O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca
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O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca
O conhecimento inútil
André Azevedo da Fonseca
Hoje, assim como antigamente, o inimigo do homem está no fundo dele próprio. Mas não é mais o mesmo: antes, era a ignorância; hoje, é a mentira. (REVEL, 1991, p.24).
O filósofo francês Jean-François Revel, autor de O conhecimento inútil (Bertrand Brasil, 1991), trouxe uma questão inquietante para a propalada "sociedade do conhecimento". Vale a pena tirar o livro da estante e reler, mais de dez anos depois, algumas de suas análises.
Jean-François Revel critica o uso ideológico da informação
Para introduzir o tema, Revel observa que a civilização do século XX, mais do que qualquer outra, propagou com entusiasmo o discurso da disseminação de informação, do ensino, da ciência e da cultura. No geral, o tempo de permanência na escola aumentou, os meios de comunicação multiplicaram-se e passaram a veicular uma quantidade de informação inconcebível há duas ou três gerações. Assim, ainda que a circulação de conhecimento no planeta seja desigual, é inegável que governantes e administradores têm melhores condições de saber sobre em que dados apoiar suas decisões, e os cidadãos estão mais bem informados sobre o que fazem aqueles que decidem. Mas o autor propõe que investiguemos se essa ampla difusão de informação ocasionou, "como seria natural esperar", uma gestão mais acertada e justa da humanidade.
Lamentavelmente, não é isso que mostra a história. O século XX, um dos mais sangrentos de todos os tempos, lembra o filósofo, "singulariza-se pela aplicação de suas opressões, de suas perseguições, de seus extermínios". Foi o período no qual, ao lado de grandes conquistas na área da tecnologia, da saúde e das artes, sistematizou-se o genocídio, o campo de concentração, a extinção de nações inteiras pela guerra ou pela fome organizada, o terrorismo, a escravidão e as formas mais sofisticadas de escavidão. Foi também, de acordo com relatório da ONU de 2002, o século que terminou com 1 bilhão e 100 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, ou seja, com menos de 1U$ por dia.
Essa dinâmica, para Revel, inviabiliza os prognósticos de que a "era da comunicação" teria tudo para comemorar o triunfo da democracia. O que explica, então, que com tanta informação, com tanta circulação de conhecimento, ainda erramos tanto?
Talvez seja consequência de um cálculo, em todo caso racional, que nos abstemos de utilizar o que sabemos, pois existem circunstâncias frequentes na vida das sociedades, assim como na dos indivíduos, em que se evita considerar uma verdade que se conhece muito bem, porque, caso as consequências fossem avaliadas, perceber-se-ia que a ação seria contra seu próprio interesse. (REVEL, 1991, pp. 9-10).
Seria possível que a própria abundância de informação excitasse o desejo de ocultá-las, em vez de utilizá-las? Será que a abordagem da verdade desencadeia mais ressentimento que satisfação, mais sensação de perigo do que de poder?, questiona. Para Revel, essas interrogações apenas se aproximam das margens do verdadeiro mistério.
Tem-se em conta que as sociedades abertas são, ao mesmo tempo, causa e efeito da liberdade de produzir, difundir e receber informação. A democracia, regime baseado na livre-determinação das grandes escolhas pela maioria, caminharia inevitavelmente ao fracasso caso os cidadãos que fazem essas escolhas se pronunciassem na "ignorância das realidades, na cegueira de uma paixão ou na ilusão de uma impressão passageira".
Mas Revel observa que viver em um mundo moldado pela prática da ciência não significa imaginar que os seres humanos como um todo pensam de forma científica. Isso quer dizer que, na prática, a quase totalidade dos indivíduos utiliza os instrumentos criados pela ciência sem participar intelectualmente do grupo de disciplinas do pensamento que geram as invenções e organizam as descobertas. Por outro lado, e essa é uma chave para se esboçar a compreensão do processo, mesmo os cientistas mais brilhantes estão sujeitos a "forjar suas opiniões políticas e morais de maneira tão arbitrária e sob influência de considerações tão insensatas quanto os homens que não possuem qualquer experiência de raciocínio científico."
Revel observa que as opiniões são estruturadas através de diversas influências, e que o discernimento intelectual frequentemente "ocupa o último lugar, antecedido por crenças, meio cultural, acaso, aparências, paixões, idéias preconcebidas e preguiça de espírito". E afirma ainda que "cada um de nós deve saber que possui, em si, essa perigosa capacidade de construir um sistema explicativo do mundo e, ao mesmo tempo, uma máquina de rejeitar todos os fatos contrários a este sistema".
Quando o que está por trás da opinião é uma base ideológica, a comunicação se torna ainda mais contaminada. Revel acredita que a ideologia é a principal fonte de desorganização da informação — pois, para sustentar-se, necessita de mentiras sistemáticas, e não simplesmente ocasionais. Portanto, para permanecer intacta, precisa defender-se incessantemente contra o testemunho dos sentidos e da inteligência, e é obrigada a modificar constantemente a imagem do mundo em função da visão que se deseja manter.
O problema é complexo. Um princípio fundamental da democracia é que todas as opiniões têm o direito de serem expressas. Mas é também inequívoco que a democracia é também um sistema que só pode funcionar se os cidadãos dispuserem de um mínimo de informações corretas. Para Revel, não há contradição entre os dois princípios. "A imprensa, repete-se incessantemente, deve ser pluralista. Ora, é a opinião que pode ser pluralista, não a informação. Conforme a sua própria natureza, a informação pode ser falsa ou verdadeira, não pluralista", escreve. Para ele, o problema da imprensa moderna vem precisamente de que o direito amplamente reconhecido de expressar as opiniões, "incluindo as mais extravagantes e rancorosas, o direito de errar, mentir e ser estúpido" influenciou a missão da informação. Em outras palavras, o axioma 'o comentário é livre, a informação é sagrada', acredita o autor, foi pervertida para 'o comentário é sagrado, a informação é livre'. E para ele, o mal mais prejudicial, e infelizmente comum, é a "opinião disfarçada de informação".
Portanto, em plena era da comunicação de massa, Revel defende que as convicções da humanidade não decorrem, de modo algum, de um maior acesso ao raciocínio científico ou de uma compreensão aprofundada dos elementos do debate.
O público só tem acesso às conclusões grosseiramente simplificadas e não aos raciocínios que as fixaram, mesmo quando se trata de problemas (o da Aids, por exemplo) relativamente simples de se expor. O público moderno continua a viver, como o seu predecessor da Idade Média, sob o argumento da autoridade: "É verdade porque um tal prêmio Nobel o disse." (REVEL, 1991, p.232)
revel morreu no início do mês.
http://www.revelacaoonline.uniube.br/po ... nutil.html
André Azevedo da Fonseca
Hoje, assim como antigamente, o inimigo do homem está no fundo dele próprio. Mas não é mais o mesmo: antes, era a ignorância; hoje, é a mentira. (REVEL, 1991, p.24).
O filósofo francês Jean-François Revel, autor de O conhecimento inútil (Bertrand Brasil, 1991), trouxe uma questão inquietante para a propalada "sociedade do conhecimento". Vale a pena tirar o livro da estante e reler, mais de dez anos depois, algumas de suas análises.
Jean-François Revel critica o uso ideológico da informação
Para introduzir o tema, Revel observa que a civilização do século XX, mais do que qualquer outra, propagou com entusiasmo o discurso da disseminação de informação, do ensino, da ciência e da cultura. No geral, o tempo de permanência na escola aumentou, os meios de comunicação multiplicaram-se e passaram a veicular uma quantidade de informação inconcebível há duas ou três gerações. Assim, ainda que a circulação de conhecimento no planeta seja desigual, é inegável que governantes e administradores têm melhores condições de saber sobre em que dados apoiar suas decisões, e os cidadãos estão mais bem informados sobre o que fazem aqueles que decidem. Mas o autor propõe que investiguemos se essa ampla difusão de informação ocasionou, "como seria natural esperar", uma gestão mais acertada e justa da humanidade.
Lamentavelmente, não é isso que mostra a história. O século XX, um dos mais sangrentos de todos os tempos, lembra o filósofo, "singulariza-se pela aplicação de suas opressões, de suas perseguições, de seus extermínios". Foi o período no qual, ao lado de grandes conquistas na área da tecnologia, da saúde e das artes, sistematizou-se o genocídio, o campo de concentração, a extinção de nações inteiras pela guerra ou pela fome organizada, o terrorismo, a escravidão e as formas mais sofisticadas de escavidão. Foi também, de acordo com relatório da ONU de 2002, o século que terminou com 1 bilhão e 100 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, ou seja, com menos de 1U$ por dia.
Essa dinâmica, para Revel, inviabiliza os prognósticos de que a "era da comunicação" teria tudo para comemorar o triunfo da democracia. O que explica, então, que com tanta informação, com tanta circulação de conhecimento, ainda erramos tanto?
Talvez seja consequência de um cálculo, em todo caso racional, que nos abstemos de utilizar o que sabemos, pois existem circunstâncias frequentes na vida das sociedades, assim como na dos indivíduos, em que se evita considerar uma verdade que se conhece muito bem, porque, caso as consequências fossem avaliadas, perceber-se-ia que a ação seria contra seu próprio interesse. (REVEL, 1991, pp. 9-10).
Seria possível que a própria abundância de informação excitasse o desejo de ocultá-las, em vez de utilizá-las? Será que a abordagem da verdade desencadeia mais ressentimento que satisfação, mais sensação de perigo do que de poder?, questiona. Para Revel, essas interrogações apenas se aproximam das margens do verdadeiro mistério.
Tem-se em conta que as sociedades abertas são, ao mesmo tempo, causa e efeito da liberdade de produzir, difundir e receber informação. A democracia, regime baseado na livre-determinação das grandes escolhas pela maioria, caminharia inevitavelmente ao fracasso caso os cidadãos que fazem essas escolhas se pronunciassem na "ignorância das realidades, na cegueira de uma paixão ou na ilusão de uma impressão passageira".
Mas Revel observa que viver em um mundo moldado pela prática da ciência não significa imaginar que os seres humanos como um todo pensam de forma científica. Isso quer dizer que, na prática, a quase totalidade dos indivíduos utiliza os instrumentos criados pela ciência sem participar intelectualmente do grupo de disciplinas do pensamento que geram as invenções e organizam as descobertas. Por outro lado, e essa é uma chave para se esboçar a compreensão do processo, mesmo os cientistas mais brilhantes estão sujeitos a "forjar suas opiniões políticas e morais de maneira tão arbitrária e sob influência de considerações tão insensatas quanto os homens que não possuem qualquer experiência de raciocínio científico."
Revel observa que as opiniões são estruturadas através de diversas influências, e que o discernimento intelectual frequentemente "ocupa o último lugar, antecedido por crenças, meio cultural, acaso, aparências, paixões, idéias preconcebidas e preguiça de espírito". E afirma ainda que "cada um de nós deve saber que possui, em si, essa perigosa capacidade de construir um sistema explicativo do mundo e, ao mesmo tempo, uma máquina de rejeitar todos os fatos contrários a este sistema".
Quando o que está por trás da opinião é uma base ideológica, a comunicação se torna ainda mais contaminada. Revel acredita que a ideologia é a principal fonte de desorganização da informação — pois, para sustentar-se, necessita de mentiras sistemáticas, e não simplesmente ocasionais. Portanto, para permanecer intacta, precisa defender-se incessantemente contra o testemunho dos sentidos e da inteligência, e é obrigada a modificar constantemente a imagem do mundo em função da visão que se deseja manter.
O problema é complexo. Um princípio fundamental da democracia é que todas as opiniões têm o direito de serem expressas. Mas é também inequívoco que a democracia é também um sistema que só pode funcionar se os cidadãos dispuserem de um mínimo de informações corretas. Para Revel, não há contradição entre os dois princípios. "A imprensa, repete-se incessantemente, deve ser pluralista. Ora, é a opinião que pode ser pluralista, não a informação. Conforme a sua própria natureza, a informação pode ser falsa ou verdadeira, não pluralista", escreve. Para ele, o problema da imprensa moderna vem precisamente de que o direito amplamente reconhecido de expressar as opiniões, "incluindo as mais extravagantes e rancorosas, o direito de errar, mentir e ser estúpido" influenciou a missão da informação. Em outras palavras, o axioma 'o comentário é livre, a informação é sagrada', acredita o autor, foi pervertida para 'o comentário é sagrado, a informação é livre'. E para ele, o mal mais prejudicial, e infelizmente comum, é a "opinião disfarçada de informação".
Portanto, em plena era da comunicação de massa, Revel defende que as convicções da humanidade não decorrem, de modo algum, de um maior acesso ao raciocínio científico ou de uma compreensão aprofundada dos elementos do debate.
O público só tem acesso às conclusões grosseiramente simplificadas e não aos raciocínios que as fixaram, mesmo quando se trata de problemas (o da Aids, por exemplo) relativamente simples de se expor. O público moderno continua a viver, como o seu predecessor da Idade Média, sob o argumento da autoridade: "É verdade porque um tal prêmio Nobel o disse." (REVEL, 1991, p.232)
revel morreu no início do mês.
http://www.revelacaoonline.uniube.br/po ... nutil.html
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A descrição perfeita do Marxismo:
Revel acredita que a ideologia é a principal fonte de desorganização da informação — pois, para sustentar-se, necessita de mentiras sistemáticas, e não simplesmente ocasionais. Portanto, para permanecer intacta, precisa defender-se incessantemente contra o testemunho dos sentidos e da inteligência, e é obrigada a modificar constantemente a imagem do mundo em função da visão que se deseja manter.
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Dante, the Wicked escreveu:A descrição perfeita do Marxismo:Revel acredita que a ideologia é a principal fonte de desorganização da informação — pois, para sustentar-se, necessita de mentiras sistemáticas, e não simplesmente ocasionais. Portanto, para permanecer intacta, precisa defender-se incessantemente contra o testemunho dos sentidos e da inteligência, e é obrigada a modificar constantemente a imagem do mundo em função da visão que se deseja manter.
Ainda com esse positivismo lógico popperiano, Dante? tsc tsc.
E aí? Já conseguiu um mecanismo formal e objetivo que consiga mensurar a realidade?

Re.: O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca
Pena o tal Revel tratar a ideologia como o conceito de "falsa consciência", de Lucaks. Pena mesmo. Ele é bom demais pra isso.
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- Registrado em: 27 Out 2005, 21:18
Samael escreveu:
Ainda com esse positivismo lógico popperiano, Dante? tsc tsc.
E aí? Já conseguiu um mecanismo formal e objetivo que consiga mensurar a realidade?
Dificil discutir filosofia da ciência com quem não sabe diferenciar positivismo lógico de racionalismo crítico.
Depois não sabem porque ninguém leva a sério as ciências humanas. Nem aqueles que dizem fazer ciências humanas tem seriedade alguma.
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Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:
Ainda com esse positivismo lógico popperiano, Dante? tsc tsc.
E aí? Já conseguiu um mecanismo formal e objetivo que consiga mensurar a realidade?
Dificil discutir filosofia da ciência com quem não sabe diferenciar positivismo lógico de racionalismo crítico.
Depois não sabem porque ninguém leva a sério as ciências humanas. Nem aqueles que dizem fazer ciências humanas tem seriedade alguma.
Nomenclaturas bestas para se chegar ao mesmo ponto: a realidade e a verdade são plenamente alcançáveis através do método.
Eu sou obrigado a concordar com o Fernando Antunes: normalmente os filósofos são péssimos historiadores da filosofia.
Acham que a verdade é um à priori determinado e que pode ser alcançada via um método não-ideológico e plenamente objetivo.
Enfim, se sua crítica ao marxismo fosse séria, eu responderia à altura.
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- Registrado em: 27 Out 2005, 21:18
Samael escreveu:Nomenclaturas bestas para se chegar ao mesmo ponto: a realidade e a verdade são plenamente alcançáveis através do método.
Rodrigo, se você se desse ao trabalho de ler alguma coisa de Popper antes de sair acreditando nas difamações que os pseudo-cientistas fazem de um inimigo das pseudo-ciências, você perceberia que o que você disse não procede. Popper é um realista moderado, segundo o qual não temos acesso suficiente à realidade para esta confirmar a verdade absoluta de nossas teorias, mas temos o suficiente para encontrar fatos que as refutem completamente.
Samael escreveu:Enfim, se sua crítica ao marxismo fosse séria, eu responderia à altura.
Se o marxismo fosse sério, eu faria uma crítica séria. O marxismo é apenas uma ideologia que insiste a resistir aos fatos. Tudo ocorreu exatamente ao contrário do que Marx previu: conflitos entre países comunistas, estabelecimento do sistema em sociedades pouco industrializadas, o aumento dos salários dos trabalhadores em países capitalistas. Ao invés de aceitar que o marxismo foi refutado definitivamente, os marxistas interpretam todos estes fatos sob a ótica marxista.
Marxistas podem ser levados tão a sérios quanto um casal que depois do décimo filho insiste em considerar que fazer sexo em pé consiste num método anticoncepcional infalível.
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Dante, the Wicked escreveu:Rodrigo, se você se desse ao trabalho de ler alguma coisa de Popper antes de sair acreditando nas difamações que os pseudo-cientistas fazem de um inimigo das pseudo-ciências, você perceberia que o que você disse não procede. Popper é um realista moderado, segundo o qual não temos acesso suficiente à realidade para esta confirmar a verdade absoluta de nossas teorias, mas temos o suficiente para encontrar fatos que as refutem completamente.
Eu conheço a falseabilidade popperiana, Dante. Estou só a te sacanear. Também gosto do Popper, usei apenas um jargão comum dos esquerdistas radicais.
Dante, the Wicked escreveu:Se o marxismo fosse sério, eu faria uma crítica séria. O marxismo é apenas uma ideologia que insiste a resistir aos fatos. Tudo ocorreu exatamente ao contrário do que Marx previu: conflitos entre países comunistas, estabelecimento do sistema em sociedades pouco industrializadas, o aumento dos salários dos trabalhadores em países capitalistas. Ao invés de aceitar que o marxismo foi refutado definitivamente, os marxistas interpretam todos estes fatos sob a ótica marxista.
Marxistas podem ser levados tão a sérios quanto um casal que depois do décimo filho insiste em considerar que fazer sexo em pé consiste num método anticoncepcional infalível.
Putz, cara. O marxismo consiste em todo um método de análise que envolve a questão ideológica, o materialismo e a adaptação da antiga práxis grega na filosofia moderna.
Inclusive, o marxismo nem deriva exatamente de Karl Marx e o próprio Marx, posteriormente, recusou tal alcunha. Ser marxista, ao menos pra mim, não consiste em ser adepto de todos os argumentos de Marx, até porque quase ninguém é. Ser marxista, da mesma forma que ser webberiano ou popperiano, significa ter uma formação intelectual e uma afiliação teórica com a doutrina desenvolvida em torno deste pensamento.
Quanto ao determinismo de Marx, isso já está mais do que enterrado. O problema é que o velho barbudo viveu num tempo onde a ciência tinha a obrigação de prever fenômenos.
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Samael escreveu:Quanto ao determinismo de Marx, isso já está mais do que enterrado. O problema é que o velho barbudo viveu num tempo onde a ciência tinha a obrigação de prever fenômenos.
E algum dia Ciência (com "C" maiúsculo) deixou de ter esta obrigação?
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Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:Quanto ao determinismo de Marx, isso já está mais do que enterrado. O problema é que o velho barbudo viveu num tempo onde a ciência tinha a obrigação de prever fenômenos.
E algum dia Ciência (com "C" maiúsculo) deixou de ter esta obrigação?
Em História, vivemos este impasse e mesmo os professores tem problemas quando confrontados com a situação:
"Se o paradigma dominante que visava prever os acontecimentos deixou de ser válido, de que serve a História, senão uma mera cultura de salão?"
No fundo, cada um dá uma resposta mais politicamente correta que a outra, mas nada de muito objetivo.
Bom, creio eu que a ciência deve lidar com tendências e assim dar as possibilidades de um futuro próximo, mas "prever" é algo forçado demais pra mim.
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Samael escreveu:Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:Quanto ao determinismo de Marx, isso já está mais do que enterrado. O problema é que o velho barbudo viveu num tempo onde a ciência tinha a obrigação de prever fenômenos.
E algum dia Ciência (com "C" maiúsculo) deixou de ter esta obrigação?
Em História, vivemos este impasse e mesmo os professores tem problemas quando confrontados com a situação:
"Se o paradigma dominante que visava prever os acontecimentos deixou de ser válido, de que serve a História, senão uma mera cultura de salão?"
No fundo, cada um dá uma resposta mais politicamente correta que a outra, mas nada de muito objetivo.
Bom, creio eu que a ciência deve lidar com tendências e assim dar as possibilidades de um futuro próximo, mas "prever" é algo forçado demais pra mim.
Oras, como toda ciência, a história tem seus fatos e suas teorias. Prognósticos não precisam ser do que acontecerá no futuro, mas pode ser de que vestígios do passado serão encontrados. A peleontologia e geologia fazem isto. Até a astrofísica faz um pouco disto.
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Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:Quanto ao determinismo de Marx, isso já está mais do que enterrado. O problema é que o velho barbudo viveu num tempo onde a ciência tinha a obrigação de prever fenômenos.
E algum dia Ciência (com "C" maiúsculo) deixou de ter esta obrigação?
Em História, vivemos este impasse e mesmo os professores tem problemas quando confrontados com a situação:
"Se o paradigma dominante que visava prever os acontecimentos deixou de ser válido, de que serve a História, senão uma mera cultura de salão?"
No fundo, cada um dá uma resposta mais politicamente correta que a outra, mas nada de muito objetivo.
Bom, creio eu que a ciência deve lidar com tendências e assim dar as possibilidades de um futuro próximo, mas "prever" é algo forçado demais pra mim.
Oras, como toda ciência, a história tem seus fatos e suas teorias. Prognósticos não precisam ser do que acontecerá no futuro, mas pode ser de que vestígios do passado serão encontrados. A peleontologia e geologia fazem isto. Até a astrofísica faz um pouco disto.
A História possui método, como toda a ciência. E os "vestígios do passado" não falam por si só, já dizia Marc Bloch. A interpretação pessoal do cientista determina o que tal vestígio diz. É uma ciência extremamente atravessada por ideologias. E diretamente.
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Samael escreveu: É uma ciência extremamente atravessada por ideologias.
O que está errado.
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Samael escreveu:Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu: É uma ciência extremamente atravessada por ideologias.
O que está errado.
Para você, que vê um caráter negativo nas ideologias, talvez sim. Mas, para boa parte das correntes historiográficas, a ideologia é essencial à própria cognição.
Aí caímos no relativismo que aceita revisionismo desembasado como legítimo.
Não importa se o cara é comunista, liberalista, nazista, pqp-ista... asserções como "Ocorreu um holocausto no qual por volta de 6 milhões de judeus foram mortos" é objetiva o suficiente para que as evidências comprovem-na ou falseiem-na.
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Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu: É uma ciência extremamente atravessada por ideologias.
O que está errado.
Para você, que vê um caráter negativo nas ideologias, talvez sim. Mas, para boa parte das correntes historiográficas, a ideologia é essencial à própria cognição.
Aí caímos no relativismo que aceita revisionismo desembasado como legítimo.
Não importa se o cara é comunista, liberalista, nazista, pqp-ista... asserções como "Ocorreu um holocausto no qual por volta de 6 milhões de judeus foram mortos" é objetiva o suficiente para que as evidências comprovem-na ou falseiem-na.
É? E essa frase não possui valor histórico algum se não for colocada dentro de alguma pergunta mais sólida: "Por quê ocorreu?", "Quais as conseqüências?", "Quais as causas diretas e indiretas?"
O documento nunca fala por si só. E no ato de questionar as fontes, valorações adentram toda a perspectiva científica.
E o relativismo é necessário, mas não chega a esse nível de boçalidade: ou o cara embasa seus trabalhos sob uma lógica específica e comprova os fatos sob base empírica, ou revisionismo algum possui relevância.
- Flavio Costa
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Samael escreveu:Para você, que vê um caráter negativo nas ideologias, talvez sim. Mas, para boa parte das correntes historiográficas, a ideologia é essencial à própria cognição.
O texto menciona algo muito importante:
Revel observa que as opiniões são estruturadas através de diversas influências, e que o discernimento intelectual frequentemente "ocupa o último lugar, antecedido por crenças, meio cultural, acaso, aparências, paixões, idéias preconcebidas e preguiça de espírito".
Essas são armadilhas às quais todos os grupos estão sujeitos. A ideologia acaba sendo mesmo uma maneira fixa, e quase indispensável, de pensar. Até mesmo o ateísmo, o método cientifico e o laicismo facilmente dão origem a ideologias. Para evitar cair num relativismo ingênuo, é importante lembrar que ainda que a formação ideológica seja parte recorrente do processo de pensar, isso não quer dizer que todas as ideologias são igualmente benéficas.
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006
Flavio Costa escreveu:O texto menciona algo muito importante:Revel observa que as opiniões são estruturadas através de diversas influências, e que o discernimento intelectual frequentemente "ocupa o último lugar, antecedido por crenças, meio cultural, acaso, aparências, paixões, idéias preconcebidas e preguiça de espírito".
Sim, Revel trata a questão da valoração negativa da ideologia, coisa comum na sua corrente filosófica realista. Felizmente, ele não proclama o absurdo que já cansei de ouvir: a ciência deve ser imparcial.
Mesmo o cientificismo é, por si, uma mentalidade contida na ideologia racionalista. Ser pretensamente neutro é, segundo Michael Lowÿ, "tentar retirar a si mesmo do lamaçal puxando-se pelos cabelos".
Flavio Costa escreveu:Essas são armadilhas às quais todos os grupos estão sujeitos. A ideologia acaba sendo mesmo uma maneira fixa, e quase indispensável, de pensar. Até mesmo o ateísmo, o método cientifico e o laicismo facilmente dão origem a ideologias. Para evitar cair num relativismo ingênuo, é importante lembrar que ainda que a formação ideológica seja parte recorrente do processo de pensar, isso não quer dizer que todas as ideologias são igualmente benéficas.
Flávio, o "ateísmo", o "método científico" e o "laicismo" podem até dar origem a outras ideologias. Mas, muito mais importante do que isto, é perceber que eles são conseqüências diretas e partes integrais de padrões ideológicos historicamente construídos.
Essa falha de percepção histórica faz com que muitos autores, bons ou fracos, se pensem num caráter "ahistórico", onde possam ser formuladas LEIS universais que expliquem todos os fenômenos e abarquem a realidade como um todo. Essa é a mistificação da ciência. Nos tempos impregnados pelo paradigma newtoniano, tal ideologia alcançava até a filosofia, como no exemplo clássico de Kant, tentando formular uma lei geral que explicasse até as relações morais. E posteriormente, no positivismo, onde se tentava separar as "ideologias" da pretensa "ciência verdadeira".
Quando autores como o Marcuse, Fromm e Habermas se referem ao "néo-positivismo" ou ao "positivismo lógico" que impregna o discurso acadêmico mais conservador atual, tais autores se referem justamente à isso: a essa visão racionalista que pensa a verdade enquanto um à priori existente no meio e que deve ser descoberta, e não uma construção humana, uma visão relativa e discutível que venha para gerar conhecimento e explicar o mundo aos olhos de observadores parciais.
Abraço.
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Samael escreveu:Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu: É uma ciência extremamente atravessada por ideologias.
O que está errado.
Para você, que vê um caráter negativo nas ideologias, talvez sim. Mas, para boa parte das correntes historiográficas, a ideologia é essencial à própria cognição.
Aí caímos no relativismo que aceita revisionismo desembasado como legítimo.
Não importa se o cara é comunista, liberalista, nazista, pqp-ista... asserções como "Ocorreu um holocausto no qual por volta de 6 milhões de judeus foram mortos" é objetiva o suficiente para que as evidências comprovem-na ou falseiem-na.
É? E essa frase não possui valor histórico algum se não for colocada dentro de alguma pergunta mais sólida: "Por quê ocorreu?", "Quais as conseqüências?", "Quais as causas diretas e indiretas?"
O documento nunca fala por si só. E no ato de questionar as fontes, valorações adentram toda a perspectiva científica.
E o relativismo é necessário, mas não chega a esse nível de boçalidade: ou o cara embasa seus trabalhos sob uma lógica específica e comprova os fatos sob base empírica, ou revisionismo algum possui relevância.
Neste caso, Rodrigo, a ótica adotada deveria ser a das pessoas que vivenciaram a época, e não a marxista ou webberiana.
Por exemplo, não importa como Mrx interpreta a Revolução Francesa, mas as perspectivas comparadas dos monarquistas, dos membros da Assembléia Nacional Constituinte e de todos grupos envolvidos.
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Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu: É uma ciência extremamente atravessada por ideologias.
O que está errado.
Para você, que vê um caráter negativo nas ideologias, talvez sim. Mas, para boa parte das correntes historiográficas, a ideologia é essencial à própria cognição.
Aí caímos no relativismo que aceita revisionismo desembasado como legítimo.
Não importa se o cara é comunista, liberalista, nazista, pqp-ista... asserções como "Ocorreu um holocausto no qual por volta de 6 milhões de judeus foram mortos" é objetiva o suficiente para que as evidências comprovem-na ou falseiem-na.
É? E essa frase não possui valor histórico algum se não for colocada dentro de alguma pergunta mais sólida: "Por quê ocorreu?", "Quais as conseqüências?", "Quais as causas diretas e indiretas?"
O documento nunca fala por si só. E no ato de questionar as fontes, valorações adentram toda a perspectiva científica.
E o relativismo é necessário, mas não chega a esse nível de boçalidade: ou o cara embasa seus trabalhos sob uma lógica específica e comprova os fatos sob base empírica, ou revisionismo algum possui relevância.
Neste caso, Rodrigo, a ótica adotada deveria ser a das pessoas que vivenciaram a época, e não a marxista ou webberiana.
Por exemplo, não importa como Mrx interpreta a Revolução Francesa, mas as perspectivas comparadas dos monarquistas, dos membros da Assembléia Nacional Constituinte e de todos grupos envolvidos.
Não, porque isso incorre em outro erro primário: raramente as classes e os indivíduos possuem noção total do que se passa em sua época. Se nem mesmo quem interpreta o fenômeno sem a paixão política direta, que é o caso dos historiadores (que lidam com o passado), conseguem ter uma visão que abarque todo o fenômeno (até porque nenhuma abstração é totalmente abarcável, visto que isso seria o mesmo que colocar medidas finitas à produção de conhecimento), que dirá os presentes no momento. Até porque, a mera comparação de mentalidades e ideologias não responderia metade das perguntas colocadas.
Além disso, seu exemplo falha na medida que os olhos do estudioso do presente é que interpretam a visão de cada indivíduo envolvido. As ideologias estarão presentes na própria aplicação do método científico historiográfico.
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- Mensagens: 4326
- Registrado em: 27 Out 2005, 21:18
Re.: O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca
Não entedi porque, Rodrigo. O que me impede de descrever a História da seguinte maneira:
"Um grupo g, num período histórico t, submetido a um conjunto de condições C*, tinha um conjunto de aspirações A**, o que os levou a executar um conjunto ações B, o que acarretou em um conjunto de efeitos E***"
* Embasado em dados históricos estatísticos.
** Embasado principalmente em escritos deixados por membros deste grupo e secundáriamente em membros de fora deste grupo.
*** Embasado em teorias econômicas e sociológicas testáveis.
?
"Um grupo g, num período histórico t, submetido a um conjunto de condições C*, tinha um conjunto de aspirações A**, o que os levou a executar um conjunto ações B, o que acarretou em um conjunto de efeitos E***"
* Embasado em dados históricos estatísticos.
** Embasado principalmente em escritos deixados por membros deste grupo e secundáriamente em membros de fora deste grupo.
*** Embasado em teorias econômicas e sociológicas testáveis.
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- Flavio Costa
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- Registrado em: 25 Out 2005, 07:32
- Localização: Brasilia, DF
- Contato:
Samael escreveu:Flávio, o "ateísmo", o "método científico" e o "laicismo" podem até dar origem a outras ideologias. Mas, muito mais importante do que isto, é perceber que eles são conseqüências diretas e partes integrais de padrões ideológicos historicamente construídos.
Sim, mas é difícil convencer muitas pessoas hoje que essa é uma visão dentre outras, e certamente vantajosa em alguns sentidos, mas não é simplesmente "a visão livre de todas as amarras míticas do passado", como muitos crêem.
Samael escreveu:Quando autores como o Marcuse, Fromm e Habermas se referem ao "néo-positivismo" ou ao "positivismo lógico" que impregna o discurso acadêmico mais conservador atual, tais autores se referem justamente à isso: a essa visão racionalista que pensa a verdade enquanto um à priori existente no meio e que deve ser descoberta, e não uma construção humana, uma visão relativa e discutível que venha para gerar conhecimento e explicar o mundo aos olhos de observadores parciais.
Bem, o que o ser humano acredita compõe a realidade, é parte dela. Mas a crença humana não é capaz de transformar a realidade a bel prazer do indivíduo. Sob esse meu ponto de vista, a redução da realidade como mera construção humana é apenas um extremo, a negação completa da contribuição subjetiva humana na construção da realidade é outro extremo, cada qual com sua maneira de distorcer a realidade com base nas próprias convicções.
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006
Re: Re.: O conhecimento inútil - André Azevedo da Fonseca
Dante, the Wicked escreveu:Não entedi porque, Rodrigo. O que me impede de descrever a História da seguinte maneira:
"Um grupo g, num período histórico t, submetido a um conjunto de condições C*, tinha um conjunto de aspirações A**, o que os levou a executar um conjunto ações B, o que acarretou em um conjunto de efeitos E***"
* Embasado em dados históricos estatísticos.
** Embasado principalmente em escritos deixados por membros deste grupo e secundáriamente em membros de fora deste grupo.
*** Embasado em teorias econômicas e sociológicas testáveis.
?
Simples: como se define o grupo g? Há múltiplas interpretações baseadas nos mesmos dados. Como se define o período histórico t? Há múltiplas interpretações baseadas nos mesmos dados. Como se avalia ou mesmo se descobre o leque de condições? E, dependendo da ideologia do pesquisador, como identificar que condições são mais ou menos atuantes no tal grupo? Há múltiplas interpretações. Quanto às aspirações, a pior de todas. Interpretações de dados são os pontos onde historiadores mais divergem, visto que esta é uma visão do PESQUISADOR acerca do que tal autor queria dizer. No fim, as relações causais são ainda mais discutíveis, visto que você observa o fato à posteriori, ou seja, o que determinado intelectual pensa que foi a causa de determinado fato, pode não ter sido, e outro intelectual certamente defenderá outra causa.
Flavio Costa escreveu:Samael escreveu:Flávio, o "ateísmo", o "método científico" e o "laicismo" podem até dar origem a outras ideologias. Mas, muito mais importante do que isto, é perceber que eles são conseqüências diretas e partes integrais de padrões ideológicos historicamente construídos.
Sim, mas é difícil convencer muitas pessoas hoje que essa é uma visão dentre outras, e certamente vantajosa em alguns sentidos, mas não é simplesmente "a visão livre de todas as amarras míticas do passado", como muitos crêem.Samael escreveu:Quando autores como o Marcuse, Fromm e Habermas se referem ao "néo-positivismo" ou ao "positivismo lógico" que impregna o discurso acadêmico mais conservador atual, tais autores se referem justamente à isso: a essa visão racionalista que pensa a verdade enquanto um à priori existente no meio e que deve ser descoberta, e não uma construção humana, uma visão relativa e discutível que venha para gerar conhecimento e explicar o mundo aos olhos de observadores parciais.
Bem, o que o ser humano acredita compõe a realidade, é parte dela. Mas a crença humana não é capaz de transformar a realidade a bel prazer do indivíduo. Sob esse meu ponto de vista, a redução da realidade como mera construção humana é apenas um extremo, a negação completa da contribuição subjetiva humana na construção da realidade é outro extremo, cada qual com sua maneira de distorcer a realidade com base nas próprias convicções.
Perfeito.
Quanto ao segundo quote, creio que isto ocorre porque, enquanto pertencentes a um mesmo grupo animal, tendemos a observar a realidade segundo um "padrão de desvio", onde nada foge muito a esse foco.
No entanto, nada me garante que nós não tenhamos determinada inaptidão a pensar a realidade. Ou ainda, a partir desse mesmo "padrão", pensarmos todos de formas semelhantes algo que, na realidade, não é da forma que pensamos.
Por fim, eu me referia quase que exclusivamente aos conceitos e às abstrações. Essas sim são construções bem humanas e bastante relativas. Me admira que queiram criar regras universais até para conceitos morais.
