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about Opus Dei
Enviado: 24 Mai 2006, 09:56
por clara campos
I - humilhação
A principal obra de Josemaría Escrivá, o fundador do Opus Dei, chama-se Caminho e consiste em 999 «considerações espirituais». É uma leitura imprescindível para quem queira compreender a autêntica «lavagem ao cérebro» a que esta organização submete os seus membros.
Os temas recorrentes do livro (para além do apelo à oração e outras trivialidades cristãs) são a humilhação e a obediência. A intenção, como se compreende pela leitura do livro e pelas descrições conhecidas do funcionamento interno da organização, é a mesma de qualquer outra seita em que se submete o indivíduo para melhor o utilizar: destruir tudo o que estrutura a personalidade do sujeito, nomeadamente o seu orgulho e os seus instintos, fazendo dessa terraplanagem da personalidade uma virtude, e recompensando-a com a progressão dentro da organização. As citações seguintes, todas retiradas do livro Caminho, ilustram a glorificação da humilhação segundo Josemaría Escrivá.
«- Nega-te a ti mesmo. - É tão belo ser vítima.» (175) «Quando te vires como és, há-de parecer-te natural que te desprezem.» (593) «Não te esqueças de que és... o depósito do lixo. (...) Humilha-te; não sabes que és o caixote do lixo?» (592) «Não és humilde quando te humilhas, mas quando te humilham e o aceitas por Cristo.» (594) «Mortificação interior. - Não acredito na tua mortificação interior, se vejo que desprezas, que não praticas a mortificação dos sentidos.» (181) «Onde não há mortificação, não há virtude.» (180)
Escrivá encoraja os seus seguidores não apenas a humilhar-se ou a fazer humilhar-se por outros (convido o leitor a imaginar a cena...), mas convence-os também a procurar activamente a dor moral e até física que, numa inversão de valores típica do pensamento católico, considera «bendita».
«Bendita seja a dor. Amada seja a dor. Santificada seja a dor... Glorificada seja a dor!» (208) «Se sabes que essas dores - físicas ou morais - são purificação e merecimento, bendi-las.» (219) «Não esqueças que a Dor é a pedra de toque do Amor.» (439)
Escrivá encoraja ainda os seus adeptos a reprimirem ferozmente os instintos mais naturais de qualquer animal (comer e procriar), elevando sempre a repressão destes instintos a virtude. É evidente que quer os prazeres da cama quer os prazeres da mesa podem desviar as suas ovelhinhas do rebanho, e «perdê-las» da seita...
«Quando te decidires com firmeza a ter vida limpa, a castidade não será para ti um fardo: será coroa triunfal.» (123) «O matrimónio é para os soldados e não para o estado-maior de Cristo. - Ao passo que comer é uma exigência de cada indivíduo, procriar é apenas uma exigência da espécie, podendo delas desinteressar-se as pessoas individualmente. (...)» (28) «A gula é um vício feio. (...)» (679) «À mesa, não fales de comida; isso é uma grosseria, imprópria de ti. (...)» (680) «No dia em que te levantares da mesa sem teres feito uma pequena mortificação, comeste como um pagão.» (681)
Portanto, qualquer membro do Opus Dei se deve privar, em todas as refeições, de enchidos ou de açúcar no café, de água ou de vinho, de sobremesa ou de prato principal, como forma de «mortificação». Assim se assegura que o membro não se distraia perante uma mesa cheia de bons petiscos e bons vinhos. (Felizmente existe o contrário desta vida castradora: as delícias do hedonismo...)
O corpo, porque pode levar o jovem a desviar-se do caminho, é visto, obviamente, como um inimigo a tratar com violência, e a auto-tortura é inevitavelmente considerada uma virtude.
«Se sabes que o teu corpo é teu inimigo, e inimigo da glória de Deus, por sê-lo da tua santificação, porque o tratas com tanta brandura?» (227)
Convencido o jovem de que é «lixo», destruído o seu amor-próprio e controlados os seus instintos mais naturais, o «lixo» pode ser reciclado. Como? Obedecendo...
«Padre: como pode suportar todo este lixo? - disseste-me, depois de uma confissão contrita. Calei-me, pensando que, se a tua humildade te leva a sentires-te isso - lixo, um montão de lixo - ainda poderemos fazer algo de grande da tua miséria.» (605)
É neste ponto, quando a personalidade do jovem está submetida, que Escrivá lhe recomenda que se entregue aos pés de um «director espiritual» que o dirija, pense por ele, escolha livros por ele, e possivelmente lhe dê ordens não apenas «espirituais»...
http://www.ateismo.net/diario/
Re.: about Opus Dei
Enviado: 24 Mai 2006, 09:57
por clara campos
Re.: about Opus Dei
Enviado: 24 Mai 2006, 11:11
por Poindexter
Pois é... sabemos que o pensamento cristão envereda, muitas vezes, para este lado.
Enviado: 25 Mai 2006, 10:59
por clara campos
II-obediência
(continuação)
Como foi explicado no artigo anterior, o método Escrivá de sujeição do indivíduo funciona entre dois pólos: humilhação e obediência. A humilhação tem a finalidade de abater a vontade do indivíduo e de prepará-lo para obedecer. E a enfase na obediência nas palavras de Escrivá é tão chocante quanto a insistência na procura da dor e da humilhação.
«Obedecer... - caminho seguro. Obedecer cegamente ao superior... - caminho de santidade. (...)» (941) «Obedecei, como nas mãos do artista obedece um instrumento - que não pára a considerar porque faz isto ou aquilo, certos de que nunca vos mandarão fazer nada que não seja bom e para toda a glória de Deus.» (617)
Este dever de obediência, que teoricamente é devido a um «Deus» que não dá ordens porque não existe, é transferido para o «director espiritual», que é um personagem importantíssimo no sistema de controlo do Opus Dei.
«Director. - Precisas dele. - Para te entregares, para te dares..., obedecendo. - E Director que conheça o teu apostolado, que saiba o que Deus quer;» (62)
O «director espiritual» funciona como figura parental de substituição e como «representante de Deus». A sua autoridade é portanto enorme, e é reforçada pela devassa sobre a vida privada praticada através da confissão.
Como é evidente, ao castrar os afectos terrenos (os únicos reais), a recompensa que o Opus Dei oferece em troca encontra-se noutro mundo, ilusório.
«Que nenhum afecto te prenda à Terra, além do desejo diviníssimo de dar glória a Cristo e, por Ele e com Ele e n'Ele, ao Pai e ao Espirito Santo.» (786)
Mas o «director espiritual» não é uma ilusão, é bem real, e Escrivá cuidou até de protegê-lo da crítica.
«(...) E nunca o contradigas diante dos que lhe estão sujeitos, mesmo que não tenha razão.» (954)
Aliás, nunca se pode sublinhar demais que o pensamento de Escrivá é o oposto exacto do ideal iluminista de pensamento crítico e de liberdade individual. Escrivá encontra-se do lado daqueles que crêem que existem assuntos acima da crítica (a sexualidade de «Cristo», os cartunes do profeta) e que a autonomia pessoal é um perigo.
«É má disposição ouvir as palavras de Deus com espírito crítico.» (945) «No Apostolado, estás para te submeteres, para te aniquilares; não para impor o teu critério pessoal.» (936)
Tudo o que temos construído nos últimos 200 anos assenta na capacidade de cada indivíduo usar o seu próprio juízo e ter liberdade de escolha. Escrivá defende o oposto de tudo isto, e a sua organização não apenas pratica essa cultura internamente como a tenta difundir na sociedade. Note-se que o Opus Dei aspira a formar «chefes» (empresários, professores universitários, políticos), que coloquem as suas actividades profissionais ao serviço da causa.
«Aburguesar-te? Tu... da multidão?! Mas, se tu nasceste para chefe! Entre nós não há lugar para os tíbios. Humilha-te, e Cristo voltará a inflamar-te com fogo de Amor.» (16) «Dá um motivo sobrenatural à tua actividade profissional de cada dia, e terás santificado o trabalho.» (359)
O risco de que haja desvios do «Caminho» é constante. E por isso Escrivá insiste bastante em que há um único caminho, e que não se deve resistir a obedecer.
«Por essa demora, por essa passividade, por essa tua resistência em obedecer, como se ressente o apostolado e como se alegra o inimigo!» (616) «Que bem entendeste a obediência quanto me escrevias: "Obedecer sempre é ser mártir sem morrer"!» (622) «Se a obediência não te dá paz, é que és soberbo.» (620)
A obsessão de que existe um único caminho é fundamental para manter a ovelha no rebanho, e necessita de uma castração contínua, de uma renúncia a tudo o que não é útil para uma finalidade pretensamente sobrenatural.
«Tudo o que não te leva a Deus é um estorvo. Arranca-o e atira-o para longe.» (189)
O pensamento de Josemaría Escrivá é genuinamente católico. A mesma procura do sofrimento contra o prazer, a mesma defesa da humilhação contra a dignidade e a mesma imposição da obediência contra a liberdade podem ser encontradas nas encíclicas papais e nas práticas populares, por exemplo em Fátima. Mas o pensamento de Escrivá é o catolicismo exacerbado, exponenciado. E o Opus Dei é uma «seita» no mesmo sentido em que o são a Igreja da Cientologia ou o Templo do Sol, porque a vida dos indivíduos é totalmente colocada ao serviço da organização, com a cenoura enganosa do «sobrenatural» e com o chicote bem real das privações sensoriais.
Repito, como já o fiz dezenas de vezes, que as pessoas devem ser livres de aderir ao Opus Dei. No entanto, os pais católicos têm o direito de saber qual é o tipo de «espiritualidade» que se pratica numa organização para a qual os seus filhos adolescentes podem ser recrutados a partir do colégio privado ou da paróquia. E a sociedade tem o direito de se defender denunciando e criticando. Porque não há democracia sem democratas, nem a liberdade pode durar muito se grande parte dos cidadãos obedecem a uma organização autoritária e totalitária.
Re.: about Opus Dei
Enviado: 25 Mai 2006, 12:29
por rapha...
Tasse mal.
Re: Re.: about Opus Dei
Enviado: 25 Mai 2006, 12:32
por Poindexter
rapha... escreveu:Tasse mal.
Exacto.
Enviado: 25 Mai 2006, 15:09
por HellWolf
A Opus Dei é uma organizaçao elitista. Normalmente os membros da Opus Dei é gente importante. O mito da lavagem ao cérebro é exagerado. Mas é verdade que eles fazem expiaçao pela dor...
Re.: about Opus Dei
Enviado: 25 Mai 2006, 21:36
por Márcio
Puro sadomasoquísmo.