Atenção: eles podem causar mal à saúde ~ Sérgio Martins
Enviado: 23 Mai 2006, 18:12
Atenção: eles podem causar mal à saúde
Proliferam os artistas que defendem
o racismo, o assassinato de gays e o satanismo. E essa turma faz sucesso
Sérgio Martins
O cantor Johnny Rebel é uma lenda da música americana – status que se deve mais ao teor ofensivo de suas letras do que a seus dotes para o gênero country rock. Rebel surgiu nos anos 60, quando tomava corpo a luta dos negros americanos pelos direitos civis. Um de seus hits (pelo menos na parada da organização racista Ku Klux Klan) comparava o líder negro Martin Luther King a um babuíno. Rebel lançou doze canções, mas sumiu do mapa sem nunca ter feito apresentações ao vivo ou revelado sua identidade. Recentemente, ele saiu da toca. Anunciou que seu nome verdadeiro é Clifford Joseph "Pee Wee" Trahan e que por muito tempo trabalhou como músico nos mesmos estúdios utilizados por artistas de jazz e blues. Rebel foi até às emissoras de rádio a fim de divulgar o disco It's the Attitude, Stupid. O CD contém suas infâmias racistas de praxe e também "atualizações", como a faixa na qual sugere que Osama bin Laden seja pendurado por uma parte sensível de sua anatomia. Em defesa de seu estilo, Rebel usa a velha tática de somar erros e dizer que eles resultam em acerto: argumenta que, se os rappers podem insultar mulheres e brancos, não há nada de errado em falar mal dos negros.
Johnny Rebel está longe de ser um problema isolado. Cada vez mais, prolifera o número de artistas que usam a música para disseminar ódio e violência. O caso mais chamativo é o das irmãs Lynx e Lamb Gaede, duas garotas loirinhas, fofésimas e de aparelhos nos dentes que fazem um pop ao estilo de Hilary Duff ou da brasileira Sandy. A diferença é que as letras da dupla, intitulada Prussian Blue, não falam de meninos e meninas. Elas exaltam a supremacia branca, lembram com carinho o nazista Rudolf Hess e homenageiam velhas canções do Exército alemão. Teleguiadas por sua mãe, Lynx e Lamb (ou "lince" e "cordeiro") podem propagar essas mensagens e vestir camisetas que mostram um Adolf Hitler sorridente por causa de um dos mais avançados dispositivos da Constituição americana: a Primeira Emenda, que garante total liberdade de expressão a quem quer que seja – ainda que sob vigilância. Artistas como Johnny Rebel e Prussian Blue têm seus websites controlados pelas autoridades americanas, para que não hospedem chamados às armas, e seus CDs dificilmente são encontrados em lojas normais. A venda se dá pela internet ou em estabelecimentos de beira de estrada. Para chegar até esses menestréis do ódio, portanto, é preciso procurá-los voluntariamente.
A questão se torna bem mais espinhosa em outra frente dessa guerra: as vertentes do rap que defendem a misoginia, a violência e o crime. Os artistas de rap não são obscuros. São superastros como 50 Cent, que tocam em todo tipo de rádio, fazem filmes e, assim como no caso do funk carioca, são ouvidos e cultuados por jovens de todas as origens e estratos sociais. A popularidade de 50 Cent, Eminem e Snoop Dogg, para ficar nos exemplos mais conhecidos, está no centro de um debate antigo e insolúvel: se um jovem imita os trejeitos de um artista, ele fica mais suscetível a seguir também seu pensamento? Já houve até ações judiciais baseadas nessa tese, contra roqueiros como Marilyn Manson ou cineastas como Oliver Stone. Até hoje, porém, todos os réus foram inocentados. "O que se percebe é que a adoção de um comportamento anti-social ou racista depende muito mais dos valores incutidos nos jovens por seus pais do que das crenças propagadas por um artista", diz Lidia Weber, psicóloga da Universidade Federal do Paraná.
Se há uma corrente musical que corrobora essa visão, trata-se do reggae jamaicano e seus "filhotes". O maior astro que a Jamaica já produziu, Bob Marley (1945-1981), tão cultuado por suas atitudes liberais, nunca escondeu o desconforto perante os gays – ou "sodomitas", como costumava dizer, de forma indisfarçavelmente deletéria. É quase uma tradição cultural da ilha rejeitar a homossexualidade. Num artigo para o jornal americano Village Voice, a jornalista Elena Oumano narra a história de um pai que entregou o filho gay para que um bando de meliantes o apedrejasse, e os rappers jamaicanos cantam livremente letras em que defendem o assassinato de homossexuais. O problema só foi detectado com a exportação desses artistas. Em 1992, alguém decifrou a gíria jamaicana da canção Boom Bye Bye, do rapper Buju Banton, um sucesso nas boates gays de Nova York, e descobriu que ela pregava justamente o fuzilamento de seus admiradores. Por essas e outras, astros do reggae como Elephant Man e Beenie Man são proibidos de se apresentar na Inglaterra. Outros artistas são ainda mais radicais ao pôr em prática aquilo que apregoam. O grupo de heavy metal norueguês Burzum se declara orgulhosamente racista, nacionalista e anticristão – no que não difere de tantos outros do gênero. Mas seu vocalista, Varg Vikernes, é suspeito de ter incendiado igrejas e, em 1993, foi preso pelo assassinato de um companheiro de banda. Ainda assim, não desistiu: montou um miniestúdio na cadeia, de onde continua a gravar e distribuir suas diatribes. Como se costuma dizer, o ódio é de fato parente próximo do amor: como ele, não conhece barreiras.Música para ouvir e piorar
Quem são e o que pregam os artistas mais
condenáveis do showbiz internacional
Divulgação
SATANISMO
Artista: Burzum
Nacionalidade: norueguesa
O que faz: não apenas exalta o poder do demônio ao som de rock pesado como parte para a ação: o cantor do Burzum já foi preso sob acusação de incendiar igrejas e assassinar um companheiro de banda
RACISMO
Artistas: Prussian Blue
Nacionalidade: americana
O que fazem: as irmãs Lamb e Lynx Gaede fazem um pop simpático, ao estilo de Hilary Duff. A diferença é que suas letras defendem a supremacia ariana
MISOGINIA
Artista: 50 Cent
Nacionalidade: americana
O que faz: o rapper é o mais ilustre representante de uma corrente que trata as mulheres como interesseiras ou apetrechos sexuais (ou ambas as coisas ao mesmo tempo)
HOMOFOBIA
Artistas: Buju Banton, Beenie Man, Sizzla, Elephant Man
Nacionalidade: jamaicana
O que fazem: em letras embaladas pela batida do raggamuffin, uma mistura de reggae com rap, pregam o fuzilamento e apedrejamento de homossexuais"Mande-os de Volta para a África"
"Deveríamos mandá-los todos de volta para a África
Que é o lugar deles
Eles deveriam ir embora logo da América
E deixar o homem branco em paz
Eles não gostam disso, eles não gostam daquilo
Eles nunca estão satisfeitos, e isso é um fato
Quanto mais damos, mais eles querem
Quanto mais consertamos, mais eles quebram
(...)
Vamos comprar um ou dois barcos
E eis o que precisamos fazer:
Ajudá-los a fazer as malas
E garantir que nenhum crioulo fique para trás"
Trecho da canção
Send'Em All Back to Africa,
de Johnny Rebel
A Veja mostrou que também não entende muito de música, mais precisamente de Metal.