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A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 10:54
por Res Cogitans
Na obra "O Capitalismo é moral?", um empresário faz a seguinte pergunta ao filósofo André Comte-Sponville:

"Sou empresário, crio empregos. O senhor não acha isso moral?"

Qual a resposta de vocês?

Res Cogitans mais uma vez brincando com Filosofia Moral...

Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 12:35
por Fernando Silva
O empresário não está necessariamente preocupado em criar empregos e sim em ganhar dinheiro, mas os empregos são uma consequência.
Portanto, seja lá qual for a motivação, tem valor moral.

E qual seria a alternativa (não utópica, é claro)?

Re: Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 13:31
por Res Cogitans
Fernando Silva escreveu:O empresário não está necessariamente preocupado em criar empregos e sim em ganhar dinheiro, mas os empregos são uma consequência.
Portanto, seja lá qual for a motivação, tem valor moral.

E qual seria a alternativa (não utópica, é claro)?


O empresário cria empregos por que seus funcionários vão gerar mais-valia, então é do interesse contratar funcionários. Ele não o faz por generosidade, faz por necessidade e interesse.
Quando a moral se encontra com seus interresses, como sabe se agiu por moral ou por interesse?

Re: Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 13:40
por user f.k.a. Cabeção
Res Cogitans escreveu:
Fernando Silva escreveu:O empresário não está necessariamente preocupado em criar empregos e sim em ganhar dinheiro, mas os empregos são uma consequência.
Portanto, seja lá qual for a motivação, tem valor moral.

E qual seria a alternativa (não utópica, é claro)?


O empresário cria empregos por que seus funcionários vão gerar mais-valia, então é do interesse contratar funcionários. Ele não o faz por generosidade, faz por necessidade e interesse.
Quando a moral se encontra com seus interresses, como sabe se agiu por moral ou por interesse?



Falsa dicotomia.

A moral reside em viver de acordo com princípios sólidos, mesmo que se trabalhe em prol do lucro. Só porque se lucra, não significa que não se respeitam às leis e às pessoas, que não se trabalha dura visando melhorar sempre, que não se pratica o Bem.

Qualquer argumentação que se construa sobre essa dicotomia visa desmoralizar não apenas ao lucro, mas toda à empresa humana.

"Não é da benevolência do padeiro, cervejeiro ou do açougueiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração deles para com seus próprios interesses." - Adam Smith

A moralidade do capitalismo está justamente na liberdade que a cada um é concedida para administrar os produtos de seu trabalho, quando agem dentro da lei. De tal princípio emergem as leis que preservam a propriedade e que nos separam da barbárie total.

Não existe moral sem liberdade. Não existe civilização sem capitalismo.

Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 14:02
por Flavio Costa
Quase todas as ações morais trazem benefício para aquele que a pratica, mesmo que a recompensa seja apenas a consciência tranquila.

Re: Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 14:15
por Hugo
Flavio Costa escreveu:Quase todas as ações morais trazem benefício para aquele que a pratica, mesmo que a recompensa seja apenas a consciência tranquila.


Isso me lembra um episódio de Friends onde o Joey diz que "não existe verdadeiro altruísmo".

Re: Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 14:29
por Flavio Costa
Kramer escreveu:Isso me lembra um episódio de Friends onde o Joey diz que "não existe verdadeiro altruísmo".

A questão é que o autruísmo não precisa de ser puro sacrifício para ser verdadeiro. Que o sacrifício seja louvável, não acho que ele seja necessário para que uma ação seja boa e legítima.

Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 15:14
por W
Pra mim agir por interesse não é um ato moral mesmo que beneficie alguém. Um ato moral segue um código que normalmente tem a ver com um grupo ou uma cultura. Por outro lado um ato moral não tem obrigatóriamente de ser bom para todos. Acho que a moral pode ser relativa exceto naquelas coisas mais ou menos comuns a todos que não dependem tanto da cultura...

Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 15:17
por W
Um exemplo: Se 2 pessoas se estiverem a afogar e uma das pessoas for seu irmão, quem vc salvará sabendo que a outra pessoa é muito importante e tem o segredo para cura a Sida?

Para mim isto seria uma luta entre 2 códigos. Um codigo cultural e outro natural. Se a pessoa não fosse importante nunca haveria problema pois está numa espécie de código escondido que o irmão é que deveria ser salvo. E ninguém estranharia... nem pessoas com códigos culturais diferentes.

Enviado: 16 Mai 2006, 15:27
por Res Cogitans
Cabeção escreveu:Falsa dicotomia.

A moral reside em viver de acordo com princípios sólidos, mesmo que se trabalhe em prol do lucro. Só porque se lucra, não significa que não se respeitam às leis e às pessoas, que não se trabalha dura visando melhorar sempre, que não se pratica o Bem.

Qualquer argumentação que se construa sobre essa dicotomia visa desmoralizar não apenas ao lucro, mas toda à empresa humana.


Alguém matou as aulas de Kant.

Agir conforme a moral, não agir é o mesmo que agir por dever moral.

"Não é da benevolência do padeiro, cervejeiro ou do açougueiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração deles para com seus próprios interesses." - Adam Smith


É exatamente por não esperar a benevolência de todos que o capitalismo funciona e o comunismo não.

Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 15:34
por Res Cogitans
Pra me poupar tempo:

Kant: o valor moral de uma acção deriva da sua máxima, e não das suas consequências
Cada acção pode ser descrita como uma acção de um certo tipo. Se ajudas alguém, podes conceber o que fazes como um acto de caridade. Neste caso, ages segundo a máxima de que deves ajudar os outros. Mas tens outras alternativas: quando forneces a ajuda talvez estejas a pensar que essa é uma maneira de fazer o beneficiário sentir-se em dívida para contigo. Neste caso, a máxima da tua acção pode ser a de que deves fazer que os outros se sintam em dívida para contigo. Para saberes que valor moral tem a tua acção, vê que máxima te levou a fazer o que fizeste.

Não é difícil perceber por que razão precisamos de considerar os motivos do agente e não as consequências da acção. Kant descreve o caso de um comerciante que nunca engana os seus clientes. A razão é que ele receia que, se os enganasse, os seus clientes deixariam de comprar na sua loja. Kant diz que o comerciante faz o que está certo, embora não pela razão certa. Ele age de acordo com a moralidade, mas não devido à moralidade. Para descobrir o valor moral de uma acção, temos de ver por que razão o agente a realiza, o que as consequências não revelam.

Se o comerciante age aplicando a máxima "Sê sempre honesto", a sua acção tem valor moral. Todavia, se a sua acção é o resultado da máxima "Não enganes as pessoas se é provável que isso te cause prejuízos financeiros", ela é meramente prudencial, e não moral. O valor moral depende dos motivos e os motivos são dados pela máxima que o agente aplica ao decidir o que fazer.

Elliott Sober
Universidade de Wisconsin


Não que eu seja kantiano... mas a intenção do agente é algo importante para valoração da ação do mesmo.

Enviado: 16 Mai 2006, 16:04
por user f.k.a. Cabeção

Entendo agora seu ponto.

O capitalismo calca-se em princípios morais, ou máximas, tais como a liberdade de cada um servir-se de suas posses e do que ganha do seu trabalho, desde que cumprindo as leis. O capitalismo, desse modo, constrói-se sobre fundamentos morais.

Mas, a bem da verdade, você tem razão, quando coloca que um empresário, ao oferecer um emprego, não o faz por dever moral, de maneira geral, mas sim por interesse próprio. Mas pode fazê-lo sem entrar em contradição com princípios morais, e tal ação se dando dentro de um sistema moral, que é o capitalismo. Esse foi o meu ponto. E eu vi erradamente no seu texto uma possível contradição entre ação por interesse e ação moral.

Não acho sequer que ceder postos de emprego seja uma ação Moral (com M maiúsculo). Não vejo em que essa possa ser uma ação coerente com valores absolutos e universalizáveis.

E acho que seria mais produtivo se fossem analisadas situações onde houvesse conflito entre interesses e princípios morais, pois qualquer discussão onde a ação moral se confunde com a ação por interesse é de pouca relevância, a menos de elucubrações vazias.

Re: Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 16:07
por Poindexter
Res Cogitans escreveu:O empresário cria empregos por que seus funcionários vão gerar mais-valia...


Palavrinha mágica. Paro de ler por aqui.

Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 16:20
por Rhyan
:emoticon12:

Re: Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 16:21
por Poindexter
Rhyan escreveu::emoticon12:


:emoticon12:

Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 16:37
por W
Não percebi a piada. :emoticon12:

Re: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 18:17
por Claudio Loredo
Res Cogitans escreveu:Na obra "O Capitalismo é moral?", um empresário faz a seguinte pergunta ao filósofo André Comte-Sponville:

"Sou empresário, crio empregos. O senhor não acha isso moral?"

Qual a resposta de vocês?

Res Cogitans mais uma vez brincando com Filosofia Moral...



Sim, é moral. Entrentanto, o melhor seria que não existisse essa relação empregado e empregador que é desgastante para ambos. O ideal é que as relações de trabalho se dêem igual como se dá a relação cliente e fornecedor, com total independencia entre ambos.


Re: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 18:36
por Cabula
Res Cogitans escreveu:Na obra "O Capitalismo é moral?", um empresário faz a seguinte pergunta ao filósofo André Comte-Sponville:

"Sou empresário, crio empregos. O senhor não acha isso moral?"

Qual a resposta de vocês?

Res Cogitans mais uma vez brincando com Filosofia Moral...

Moral pode até ser, mas a maioria dos empresários se houvesse máquina para fazer o trabalho do funcionário certamente trocaria porque assim ele teria mais lucro. Coisa que aconteceu logo com a vinda da revolução industrial

Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 20:16
por Rhyan
E o que há de errado nisso, Cabula?
O empresário não tem o direito de optar?

[]'s

Enviado: 16 Mai 2006, 20:47
por Capitão América
O capitalismo é amoral, mais-valia não existe e Kant é medíocre.

Re: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 20:48
por Capitão América
Cabula escreveu:
Res Cogitans escreveu:Na obra "O Capitalismo é moral?", um empresário faz a seguinte pergunta ao filósofo André Comte-Sponville:

"Sou empresário, crio empregos. O senhor não acha isso moral?"

Qual a resposta de vocês?

Res Cogitans mais uma vez brincando com Filosofia Moral...

Moral pode até ser, mas a maioria dos empresários se houvesse máquina para fazer o trabalho do funcionário certamente trocaria porque assim ele teria mais lucro. Coisa que aconteceu logo com a vinda da revolução industrial


Pois faz muito bem... Qual o problema?

Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 20:50
por Capitão América
Vamos mudar a pergunta, para ver o que acontece:

"Sou vendedor, compro sua televisão usada. O senhor não acha isso moral?"

Re: Re.: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 22:45
por Dante, the Wicked
W escreveu:Pra mim agir por interesse não é um ato moral mesmo que beneficie alguém. Um ato moral segue um código que normalmente tem a ver com um grupo ou uma cultura. Por outro lado um ato moral não tem obrigatóriamente de ser bom para todos. Acho que a moral pode ser relativa exceto naquelas coisas mais ou menos comuns a todos que não dependem tanto da cultura...


Discordo. É muito simples definir moral ou ética como simplesmente o que que as pessoas acreditam ser certo ou errado acerca do agir. Aí é só uma questão de listar o que cada grupo social acha certo e especular sobre as causas disto.
Mas por que não pensar nas conseqüencias disto? Peguemos o caso do Brasil, onde o que prevalece é a lei de Gerson e o jeitinho brasileiro. Será que é a toa que este país tem altas taxas de corrupção ou mortalidade no transito?
Oras, podemos muito bem saber quais atitudes prestam um serviço ou desserviço à construção de um mundo menos miserável.

Re: A pergunta de um empresário a um filósofo

Enviado: 16 Mai 2006, 22:46
por Dante, the Wicked
Res Cogitans escreveu:Na obra "O Capitalismo é moral?", um empresário faz a seguinte pergunta ao filósofo André Comte-Sponville:

"Sou empresário, crio empregos. O senhor não acha isso moral?"

Qual a resposta de vocês?

Res Cogitans mais uma vez brincando com Filosofia Moral...


Não vejo qualquer relevância moral nisto.

Enviado: 16 Mai 2006, 23:03
por Samael
Não existe moral sem liberdade. Não existe civilização sem capitalismo.


Então a "civilização" é um processo mais recente do que eu pensava...