de produção da Petrobras acomodam o Brasil em posição de menor vulnerabilidade do que a que se encontrava na crise petrolífera dos anos 70. Mas só o desvirtuamento próprio de ambientes pré-eleitorais pode levar à desconsideração da evidência de que não estamos alheios ao risco.
Não é preciso ser economista para intuir que, caso os preços do petróleo atinjam patamares que prejudiquem os EUA, o crescimento do PIB global será posto em risco. Com impactos nefastos em países emergentes como o Brasil.
Entra-se, então, no segundo ponto ofuscado pelas comemorações. Graças aos méritos da Petrobras, a auto-suficiência viria cedo ou tarde. Veio mais cedo porque o crescimento econômico (média anual de 2,32% sob FHC e de 2,54% sob Lula) vem sendo ridículo. Uma evolução mais vigorosa do PIB resultaria em aumento do consumo de petróleo e a aclamada auto-suficiência cairia por terra em pouco tempo.
Ou seja, estamos estourando champanhe pela nossa desgraça. Celebramos os efeitos –a auto-suficiência—, sem reparar na causa –o desempenho medíocre da economia. De quebra, fechamos os olhos para o desastre que se arma lá fora.
Um desatino que pode resultar em PIBs ainda mais constrangedores. Não há de ser nada. Crescendo menos, logo estaremos erguendo novos brindes pelo desempenho ainda mais vigoroso da Petrobras. O petróleo, afinal, é nosso.
*** O Petróleo é nosso. E do Irã também ***
No Planalto
O Brasil está em festa. A máquina marqueteira do governo foi acionada para faturar eleitoralmente a obtenção da auto-suficiência na produção de petróleo. Significa dizer que a Petrobras vai produzir em 2006 uma média diária de barris de óleo (1,9 milhão) superior à média de consumo nacional
(1,8 milhão de barris por dia).
Sem querer estragar os festejos, vai aqui um aviso aos navegantes: não há razão para tanto regozijo. Antes de soltar fogos, convém prestar atenção na encrenca que está sendo armada no mercado petrolífero mundial. Vale a pena, de resto, notar que o êxito brasileiro foi construído sobre os pilares do
crescimento econômico medíocre.
Na mesma sexta-feira em que Lula, imitando o gesto de Getúlio Vargas, molhou as mãos de olho na bacia de Campos (RJ), o perigo se insinuava nas cotações do mercado internacional. O petróleo negociado em Nova York fechou acima de US$ 75 o barril.
No mercado de Londres, referência na Europa, a cotação do barril bateu em US$ 73,18, um pequeno recuo em relação ao preço da véspera (US$ 74), o nono recorde consecutivo. A alta mundial do petróleo tem nome. Chama-se Mahmud Ahmadineyad.
Mercê de suas aspirações nucleares, o presidente do Irã, segundo maior produtor da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e quarto maior produtor do mundo, injeta nervosismo na cena internacional. A perspectiva de que a ONU imponha sanções ao Irã ou de que Washington resolva
jogar bombas sobre a cabeça de Ahmadineyad, impregnam o futuro da economia global de dúvidas.
Admita-se que os novos patamares de produção da Petrobras acomodam o Brasil em posição de menor vulnerabilidade do que a que se encontrava na crise petrolífera dos anos 70. Mas só o desvirtuamento próprio de ambientes pré-eleitorais pode levar à desconsideração da evidência de que não estamos alheios ao risco.
Não é preciso ser economista para intuir que, caso os preços do petróleo atinjam patamares que prejudiquem os EUA, o crescimento do PIB global será posto em risco. Com impactos nefastos em países emergentes como o Brasil.
Entra-se, então, no segundo ponto ofuscado pelas comemorações. Graças aos méritos da Petrobras, a auto-suficiência viria cedo ou tarde. Veio mais cedo porque o crescimento econômico (média anual de 2,32% sob FHC e de 2,54% sob Lula) vem sendo ridículo. Uma evolução mais vigorosa do PIB resultaria em aumento do consumo de petróleo e a aclamada auto-suficiência cairia por terra em pouco tempo.
Ou seja, estamos estourando champanhe pela nossa desgraça. Celebramos os efeitos –a auto-suficiência—, sem reparar na causa –o desempenho medíocre da economia. De quebra, fechamos os olhos para o desastre que se arma lá fora.
Um desatino que pode resultar em PIBs ainda mais constrangedores. Não há de ser nada. Crescendo menos, logo estaremos erguendo novos brindes pelo desempenho ainda mais vigoroso da Petrobras. O petróleo, afinal, é nosso.