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Indústria oferece aviões que levam passageiros de pé

Enviado: 02 Mai 2006, 15:44
por Res Cogitans
Indústria oferece aviões que levam passageiros de pé

Linhas aéreas começam a mudar materiais e a estudar modos de comprimir cada vez mais pessoas nos vôos

Christopher Elliott escreve para o "New York Times":

As linhas aéreas chegaram a uma nova resposta para uma pergunta velha: quantos passageiros podem ser comprimidos na classe econômica de um avião? Muitos mais do que se imaginava, ao que parece, especialmente se uma idéia que está em seus estágios iniciais vier a obter sucesso: passagens para viajar em pé.

A Airbus vem discretamente oferecendo a opção de uma seção sem assentos para linhas aéreas asiáticas, ainda que nenhuma delas tenha aceitado a proposta até agora. Os passageiros da seção sem assentos se apoiariam contra um anteparo acolchoado, e ficariam presos a ele por um cinto, de acordo com especialistas que viram a proposta.

Mas mesmo que essa opção não venha a ser adotada, as linhas aéreas vêm acrescentando uma ou duas fileiras a mais assentos às suas classes econômicas, explorando materiais mais fortes e leves desenvolvidos pelos fabricantes de assentos, os quais permitem encostos menos espessos.

Os encostos mais finos teoricamente poderiam ser usados para oferecer mais espaço às pernas dos passageiros, mas na prática as linhas aéreas vêm mantendo o intervalo normal entre as fileiras e optaram por acomodar mais fileiras de assentos no espaço da classe econômica.

O resultado final é o acréscimo de seis assentos a um Boeing-737 típico, que passa a acomodar 156 passageiros, e até 12 lugares adicionais em um Boeing-757, que chega a 200.

Que soluções como essas venham a ser consideradas resulta de diversos fatores. Os custos elevados do combustível, por exemplo, vêm dificultando a realização de lucros pelas linhas aéreas.

A nova tecnologia de assentos, por si só, quando usada para aumentar o número de lugares disponíveis para passageiros, pode elevar a receita anual de uma empresa em milhões de dólares.

Os novos modelos também reduzem o peso das poltronas de passageiros em até sete quilos, o que ajuda a conter o consumo de combustível. Uma poltrona típica da classe econômica tem seu peso reduzido de 37 para 33 quilos.

"Claramente existe pressão sobre os fabricantes para que tornem o mais eficiente possível a contagem de passageiros", diz Howard Guy, diretor da Design Q, uma consultoria de projeto de assentos no Reino Unido. "Afinal, quanto menos lugares houver a bordo, mais alto o preço da passagem. Isso é matemática básica".

Enquanto as linhas aéreas reduzem a espessura dos encostos na classe econômico, as poltronas da primeira classe e da classe executiva se tornam cada vez mais espessas e pesadas e os esforços de promoção dessas duas classes são cada vez mais intensos. Isso se deve ao fato de que um passageiro em qualquer dessas classes gera receita diversas vezes mais alta do que em classe econômica.

Na parte dianteira da cabine, a ênfase é o conforto e amenidades como sistemas sofisticados de entretenimento. Algumas das novas poltronas chegam a incluir aparelhos de massagem elétrica. E, evidentemente, as linhas aéreas instalaram assentos que permitem que os passageiros das classes mais elevadas se deitem, nas rotas internacionais.

Os especialistas em acomodação de passageiros dizem que toda a publicidade que as linhas aéreas dedicam às poltronas mais confortáveis desvia a atenção do que vem acontecendo na traseira dos aviões. Na cabine principal, dizem, os fabricantes vêm sofrendo intensa pressão para criar assentos mais eficientes.

"Nós produzimos encostos mais finos", diz Alexander Pozzi, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Weber Aircraft, fabricante de poltronas para aviões sediada em Gainesville, Texas. "As linhas aéreas os instalam cada vez mais próximos uns dos outros. Nós só tentamos torná-lo tão confortáveis quanto podemos".

Há pelo menos uma boa notícia, quanto aos encostos mais finos na econômica. Eles oferecem um pouco mais de espaço entre os apoios de braço, porque os aparelhos eletrônicos estão indo para as costas das poltronas.
(Tradução de Paulo Migliacci)
(Folha de SP, 27/4)