Reencarnação e Super Psi
Enviado: 04 Jun 2006, 17:20
[center]Reencarnação e Super Psi[/center]
A Percepção Extra-Sensorial (ou simplesmente PES) se refere a uma suposta capacidade humana ligada à aquisição de conhecimento sem o uso dos sentidos comuns. Já a Psicocinésia (PK, do inglês, psychokinesis) seria uma forma de ação humana sobre o meio físico em que não seriam utilizados quaisquer mediadores ou agentes (músculos ou forças físicas) conhecidos. O conjunto PES + PK seria a hipótese PSI, e pode ser definida como uma hipótese de interação entre o ser humano e o meio sem o uso dos sentidos, dos músculos ou de qualquer força/agente físico conhecido.
Dentre as faculdades que fariam parte do conjunto conhecido como PES, estariam:
a) Precognição – conhecimento do futuro não explicável pela ciência atual.
b) Telepatia – transferência do próprio pensamento para outra pessoa.
c) Retrocognição – conhecimento do passado não explicável pela ciência atual.
d) Clarividência ou Visão Remota – a capacidade de ver coisas além do alcance da visão.
e) Clariaudição – a capacidade de ouvir coisas além do alcance da audição.
Super Psi seria o uso dessas faculdades a um nível tal que não importaria a dificuldade da tarefa, qualquer tipo de informação teoricamente poderia ser acessada por essa hipótese. Isso não quer dizer que a Hipótese Psi não tenha limites, apenas significa que como não conhecemos seus limites, não podemos delimitá-los a priori. Conseqüentemente, não poderíamos partir para a hipótese de Sobrevivência enquanto não descobríssemos esses limites. Para facilitar o entendimento disto, usemos de um exemplo: conhecemos os limites da audição humana. Se um indivíduo está numa sala à prova de som, e em outra sala alguém liga um liquidificador, e este indivíduo declara ‘estou ouvindo um liquidificador’, sabemos que esta informação não chegou por vias sonoras, e podemos partir para outras explicações. Como não conhecemos os limites de psi, ao menos no momento, não poderíamos usar a hipótese de Sobrevivência como hipótese científica legítima, pois não é possível afirmar que determinado efeito excede as capacidades psi!
Esse problema já havia sido observado no Brasil pelo engenheiro e parapsicólogo Hernani Guimarães Andrade, que no livro Renasceu por Amor, reporta-se a ele do seguinte modo (pág. 237):
“Para os casos que aparentam reencarnação [...], a hipótese da ESP [...] tem sido freqüentemente evocada. Os adeptos dessa modalidade de explicação reducionista acham dispensável a tese da reencarnação. Eles consideram que essa hipótese exige um princípio que postula a sobrevivência após a morte, bem como a exigência do Espírito. Segundo os reducionistas, nenhum desses postulados foi cientificamente demonstrado. Portanto, tais premissas complicam a solução proposta, uma vez que o método científico pede que se adotem as prescrições de William de Ockham (1300-1349). Entre outras coisas, Ockham recomenda que as hipóteses mais aceitáveis sejam aquelas que exigem o menor número de postulados, ou suposições, a priori (Navalha de Ockham): Entia non sunt multilicanda praeter necessitatem. Isso significa: “Os princípios não devem ser multiplicados além da necessidade”.
Ora, a ESP já foi demonstrada, experimentalmente, em laboratório. Portanto, ela representa um fato científico e não uma suposição. A existência do Espírito e a sobrevivência, segundo os próprios parapsicólogos ortodoxos, ainda não foram demonstradas cientificamente. Por isso, eles consideram como explicação mais simples, para os casos de manifestações mediúnicas e igualmente para as “supostas recordações reencarnatórias”, [...] a ESP”.
É discutível se a ESP já foi demonstrada em laboratório. Alguns parapsicólogos, na verdade, são mais cuidadosos. O que afirmam é que a Parapsicologia tem condições de reproduzir alguns fenômenos de forma experimental, obtendo resultados impossíveis de serem explicados pelas teorias da ciência, como os testes Ganzfeld, por exemplo. Isso não seria necessariamente uma demonstração da existência de psi, e sim apenas de uma anomalia, que pode ser resultado de psi, mas necessitando de mais pesquisas para sanar a dúvida.
Hernani prossegue dizendo que os resultados obtidos em laboratório são muito mais modestos do que os se observam nos estudos de caso, em ambiente natural. Para o parapsicólogo Stephen Braude, no entanto, essa é uma posição ingênua:
Parapsicólogos e outros tendem a abordar o estudo de psi com o conjunto padrão de suposições tácitas indefensáveis. Primeiro, eles freqüentemente assumem que se psi ocorre, ocorre unicamente em um grau bastante modesto. Segundo, eles usualmente assumem que quando efeitos psi observáveis (e não meramente demonstráveis estatisticamente) ocorrem, estes efeitos serão suficientemente evidentes ou incomuns para serem identificados como eventos psi.
Ambas as suposições, contudo, são intoleravelmente ingênuas. Na verdade, a primeira é metodologicamente notória. Dado o nosso presente grau de ignorância no que concerne o funcionamento psíquico, nós simplesmente não temos bases para colocar antecedentes de limites de qualquer tipo em sua extensão ou refinamento. Para aceitar este ponto, não importa se nós acreditamos que o funcionamento psíquico ocorre ou se nós somos simplesmente céticos de mente aberta considerando a mera hipótese de que psi ocorra. Se psi pode ocorrer em qualquer extensão, então até que tenhamos evidência do contrário, nós devemos assumir que psi pode ocorrer em qualquer nível de magnitude ou sofisticação. De fato, nós não somente não possuímos evidência contra a possibilidade de psi ilimitado como, na verdade, certos corpos de dados dão suporte a isso.
A segunda suposição não comprovada usualmente aparece em tentativas de argumentar que simplesmente não há evidência para super-psi. Muitos protestam que se super-psi ocorreu, este se faria conhecido para nós; mas (eles argumentariam), nós não temos evidência de que pessoas podem fazer coisas como afetar psicocineticamente o tempo ou fazer aviões caírem, ou levar a cabo espionagens psíquicas sofisticadas e detalhadas. A suposição que espreita embaixo deste argumento é que ocorrências de super-psi na vida cotidiana serão geralmente conspícuas ou facilmente identificáveis como tais, e que elas não serão simplesmente misturadas ou mascaradas pela extensa rede de eventos normais circunvizinhos. Mas essa suposição é claramente deficiente (para uma discussão detalhada do assunto, veja Braude, 1989). No que diz respeito aos fenômenos físicos, não há necessidade de haver diferença observável entre (digamos) um ataque cardíaco ou uma batida de carro normal e outra causada por PK. A única diferença pode estar nas suas inobserváveis histórias causais. Semelhantemente, não há razão para supor que informação colhida por ESP tenha que nos atingir a cabeça com sua obviedade. Ela não precisa carregar algum marcador – um análogo fenomenológico para um adorno de trompetes – que a identifique como paranormalmente derivada ao invés de fortuita ou internamente gerada de modo normal.
Quando nós pensamos sobre a possível operação de super-psi, nós devemos ter cuidado para não supor que ela funcione em total isolamento da gama completa de necessidades e capacidades orgânicas humanas. Muito pelo contrário; é mais razoável supor que psi tenha algum papel na vida, que ela pode ser dirigida por nossas mais profundas necessidades e medos (mais do que aquelas das quais estamos imediatamente ou conscientemente cientes), e que ela não ocorre somente quando parapsicólogos saem para procurá-la. Além disso, se funcionamento psíquico pode ser um componente da vida cotidiana, nós devemos estar abertos para a possibilidade de que, assim como manifestações de outras capacidades orgânicas, ocorrências de psi irão cobrir uma gama que vai das dramáticas e conspícuas até as mundanas e inconspícuas.
O que poderia, portanto, fazer a balança “pender” para a hipótese de sobrevivência? Alan Gauld em seu livro Mediunidade e Sobrevivência, levando em conta tanto a evidência oferecida dos casos mediúnicos quanto dos casos de memórias de vidas passadas, considera que características de personalidade mais positivas poderiam ser o marco divisor entre as duas hipóteses, a saber;
a) propósitos distintos
b) habilidades, capacidades
c) hábitos
d) modo de falar
e) esforços para se comunicar
f) anseios
g) pontos de vista.
As letras “a” e “e” são basicamente referentes a comunicações mediúnicas, e em especial a casos de comunicadores “esporádicos”, que seriam os comunicadores que chegam sem ser convidados, e são manifestamente desconhecidos do médium e assistentes. Para estes casos, Gauld imagina ter encontrado dois graves empecilhos para a hipótese de PES ou Super-Psi:
O primeiro destes problemas evidencia-se se perguntarmos por que, em qualquer caso de “esporádico”, a suposta PES do médium teria se focalizado sobre fatos daquele morto em particular. [...] vemo-nos compelidos, sob a hipótese da super-PES, a supor que a seleção do comunicador só depende da operação aleatória de fatores totalmente desconhecidos.
O segundo conjunto de dificuldades que os casos “esporádicos” podem originar para a hipótese da super-PES é a localização da informação, muito mais complexa e difícil. Na maioria destes casos, sem dúvida, deve haver uma fonte única, assim como algum escrito, ou a memória de alguma pessoa viva, de onde o médium. Através de sua suposta percepção extra-sensorial, obtém toda sua informação. Mas, e se (e alguns casos podem se aproximar deste tipo) a informação só pudesse ser coletada de várias fontes distintas, como as memórias de várias pessoas vivas, ou vários registros escritos? Como o médium, tendo selecionado o morto que vai apresentar a seus assistentes, vai selecionar, dentre todas as informações que lhe são disponíveis telepática e clarividentemente, só a que for importante para aquela pessoa? Não creio que seja possível dar importância a esse tema que, na verdade, é remotamente plausível.
Braude refuta tais características como indicativas de sobrevivência do seguinte modo:
Ambos os alegados problemas me parecem superestimados. De fato, o segundo pode ser dispensado bastante rapidamente. Já que atualmente nós não temos bases para impor quaisquer antecedentes de limites à extensão ou refinamento do funcionamento psíquico, nós simplesmente não estamos em posição de colocar que o acesso a múltiplas fontes de informação obscura é algo mais imponente do que o acesso a uma única fonte. Ao avaliarmos a hipótese super-psi, nós devemos tomar cuidado para não tratar os processos envolvidos como se eles fossem simplesmente uma coleção de psi realmente bom, do tipo que aparentemente vemos em formas limitadas em alguns experimentos de laboratório. Quando nós fazemos isso, é fácil pensar que o funcionamento de psi envolve um esforço de algum tipo, e que se uma performance psi é difícil, muitas outras deveriam estar fora de questão. Mas na realidade, em toda a sua riqueza intimidante, a hipótese super-psi deveria, talvez, ser chamada de hipótese varinha mágica. Isso coloca que (tanto quanto sabemos) qualquer coisa pode acontecer, dada a necessidade relevante para isso ocorrer. Por exemplo, nós não precisamos supor que PK refinado deva ser acompanhado por constante vigilância ESP dos resultados das atividades de alguém, do modo como dirigir um carro requer avaliação sensória. Pode ser suficiente simplesmente desejar que alguma coisa ocorra, e então tal coisa ocorra. Complexidade de tarefa simplesmente não é uma questão (ironicamente, a irrelevância da complexidade de tarefa foi enfatizada até mesmo em experimentos de laboratório com geradores de números aleatórios; veja Braude, 1979; Schmidt, 1975, 1976).
O primeiro problema em explicar a identidade do comunicador ergue um conjunto de questões bastante diferentes. Gauld nota corretamente que a hipótese de sobrevivência possui vantagens óbvias quando ela vem para explicar porque o médium seleciona uma pessoa falecida desconhecida ao invés de outra pessoa desconhecida como o sujeito para suas pesquisas extra-sensoriais. A própria pessoa morta se seleciona (1982, pg. 61).
Realmente, como Stevenson certa vez observou, “Alguns comunicadores “esporádicos” explicaram sua presença muito bem” (1970, pg. 63). Mas de acordo com Gauld, na hipótese super-psi “vemo-nos compelidos... a supor que a seleção do comunicador só depende da operação aleatória de fatores totalmente desconhecidos” (1982, pg. 59). Stevenson concorda, e seu modo de colocar o ponto expõe em cheio suas fraquezas. Ele escreve:
“Já que a teoria [de super-psi] assume que personalidades desencarnadas não existem, ela tem que atribuir motivo para uma particular comunicação mediúnica ou experiência fantasmagórica ao sujeito. Mas evidência de tal motivo não está sempre disponível, e nós não deveríamos assumir que ele existe na ausência de tal evidência.” (1984, pg. 159).
A resposta adequada para isto tem duas partes: primeiro, nós não deveríamos assumir que tal evidência está ausente a menos que procuremos por ela, e segundo, que dificilmente alguém procura por isto, a não ser que de modo ingênuo nós esperemos que questionários ou conversas casuais revelem os mais profundos segredos da alma de alguém, ou as buscas superficiais ou não muito entusiásticas que são usualmente conduzidas pelos preguiçosos ou amedrontados. Se os motivos em questão existem, é improvável que eles se revelem para os tipos de investigações superficiais que Stevenson e outros conduzem. Sem um exame extenso e penetrante das vidas do pessoal claramente relevante (e talvez até mesmo do pessoal aparentemente periférico), nós simplesmente não estamos em posição de rejeitar explicações em termos de super-psi motivado.
O pontos “b” serve tanto para casos de memórias de vidas passadas quanto de comunicações mediúnicas. Braude resume esse ponto do seguinte modo:
Mera informação ou conhecimento do propósito é o tipo de coisa que pode ser adquirido simplesmente por um processo de comunicação (normal ou paranormal). Mas habilidades, tal como tocar um instrumento musical ou falar uma linguagem, não podem ser explicados tão facilmente. Certamente, obter informação é freqüentemente uma parte necessária do desenvolvimento de habilidade; mas dificilmente é suficiente. Isto porque habilidades são os tipos de coisas que as pessoas desenvolvem só depois de um período de prática. Mas desde que os indivíduos em casos de sobrevivência que exibem habilidades anômalas não tiveram nenhuma oportunidade de praticá-los primeiramente, é razoável rejeitar explicações em termos de super-PES e recorrer a explicações de sobrevivência em vez disso.
E refuta-o:
A evidência para a persistência de habilidades sugerindo sobrevivência não contém nada melhor que a evidência para xenoglossia de resposta, e o melhor desses casos não demonstra a manifestação de habilidades radicalmente descontínuas das outras capacidades do indivíduo. Conseqüentemente, até que alguém faça algo comparável a tocar piano, sem nunca antes ter tocado um instrumento musical nem exibido qualquer capacidade musical, eu penso que nós devemos concluir que esta porção da evidência para sobrevivência é consideravelmente menos impressionante do que seus proponentes alegaram.
Os pontos “c”, “d”, “f” e “g” não parecem terem sido trabalhados por Braude. Matlock, em seu livro Past Life Memory Case Studies, referindo-se exclusivamente à evidência oferecida para a reencarnação, parece mesmo utilizar o ponto “g” como evidência de sobrevivência. Diz:
Muitos erros que os indivíduos fazem pareceriam concordar melhor com as características de memória do que de PES. Uma explicação simples de PES não pode explicar prontamente por que alguns indivíduos têm dificuldade para reconhecer pessoas e lugares que mudaram substancialmente desde a morte da pessoa prévia. Apenas PES também teria dificuldade para produzir memórias comportamentais e físicas.
É certo que apenas PES não pode produzir as memórias físicas. Entretanto, se as marcas e defeitos de nascimento forem fruto do acaso, PES poderia agir, ainda que inconscientemente, como um desejo da criança de querer explicar tais diferenças em relação às demais pessoas, “rastreando” um indivíduo já falecido cuja morte tivesse sido fruto de ferimentos ou ocasionado ferimentos nos mesmos locais que os seus.
Talvez o primeiro pensamento contra essa hipótese seria de que, neste caso, teríamos dezenas de crianças diferentes lembrando a mesma vida prévia, no entanto, não encontramos até hoje tal situação nos estudos de caso. Os parapsicólogos adeptos da explicação reducionista recorrem mais uma vez ao que observam nos testes experimentais de PES, chamados cabra-ovelha, em que ovelha seria o indivíduo crente de que psi existe, e cabra o descrente. As ovelhas tendem a obter resultados significativamente acima do esperado pelo acaso, e as cabras significativamente abaixo (o chamado psi-missing). Parece razoável supor, portanto, que psi age de acordo com a crença do indivíduo, reconhecendo os diferentes alvos e se desviando daqueles que fogem à sua crença. Como as culturas que acreditam na reencarnação geralmente afirmam que o espírito é indivisível, não podendo reencarnar em dois corpos ao mesmo tempo – uma exceção são algumas seitas budistas – psi agiria de forma a não repetir uma escolha já feita por outra criança.
Só que essa explicação traz outro problema. Há casos de reencarnação que vão diretamente contra a crença cultural. O próprio fato de termos seitas budistas que acreditam que o mesmo espírito pode habitar dois corpos ao mesmo tempo e até o momento não ter-se encontrado tal situação torna tal interpretação problemática. Matlock cita também o caso dos Drusos, que acreditam que a reencarnação ocorre imediatamente após a morte, mas o intervalo médio de reencarnação – o tempo transcorrido desde a morte da pessoa prévia até o nascimento do indivíduo – para casos Drusos é de 8 meses, mais curto que de qualquer cultura excetuando-se os Haida – cujo intervalo médio é a metade – mas ainda longe de ser o que a crença prediria. Menciona ainda que “os Drusos evitam o embaraçoso problema hipotetizando que breves vidas intermediárias não são lembradas, embora os próprios indivíduos Drusos raramente aleguem se lembrar de vidas intermediárias ou dêem outra evidência de terem vivido tais vidas”.
Outro fato que emerge dos dados das pesquisas é o pouquíssimo número de alegações de humanos que teriam sido animais na vida prévia. Dado que a crença que os seres humanos podem renascer como animais é bastante comum, não sendo apenas encontrada no Hinduismo e Budismo, mas também por toda a África e entre algumas tribos indígenas Americanas, isto é algo surpreendente. Stevenson registrou apenas 3 casos desse tipo, em que os indivíduos teriam sido uma lebre, um macaco e um boi.
Porém, talvez a maior objeção a esta hipótese seja a questão do carma. O carma é um conceito que varia de cultura para cultura, e o ideal seria que fosse analisado minuciosamente em cada uma delas, mas, em linhas gerais, diz que as ações do indivíduo numa vida determinam as suas circunstâncias futuras. No entanto, não é o que encontramos com relação a casos com marcas e defeitos de nascimento, em que é a vítima que continua a “sofrer” pelas ações do seu agressor, e não o próprio agressor que sofre a conseqüência de suas ações. Três ressalvas precisam ser feitas, contudo:
1ª - Stevenson diz que, a bem da verdade, não sabe ao certo o que ocorre com os agressores, já que são bem poucos os casos registrados com eles.
2ª - Existem apenas 3 casos registrados que dão algum suporte à idéia de carma.
3ª - Tucker acrescenta que as circunstâncias do indivíduo na vida atual são devidas não só às ações na última vida mas também em quaisquer das vidas passadas, então avaliar os efeitos do carma apenas se baseando na última vida é difícil.
Mesmo considerando-se essas ressalvas, a impressão que fica é que esperava-se um maior número de casos que fornecessem uma evidência mais robusta para essa idéia, caso a hipótese psi estivesse correta.
A Percepção Extra-Sensorial (ou simplesmente PES) se refere a uma suposta capacidade humana ligada à aquisição de conhecimento sem o uso dos sentidos comuns. Já a Psicocinésia (PK, do inglês, psychokinesis) seria uma forma de ação humana sobre o meio físico em que não seriam utilizados quaisquer mediadores ou agentes (músculos ou forças físicas) conhecidos. O conjunto PES + PK seria a hipótese PSI, e pode ser definida como uma hipótese de interação entre o ser humano e o meio sem o uso dos sentidos, dos músculos ou de qualquer força/agente físico conhecido.
Dentre as faculdades que fariam parte do conjunto conhecido como PES, estariam:
a) Precognição – conhecimento do futuro não explicável pela ciência atual.
b) Telepatia – transferência do próprio pensamento para outra pessoa.
c) Retrocognição – conhecimento do passado não explicável pela ciência atual.
d) Clarividência ou Visão Remota – a capacidade de ver coisas além do alcance da visão.
e) Clariaudição – a capacidade de ouvir coisas além do alcance da audição.
Super Psi seria o uso dessas faculdades a um nível tal que não importaria a dificuldade da tarefa, qualquer tipo de informação teoricamente poderia ser acessada por essa hipótese. Isso não quer dizer que a Hipótese Psi não tenha limites, apenas significa que como não conhecemos seus limites, não podemos delimitá-los a priori. Conseqüentemente, não poderíamos partir para a hipótese de Sobrevivência enquanto não descobríssemos esses limites. Para facilitar o entendimento disto, usemos de um exemplo: conhecemos os limites da audição humana. Se um indivíduo está numa sala à prova de som, e em outra sala alguém liga um liquidificador, e este indivíduo declara ‘estou ouvindo um liquidificador’, sabemos que esta informação não chegou por vias sonoras, e podemos partir para outras explicações. Como não conhecemos os limites de psi, ao menos no momento, não poderíamos usar a hipótese de Sobrevivência como hipótese científica legítima, pois não é possível afirmar que determinado efeito excede as capacidades psi!
Esse problema já havia sido observado no Brasil pelo engenheiro e parapsicólogo Hernani Guimarães Andrade, que no livro Renasceu por Amor, reporta-se a ele do seguinte modo (pág. 237):
“Para os casos que aparentam reencarnação [...], a hipótese da ESP [...] tem sido freqüentemente evocada. Os adeptos dessa modalidade de explicação reducionista acham dispensável a tese da reencarnação. Eles consideram que essa hipótese exige um princípio que postula a sobrevivência após a morte, bem como a exigência do Espírito. Segundo os reducionistas, nenhum desses postulados foi cientificamente demonstrado. Portanto, tais premissas complicam a solução proposta, uma vez que o método científico pede que se adotem as prescrições de William de Ockham (1300-1349). Entre outras coisas, Ockham recomenda que as hipóteses mais aceitáveis sejam aquelas que exigem o menor número de postulados, ou suposições, a priori (Navalha de Ockham): Entia non sunt multilicanda praeter necessitatem. Isso significa: “Os princípios não devem ser multiplicados além da necessidade”.
Ora, a ESP já foi demonstrada, experimentalmente, em laboratório. Portanto, ela representa um fato científico e não uma suposição. A existência do Espírito e a sobrevivência, segundo os próprios parapsicólogos ortodoxos, ainda não foram demonstradas cientificamente. Por isso, eles consideram como explicação mais simples, para os casos de manifestações mediúnicas e igualmente para as “supostas recordações reencarnatórias”, [...] a ESP”.
É discutível se a ESP já foi demonstrada em laboratório. Alguns parapsicólogos, na verdade, são mais cuidadosos. O que afirmam é que a Parapsicologia tem condições de reproduzir alguns fenômenos de forma experimental, obtendo resultados impossíveis de serem explicados pelas teorias da ciência, como os testes Ganzfeld, por exemplo. Isso não seria necessariamente uma demonstração da existência de psi, e sim apenas de uma anomalia, que pode ser resultado de psi, mas necessitando de mais pesquisas para sanar a dúvida.
Hernani prossegue dizendo que os resultados obtidos em laboratório são muito mais modestos do que os se observam nos estudos de caso, em ambiente natural. Para o parapsicólogo Stephen Braude, no entanto, essa é uma posição ingênua:
Parapsicólogos e outros tendem a abordar o estudo de psi com o conjunto padrão de suposições tácitas indefensáveis. Primeiro, eles freqüentemente assumem que se psi ocorre, ocorre unicamente em um grau bastante modesto. Segundo, eles usualmente assumem que quando efeitos psi observáveis (e não meramente demonstráveis estatisticamente) ocorrem, estes efeitos serão suficientemente evidentes ou incomuns para serem identificados como eventos psi.
Ambas as suposições, contudo, são intoleravelmente ingênuas. Na verdade, a primeira é metodologicamente notória. Dado o nosso presente grau de ignorância no que concerne o funcionamento psíquico, nós simplesmente não temos bases para colocar antecedentes de limites de qualquer tipo em sua extensão ou refinamento. Para aceitar este ponto, não importa se nós acreditamos que o funcionamento psíquico ocorre ou se nós somos simplesmente céticos de mente aberta considerando a mera hipótese de que psi ocorra. Se psi pode ocorrer em qualquer extensão, então até que tenhamos evidência do contrário, nós devemos assumir que psi pode ocorrer em qualquer nível de magnitude ou sofisticação. De fato, nós não somente não possuímos evidência contra a possibilidade de psi ilimitado como, na verdade, certos corpos de dados dão suporte a isso.
A segunda suposição não comprovada usualmente aparece em tentativas de argumentar que simplesmente não há evidência para super-psi. Muitos protestam que se super-psi ocorreu, este se faria conhecido para nós; mas (eles argumentariam), nós não temos evidência de que pessoas podem fazer coisas como afetar psicocineticamente o tempo ou fazer aviões caírem, ou levar a cabo espionagens psíquicas sofisticadas e detalhadas. A suposição que espreita embaixo deste argumento é que ocorrências de super-psi na vida cotidiana serão geralmente conspícuas ou facilmente identificáveis como tais, e que elas não serão simplesmente misturadas ou mascaradas pela extensa rede de eventos normais circunvizinhos. Mas essa suposição é claramente deficiente (para uma discussão detalhada do assunto, veja Braude, 1989). No que diz respeito aos fenômenos físicos, não há necessidade de haver diferença observável entre (digamos) um ataque cardíaco ou uma batida de carro normal e outra causada por PK. A única diferença pode estar nas suas inobserváveis histórias causais. Semelhantemente, não há razão para supor que informação colhida por ESP tenha que nos atingir a cabeça com sua obviedade. Ela não precisa carregar algum marcador – um análogo fenomenológico para um adorno de trompetes – que a identifique como paranormalmente derivada ao invés de fortuita ou internamente gerada de modo normal.
Quando nós pensamos sobre a possível operação de super-psi, nós devemos ter cuidado para não supor que ela funcione em total isolamento da gama completa de necessidades e capacidades orgânicas humanas. Muito pelo contrário; é mais razoável supor que psi tenha algum papel na vida, que ela pode ser dirigida por nossas mais profundas necessidades e medos (mais do que aquelas das quais estamos imediatamente ou conscientemente cientes), e que ela não ocorre somente quando parapsicólogos saem para procurá-la. Além disso, se funcionamento psíquico pode ser um componente da vida cotidiana, nós devemos estar abertos para a possibilidade de que, assim como manifestações de outras capacidades orgânicas, ocorrências de psi irão cobrir uma gama que vai das dramáticas e conspícuas até as mundanas e inconspícuas.
O que poderia, portanto, fazer a balança “pender” para a hipótese de sobrevivência? Alan Gauld em seu livro Mediunidade e Sobrevivência, levando em conta tanto a evidência oferecida dos casos mediúnicos quanto dos casos de memórias de vidas passadas, considera que características de personalidade mais positivas poderiam ser o marco divisor entre as duas hipóteses, a saber;
a) propósitos distintos
b) habilidades, capacidades
c) hábitos
d) modo de falar
e) esforços para se comunicar
f) anseios
g) pontos de vista.
As letras “a” e “e” são basicamente referentes a comunicações mediúnicas, e em especial a casos de comunicadores “esporádicos”, que seriam os comunicadores que chegam sem ser convidados, e são manifestamente desconhecidos do médium e assistentes. Para estes casos, Gauld imagina ter encontrado dois graves empecilhos para a hipótese de PES ou Super-Psi:
O primeiro destes problemas evidencia-se se perguntarmos por que, em qualquer caso de “esporádico”, a suposta PES do médium teria se focalizado sobre fatos daquele morto em particular. [...] vemo-nos compelidos, sob a hipótese da super-PES, a supor que a seleção do comunicador só depende da operação aleatória de fatores totalmente desconhecidos.
O segundo conjunto de dificuldades que os casos “esporádicos” podem originar para a hipótese da super-PES é a localização da informação, muito mais complexa e difícil. Na maioria destes casos, sem dúvida, deve haver uma fonte única, assim como algum escrito, ou a memória de alguma pessoa viva, de onde o médium. Através de sua suposta percepção extra-sensorial, obtém toda sua informação. Mas, e se (e alguns casos podem se aproximar deste tipo) a informação só pudesse ser coletada de várias fontes distintas, como as memórias de várias pessoas vivas, ou vários registros escritos? Como o médium, tendo selecionado o morto que vai apresentar a seus assistentes, vai selecionar, dentre todas as informações que lhe são disponíveis telepática e clarividentemente, só a que for importante para aquela pessoa? Não creio que seja possível dar importância a esse tema que, na verdade, é remotamente plausível.
Braude refuta tais características como indicativas de sobrevivência do seguinte modo:
Ambos os alegados problemas me parecem superestimados. De fato, o segundo pode ser dispensado bastante rapidamente. Já que atualmente nós não temos bases para impor quaisquer antecedentes de limites à extensão ou refinamento do funcionamento psíquico, nós simplesmente não estamos em posição de colocar que o acesso a múltiplas fontes de informação obscura é algo mais imponente do que o acesso a uma única fonte. Ao avaliarmos a hipótese super-psi, nós devemos tomar cuidado para não tratar os processos envolvidos como se eles fossem simplesmente uma coleção de psi realmente bom, do tipo que aparentemente vemos em formas limitadas em alguns experimentos de laboratório. Quando nós fazemos isso, é fácil pensar que o funcionamento de psi envolve um esforço de algum tipo, e que se uma performance psi é difícil, muitas outras deveriam estar fora de questão. Mas na realidade, em toda a sua riqueza intimidante, a hipótese super-psi deveria, talvez, ser chamada de hipótese varinha mágica. Isso coloca que (tanto quanto sabemos) qualquer coisa pode acontecer, dada a necessidade relevante para isso ocorrer. Por exemplo, nós não precisamos supor que PK refinado deva ser acompanhado por constante vigilância ESP dos resultados das atividades de alguém, do modo como dirigir um carro requer avaliação sensória. Pode ser suficiente simplesmente desejar que alguma coisa ocorra, e então tal coisa ocorra. Complexidade de tarefa simplesmente não é uma questão (ironicamente, a irrelevância da complexidade de tarefa foi enfatizada até mesmo em experimentos de laboratório com geradores de números aleatórios; veja Braude, 1979; Schmidt, 1975, 1976).
O primeiro problema em explicar a identidade do comunicador ergue um conjunto de questões bastante diferentes. Gauld nota corretamente que a hipótese de sobrevivência possui vantagens óbvias quando ela vem para explicar porque o médium seleciona uma pessoa falecida desconhecida ao invés de outra pessoa desconhecida como o sujeito para suas pesquisas extra-sensoriais. A própria pessoa morta se seleciona (1982, pg. 61).
Realmente, como Stevenson certa vez observou, “Alguns comunicadores “esporádicos” explicaram sua presença muito bem” (1970, pg. 63). Mas de acordo com Gauld, na hipótese super-psi “vemo-nos compelidos... a supor que a seleção do comunicador só depende da operação aleatória de fatores totalmente desconhecidos” (1982, pg. 59). Stevenson concorda, e seu modo de colocar o ponto expõe em cheio suas fraquezas. Ele escreve:
“Já que a teoria [de super-psi] assume que personalidades desencarnadas não existem, ela tem que atribuir motivo para uma particular comunicação mediúnica ou experiência fantasmagórica ao sujeito. Mas evidência de tal motivo não está sempre disponível, e nós não deveríamos assumir que ele existe na ausência de tal evidência.” (1984, pg. 159).
A resposta adequada para isto tem duas partes: primeiro, nós não deveríamos assumir que tal evidência está ausente a menos que procuremos por ela, e segundo, que dificilmente alguém procura por isto, a não ser que de modo ingênuo nós esperemos que questionários ou conversas casuais revelem os mais profundos segredos da alma de alguém, ou as buscas superficiais ou não muito entusiásticas que são usualmente conduzidas pelos preguiçosos ou amedrontados. Se os motivos em questão existem, é improvável que eles se revelem para os tipos de investigações superficiais que Stevenson e outros conduzem. Sem um exame extenso e penetrante das vidas do pessoal claramente relevante (e talvez até mesmo do pessoal aparentemente periférico), nós simplesmente não estamos em posição de rejeitar explicações em termos de super-psi motivado.
O pontos “b” serve tanto para casos de memórias de vidas passadas quanto de comunicações mediúnicas. Braude resume esse ponto do seguinte modo:
Mera informação ou conhecimento do propósito é o tipo de coisa que pode ser adquirido simplesmente por um processo de comunicação (normal ou paranormal). Mas habilidades, tal como tocar um instrumento musical ou falar uma linguagem, não podem ser explicados tão facilmente. Certamente, obter informação é freqüentemente uma parte necessária do desenvolvimento de habilidade; mas dificilmente é suficiente. Isto porque habilidades são os tipos de coisas que as pessoas desenvolvem só depois de um período de prática. Mas desde que os indivíduos em casos de sobrevivência que exibem habilidades anômalas não tiveram nenhuma oportunidade de praticá-los primeiramente, é razoável rejeitar explicações em termos de super-PES e recorrer a explicações de sobrevivência em vez disso.
E refuta-o:
A evidência para a persistência de habilidades sugerindo sobrevivência não contém nada melhor que a evidência para xenoglossia de resposta, e o melhor desses casos não demonstra a manifestação de habilidades radicalmente descontínuas das outras capacidades do indivíduo. Conseqüentemente, até que alguém faça algo comparável a tocar piano, sem nunca antes ter tocado um instrumento musical nem exibido qualquer capacidade musical, eu penso que nós devemos concluir que esta porção da evidência para sobrevivência é consideravelmente menos impressionante do que seus proponentes alegaram.
Os pontos “c”, “d”, “f” e “g” não parecem terem sido trabalhados por Braude. Matlock, em seu livro Past Life Memory Case Studies, referindo-se exclusivamente à evidência oferecida para a reencarnação, parece mesmo utilizar o ponto “g” como evidência de sobrevivência. Diz:
Muitos erros que os indivíduos fazem pareceriam concordar melhor com as características de memória do que de PES. Uma explicação simples de PES não pode explicar prontamente por que alguns indivíduos têm dificuldade para reconhecer pessoas e lugares que mudaram substancialmente desde a morte da pessoa prévia. Apenas PES também teria dificuldade para produzir memórias comportamentais e físicas.
É certo que apenas PES não pode produzir as memórias físicas. Entretanto, se as marcas e defeitos de nascimento forem fruto do acaso, PES poderia agir, ainda que inconscientemente, como um desejo da criança de querer explicar tais diferenças em relação às demais pessoas, “rastreando” um indivíduo já falecido cuja morte tivesse sido fruto de ferimentos ou ocasionado ferimentos nos mesmos locais que os seus.
Talvez o primeiro pensamento contra essa hipótese seria de que, neste caso, teríamos dezenas de crianças diferentes lembrando a mesma vida prévia, no entanto, não encontramos até hoje tal situação nos estudos de caso. Os parapsicólogos adeptos da explicação reducionista recorrem mais uma vez ao que observam nos testes experimentais de PES, chamados cabra-ovelha, em que ovelha seria o indivíduo crente de que psi existe, e cabra o descrente. As ovelhas tendem a obter resultados significativamente acima do esperado pelo acaso, e as cabras significativamente abaixo (o chamado psi-missing). Parece razoável supor, portanto, que psi age de acordo com a crença do indivíduo, reconhecendo os diferentes alvos e se desviando daqueles que fogem à sua crença. Como as culturas que acreditam na reencarnação geralmente afirmam que o espírito é indivisível, não podendo reencarnar em dois corpos ao mesmo tempo – uma exceção são algumas seitas budistas – psi agiria de forma a não repetir uma escolha já feita por outra criança.
Só que essa explicação traz outro problema. Há casos de reencarnação que vão diretamente contra a crença cultural. O próprio fato de termos seitas budistas que acreditam que o mesmo espírito pode habitar dois corpos ao mesmo tempo e até o momento não ter-se encontrado tal situação torna tal interpretação problemática. Matlock cita também o caso dos Drusos, que acreditam que a reencarnação ocorre imediatamente após a morte, mas o intervalo médio de reencarnação – o tempo transcorrido desde a morte da pessoa prévia até o nascimento do indivíduo – para casos Drusos é de 8 meses, mais curto que de qualquer cultura excetuando-se os Haida – cujo intervalo médio é a metade – mas ainda longe de ser o que a crença prediria. Menciona ainda que “os Drusos evitam o embaraçoso problema hipotetizando que breves vidas intermediárias não são lembradas, embora os próprios indivíduos Drusos raramente aleguem se lembrar de vidas intermediárias ou dêem outra evidência de terem vivido tais vidas”.
Outro fato que emerge dos dados das pesquisas é o pouquíssimo número de alegações de humanos que teriam sido animais na vida prévia. Dado que a crença que os seres humanos podem renascer como animais é bastante comum, não sendo apenas encontrada no Hinduismo e Budismo, mas também por toda a África e entre algumas tribos indígenas Americanas, isto é algo surpreendente. Stevenson registrou apenas 3 casos desse tipo, em que os indivíduos teriam sido uma lebre, um macaco e um boi.
Porém, talvez a maior objeção a esta hipótese seja a questão do carma. O carma é um conceito que varia de cultura para cultura, e o ideal seria que fosse analisado minuciosamente em cada uma delas, mas, em linhas gerais, diz que as ações do indivíduo numa vida determinam as suas circunstâncias futuras. No entanto, não é o que encontramos com relação a casos com marcas e defeitos de nascimento, em que é a vítima que continua a “sofrer” pelas ações do seu agressor, e não o próprio agressor que sofre a conseqüência de suas ações. Três ressalvas precisam ser feitas, contudo:
1ª - Stevenson diz que, a bem da verdade, não sabe ao certo o que ocorre com os agressores, já que são bem poucos os casos registrados com eles.
2ª - Existem apenas 3 casos registrados que dão algum suporte à idéia de carma.
3ª - Tucker acrescenta que as circunstâncias do indivíduo na vida atual são devidas não só às ações na última vida mas também em quaisquer das vidas passadas, então avaliar os efeitos do carma apenas se baseando na última vida é difícil.
Mesmo considerando-se essas ressalvas, a impressão que fica é que esperava-se um maior número de casos que fornecessem uma evidência mais robusta para essa idéia, caso a hipótese psi estivesse correta.