O comunismo deu origem ao "Politicamente correto"
- Fernando Silva
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O comunismo deu origem ao "Politicamente correto"
Rio, 03 de junho de 2006 "O Globo"
Bodas bárbaras
REINALDO AZEVEDO
O marxismo é uma variante da preguiça. Se você acredita que a base material condiciona mudanças na cultura, na forma de pensar e nas relações intersubjetivas, basta fazer como os romanos do poema “À Espera dos Bárbaros”, de Kafávis: sentar na calçada e esperar a banda passar. E há os que resolveram acelerar a história para que o inexorável chegasse antes: Lênin, Stálin, Mao, Pol Pot. O resultado se mede em crânios.
O truque da chamada Escola de Frankfurt - de que Habermas é caudatário, embora infinitamente mais chato porque escreve mal - já é mais divertido do que o marxismo clássico. O que em um é conseqüência vira, no outro, causa, e a cultura é vista como o motor das mudanças materiais. É uma bobagem que alimenta intelectuais cuja profissão é contestar o regime - que lhes garante a liberdade de contestação. Mas muito influente.
O velho marxismo morreu de falência múltipla dos órgãos. A sua realização prática eram as economias planificadas, que não resistiram à globalização - descrita ou antevista, como queiram, pelo próprio Marx no “Manifesto Comunista”. Já ali se podia supor que o socialismo buscava represar o mar. O neomarxismo pretendeu fazer a crítica à ortodoxia esquerdista sem ceder à razão burguesa. Deu em quê?
Da maçaroca de esquerdismos não-dogmáticos nasceu uma vulgata virulenta: o pensamento politicamente correto. Tanto se dedicaram os intelectuais da dita nova esquerda à desconstrução do suposto eixo autoritário das democracias burguesas que a política militante degenerou, nos países ricos, no que Robert Hughes chama de “cultura da reclamação” e, nos pobres, de “excluídos militantes”, que rejeitam os valores universais da igualdade e o Estado de Direito. Querem que suas demandas particularistas sejam tratadas como reparação histórica.
Negros, feministas, homossexuais, índios, sem-terra, sem-teto, sem eira nem beira... Todos anseiam que a História seja vivida como culpa, e a desculpa se traduz na concessão de algum privilégio. Isso que já é uma ética coletiva supõe que todos são vítimas de alguém ou de alguma coisa. De quem ou do quê? Ninguém sabe. “Da sociedade” talvez. A hipótese é interessante. Poderíamos zerar a História, dissolver os contratos e voltar ao estado da natureza. O Brasil já tem um novo “negro” ou um novo “índio”: é o macho branco, pobre, heterossexual e católico. É um pobre coitado, um discriminado, um sem-ONG. Nem os padres querem saber dele.
As “minorias” se profissionalizam, e a luta sempre continua. Não temos uma política pública digna desse nome que se ocupe, por exemplo, da qualidade do ensino fundamental e médio, mas se faz, com cotas e ProUni, suposta justiça social na universidade, onde o único critério cabível de seleção é o saber - que mascararia as diferenças de classe e traria consigo um contencioso de injustiças históricas. Eis o desastre: competência e justiça, nesse raciocínio perturbado, passam a se opor, viram uma disjuntiva. Nas TVs, e até nos cadernos de cultura dos jornais, “manos” do rap e “MCs” fazem-se porta-vozes de uma nova metafísica, oposta àquele saber universal, formalista e reacionário. Padre Pinto é o santo padroeiro dessa guerra à ortodoxia.
Igualdade? Justiça? Reparação? Nada disso. Consolida-se é o divórcio entre os partidários desse igualitarismo - que, de fato, é um particularismo que corrói as bases do Estado de Direito - e os da universalidade. O “novo homem” do antigo marxismo - que era, sim, uma utopia liberticida e homicida - foi substituído pelos bárbaros, cujo mundo ideal é aquele disputado por hordas, tribos, bandos, de que entidades do “terceiro setor” são proxenetas bem remuneradas.
Os tais mercados não dão a menor bola para isso. A platéia que vi mais incomodada e, até certo ponto, indignada com a crítica severa que faço ao PT e a seu viés totalitário era composta de pessoas ligadas ao mercado financeiro. A democracia, como a defendiam os antigos liberais, é a eles irrelevante. Trata-se de dinheiro novo. Assistimos ao casamento entre os hunos e essa gente muito prática. As bodas bárbaras.
REINALDO AZEVEDO é jornalista.
Bodas bárbaras
REINALDO AZEVEDO
O marxismo é uma variante da preguiça. Se você acredita que a base material condiciona mudanças na cultura, na forma de pensar e nas relações intersubjetivas, basta fazer como os romanos do poema “À Espera dos Bárbaros”, de Kafávis: sentar na calçada e esperar a banda passar. E há os que resolveram acelerar a história para que o inexorável chegasse antes: Lênin, Stálin, Mao, Pol Pot. O resultado se mede em crânios.
O truque da chamada Escola de Frankfurt - de que Habermas é caudatário, embora infinitamente mais chato porque escreve mal - já é mais divertido do que o marxismo clássico. O que em um é conseqüência vira, no outro, causa, e a cultura é vista como o motor das mudanças materiais. É uma bobagem que alimenta intelectuais cuja profissão é contestar o regime - que lhes garante a liberdade de contestação. Mas muito influente.
O velho marxismo morreu de falência múltipla dos órgãos. A sua realização prática eram as economias planificadas, que não resistiram à globalização - descrita ou antevista, como queiram, pelo próprio Marx no “Manifesto Comunista”. Já ali se podia supor que o socialismo buscava represar o mar. O neomarxismo pretendeu fazer a crítica à ortodoxia esquerdista sem ceder à razão burguesa. Deu em quê?
Da maçaroca de esquerdismos não-dogmáticos nasceu uma vulgata virulenta: o pensamento politicamente correto. Tanto se dedicaram os intelectuais da dita nova esquerda à desconstrução do suposto eixo autoritário das democracias burguesas que a política militante degenerou, nos países ricos, no que Robert Hughes chama de “cultura da reclamação” e, nos pobres, de “excluídos militantes”, que rejeitam os valores universais da igualdade e o Estado de Direito. Querem que suas demandas particularistas sejam tratadas como reparação histórica.
Negros, feministas, homossexuais, índios, sem-terra, sem-teto, sem eira nem beira... Todos anseiam que a História seja vivida como culpa, e a desculpa se traduz na concessão de algum privilégio. Isso que já é uma ética coletiva supõe que todos são vítimas de alguém ou de alguma coisa. De quem ou do quê? Ninguém sabe. “Da sociedade” talvez. A hipótese é interessante. Poderíamos zerar a História, dissolver os contratos e voltar ao estado da natureza. O Brasil já tem um novo “negro” ou um novo “índio”: é o macho branco, pobre, heterossexual e católico. É um pobre coitado, um discriminado, um sem-ONG. Nem os padres querem saber dele.
As “minorias” se profissionalizam, e a luta sempre continua. Não temos uma política pública digna desse nome que se ocupe, por exemplo, da qualidade do ensino fundamental e médio, mas se faz, com cotas e ProUni, suposta justiça social na universidade, onde o único critério cabível de seleção é o saber - que mascararia as diferenças de classe e traria consigo um contencioso de injustiças históricas. Eis o desastre: competência e justiça, nesse raciocínio perturbado, passam a se opor, viram uma disjuntiva. Nas TVs, e até nos cadernos de cultura dos jornais, “manos” do rap e “MCs” fazem-se porta-vozes de uma nova metafísica, oposta àquele saber universal, formalista e reacionário. Padre Pinto é o santo padroeiro dessa guerra à ortodoxia.
Igualdade? Justiça? Reparação? Nada disso. Consolida-se é o divórcio entre os partidários desse igualitarismo - que, de fato, é um particularismo que corrói as bases do Estado de Direito - e os da universalidade. O “novo homem” do antigo marxismo - que era, sim, uma utopia liberticida e homicida - foi substituído pelos bárbaros, cujo mundo ideal é aquele disputado por hordas, tribos, bandos, de que entidades do “terceiro setor” são proxenetas bem remuneradas.
Os tais mercados não dão a menor bola para isso. A platéia que vi mais incomodada e, até certo ponto, indignada com a crítica severa que faço ao PT e a seu viés totalitário era composta de pessoas ligadas ao mercado financeiro. A democracia, como a defendiam os antigos liberais, é a eles irrelevante. Trata-se de dinheiro novo. Assistimos ao casamento entre os hunos e essa gente muito prática. As bodas bárbaras.
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Muito bom o texto!
Visite minha página http://filomatia.net. Tratando de lógica, filosofia, matemática etc.
Visite o Wikilivros. Aprenda mais sobre Lógica.
Assista meu canal do youtube. Veja meu currículo lattes.
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- Capitão América
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Re.: O comunismo deu origem ao "Politicamente correto&q
Ótimo texto. Alguns se identificarão por aqui, em breve...
[]'s
"Se a liberdade significa realmente alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir". - George Orwell

"Se a liberdade significa realmente alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir". - George Orwell
Re.: O comunismo deu origem ao "Politicamente correto&q
Logo todos os marxistas sao preguiçosos.
Re.: O comunismo deu origem ao "Politicamente correto&q
Qualquer dia dizem que a esquerda inventou a roda...
- Poindexter
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Dante, the Wicked escreveu:Muito bom o texto!
Exato.
Não sou culpado de os romanos terem caçado cristãos.
Eu não responsável se "bruxas" eram queimadas no século XVII. Eu não sou culpado de o nazismo ter procurado matar os homossexuais. Eu não tenho culpa de os E.U.A. terem vivido sob as Jim Craw laws. Eu não tenho culpa de os portugueses terem escravizado índios e negros, nem de os católicos terem tomado Jerusalém durante as cruzadas e de os mouros terem ocupado a Península Ibérica um pouco antes.
Eu sei que tem gente que se sente culpada por essas coisas, cim. Entendo isso e respeito isso, desde que estas pessoas não tentem sanar os sentimentos de culpa que têm com O MEU DINHEIRO. Que tal estes que sentem estas culpas tirarem apenas do que é deles para sanar suas culpas? Que tal somente as famílias que sentem culpas ela escravidão no século XVI cederem as preciosas vaguinhas dos seus próprios filhos nas universidades para negros?
Editado pela última vez por Poindexter em 04 Jun 2006, 12:58, em um total de 1 vez.
Si Pelé es rey, Maradona es D10S.
Ciertas cosas no tienen precio.
¿Dónde está el Hexa?
Retrato não romantizado sobre o Comun*smo no século XX.
A child, not a choice.
Quem Henry por último Henry melhor.
O grito liberalista em favor da prostituição já chegou à este fórum.
Lamentável...
O que vem de baixo, além de não me atingir, reforça ainda mais as minhas idéias.
The Only Difference Between Suicide And Martyrdom Is Press Coverage
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- Fernando Silva
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Poindexter escreveu:Eu não tenho culpa de os portugueses terem escravizado índios e negros, nem de os católicos terem tomado Jerusalém durante as cruzadas e de os otomanos terem ocupado a Península Ibérica um pouco depois.
Os mouros (não necessariamente otomanos) chegaram à Espanha e Portugal por volta do século VIII e lá ficaram por uns 800 anos. Só foram detidos quando começaram a invadir a França.
- Poindexter
- Mensagens: 5894
- Registrado em: 18 Nov 2005, 12:59
Fernando Silva escreveu:Os mouros (não necessariamente otomanos) chegaram à Espanha e Portugal por volta do século VIII e lá ficaram por uns 800 anos. Só foram detidos quando começaram a invadir a França.
Valeu. Já editei.
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O marxismo é uma variante da preguiça. Se você acredita que a base material condiciona mudanças na cultura, na forma de pensar e nas relações intersubjetivas, basta fazer como os romanos do poema “À Espera dos Bárbaros”, de Kafávis: sentar na calçada e esperar a banda passar. E há os que resolveram acelerar a história para que o inexorável chegasse antes: Lênin, Stálin, Mao, Pol Pot. O resultado se mede em crânios.
Por acaso, o mesmo materialismo vulgar que Marx fez questão de refutar em Feuerbach, no seu "Teses contra Feuerbach", inserindo o conceito de práxis humana.
O erro fulcral de Marx, o determinismo, é bem óbvio. Mas este determinismo marxista parte do princípio que haverão reações humanas lógicas às conjunturas históricas. Um exemplo é que Marx esperava que a sociedade comunista chegasse, mas por base de luta classista revolucionária. Ou seja, o papel humano nunca foi descartado. O texto já começou bem mal.

Re: O comunismo deu origem ao "Politicamente correto&am
REINALDO AZEVEDO escreveu:O truque da chamada Escola de Frankfurt - de que Habermas é caudatário, embora infinitamente mais chato porque escreve mal - já é mais divertido do que o marxismo clássico. O que em um é conseqüência vira, no outro, causa, e a cultura é vista como o motor das mudanças materiais. É uma bobagem que alimenta intelectuais cuja profissão é contestar o regime - que lhes garante a liberdade de contestação. Mas muito influente.
Habermas pode até escrever mal, como apenas um bom alemão sabe fazer. Mas Jurgen não chega, entretanto, a ser arrogante nem tão raso no assunto quanto esse jornalista.

Se o próprio Engels já falava na formação de uma pretensa "cultura revolucionária" e se o próprio comunismo procederia de uma mudança humana prática na sua forma de pensar o mundo (ou seja, uma mudança superestrutural/cultural antes da mudança estrutural, que seria a revolução em si), como é que esse cara me vem com essa estória de dicotomia causa/conseqüência na cultura?!
Para o marxismo, seja o ortodoxo seja o frankfurtiano, a cultura é conseqüência da base material e é um dos fatores impulsionadores de qualquer outra base material.

REINALDO AZEVEDO escreveu:O velho marxismo morreu de falência múltipla dos órgãos. A sua realização prática eram as economias planificadas, que não resistiram à globalização - descrita ou antevista, como queiram, pelo próprio Marx no “Manifesto Comunista”. Já ali se podia supor que o socialismo buscava represar o mar. O neomarxismo pretendeu fazer a crítica à ortodoxia esquerdista sem ceder à razão burguesa. Deu em quê?
Razão burguesa? Isso é de comer?

A crítica à orotodoxia eu até entendo. O marxismo se pretende como uma ciência dialética, isso DEVE ocorrer. E entendo também a fixação à estrutura de pensamento marxista, na qual eu também me incluo. Axiomas são sempre necessários.
REINALDO AZEVEDO escreveu:Da maçaroca de esquerdismos não-dogmáticos nasceu uma vulgata virulenta: o pensamento politicamente correto. Tanto se dedicaram os intelectuais da dita nova esquerda à desconstrução do suposto eixo autoritário das democracias burguesas que a política militante degenerou, nos países ricos, no que Robert Hughes chama de “cultura da reclamação” e, nos pobres, de “excluídos militantes”, que rejeitam os valores universais da igualdade e o Estado de Direito. Querem que suas demandas particularistas sejam tratadas como reparação histórica.
Causa discutível, conclusão arbitrária. A própria noção do "politicamente correto" requer uma separação formal entre moral e política que é anterior às tais esquerdas. O que as mesmas fazem, entretanto, é criticar essa tal separação.
É fácil chamar alguem de "bicha" e reclamar ao politicamente correto para legitimar a "agressão". É fácil chamar alguém de "crioulo" e reclamar ao politicamente correto para legitimar o xingamento.
Começo a pensar que a noção de "politicamente correto" é apenas uma forma de mascarar alguns antigos "resquícios morais" nossos, que agora são tidos como imorais perante a lei.
REINALDO AZEVEDO escreveu:Negros, feministas, homossexuais, índios, sem-terra, sem-teto, sem eira nem beira... Todos anseiam que a História seja vivida como culpa, e a desculpa se traduz na concessão de algum privilégio. Isso que já é uma ética coletiva supõe que todos são vítimas de alguém ou de alguma coisa. De quem ou do quê? Ninguém sabe. “Da sociedade” talvez. A hipótese é interessante. Poderíamos zerar a História, dissolver os contratos e voltar ao estado da natureza. O Brasil já tem um novo “negro” ou um novo “índio”: é o macho branco, pobre, heterossexual e católico. É um pobre coitado, um discriminado, um sem-ONG. Nem os padres querem saber dele.
O que Reinaldo chama de "História de culpa", os grupos chamam de "reparação histórica". Creio que a verdade esteja no meio termo entre esses dois discursos...
Quanto à inversão discriminatória, ela soaria engraçada. Mas não parece haver discriminação contra o tipo descrito.
As “minorias” se profissionalizam, e a luta sempre continua. Não temos uma política pública digna desse nome que se ocupe, por exemplo, da qualidade do ensino fundamental e médio, mas se faz, com cotas e ProUni, suposta justiça social na universidade, onde o único critério cabível de seleção é o saber - que mascararia as diferenças de classe e traria consigo um contencioso de injustiças históricas. Eis o desastre: competência e justiça, nesse raciocínio perturbado, passam a se opor, viram uma disjuntiva. Nas TVs, e até nos cadernos de cultura dos jornais, “manos” do rap e “MCs” fazem-se porta-vozes de uma nova metafísica, oposta àquele saber universal, formalista e reacionário. Padre Pinto é o santo padroeiro dessa guerra à ortodoxia.
Finalmente, um parágrafo a se concordar. Mas o reacionarismo apresentado chega a ser chato.
Igualdade? Justiça? Reparação? Nada disso. Consolida-se é o divórcio entre os partidários desse igualitarismo - que, de fato, é um particularismo que corrói as bases do Estado de Direito - e os da universalidade. O “novo homem” do antigo marxismo - que era, sim, uma utopia liberticida e homicida - foi substituído pelos bárbaros, cujo mundo ideal é aquele disputado por hordas, tribos, bandos, de que entidades do “terceiro setor” são proxenetas bem remuneradas.
Valorações pessoais de quem deseja manter a sua forma moral e social vigente.
Os tais mercados não dão a menor bola para isso. A platéia que vi mais incomodada e, até certo ponto, indignada com a crítica severa que faço ao PT e a seu viés totalitário era composta de pessoas ligadas ao mercado financeiro. A democracia, como a defendiam os antigos liberais, é a eles irrelevante. Trata-se de dinheiro novo. Assistimos ao casamento entre os hunos e essa gente muito prática. As bodas bárbaras.
Ui, a arte de falar e não dizer nada.
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Samael escreveu:Por acaso, o mesmo materialismo vulgar que Marx fez questão de refutar em Feuerbach, no seu "Teses contra Feuerbach", inserindo o conceito de práxis humana.
O erro fulcral de Marx, o determinismo, é bem óbvio. Mas este determinismo marxista parte do princípio que haverão reações humanas lógicas às conjunturas históricas. Um exemplo é que Marx esperava que a sociedade comunista chegasse, mas por base de luta classista revolucionária. Ou seja, o papel humano nunca foi descartado. O texto já começou bem mal.
Concordo. Qualquer determinismo histórico ignora completamente o fato da história ser um sistema caótico. Como prever o nascimento e ascensão de personagens como Napoleão, Hitler, Alexandre etc.?
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Dante, the Wicked escreveu:Samael escreveu:Por acaso, o mesmo materialismo vulgar que Marx fez questão de refutar em Feuerbach, no seu "Teses contra Feuerbach", inserindo o conceito de práxis humana.
O erro fulcral de Marx, o determinismo, é bem óbvio. Mas este determinismo marxista parte do princípio que haverão reações humanas lógicas às conjunturas históricas. Um exemplo é que Marx esperava que a sociedade comunista chegasse, mas por base de luta classista revolucionária. Ou seja, o papel humano nunca foi descartado. O texto já começou bem mal.
Concordo. Qualquer determinismo histórico ignora completamente o fato da história ser um sistema caótico. Como prever o nascimento e ascensão de personagens como Napoleão, Hitler, Alexandre etc.?
Exato. E você não faz idéia do malabarismo retórico que autores como Lênin fazem para justificar a teleologia marxista na problemática histórica. Apelam até para a inexistência do acaso.
