Papa alemão visita Auschwitz
Enviado: 26 Mai 2006, 14:33
Der Spiegel
Um papa alemão visita o rebanho - e Auschwitz
Alexander Schwabe
O papa Bento 16 começou sua primeira visita oficial à Polônia. Durante esse período, foram banidos da televisão anúncios ofensivos. Ratzinger espera fortalecer a fé no país e também vai a Auschwitz.
Há seis meses, o papa Bento 16 escreveu ao clero polonês sobre suas preocupações com o estado do cristianismo no país. "A Polônia", ele escreveu, "herdou de gerações anteriores uma cultura rica, baseada em valores cristãos. Quando entrou para a União Européia, levou consigo essa herança. O país não pode perdê-la como resultado do processo de secularização que agora é forçada a passar."
A mensagem do papa ao clero polonês dá clara indicação do que sua visita à Polônia nesta semana pretende alcançar. A viagem -iniciada na quinta-feira (25/5)- quer deter a decadência acelerada da fé no país mais católico da Europa. Um dia antes de sua visita, o papa Bento 16 pediu uma "primavera de fé" na Polônia.
Seu predecessor, o papa João Paulo 2º -nativo da Polônia- também estava preocupado com o estado do catolicismo em seu país natal e reclamava que os poloneses tinham voltado as costas aos ensinamentos da igreja. Não só o uso de contraceptivos é amplo, mas o número de abortos está entre os mais altos na Europa. Daí o lema da atual visita de Josef Ratzinger: "Perseverar na Fé". Talvez seja um encorajamento para os católicos poloneses -ou uma advertência.
Intensa excitação com o papa alemão
O desapontamento em Roma com a crescente secularização pode estar relacionado com as esperanças de que a Polônia, ao entrar para a UE, desse um impulso ao catolicismo no continente. De fato, essa era uma das razões para o papa João Paulo 2º ser tamanho defensor da entrada da Polônia na UE.
Ainda assim, a excitação na Polônia com a visita papal é palpável. De acordo com o bispo Piotr Libera, de Katowice, Polônia, o interesse na visita de Bento é ainda mais intenso do que era pelas inúmeras viagens de seu predecessor à Polônia, Karol Wojtyla -há muito reverenciado na Polônia como uma espécie santo nacional. As expectativas da igreja para a visita provavelmente serão superadas. Espera-se um total de 3 milhões de pessoas nas aparições públicas do papa em sua visita de quatro dias.
Quando Bento 16 pousou em Varsóvia, perto das 11h na quinta-feira, foi recebido pelo presidente da Polônia, Lech Kaczynski, e uma multidão de 1.000 funcionários do aeroporto. Muitos fiéis esperavam ladeando as ruas em seu caminho pela cidade. Um coro cantava "The Barge" -a canção predileta de João Paulo- e Ratzinger começou seu discurso de boas vindas em polonês, antes de mudar para o italiano.
É a primeira visita do novo papa alemão à Polônia desde que assumiu a liderança da Igreja Católica, em abril de 2005. O cardeal de Colônia, Joachim Meissner, vê a mão de Deus no fato de que um alemão -portanto representante de um país que dizimou seu vizinho oriental na Segunda Guerra Mundial- seguiu um polonês no Vaticano. É um importante símbolo da reconciliação -um milagre- disse ele ao Spiegel Online pouco antes da visita. Muitos poloneses, porém, não vêem Bento apenas como alemão, mas como representante internacional da Igreja Católica. De acordo com pesquisa recente, 80% não ligam para o fato de ele ser alemão, 17% vêem sua nacionalidade como positiva e apenas 3% acham ruim.
Nenhum anúncio de preservativos
A rede de televisão pública TVP está planejando cobrir a visita papal durante os quatro dias -e pretende implementar um pouco de auto-censura na ocasião. Serão bloqueados um décimo dos anúncios -preservativos, roupas de baixo e tampões são tabu. Anúncios com cenas eróticas também não serão usados. Uma comissão especial, criada para a ocasião, deve garantir que a dignidade papal não seja prejudicada por propagandas pouco dignas.
Tal abordagem conformista à visita pode ser considerada um exemplo do novo conservadorismo moral do país sob Lech Kaczynski e seu irmão gêmeo Jaroslaw. Por outro lado, grupos de direitos das mulheres estão vendo a medida como discriminação machista. A filósofa Magdalena Sroda -que foi plenipotenciária do governo para igualdade dos gêneros de 2004 a 2005 -sugeriu que anúncios de automóveis também fossem proibidos. "Afinal", disse ela, "todo mundo sabe que o carro é meramente uma extensão do falo."
O papa Bento também fará uma visita ao campo de concentração de Auschwitz, na periferia da cidade polonesa de Cracóvia, no Sul. Perguntado sobre isso no vôo para Varsóvia na quinta-feira, o papa respondeu: "Acima de tudo, sou católico. Preciso dizer que este é o pronto mais importante", de acordo com a Associated Press.
Uma visita a Auschwitz
Apesar de o papa tentar minimizar a visita, houve certa controvérsia durante os preparativos. O bispo Tadeusz Rakoczy, de Bielsko-Zywiec, queria celebrar a missa junto com Bento no campo. No entanto, um grupo representando as vítimas do campo rejeitou a idéia. Então, a diocese de Bielsko-Zywiec retirou sua contribuição ao patrocínio da visita papal, que agora deve ser completamente financiada pelo Estado. Às 17h de domingo, ele vai atravessar o portão do campo de concentração e se encontrar com ex-prisioneiros e com o presidente polonês. O papa fará uma prece e deixará um buquê no muro da morte, antes de visitar a cela no Bloco 11 onde morreu o padre católico Maximilian Kolbe.
Rabinos poloneses pediram ao Vaticano que fizesse uma visita à sinagoga de Varsóvia, mas foi dada preferência à visita ao campo de concentração. É um gesto importante, diz Szewach Weiss, ex-embaixador de Israel na Polônia. "Quando João Paulo Segundo atravessou o portão do campo", disse Wiess, "Era completamente diferente. Ele era filho do país e sofreu conosco durante a guerra. Faz diferença que um homem que foi criado com a ideologia nazista agora esteja fazendo o mesmo." Este papa, diz ele, tem a obrigação moral de fazer reparações aos judeus.
Um papa alemão visita o rebanho - e Auschwitz
Alexander Schwabe
O papa Bento 16 começou sua primeira visita oficial à Polônia. Durante esse período, foram banidos da televisão anúncios ofensivos. Ratzinger espera fortalecer a fé no país e também vai a Auschwitz.
Há seis meses, o papa Bento 16 escreveu ao clero polonês sobre suas preocupações com o estado do cristianismo no país. "A Polônia", ele escreveu, "herdou de gerações anteriores uma cultura rica, baseada em valores cristãos. Quando entrou para a União Européia, levou consigo essa herança. O país não pode perdê-la como resultado do processo de secularização que agora é forçada a passar."
A mensagem do papa ao clero polonês dá clara indicação do que sua visita à Polônia nesta semana pretende alcançar. A viagem -iniciada na quinta-feira (25/5)- quer deter a decadência acelerada da fé no país mais católico da Europa. Um dia antes de sua visita, o papa Bento 16 pediu uma "primavera de fé" na Polônia.
Seu predecessor, o papa João Paulo 2º -nativo da Polônia- também estava preocupado com o estado do catolicismo em seu país natal e reclamava que os poloneses tinham voltado as costas aos ensinamentos da igreja. Não só o uso de contraceptivos é amplo, mas o número de abortos está entre os mais altos na Europa. Daí o lema da atual visita de Josef Ratzinger: "Perseverar na Fé". Talvez seja um encorajamento para os católicos poloneses -ou uma advertência.
Intensa excitação com o papa alemão
O desapontamento em Roma com a crescente secularização pode estar relacionado com as esperanças de que a Polônia, ao entrar para a UE, desse um impulso ao catolicismo no continente. De fato, essa era uma das razões para o papa João Paulo 2º ser tamanho defensor da entrada da Polônia na UE.
Ainda assim, a excitação na Polônia com a visita papal é palpável. De acordo com o bispo Piotr Libera, de Katowice, Polônia, o interesse na visita de Bento é ainda mais intenso do que era pelas inúmeras viagens de seu predecessor à Polônia, Karol Wojtyla -há muito reverenciado na Polônia como uma espécie santo nacional. As expectativas da igreja para a visita provavelmente serão superadas. Espera-se um total de 3 milhões de pessoas nas aparições públicas do papa em sua visita de quatro dias.
Quando Bento 16 pousou em Varsóvia, perto das 11h na quinta-feira, foi recebido pelo presidente da Polônia, Lech Kaczynski, e uma multidão de 1.000 funcionários do aeroporto. Muitos fiéis esperavam ladeando as ruas em seu caminho pela cidade. Um coro cantava "The Barge" -a canção predileta de João Paulo- e Ratzinger começou seu discurso de boas vindas em polonês, antes de mudar para o italiano.
É a primeira visita do novo papa alemão à Polônia desde que assumiu a liderança da Igreja Católica, em abril de 2005. O cardeal de Colônia, Joachim Meissner, vê a mão de Deus no fato de que um alemão -portanto representante de um país que dizimou seu vizinho oriental na Segunda Guerra Mundial- seguiu um polonês no Vaticano. É um importante símbolo da reconciliação -um milagre- disse ele ao Spiegel Online pouco antes da visita. Muitos poloneses, porém, não vêem Bento apenas como alemão, mas como representante internacional da Igreja Católica. De acordo com pesquisa recente, 80% não ligam para o fato de ele ser alemão, 17% vêem sua nacionalidade como positiva e apenas 3% acham ruim.
Nenhum anúncio de preservativos
A rede de televisão pública TVP está planejando cobrir a visita papal durante os quatro dias -e pretende implementar um pouco de auto-censura na ocasião. Serão bloqueados um décimo dos anúncios -preservativos, roupas de baixo e tampões são tabu. Anúncios com cenas eróticas também não serão usados. Uma comissão especial, criada para a ocasião, deve garantir que a dignidade papal não seja prejudicada por propagandas pouco dignas.
Tal abordagem conformista à visita pode ser considerada um exemplo do novo conservadorismo moral do país sob Lech Kaczynski e seu irmão gêmeo Jaroslaw. Por outro lado, grupos de direitos das mulheres estão vendo a medida como discriminação machista. A filósofa Magdalena Sroda -que foi plenipotenciária do governo para igualdade dos gêneros de 2004 a 2005 -sugeriu que anúncios de automóveis também fossem proibidos. "Afinal", disse ela, "todo mundo sabe que o carro é meramente uma extensão do falo."
O papa Bento também fará uma visita ao campo de concentração de Auschwitz, na periferia da cidade polonesa de Cracóvia, no Sul. Perguntado sobre isso no vôo para Varsóvia na quinta-feira, o papa respondeu: "Acima de tudo, sou católico. Preciso dizer que este é o pronto mais importante", de acordo com a Associated Press.
Uma visita a Auschwitz
Apesar de o papa tentar minimizar a visita, houve certa controvérsia durante os preparativos. O bispo Tadeusz Rakoczy, de Bielsko-Zywiec, queria celebrar a missa junto com Bento no campo. No entanto, um grupo representando as vítimas do campo rejeitou a idéia. Então, a diocese de Bielsko-Zywiec retirou sua contribuição ao patrocínio da visita papal, que agora deve ser completamente financiada pelo Estado. Às 17h de domingo, ele vai atravessar o portão do campo de concentração e se encontrar com ex-prisioneiros e com o presidente polonês. O papa fará uma prece e deixará um buquê no muro da morte, antes de visitar a cela no Bloco 11 onde morreu o padre católico Maximilian Kolbe.
Rabinos poloneses pediram ao Vaticano que fizesse uma visita à sinagoga de Varsóvia, mas foi dada preferência à visita ao campo de concentração. É um gesto importante, diz Szewach Weiss, ex-embaixador de Israel na Polônia. "Quando João Paulo Segundo atravessou o portão do campo", disse Wiess, "Era completamente diferente. Ele era filho do país e sofreu conosco durante a guerra. Faz diferença que um homem que foi criado com a ideologia nazista agora esteja fazendo o mesmo." Este papa, diz ele, tem a obrigação moral de fazer reparações aos judeus.
