A história da descrença...
Enviado: 01 Mai 2006, 10:19
Senhores, encontrei um livro que aparenta ser bem interessante a venda nas Lojas Americanas por um preço pra lá de acessível. Trata-se de um livro sobre personalidades, seitas e movimentos que duvidaram do paradigma religioso de sua época.
Vc pode encontrá-lo em algumas Lojas Americanas na promoção por R$10,00. (O preço original: R$89,00)
Uma resenha:
Mídia Digital:
Pedigree da descrença
http://www.hospedevip.com.br/noticias/4188.html
O livro é grosso e caro, mas também luminoso: estou falando de Dúvida: Uma História, da historiadora e poetisa americana Jennifer Michael Hecht, lançado recentemente no Brasil pela Ediouro. Com mais de 500 páginas, o livro é exatamente aquilo que o título diz: uma história universal da dúvida, do ceticismo e do ateísmo nas diversas culturas, tradições e religiões da humanidade.
Como a própria autora reconhece, a maioria das pessoas talvez não veja, exatamente, que história poderia existir para contar aí. Afinal, na história do mundo como a conhecemos, foram as crenças que geraram santos, heróis, mártires e fanáticos, ergueram ou arrasaram civilizações.
O que a dúvida fez, em comparação? A autora afirma que existem “santos da dúvida, mártires do ateísmo, sábios da descrença”. Nós só não os vemos como tal. Dúvida: Uma História coloca essas personalidades em perspectiva, e mostra o papel da dúvida não só na construção e estabelecimento de novas crenças, mas como uma tradição em si.
A história que a autora conta começa com os gregos e prossegue saltando entre Oriente e Ocidente, do epicurismo ao budismo, do estoicismo ao cinismo e ao deísmo: correntes de pensamento que ou negaram abertamente os deuses, ou apenas reconheciam as divindades como figuras distantes e, para todos os efeitos, ausentes.
O livro traça a evolução da dúvida, de uma postura particular, ou um segredo para iniciados – em público, os ateus de Roma homenageavam os deuses do Estado – para o surgimento do ateísmo militante, ou antiteísmo: a idéia de que a crença em divindades, em particular, e as religiões, no geral, são coisas ruins e devem ser combatidas na arena pública. Com não pequeno risco pessoal, claro.
Mas Dúvida: Uma História não se restringe ao passado. A seção mais surpreendente do livro talvez seja a que trata da dúvida islâmica contemporânea. Para nós ocidentais, acostumados a ver o mundo árabe e muçulmano como um bloco monolítico de fé, é surpreendente travar contato com os filósofos, pensadores e poetas que atacaram o Profeta e sua doutrina – de dentro. Jennifer Hecht dá voz aos atuais ateus do Islã, frustrados e chocados com o tratamento “luvas de pelica” que os intelectuais do Ocidente dispensam às crenças muçulmanas: o que eles querem é que o Alcorão seja criticado como foi a Bíblia, e não respeitado em nome do multiculturalismo.
Além de apresentar uma narrativa fascinante e um contraponto essencial à história como a conhecemos, o livro de Jennifer Hecht também tem um efeito terapêutico: mostra aos que duvidam que eles não só não estão sós, como têm um pedigree respeitável. A comunidade dos incréus pode ser mais difusa e individualista que qualquer igreja, mas está aí. É só ler para ver.
Vc pode encontrá-lo em algumas Lojas Americanas na promoção por R$10,00. (O preço original: R$89,00)
Uma resenha:
Mídia Digital:
Pedigree da descrença
http://www.hospedevip.com.br/noticias/4188.html
O livro é grosso e caro, mas também luminoso: estou falando de Dúvida: Uma História, da historiadora e poetisa americana Jennifer Michael Hecht, lançado recentemente no Brasil pela Ediouro. Com mais de 500 páginas, o livro é exatamente aquilo que o título diz: uma história universal da dúvida, do ceticismo e do ateísmo nas diversas culturas, tradições e religiões da humanidade.
Como a própria autora reconhece, a maioria das pessoas talvez não veja, exatamente, que história poderia existir para contar aí. Afinal, na história do mundo como a conhecemos, foram as crenças que geraram santos, heróis, mártires e fanáticos, ergueram ou arrasaram civilizações.
O que a dúvida fez, em comparação? A autora afirma que existem “santos da dúvida, mártires do ateísmo, sábios da descrença”. Nós só não os vemos como tal. Dúvida: Uma História coloca essas personalidades em perspectiva, e mostra o papel da dúvida não só na construção e estabelecimento de novas crenças, mas como uma tradição em si.
A história que a autora conta começa com os gregos e prossegue saltando entre Oriente e Ocidente, do epicurismo ao budismo, do estoicismo ao cinismo e ao deísmo: correntes de pensamento que ou negaram abertamente os deuses, ou apenas reconheciam as divindades como figuras distantes e, para todos os efeitos, ausentes.
O livro traça a evolução da dúvida, de uma postura particular, ou um segredo para iniciados – em público, os ateus de Roma homenageavam os deuses do Estado – para o surgimento do ateísmo militante, ou antiteísmo: a idéia de que a crença em divindades, em particular, e as religiões, no geral, são coisas ruins e devem ser combatidas na arena pública. Com não pequeno risco pessoal, claro.
Mas Dúvida: Uma História não se restringe ao passado. A seção mais surpreendente do livro talvez seja a que trata da dúvida islâmica contemporânea. Para nós ocidentais, acostumados a ver o mundo árabe e muçulmano como um bloco monolítico de fé, é surpreendente travar contato com os filósofos, pensadores e poetas que atacaram o Profeta e sua doutrina – de dentro. Jennifer Hecht dá voz aos atuais ateus do Islã, frustrados e chocados com o tratamento “luvas de pelica” que os intelectuais do Ocidente dispensam às crenças muçulmanas: o que eles querem é que o Alcorão seja criticado como foi a Bíblia, e não respeitado em nome do multiculturalismo.
Além de apresentar uma narrativa fascinante e um contraponto essencial à história como a conhecemos, o livro de Jennifer Hecht também tem um efeito terapêutico: mostra aos que duvidam que eles não só não estão sós, como têm um pedigree respeitável. A comunidade dos incréus pode ser mais difusa e individualista que qualquer igreja, mas está aí. É só ler para ver.