Íntegra da entrevista com o médium Divaldo Franco
Enviado: 23 Jun 2006, 15:15
Íntegra da entrevista com o médium Divaldo Franco
Zero Hora - O senhor acaba de voltar de uma temporada de
conferências na Europa. Qual foi o tema de suas palestras?
Divaldo Pereira Franco - Percorri 13 cidades européias em 37 dias.
Em seis cidades, pediram para falar sobre conflitos existenciais.
Procurei demonstrar como esses conflitos têm duas psicogêneses.
Para nós espíritas, que acreditamos em reencarnação, alguns
procedem de outras existências. Outros vêm de fatores que
predispõem a depressão, o medo, a ansiedade, a solidão. Logo
depois das conferências, na hora das perguntas, percebi que os
dramas existenciais dos países desenvolvidos são exatamente iguais
a de povos menos favorecidos. O indivíduo é sempre o mesmo.
ZH - Na sua opinião, esses conflitos ganham terreno por que
falta espiritualidade?
Franco - Sim, esse é um dos fatores. Há vários fatores envolvidos.
Um deles é a educação. A educação seria a terapêutica preventiva
ideal porque daria ao indivíduo resistência para lutar contra suas más
inclinações. Famílias desestruturadas também são as causas desses
conflitos. Existem traumas que vêm da infância até a idade adulta,
transformando-se em transtornos de conduta da afetividade. A perda
do senso de humor é um dos indícios desses conflitos. As pessoas
perderam o senso do humor. Não riem mais, não dão mais
gargalhadas. Quando sorrimos, produzimos uma substância
saudável, uma imunoglobulina. Ela faz parte da digestão e nos dá
alegria de viver. Quando somos estimulados aos sentimentos
sórdidos e à vilania, deixamos de produzir essa substância e ficamos
doentes com facilidade, perdemos o humor, nos entregamos a
situações agressivas. Hoje, a ciência constata que a felicidade é
genética. Quando a ciência diz que é uma herança genética, nós
espíritas dizemos que ela é genética porque o espírito, antes de
reencarnar, imprime na organização dos genes seus atos em vidas
anteriores. Um indivíduo que tem culpa por causa de atos perversos
imprime na sua carga genética um mecanismo de autodepuração. Na
hora da reencarnação, reencarnam-se introspectivos e complexados.
Mas, ainda assim, podem ser felizes. Mesmo um espírito culpado.
Estamos sempre construindo.
ZH - O senhor afirmou numa entrevista que as vítimas de
grandes catástrofes estavam pagando por erros do passado?
Como as pessoas pagam por males dos quais não têm
consciência?
Franco - Imagine uma cidade invadida por uma horda de bárbaros,
em que tudo é destruído, onde mulheres são estupradas. Essas
pessoas que cometeram isso adquirem um karma. Posteriormente,
elas se reencarnam e serão vítimas de uma grande calamidade
coletiva, de um tsunami, de um terremoto. São indivíduos que
vieram para resgatar esses débitos, expiar a culpa, mesmo sem ter
consciência. É da lei Divina: ninguém entra no Reino dos Céus sem
pagar todos os seus débitos.
ZH - O espiritismo surgiu na Europa, mas ele obteve mais
expressão no Brasil. Como o senhor explica esse fenômeno?
Franco - O espiritismo foi apresentado em Paris dia 18 de abril de
1857, data da publicação do Livro dos Espíritos de Allan Kardec.
Desde lá, a França sofreu muitos conflitos e guerras. Nessa época, a
doutrina espírita se transferiu para o Brasil. Acreditamos que, no
Brasil, se reencarnaram muitos espíritos franceses. A pátria
brasileira não tem karmas. O país tem apenas dois karmas históricos:
a escravatura negra e a Guerra do Paraguai. A escravidão acabou,
apesar de ainda haver bolsões de intolerância. Somos um povo gentil
e miscigenado. Conseguimos resgatar o mal que fizemos com a
Guerra do Paraguai através da construção de Itaipu, muito benéfica
ao Paraguai. Os resgates são sempre através do bem. Hoje, segundo
estatísticas fidedignas, somos 8 milhões de militantes, 12 milhões de
simpatizantes e 20 milhões de pessoas que, de uma forma ou de
outra, tem contato com o espiritismo.
ZH - O espiritismo é compatível com o Cristianismo?
Franco - É o Cristianismo. A doutrina cristã que se expandiu nos
três primeiros séculos era legítima porque seguia Jesus. Depois, os
vários concílios transformaram essa doutrina, feita de amor, numa
organização econômica e teológica muito poderosa. Respeitamos a
Igreja Católica Apostólica Romana, que nos deu homens e mulheres
incomparáveis. Mas discrepamos da questão filosófica e ética, da
opulência, da hierarquia. Com o aparecimento dos espíritos, a chama
do pensamento de Jesus que prega o amor e a caridade voltou a ser
acesa. Dessa forma, o espiritismo é eminentemente Cristão.
ZH - Todos as pessoas têm o poder da mediunidade?
Franco - A mediunidade é uma faculdade orgânica. É como a
inteligência, a memória. Existem aqueles que têm essa faculdade
mais ostensiva, como Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. Os
demais são naturais.
ZH - Como se exercita a mediunidade?
Franco - Primeiro, através do estudo. Toda a faculdade deve ser
estudada com seriedade. Os centros espíritas são as escolas de
educação da mediunidade. O Brasil tem uma bibliografia de mais de
2 mil títulos, mas a obra básica é o Livro dos Médiuns de Allan
Kardec. As pessoas podem estudar, participar de um grupo de
desenvolvimento mediúnico e se tornar em um instrumento dos
espíritos.
ZH - Mas há fraude nesse meio. Como reconhecer os "falsos
médiuns"?
Franco - O meio de reconhecê-los é pelo caráter. Se um médium
cobra qualquer coisa, é preciso ficar atento. Uns não cobram
dinheiro, mas aceitam presentes. Isso é uma mercantilização
também. A mediunidade deve ser gratuita. O médium precisa ter um
absoluto desinteresse pessoal. As pessoas costumam perguntar: mas
como se dedicar sem receber nada? Respondo: use o tempo que for
possível. Trabalhe nas horas de folga e nas férias.
ZH - O senhor foi funcionário público?
Franco - Sim, durante 35 anos. Hoje, estou aposentado. Fazia
palestras e conferências nos feriados, finais de semana e nas férias.
Durante a semana, era como todo mundo. Não há privilégios para
médiuns.
ZH - Muitas pessoas hoje buscam curas espirituais e milagrosas
e, por vezes, retardam o momento de procurar um médico.
Como o senhor vê esse apelo?
Franco - É um grande equívoco da ingenuidade popular. O
espiritismo não veio competir com a Ciência, veio servir de ponte.
Quando adoecemos, devemos procurar um médico, mesmo nos
transtornos psicológicos. O médico é a autoridade que deve iniciar a
cura de um indivíduo. Se a pessoa tem certeza da imortalidade da
alma, pode procurar o espiritismo, simultaneamente. Quanto às
cirurgias psíquicas, é necessário ter cuidado porque o indivíduo pode
estar postergando o atendimento médico com prejuízo a sua saúde.
Na hora de procurar os chamados "médiuns curadores", procure
aqueles que não vivem disso. Muito cuidado com médiuns que
operam com instrumentos. Isso é um exercício ilegal da medicina. É
charlatanismo.
ZH - Recentemente, foi usado num julgamento de um
assassinato em Viamão uma carta psicografada como prova. A
ré foi absolvida. O senhor acha certo usar cartas psicografadas
como prova nos tribunais?
Franco - Surgiu uma jurisprudência há alguns anos em Goiânia.
Dois amigos estavam brincando com uma arma, mas um acabou
morto por um tiro. O que sobreviveu foi acusado de assassinato.
Mas, quando o processo estava correndo, a família da vítima, que
era católica, visitou Chico Xavier e recebeu uma carta psicografada
do filho morto, em que ele contava, com riqueza de detalhes, o que
havia acontecido. Os pais ficaram consolados e decidiram retirar a
queixa contra o réu, mas o processo continuou. Mas quando o juiz
soube da carta, considerou-a uma prova autêntica. Mas não me
parece justo, espíritos fazerem depoimentos. Devem ser seguidos os
códigos estabelecidos.
ZH - Como o senhor descobriu a sua mediunidade?
Franco - Eu tinha quatro anos e meio. Estava brincando em casa,
chegou uma senhora e pediu para chamar a minha mãe. Chamei a
minha mãe dizendo que uma mulher estava procurando por ela. Ela
chegou, mas não viu ninguém e ficou assustada. Foi então que essa
senhora me disse: diga a sua mãe que é Maria Senhorinha, sou a sua
avó. Como não tinha conhecido nenhum dos meus avós, aquilo não
fez sentido para mim. Falei de novo: "Mãe, a senhora está dizendo
que é Maria Senhorinha". E minha mãe entrou em choque. Minha vó
morreu no parto dela. Minha mãe me levou para a casa de minha tia.
Nesse momento, vi a minha vó de novo e comecei a descrever como
ela estava vestida. Minha tia confirmou que era, sim, a minha vó. A
partir daí, comecei a ver, a entrar em contato com os espíritos. Era
natural. Mais tarde, em 1944, morreu um dos meus irmãos
repentinamente e eu tive um choque. Fiquei impossibilitado de
andar. O médico disse que eu estava traumatizado. Dias depois,
minha prima levou uma médium que me aplicou um passe e disse:
"É o seu próprio irmão que está lhe perturbando". Depois do passe,
voltei a andar. Eu tinha 17 anos na época, queria ser padre, era muito
católico. Mas minha mãe insistiu para eu freqüentar um centro
espírita. Mais tarde, em 1947, me tornei espírita, depois de ler muito.
Proferi minha primeira palestra e criei uma instituição em Salvador.
ZH - O senhor prega uma terapia pela qual as pessoas
conseguem se comunicar com entes queridos que já se foram.
Como isso funciona?
Franco - Essa terapia não é exatamente para se comunicar com os
espíritos. Ela foi proposta pela minha mentora espiritual Joanna de
Ângelis. É a "Visualização Terapêutica": o indivíduo relaxa, entra
num estado de entorpecimento da consciência e visualiza entes
queridos que já desencarnaram como uma projeção. É uma
terapêutica muito simples.
ZH - As pessoas usam muito pouco da sua espiritualidade?
Franco - Sim, e usamos mal por comodismo, por dúvida renitente e
porque estamos muito absorvidos por problemas materiais.
Corremos de um lado para outro e não reservamos nenhum espaço
para a nossa espiritualização. Quando soubermos usar nossas forças
espirituais, mudaremos o mundo.
ZH - Qual será o tema de sua palestra hoje?
Franco - Ainda estou pensando no tema, mas devo falar sobre os
conflitos espirituais. Mas gostaria de deixar uma mensagem: Seja
você quem ama, não é importante que amem você. Não deixem
ninguém tirar a sua paz interior, não aceite o mal dos outros porque
ninguém pode prejudicá-lo, só você mesmo. Então ame e tenha paz.
Link encostal.
Zero Hora - O senhor acaba de voltar de uma temporada de
conferências na Europa. Qual foi o tema de suas palestras?
Divaldo Pereira Franco - Percorri 13 cidades européias em 37 dias.
Em seis cidades, pediram para falar sobre conflitos existenciais.
Procurei demonstrar como esses conflitos têm duas psicogêneses.
Para nós espíritas, que acreditamos em reencarnação, alguns
procedem de outras existências. Outros vêm de fatores que
predispõem a depressão, o medo, a ansiedade, a solidão. Logo
depois das conferências, na hora das perguntas, percebi que os
dramas existenciais dos países desenvolvidos são exatamente iguais
a de povos menos favorecidos. O indivíduo é sempre o mesmo.
ZH - Na sua opinião, esses conflitos ganham terreno por que
falta espiritualidade?
Franco - Sim, esse é um dos fatores. Há vários fatores envolvidos.
Um deles é a educação. A educação seria a terapêutica preventiva
ideal porque daria ao indivíduo resistência para lutar contra suas más
inclinações. Famílias desestruturadas também são as causas desses
conflitos. Existem traumas que vêm da infância até a idade adulta,
transformando-se em transtornos de conduta da afetividade. A perda
do senso de humor é um dos indícios desses conflitos. As pessoas
perderam o senso do humor. Não riem mais, não dão mais
gargalhadas. Quando sorrimos, produzimos uma substância
saudável, uma imunoglobulina. Ela faz parte da digestão e nos dá
alegria de viver. Quando somos estimulados aos sentimentos
sórdidos e à vilania, deixamos de produzir essa substância e ficamos
doentes com facilidade, perdemos o humor, nos entregamos a
situações agressivas. Hoje, a ciência constata que a felicidade é
genética. Quando a ciência diz que é uma herança genética, nós
espíritas dizemos que ela é genética porque o espírito, antes de
reencarnar, imprime na organização dos genes seus atos em vidas
anteriores. Um indivíduo que tem culpa por causa de atos perversos
imprime na sua carga genética um mecanismo de autodepuração. Na
hora da reencarnação, reencarnam-se introspectivos e complexados.
Mas, ainda assim, podem ser felizes. Mesmo um espírito culpado.
Estamos sempre construindo.
ZH - O senhor afirmou numa entrevista que as vítimas de
grandes catástrofes estavam pagando por erros do passado?
Como as pessoas pagam por males dos quais não têm
consciência?
Franco - Imagine uma cidade invadida por uma horda de bárbaros,
em que tudo é destruído, onde mulheres são estupradas. Essas
pessoas que cometeram isso adquirem um karma. Posteriormente,
elas se reencarnam e serão vítimas de uma grande calamidade
coletiva, de um tsunami, de um terremoto. São indivíduos que
vieram para resgatar esses débitos, expiar a culpa, mesmo sem ter
consciência. É da lei Divina: ninguém entra no Reino dos Céus sem
pagar todos os seus débitos.
ZH - O espiritismo surgiu na Europa, mas ele obteve mais
expressão no Brasil. Como o senhor explica esse fenômeno?
Franco - O espiritismo foi apresentado em Paris dia 18 de abril de
1857, data da publicação do Livro dos Espíritos de Allan Kardec.
Desde lá, a França sofreu muitos conflitos e guerras. Nessa época, a
doutrina espírita se transferiu para o Brasil. Acreditamos que, no
Brasil, se reencarnaram muitos espíritos franceses. A pátria
brasileira não tem karmas. O país tem apenas dois karmas históricos:
a escravatura negra e a Guerra do Paraguai. A escravidão acabou,
apesar de ainda haver bolsões de intolerância. Somos um povo gentil
e miscigenado. Conseguimos resgatar o mal que fizemos com a
Guerra do Paraguai através da construção de Itaipu, muito benéfica
ao Paraguai. Os resgates são sempre através do bem. Hoje, segundo
estatísticas fidedignas, somos 8 milhões de militantes, 12 milhões de
simpatizantes e 20 milhões de pessoas que, de uma forma ou de
outra, tem contato com o espiritismo.
ZH - O espiritismo é compatível com o Cristianismo?
Franco - É o Cristianismo. A doutrina cristã que se expandiu nos
três primeiros séculos era legítima porque seguia Jesus. Depois, os
vários concílios transformaram essa doutrina, feita de amor, numa
organização econômica e teológica muito poderosa. Respeitamos a
Igreja Católica Apostólica Romana, que nos deu homens e mulheres
incomparáveis. Mas discrepamos da questão filosófica e ética, da
opulência, da hierarquia. Com o aparecimento dos espíritos, a chama
do pensamento de Jesus que prega o amor e a caridade voltou a ser
acesa. Dessa forma, o espiritismo é eminentemente Cristão.
ZH - Todos as pessoas têm o poder da mediunidade?
Franco - A mediunidade é uma faculdade orgânica. É como a
inteligência, a memória. Existem aqueles que têm essa faculdade
mais ostensiva, como Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. Os
demais são naturais.
ZH - Como se exercita a mediunidade?
Franco - Primeiro, através do estudo. Toda a faculdade deve ser
estudada com seriedade. Os centros espíritas são as escolas de
educação da mediunidade. O Brasil tem uma bibliografia de mais de
2 mil títulos, mas a obra básica é o Livro dos Médiuns de Allan
Kardec. As pessoas podem estudar, participar de um grupo de
desenvolvimento mediúnico e se tornar em um instrumento dos
espíritos.
ZH - Mas há fraude nesse meio. Como reconhecer os "falsos
médiuns"?
Franco - O meio de reconhecê-los é pelo caráter. Se um médium
cobra qualquer coisa, é preciso ficar atento. Uns não cobram
dinheiro, mas aceitam presentes. Isso é uma mercantilização
também. A mediunidade deve ser gratuita. O médium precisa ter um
absoluto desinteresse pessoal. As pessoas costumam perguntar: mas
como se dedicar sem receber nada? Respondo: use o tempo que for
possível. Trabalhe nas horas de folga e nas férias.
ZH - O senhor foi funcionário público?
Franco - Sim, durante 35 anos. Hoje, estou aposentado. Fazia
palestras e conferências nos feriados, finais de semana e nas férias.
Durante a semana, era como todo mundo. Não há privilégios para
médiuns.
ZH - Muitas pessoas hoje buscam curas espirituais e milagrosas
e, por vezes, retardam o momento de procurar um médico.
Como o senhor vê esse apelo?
Franco - É um grande equívoco da ingenuidade popular. O
espiritismo não veio competir com a Ciência, veio servir de ponte.
Quando adoecemos, devemos procurar um médico, mesmo nos
transtornos psicológicos. O médico é a autoridade que deve iniciar a
cura de um indivíduo. Se a pessoa tem certeza da imortalidade da
alma, pode procurar o espiritismo, simultaneamente. Quanto às
cirurgias psíquicas, é necessário ter cuidado porque o indivíduo pode
estar postergando o atendimento médico com prejuízo a sua saúde.
Na hora de procurar os chamados "médiuns curadores", procure
aqueles que não vivem disso. Muito cuidado com médiuns que
operam com instrumentos. Isso é um exercício ilegal da medicina. É
charlatanismo.
ZH - Recentemente, foi usado num julgamento de um
assassinato em Viamão uma carta psicografada como prova. A
ré foi absolvida. O senhor acha certo usar cartas psicografadas
como prova nos tribunais?
Franco - Surgiu uma jurisprudência há alguns anos em Goiânia.
Dois amigos estavam brincando com uma arma, mas um acabou
morto por um tiro. O que sobreviveu foi acusado de assassinato.
Mas, quando o processo estava correndo, a família da vítima, que
era católica, visitou Chico Xavier e recebeu uma carta psicografada
do filho morto, em que ele contava, com riqueza de detalhes, o que
havia acontecido. Os pais ficaram consolados e decidiram retirar a
queixa contra o réu, mas o processo continuou. Mas quando o juiz
soube da carta, considerou-a uma prova autêntica. Mas não me
parece justo, espíritos fazerem depoimentos. Devem ser seguidos os
códigos estabelecidos.
ZH - Como o senhor descobriu a sua mediunidade?
Franco - Eu tinha quatro anos e meio. Estava brincando em casa,
chegou uma senhora e pediu para chamar a minha mãe. Chamei a
minha mãe dizendo que uma mulher estava procurando por ela. Ela
chegou, mas não viu ninguém e ficou assustada. Foi então que essa
senhora me disse: diga a sua mãe que é Maria Senhorinha, sou a sua
avó. Como não tinha conhecido nenhum dos meus avós, aquilo não
fez sentido para mim. Falei de novo: "Mãe, a senhora está dizendo
que é Maria Senhorinha". E minha mãe entrou em choque. Minha vó
morreu no parto dela. Minha mãe me levou para a casa de minha tia.
Nesse momento, vi a minha vó de novo e comecei a descrever como
ela estava vestida. Minha tia confirmou que era, sim, a minha vó. A
partir daí, comecei a ver, a entrar em contato com os espíritos. Era
natural. Mais tarde, em 1944, morreu um dos meus irmãos
repentinamente e eu tive um choque. Fiquei impossibilitado de
andar. O médico disse que eu estava traumatizado. Dias depois,
minha prima levou uma médium que me aplicou um passe e disse:
"É o seu próprio irmão que está lhe perturbando". Depois do passe,
voltei a andar. Eu tinha 17 anos na época, queria ser padre, era muito
católico. Mas minha mãe insistiu para eu freqüentar um centro
espírita. Mais tarde, em 1947, me tornei espírita, depois de ler muito.
Proferi minha primeira palestra e criei uma instituição em Salvador.
ZH - O senhor prega uma terapia pela qual as pessoas
conseguem se comunicar com entes queridos que já se foram.
Como isso funciona?
Franco - Essa terapia não é exatamente para se comunicar com os
espíritos. Ela foi proposta pela minha mentora espiritual Joanna de
Ângelis. É a "Visualização Terapêutica": o indivíduo relaxa, entra
num estado de entorpecimento da consciência e visualiza entes
queridos que já desencarnaram como uma projeção. É uma
terapêutica muito simples.
ZH - As pessoas usam muito pouco da sua espiritualidade?
Franco - Sim, e usamos mal por comodismo, por dúvida renitente e
porque estamos muito absorvidos por problemas materiais.
Corremos de um lado para outro e não reservamos nenhum espaço
para a nossa espiritualização. Quando soubermos usar nossas forças
espirituais, mudaremos o mundo.
ZH - Qual será o tema de sua palestra hoje?
Franco - Ainda estou pensando no tema, mas devo falar sobre os
conflitos espirituais. Mas gostaria de deixar uma mensagem: Seja
você quem ama, não é importante que amem você. Não deixem
ninguém tirar a sua paz interior, não aceite o mal dos outros porque
ninguém pode prejudicá-lo, só você mesmo. Então ame e tenha paz.
Link encostal.