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Super-Heróis e a filosofia

Enviado: 30 Mai 2006, 23:18
por Dante, the Wicked
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http://www.omelete.com.br/games/artigos ... rtigo=3028

O que o mundo colorido dos super-heróis tem em comum com o universo sisudo e complexo da filosofia? Para o pesquisador William Irwin e seus colaboradores, muita coisa. Partindo de histórias conhecidas, como as do Homem-Aranha, Superman e Quarteto Fantástico, um grupo seleto de autores debate as questões filosóficas e de sabedoria que residem ocultas em muitas vezes ingênuas histórias em quadrinhos de heróis fantasiados. Coisas que nós leitores não prestamos a devida atenção em meio aos lugares-comuns desse gênero que já faz parte do imaginário coletivo.

Como em toda coletânea, há artigos melhor acabados, capazes de despertar no leitor questionamentos não apenas sobre o que há escondido por trás dos colantes dos super-heróis, como também sobre como funciona o nosso próprio inconsciente com relação às nossas fantasias ao poder. Nesses momentos, o livro se mostra uma agradável surpresa, levantando questões éticas, morais e sociais embasadas em teorias de filósofos como Sócrates, Platão, Kant e Kierkegaard, entre diversos outros.

Infelizmente, alguns dos textos mais fracos são exatamente os assinados por autores de quadrinhos, como o escrito por Jeph Loeb junto com um dos organizadores da coletânea, Tom Morris. O texto se resume a um apanhado de conselhos moralistas, sem entrar muito fundo nos aspectos filosóficos. Dennis O´Neil, autor do Guia oficial DC Comics: Roteiros, acaba se saindo um pouco melhor, dando um toque de bom humor ao tema. Há também escorregões como o do artigo “Por que os super-heróis devem ser bons?”, que usa a heroína Tempestade (dos X-Men) como exemplo de heroína perfeita, tendo com base a sua unidimensional versão cinematográfica (interpretada pela atriz Halle Berry) em vez de explorar esse aspecto indo direto na fonte real: os quadrinhos. Mas não são deslizes que tornem a leitura um problema. Os acertos e descobertas da grande maioria dos textos é de instigar a curiosidade do leitor.

Um bom exemplo dos ensaios interessantes que compõem o livro é o texto de Tom Morris, intitulado “Deus, o Diabo e Matt Murdock”, em que o autor disseca a fundo os traços de personalidade do alter ego do Demolidor, reconhecendo padrões de comportamento católicos em conflito com a vida que o personagem leva. Partindo de situações coerentes estabelecidas principalmente por Frank Miller e Kevin Smith em diferentes fases, Morris explica como a filosofia católica aparece nos atos de Murdock, um personagem complexo e cheio de angústias e contradições, mas também dotado de uma motivação altruísta sem paralelos.

Outro ponto alto é o texto “O Quarteto Fantástico como família: O maior de todos os laços”, de Chris Ryall e Scott Tipton, em que a relação entre cada um dos membros dessa família é dissecada de forma tão clara que é possível encontrar paralelos com a sua própria família durante a leitura. Além desses, a série de artigos sobre “Super-heróis e o dever moral”, levanta questões éticas muito interessantes: por que os heróis são bons?; se eles realmente devem sê-lo; sua moral e a questão da responsabilidade. Análises estas, feitas sempre se pensando nas questões que fazem parte do nosso cotidiano e não são apenas um exercício de imaginação a respeito de super-seres coloridos. Citações e reflexões sobre Watchmen, O Reino do Amanhã, Cavaleiro das Trevas e Crise nas Infinitas Terras revelam aspectos do heroísmo e da própria existência humana em situações extremas.

O título vem se juntar ao acervo de obras similares lançadas pela editora, que possui vários outros livros com ensaios filosóficos tendo como ponto de partida ícones pop como Harry Potter, Star Wars, Matrix, A Família Soprano e Buffy – A caça-vampiros. Infelizmente, a versão nacional do livro não faz bonito ao promover seu produto. A começar pela capa, que utiliza os personagens da Liga da Justiça da versão animada, não despertando, numa olhada rápida na prateleira, credibilidade aos assuntos discutidos em seu conteúdo. A ilustração é claramente calcada em material promocional da DC, fato não mencionado nos créditos. Iconograficamente o livro também é muito pobre, pois fragmenta a mesma imagem para ilustrar cada capítulo, chegando até mesmo ao cúmulo de publicar a imagem do Super-Homem com o "S" invertido. Sem falar que ilustrar tópicos sobre os heróis da editora Marvel com personagens da DC Comics é, no mínimo, um erro desnecessário.

Também é importante salientar a falta de interesse da tradução em pesquisar um pouco a respeitos dos personagens que compõem o livro. Praticamente todos os quadrinhos citados já foram publicados no Brasil, mas estão todos citados em inglês (inclusive as referências bibliográficas remetem apenas às edições americanas), o que pode dificultar o entendimento de quem não é familiarizado com os últimos 20 anos de HQs de heróis publicadas no Brasil. Não bastasse isso, quando se arrisca, a tradução não poderia ser mais equivocada. O extraterrestre conhecido por nós como o Vigia, foi rebatizado de Observador (nome que só teve na primeira dublagem brasileira dos desenhos desanimados da Marvel) e a Fortaleza da Solidão do Super-Homem virou Fortaleza da Solitude. Fora os escorregões feios, como rebatizar a simpática tia May (do Homem-Aranha), de tia Mary. Ou seja, o livro merecia um tratamento mais cuidadoso e alguma consultoria.

Mas se ignorarmos esses deslizes, encontraremos um material muito proveitoso. Afinal, em muitos casos, a análise supera em muito as intenções originais dos autores dos quadrinhos. Ou seja, ao analisarem as implicações filosóficas, os pensadores reunidos no livro descobrem nuances talvez nunca imaginadas pelos próprios roteiristas, o que demonstra a riqueza e coerência de muitas criações. Após a leitura, termos como teísmo, utilitarismo e existencialismo podem ficar tão familiares quanto kriptonita, multiverso e raios cósmicos.

Em suma, o livro é uma leitura altamente recomendada não só aos curiosos, mas também aos roteiristas que produzem HQs de qualquer gênero, graças à reflexão séria proposta a respeito dos motivos que levam esses personagens a sobreviverem por tantas décadas. Caso a esmagadora maioria de roteiristas medíocres que teimam em queimar personagens de grande potencial em batalhas fúteis parasse para entender as complexas questões que povoam as entrelinhas (ou entre-quadros) dos quadrinhos dos vigilantes mascarados, certamente o leitor ganharia bastante ao encontrar nas bancas quadrinhos que realmente unem arte, entretenimento e (por que não?) questionamento.

Super-Heróis e a filosofia
Título original: Superheroes and philosophy (Carus Publishing Co.)
Coordenação: William Irwin
Coletânea de: Matt Morris e Tom Morris
Lançamento: Madras Editora
Formato: 16 x 23cm - 256 páginas

Re: Super-Heróis e a filosofia

Enviado: 31 Mai 2006, 08:37
por Leonardo
Aproveito e faço propaganda, novamente, do site de fanfic Hyperfan: http://www.hyperfan.com.br. Temos muitos personagens em aberto, ou seja, sem autores.
Candidatos(as)?
Abç
Leo

Re.: Super-Heróis e a filosofia

Enviado: 01 Jun 2006, 13:18
por Conan
Um artigo da wired sobre o Super-Homem...
http://www.wired.com/wired/archive/14.06/myth.html

About a decade ago, Alvin Schwartz, who wrote Superman comic strips in the 1940s and ‘50s, published one of the great Odd Books of our time. In An Unlikely Prophet, reissued in paperback this spring, Schwartz writes that Superman is real. He is a tulpa, a Tibetan word for a being brought to life through thought and willpower. Schwartz also says a Hawaiian kahuna told him that Superman once traveled 2,000 years back in time to keep the island chain from being destroyed by volcanic activity. Maybe it happened, maybe it didn’t, but it does sound like a job for Superman – all in a day’s work for a guy who can squeeze coal into diamonds. Schwartz then tells of his own encounter with Superman in a New York taxi, when he learned firsthand that Superman’s cape is, in fact, more than mere fabric.

An Unlikely Prophet brings up an important question about Superman: What makes people want to meet him so badly? It’s tough to imagine a similar book about, say, Green Lantern or Captain America. Superman is different because he doesn’t really belong to the writers who’ve created his adventures over the last 68-plus years. He has evolved into a folk hero, a fable, and the public feels like it has a stake in who Superman “really” is. Schwartz quit writing Superman because his bosses were telling him to put in things that he thought were out of character. That was admirable, but really, the specific stories we tell about Superman – the what-happened and what-he-did – don’t matter that much. Superman transcends plot. We retell his tales because we wish he were here, real, to keep us safe.

Everyone knows the Superman story: rocketed to Earth from the distant planet Krypton just before it explodes, raised by a loving Kansas couple, possessing powers and abilities far beyond those of mortal men, defends the city of Metropolis – and the world – from evil. His real-world origin is more humble: Jerry Siegel and Joe Shuster, two Jewish kids from Cleveland, created him as a character in a newspaper comic strip. But the strip didn’t sell, so they reformatted it and flipped it to a publisher hungry to buy content for one of the first comic books. When the story appeared in the premiere issue of the anthology Action Comics, kids went crazy for it, as if there had always been a Superman-shaped hole in the world and it now was filled.

It’s a classic American success story on a couple of levels. Two outsiders create a new art form, and Superman – an alien in a strange land – takes off. “Given the nature of the US, it was only natural in the 1930s for our new hero to be the ultimate immigrant,” says Bryan Singer, director of the new movie Superman Returns. “I’m an only child, adopted, and as a kid I identified extraordinarily with that aspect of Superman. The scene where the Kents decide to keep him always touches me.”

Of course, baby Clark has a special destiny. He’s literally empowered to be our salvation, endowed with all the basics – flight, strength, invulnerability – plus the wildcard powers of super hearing, heat vision, x-ray vision, and supercold breath. He used to be even more incredible; before a radical overhaul in the mid-’80s, he could move planets and run faster than the speed of light. His cape was infinitely elastic and never tore. He had super-hypnotism. In the 1978 movie, he turned back time. He’s not a superhero; he’s a demigod.

What’s important, though, is how Superman uses these powers. Compared to most A-list comic characters, he has almost no memorable villains. Think of Batman, locked in eternal combat with nocturnal freaks like the Joker – or Spider-Man, battling megalomaniacal weirdos like Dr. Octopus. For Superman, there’s pretty much only bitter, bald Lex Luthor, forever being reinvented by writers and artists in an effort to make him a worthy foe. Superman’s true enemies are disasters like earthquakes and hurricanes, jet planes tumbling from the sky, enormous meteors that would crush cities. Superman stands between humanity and a capricious universe.

Singer’s movie hasn’t yet screened in its entirety, so no one knows what he’s going to add to the myth. The few minutes of the film that outsiders have seen (watched with a chaperone, on a DVD that gets shredded after viewing) look good, a spiritual successor to the Richard Donner films from a quarter-century ago. The special effects will be flawless. But Singer’s Superman is bound to be less interesting than his Clark Kent. Of all the relationships at the heart of the myth – Superman and Lois Lane, Superman and Jimmy Olsen, Superman and his adoptive parents – the most important is the one with his alter ego.

In 1959, Jules Feiffer did a classic cartoon about that dynamic. In it, Superman “pulled this chick from the river” and, after being briefly subjected to her Freudian questions about his motivation for rescuing people all the time, he quits. He settles down and spends the rest of his life pretending to be human – going to work, watching TV. In less than a page, Feiffer encapsulates the internal war between Superman’s moral obligation to do good and his longing to be an average Joe.

Other heroes are really only pretending: Peter Parker plays Spider-Man; Bruce Wayne plays Batman. For Superman, it’s mild-mannered reporter Clark Kent that’s the disguise – the thing he aspires to, the thing he can never be. He really is that hero, and he’ll never be one of us. But we love him for trying. We love him for wanting to protect us from everything, including his own transcendence. He plays the bumbling, lovelorn Kent so that we regular folks can feel, just for a moment, super.

Re.: Super-Heróis e a filosofia

Enviado: 01 Jun 2006, 13:23
por Conan
No filme Kill Bill 2, Bill conta que a razão Porque o SupeHomem usa Clark, um ser humano fraco, covarde e Tímido, como Alter-Ego é porque essa é a visão que o SuperHomem tem da humanidade. Aliás... faz sentido, porque o SuperHomem foi inspirado no Ubermensch de Nietzsche. Há muita subtileza nos Comics... porque os grandes criadores sempre foram pessoas muito cultas...

Re.: Super-Heróis e a filosofia

Enviado: 01 Jun 2006, 17:42
por Jack Torrance
Tem essa dos Os Simpsons:

http://www.submarino.com.br/books_produ ... 6696&ST=SE

Eles tem uma coleção só de séries e a Filosofia. Tem até da Buffy, Caçadora de Vampiros.