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Por Alejandro Parra
rapp@fibertel.com.ar[/center]
Na cidade de Tomika, no estado de Gifu, Japão, um grupo de famílias que viviam num complexo de apartamentos denunciaram uma série de enigmáticos fenômenos que ocorriam em forma contínua; por exemplo, sons estranhos, aparições de fantasmas, movimento de objetos e ferramentas elétricas que funcionavam sozinhas, sem corrente elétrica. Este incidente rapidamente conseguiu uma grande repercussão na mídia, o qual apareceu em jornais, revistas, programas de TV, como um típico caso poltergeist.
Um grupo de experimentados pesquisadores do paranormal do International Research Institute e o Yamamoto Bio-Emission Laboratory dependente do Instituto Nacional de Ciências Radiológicas de Japão deram entrevistas aos jornalistas da televisão local, indicando que os fenômenos eletromagnéticos anômalos ocorriam em determinados lugares do complexo. Deste modo, três experimentadores, Hideyuki Kokubo, Mikio Yamamoto e Tatsuo Hirukawa, iniciaram uma sofisticada investigação que incluiu a medição dos campos magnéticos. A equipe contou com a cooperação de um psicólogo.
Os principais fenômenos denunciados foram sons estranhos, similares a passos, que se ouviam claramente nos apartamentos da ala Leste (101 e 402) e nos andares superiores (terceiro e quarto). Durante as entrevistas, os jornalistas da estação de TV conseguiram gravar um som similar ao soar de uma película de submarinos. As flores das janelas dos apartamentos 304, 403 e 405 murcharam de forma inexplicável, enquanto as outras gozavam de toda sua plenitude. Vizinhos do apartamento 403 foram testemunhas da aparição de um homem e uma mulher, e um vizinho do 404 observou a um homem parado próximo da porta do 403. Também foi denunciado o movimento de uma cortina de uma janela hermeticamente fechada do 101, um pote de vidro que voou até um quarto de um lugar desconhecido no 304, uma maçaneta girou por si só no 305, a gaveta de um móvel se abriu sozinha no 403, uma série de anomalias ocorreram no 404: o aparelho de TV mudou de canais por si só, a porta de um armário se abriu e um prato saiu disparado, um forno a gás da cozinha se prendeu por si só, e alguns aparelhos elétricos (por ex. o secador de cabelo) e um compasso magnético girava sozinho sem causa aparente, as câmaras dos jornalistas de TV não funcionavam quando focavam sobre certos lugares, e ocorreram um número de disfunções com as luzes e as câmaras.
O complexo de apartamentos está localizado no Leste da cidade de Tomika, onde convivem 24 famílias. A princípio, os residentes sentiram que algo estranho estava presente quando se mudaram a estes apartamentos. Alguns estavam perplexos por causa dos ruídos de seus vizinhos, sendo que “os residentes tomaram algum tempo para determinar as causas, antes de atribuí-las a um efeito paranormal assegurando-se que suas experiências não eram provocadas por ruídos normais ou atos de vizinhos que viviam nas cercanias da comunidade” -sustenta Kokubo, quem liderou a investigação desde o início. O consórcio de proprietários do complexo de apartamentos, fez um pedido formal à prefeitura de Tomika para que esta tomasse medidas urgentes por causa dos estranhos fenômenos, mas a resposta que receberam não foi a que esperavam. “Acharam graça disto, e pensaram que eram vítimas de alguma forma de alucinação coletiva” -confessa Kokubo.
Algumas famílias tomaram a decisão de abandonar a comunidade por um tempo. Os vizinhos estavam convencidos que suas experiências estavam provocadas pela ação de fantasmas e lhe pediram a um médium que praticasse um ritual religioso. Depois do ritual, os fenômenos estranhos começaram a declinar no lado Leste do complexo. No entanto, os fenômenos não se detiveram por completo e seu foco se deslocou para os apartamentos do centro e andares decima.
Um jornal publicou durante várias semanas aqueles estranhos incidentes, o qual atraiu a atenção de muitos outros jornalistas. Kokubo nos diz que “uma estação de TV convocou a alguns médiuns quem visitaram um por um os apartamentos para permitir-lhes exorcizar os fantasmas” enquanto outros jornalistas pediram à equipe de pesquisadores do Yamamoto Bio-Emission Laboratory levar a cabo uma melhor investigação científica do assunto. E assim o fizeram. Os apartamentos chegaram a converter-se num tipo de atração turística e muitos curiosos se acercavam assombrados. Apareceram médiuns de todas partes da península nipona e todo tipo de cultos religiosos. Inclusive chegaram a realizar rituais sem a permissão dos vizinhos, pelo qual o complexo se viu invadido por um circo romano de cultos, incenso, cânticos e orações. “Quando estávamos pesquisando, muito tarde pela noite -diz Kokubo- vimos caminhar por ali a um grupo religioso que apareceu de repente em três autos e começaram a fazer seus próprios rituais indo daqui para lá”.
“A última noite que permanecemos ali – continua Kokubo – a pedido do consórcio de proprietários, um grupo de monges budistas de alta hierarquia praticaram um ritual religioso de purificação espiritual conhecido como Johrei na entrada ao complexo, para brindar paz espiritual aos fantasmas (desorientados?) e permitir-lhes ir para o outro mundo. Quase todos os vizinhos participaram deste ritual, exceto um menino que essa noite padecia de uma repentina febre e vários vizinhos que estavam ausentes então porque tinham deixado seus apartamentos. Todos os vizinhos pareciam estar satisfeitos com o ritual. Em poucos dias, um residente que vivia na área manifestou que, depois do ritual, os estranhos fenômenos começaram a desaparecer gradualmente e que se sentia muito melhor e sem moléstias. O presidente do consórcio de proprietários do complexo estava de acordo que as denúncias dos residente se haviam reduzido em grande proporção”.
Kokubo e sua equipe do Yamamoto Bio-Emission Laboratory levaram a cabo uma investigação durante três dias, entre o 15 e 17 de Novembro, de comum acordo com o consórcio de proprietários. Fizeram um estudo preliminar com um espectrômetro de radiação portátil, mas os resultados não mostraram nenhuma anomalia radioativa, pelo qual decidiram pesquisar as freqüências e os tipos de experiência. Os magnetômetros usados foram um sensor de tipo Hall (10nT, DC-10 kHz, Modelo 9200 de fabricação Bell). As saídas dos magnetômetros foram gravados com um DAT (PC216Ax de Sony) em 200 Hz mediante uma unidade de interfase universal (UIM100A, Bio-Pack Systems) e um conversor AD (MP100WSW, Bio-Pack Systems). Este é um método de duplo registro no qual se conecta em série um detector e dois gravadores. Mediram-se a temperatura e umidade mediante uma equipe Ondotori RH TR-72S, T & D. Durante os três dias de investigação, as equipes não mostraram sinais magnéticos anômalos, no entanto, em 15 de Novembro, Kokubo e sua equipe detectaram dois sinais elétricos estranhos no circuito quando se encontravam no Apto. 305. Esse mesmo dia um residente desse apartamento disse que algo invisível tratava de girar a maçaneta da porta primeiramente, passou pelo corredor e cruzou pelo quarto de seu filho.
Também não puderam detectar campos magnéticos anômalos nem radiações anômalas que pudessem díagnosticar a “presença” fantasmal. No entanto, os magnetômetros detectaram sinais de baixa freqüência. Se os incidentes em Tomika fossem causados por campos magnéticos, a freqüência esperada dos ditos campos deveria ser maior aos 20 hz. Mas estes pesquisadores obtiveram estranhos sinais elétricos num circuito em direção àquele lugar que os residentes indicavam que “algo” passava por ali. Por outra parte, um vizinho do apto 405 declarou que os estranhos sons com freqüência se escutavam num minuto específico de cada hora, conquanto os pesquisadores observaram que tinha diferenças entre os sons e os sinais elétricos, e entre os apartamentos 405 e 305. O primeiro sinal estranho foi observado pontualmente às 22.30, mas não às 22.29 nem às 22.31, o qual indica a possibilidade de que os estranhos sinais foram geradas por fontes artificiais. Em conclusão, Kokubo expressa que o incidente de Tomika possivelmente tenha consistido de uma constelação de fatores psicológicos, perturbações ambientais, ao que possivelmente se possa adicionar fatores parapsicológicos.
As experiências aparicionais foram relatadas desde a antigüidade em diversas culturas e foi uns dos primeiros fenômenos que acordaram o interesse dos pesquisadores em parapsicologia no final do século XIX. A aparição é uma experiência de caráter visual, no entanto, também existem experiências do tipo auditiva, táctil ou uma combinação destas. No geral, percebe-se a figura de uma pessoa, animal (falecido ou vivo) ou algum objeto inanimado que se encontra fora da casta sensorial do percipiente, associado com a percepção extra-sensorial espontânea. A representação percebida é conhecida comumente como aparição e à experiência em si mesma como uma “experiência aparicional”.
Segundo Kokubo a maioria dos cientistas interpretam as aparições como um tipo de alucinação, uma imagem mental errônea da percepção de um objeto externo. No entanto, as experiências aparicionais – como a ocorrida em Tomika – têm certas características que são pouco freqüentes nas alucinações e são estas as de maior interesse para os parapsicólogos, por exemplo, os deslocamento de objetos, as disfunções das equipes elétricas, os incidentes dos jornalistas com suas câmaras, e os estranhos sinais elétricos em direção ao local pelo qual os residentes denunciavam que “algo” passava. É importante saber se a experiência coincide com a morte de uma pessoa ou uma crise, se são percebidas de forma coletiva, se proporcionam informação desconhecida pelo percipiente ou se estas experiências são ou não verídicas, mas nem os monges budistas que praticaram o ritual de exorcismo nem os vizinhos atribuíram estes incidentes a vizinhos falecidos no complexo de apartamentos.
Realizaram-se alguns estudos mediante enquetes que exploraram a incidência de experiências aparicionais, encontrando resultados numa casta de 17% a 83%. Alguns pesquisadores exploraram a relação entre as experiências aparicionais e diversas variáveis como o psicoticismo, neuroticismo e extroversão, a propensidade à fantasia, e a vividez de imagens mentais. Uma das variáveis psicológicas que surgem como um forte discriminador das experiências parapsicológicas espontâneas é a absorção psicológica, que os psicólogos americanos Tellegen e Atkinson definiram, em 1974, como “uma atenção total, que envolve uma dedicação plena dos recursos perceptivos, motores, imaginativos e ideacionais disponíveis, a uma representação unificada do objeto de atenção” e a explicam como uma característica que implica experimentar alterações emocionais e cognoscitivas através de uma variedade de situações e é central para o entendimento da natureza da experiência subjetiva.
Um estudo pioneiro que sondou de maneira sistemática este tipo de experiências, realizou-se entre 1889 e 1890 na Grã-Bretanha por membros da Society for Psychical Research (SPR). Conhecido como o “Censo de Alucinações”, entrevistou-se a 17.000 pessoas utilizando a seguinte pergunta: “Teve você alguma vez, quando acreditava estar completamente desperto, a impressão intensa de ver a um ser vivente ou um objeto inanimado, de sentir seu contato ou escutar alguma voz, sem que, até onde pôde descobrir, esta impressão se devesse a alguma causa física exterior?”. As análises deste estudo encontraram que 1.684 (9.9%) dos interrogados reportaram experiências de aparições, tanto de vivos como de mortos. Uma investigação similar foi realizada por Donald J. West em 1948 sobre 1.519 participantes. Nela se encontrou que 14.3% dos participantes tinham experimentado alguma vez em sua vida uma experiência de tipo aparicional.
“O tema central estudado pelas teorias principais da experiência aparicional é se a figura é um fenômeno subjetivo ou objetivo” -adverte Kokubo. No entanto, parece que há evidência para ambas as posições. “As aparições se podem considerar como objetivas porque algumas vezes são percebidas por mais de uma pessoa. Por outro lado, as aparições parecem que são subjetivas (alucinatórias) no sentido de que algumas pessoas presentes não as percebem”. A explicação que parece ser a mais tradicional é a hipótese espiritual, isto é, uma aparição é uma parte da existência de um indivíduo que sobrevive à morte física.
“Este modelo apresenta muitas dificuldades” – expressa preocupado Kokubo. “Para poder explicar tanto as características subjetivas como objetivas das aparições se recorre a conceitos vagos tais como os estados semifísicos e ultrafísicos de existência. Realizaram-se algumas provas relativamente diretas da hipótese dos espíritos, no entanto, as tentativas de usar diversos tipos de sensores ou outros dispositivos para detectar a presença de uma aparição produziram resultados bastante ambíguos e inconcludentes”.
No início da parapsicologia como a ciência, o filósofo britânico Edmund Gurney, um dos membros fundadores da Society for Psychical Research de Londres, sustentava que as aparições eram alucinatórias mas mediadas por telepatia. De tal maneira que o indivíduo que experimentava uma visão “aparicional” adquiria certa informação do indivíduo por meios extra-sensoriais e depois admitia esta informação na consciência como uma alucinação em forma de uma aparição do indivíduo. Para acomodar os casos coletivos, isto é, grupos de indivíduos que vêem um fantasma, Gurney se viu obrigado a propor a idéia da “telepatia contagiosa”, na qual uma pessoa adquiriria a informação extra-sensorial e telepaticamente comunicaria a natureza da figura alucinatória às outras pessoas presentes, induzindo-as a que experimentem o mesmo objeto. Uma extensão da teoria de Gurney às aparições pos-morten poderia requerer a hipótese da sobrevivência e a possibilidade da comunicação com personalidades falecidas, ainda que se poderia propor um modelo de super-psi como alternativa.
O psicólogo britânico George Tyrrell, igual a Gurney, propôs que as aparições eram produzidas telepaticamente. De acordo com Tyrrell a pessoa referente e o percipiente da aparição efetuam uma alucinação por uma mistura de suas mentes subconscientes, uma produção cooperativa de um drama aparicional, algo bem como um “teatro psíquico”. Já que os participantes contribuem com os ingredientes da cena mental da alucinação a aparição tem que ser consistente para os diferentes percipientes. As pessoas que não são capazes de perceber a aparição se consideram que não tomaram parte na produção subconsciente.
A explicação cética da experiência aparicional é, por suposto, que a aparição é pura alucinação. Isto é que a imagem não tem um status objetivo e que sua ocorrência não está produzida por PES nem por nenhum outro processo parapsicológico, que é totalmente produto da imaginação e que reflete o grau de sugestionabilidade do percipiente, ou inclusive seu sistema de crença bem como seu juízo de realidade. Suas expectativas, necessidades, condicionamento social e recordações inconscientes da meninice, o realismo da experiência comumente também se juntam às propriedades das imagens hipnagógicas.
Como expressa Kokubo, “o sentido de uma presença parece ser um fator comum na experiência aparicional de muitos dos vizinhos do complexo de apartamentos”. Kokubo baseia grande parte de suas análises nos achados do neurofisiólogo canadense Michael Persinger, que propôs um modelo neuropsicológico para a experiência do sentido de uma presença. Apoiado em estudos que sugerem que a sensação de um ser é uma propriedade agregada aos processos da linguagem que toma lugar primariamente no hemisfério esquerdo do cérebro, Persinger propõe que existe um homólogo deste processo do hemisfério esquerdo no direito e que é a base neurológica da sensação de presença. Esta explicação poderia estender-se para acomodar a experiência de uma aparição ou fantasma. Para isso já se está realizando investigação empírica desta hipótese. Os estudos do pesquisador nipônico e sua equipe, no entanto, continuam na linha de determinar a presença de anomalias físicas no ambiente, e esperam reunir um maior número de casos para construir um modelo coerente com estas experiências.
[center]Artigo originalmente disponível em http://www.pesquisapsi.com/eboletin/ebo ... html#tit03
Disponível no E-Boletin Psi, Vol 01 Nº 02.[/center]