Para o Poindexter
Enviado: 26 Jun 2006, 14:14
The NYT News Service
Steve Barnes
Albany Times Union
em Albany, Estado de Nova York
À medida que se aproxima a meia-noite de um sábado recente, cerca de seis homens conversam em um bar de Albany. A cena não teria nada de excepcional em qualquer cenário de boemia de um sábado à noite, se não fosse por dois detalhes: todos os homens estão vestindo roupas de couro preto, e um deles, com o casaco aberto sobre o peito sem camiseta, revelando piercings no mamilo, tem 87 anos de idade.
O seu nome é Joe Norton. Ele possui um doutorado e uma coleção de artefatos de sadomasoquismo, é apaixonado por política e pela esquiação na neve. Desde que se assumiu como gay há mais de 35 anos, ele participou ativamente do nascimento do movimento de liberação gay, do "universo das vestes de couro" e do conselho da Aids.
Norton se dirige ao seu lugar na porta do bar para trabalhar por um período coletando contribuições dos patrocinadores da Noite do Couro, no Clube Phoenix. Um dos garçons olha para Norton e sorri.
"Ele é a espinha dorsal da comunidade gay. O papel que desempenha é realmente o de um modelo para a comunidade", afirma George Brophy, que conhece Norton há 20 anos. Brophy, garçom no Clube Phoenix e ex-proprietário do Waterworks Pub, que também é voltado para uma clientela preponderantemente gay, diz que Norton está muitas vezes no centro de um grupo de discussões. Os dois são afiliados ao Stars M.C., um clube local de gays que gostam de usar trajes de couro. "Ele é a nossa história", afirma Brophy. "Quem não gostaria de falar sobre a história quando ela está bem à nossa frente?"
"Suponho que ainda tenha muito a dizer. E muito a fazer", diz Norton.
Em uma idade na qual vários dos seus contemporâneos estão em asilos ou clínicas geriátricas, ou então mortos, Norton leva uma vida plena. Em uma semana típica, ele atua como voluntário lendo para deficientes visuais, lava pratos em uma organização que fornece almoços a pacientes aidéticos, tarefa que realiza há 17 anos, brinca com o seu gato de estimação de um ano de idade, vai à academia de ginástica, e critica abertamente o governo dos Estados Unidos para quem se disponha a ouvir.
No inverno passado ele foi esquiar nos Alpes franceses e nas Montanhas Rochosas canadenses. Norton adora pegar carona de motocicleta com amigos e, recentemente, foi duas vezes à Assembléia Legislativa fazer lobby junto ao deputado que apóia em favor de um grupo de serviços comunitários ecumênicos e para discutir a questão dos direitos dos homossexuais.
"Ele é uma afirmação concreta da diversidade da nossa comunidade", opina Keith Hornbrook, diretora-executiva do grupo Capital District Gay e do Conselho da Comunidade Lésbica.
Norton foi co-fundador da organização em 1970. Atualmente, acredita-se que esse seja o mais antigo grupo do gênero a atuar continuamente nos Estados Unidos.
A participação de Norton na comunidade diminuiu com o passar dos anos, mas ele ainda se envolve sempre que possível, comparecendo a programas ocasionais e noites de cinema ou oferecendo as suas opiniões e lições históricas. O grupo também o homenageia, assim como faz com outros antigos presidentes, com o título de "grande-marechal" durante as paradas do orgulho gay. Ele participa dessas paradas todos os anos em Albany e marchou, militou e protestou em Albany, na cidade de Nova York, e em Washington, D.C. diversas vezes no decorrer dos anos.
"É importante sair em público, de maneira orgulhosa e visível", diz ele, sentado na sala da sua pequena casa no bairro de West Hill, em Albany, na qual ele mora com Mittens, o seu gato de patas brancas.
"Comprar um gato aos 86 anos foi algo absolutamente idiota", confessa, desistindo de tentar pegar o gato e colocá-lo no colo para uma foto. "Por outro lado, sempre é melhor falar com o gato do que comigo mesmo. Assim, estou feliz em ter alguém por aqui para ouvir todos os meus resmungos."
Faltam poucos dias para a parada do orgulho gay, e Norton quer retornar ao tema da visibilidade. Ele diz: "A população precisa perceber a diversidade que existe entre as pessoas à sua volta. Creio que é importante que uma comunidade tenha um grupo que use trajes de couro, assim como acho importante que uma comunidade conte com uma igreja Universalista Unitária".
"Ele possui diversas facetas diferentes", fala maravilhada Michele McClave, diretora-executiva do Conselho da Aids do nordeste do Estado de Nova York, que Norton ajudou a fundar. Segundo McClave, ele se apresenta como voluntário para eventos e programas do conselho, atuando até como lavador de pratos no almoço semanal para pacientes de Aids, evento realizado na Igreja Saint Andrew, em Albany. Ela diz que Norton, com a sua experiência como professor e conselheiro, é capaz de entabular uma conversa de alto nível com qualquer pessoa que encontre.
"Vários dos nossos clientes são mais jovens, e creio que eles estão surpresos por encontrar um indivíduo mais velho tão tranqüilo e acessível. Mas ele realmente sabe como chegar até as pessoas", declara McClave. "Ele também é bastante objetivo. Norton diz aquilo que de fato pensa. E os nossos clientes apreciam isso."
Embora Norton só use os seus trajes de couro uma vez por mês, na Noite do Couro, no Clube Phoenix, este é um componente central da sua identidade.
"Eu mantenho a minha roupa de couro separada dos outros aspectos da minha vida. É claro que não visto trajes de couro quando estou lavando panelas e frigideiras, mas acho que poderia dizer que eles estão de certa forma conectados a essas tarefas", afirma Norton. "Tenho certeza de que um dos motivos pelos quais ainda estou vivo é o fato de manter ativa a minha vida sexual, e as roupas de couro fazem parte dela."
Em uma descrição de baixo para cima, Norton veste: botas de construção ou botas negras de caubói de cano longo, que ele comprou durante uma viagem a Bancoc; calças compridas ou shorts de couro, dependendo do tempo; tiras de couro e correntes sobre o peito e ombros; um piercing de prata em cada mamilo; roupas de couro enfeitadas com broches dos clubes do couro que visitou; e boné de motocicleta em estilo policial.
O efeito é surpreendente, especialmente quando se leva em consideração a idade avançada de Norton. Ao usar roupas comuns, Norton tem o aspecto de um duende, com tufos de cabelos brancos em torno da cabeça e uma voz estridente como a de um sapo. Ele observa, chateado: "Para mim, ser macho é quase que uma impossibilidade".
Porém, ao usar as vestes de couro negro, ele desafia quase todas os estereótipos de um amável avô ou bisavô. E, caso alguém pergunte, ele não se acanha em dizer que, para ele, o couro é sexy, e o tipo de sexo que prefere é o sadomasoquista.
"Sei que as minhas vestes de couro podem chocar as pessoas", diz Norton. "Sei que esse é um assunto provocante. Tem gente que fica realmente perturbada com coisas como o sadomasoquismo."
Ele gostaria de fazer algumas observações sobre o sadomasoquismo. Primeiro, as atividades sadomasoquistas são consensuais. Segundo, dentro do leque de coisas que excitam as pessoas, um pouco de dor ou de couro não é algo de muito estranho. Finalmente, nem todo gay usa roupas de couro. "Existem todos os tipos de gays", explica Norton. A roupa veste o homem, mas ela não faz o indivíduo. Veja, por exemplo, o meu caso: eu uso couro, gosto de sadomasoquismo e sou vice-presidente do Stars. Mas também sou vice-presidente do grupo local Phi Beta Kappa".
Steve Barnes
Albany Times Union
em Albany, Estado de Nova York
À medida que se aproxima a meia-noite de um sábado recente, cerca de seis homens conversam em um bar de Albany. A cena não teria nada de excepcional em qualquer cenário de boemia de um sábado à noite, se não fosse por dois detalhes: todos os homens estão vestindo roupas de couro preto, e um deles, com o casaco aberto sobre o peito sem camiseta, revelando piercings no mamilo, tem 87 anos de idade.
O seu nome é Joe Norton. Ele possui um doutorado e uma coleção de artefatos de sadomasoquismo, é apaixonado por política e pela esquiação na neve. Desde que se assumiu como gay há mais de 35 anos, ele participou ativamente do nascimento do movimento de liberação gay, do "universo das vestes de couro" e do conselho da Aids.
Norton se dirige ao seu lugar na porta do bar para trabalhar por um período coletando contribuições dos patrocinadores da Noite do Couro, no Clube Phoenix. Um dos garçons olha para Norton e sorri.
"Ele é a espinha dorsal da comunidade gay. O papel que desempenha é realmente o de um modelo para a comunidade", afirma George Brophy, que conhece Norton há 20 anos. Brophy, garçom no Clube Phoenix e ex-proprietário do Waterworks Pub, que também é voltado para uma clientela preponderantemente gay, diz que Norton está muitas vezes no centro de um grupo de discussões. Os dois são afiliados ao Stars M.C., um clube local de gays que gostam de usar trajes de couro. "Ele é a nossa história", afirma Brophy. "Quem não gostaria de falar sobre a história quando ela está bem à nossa frente?"
"Suponho que ainda tenha muito a dizer. E muito a fazer", diz Norton.
Em uma idade na qual vários dos seus contemporâneos estão em asilos ou clínicas geriátricas, ou então mortos, Norton leva uma vida plena. Em uma semana típica, ele atua como voluntário lendo para deficientes visuais, lava pratos em uma organização que fornece almoços a pacientes aidéticos, tarefa que realiza há 17 anos, brinca com o seu gato de estimação de um ano de idade, vai à academia de ginástica, e critica abertamente o governo dos Estados Unidos para quem se disponha a ouvir.
No inverno passado ele foi esquiar nos Alpes franceses e nas Montanhas Rochosas canadenses. Norton adora pegar carona de motocicleta com amigos e, recentemente, foi duas vezes à Assembléia Legislativa fazer lobby junto ao deputado que apóia em favor de um grupo de serviços comunitários ecumênicos e para discutir a questão dos direitos dos homossexuais.
"Ele é uma afirmação concreta da diversidade da nossa comunidade", opina Keith Hornbrook, diretora-executiva do grupo Capital District Gay e do Conselho da Comunidade Lésbica.
Norton foi co-fundador da organização em 1970. Atualmente, acredita-se que esse seja o mais antigo grupo do gênero a atuar continuamente nos Estados Unidos.
A participação de Norton na comunidade diminuiu com o passar dos anos, mas ele ainda se envolve sempre que possível, comparecendo a programas ocasionais e noites de cinema ou oferecendo as suas opiniões e lições históricas. O grupo também o homenageia, assim como faz com outros antigos presidentes, com o título de "grande-marechal" durante as paradas do orgulho gay. Ele participa dessas paradas todos os anos em Albany e marchou, militou e protestou em Albany, na cidade de Nova York, e em Washington, D.C. diversas vezes no decorrer dos anos.
"É importante sair em público, de maneira orgulhosa e visível", diz ele, sentado na sala da sua pequena casa no bairro de West Hill, em Albany, na qual ele mora com Mittens, o seu gato de patas brancas.
"Comprar um gato aos 86 anos foi algo absolutamente idiota", confessa, desistindo de tentar pegar o gato e colocá-lo no colo para uma foto. "Por outro lado, sempre é melhor falar com o gato do que comigo mesmo. Assim, estou feliz em ter alguém por aqui para ouvir todos os meus resmungos."
Faltam poucos dias para a parada do orgulho gay, e Norton quer retornar ao tema da visibilidade. Ele diz: "A população precisa perceber a diversidade que existe entre as pessoas à sua volta. Creio que é importante que uma comunidade tenha um grupo que use trajes de couro, assim como acho importante que uma comunidade conte com uma igreja Universalista Unitária".
"Ele possui diversas facetas diferentes", fala maravilhada Michele McClave, diretora-executiva do Conselho da Aids do nordeste do Estado de Nova York, que Norton ajudou a fundar. Segundo McClave, ele se apresenta como voluntário para eventos e programas do conselho, atuando até como lavador de pratos no almoço semanal para pacientes de Aids, evento realizado na Igreja Saint Andrew, em Albany. Ela diz que Norton, com a sua experiência como professor e conselheiro, é capaz de entabular uma conversa de alto nível com qualquer pessoa que encontre.
"Vários dos nossos clientes são mais jovens, e creio que eles estão surpresos por encontrar um indivíduo mais velho tão tranqüilo e acessível. Mas ele realmente sabe como chegar até as pessoas", declara McClave. "Ele também é bastante objetivo. Norton diz aquilo que de fato pensa. E os nossos clientes apreciam isso."
Embora Norton só use os seus trajes de couro uma vez por mês, na Noite do Couro, no Clube Phoenix, este é um componente central da sua identidade.
"Eu mantenho a minha roupa de couro separada dos outros aspectos da minha vida. É claro que não visto trajes de couro quando estou lavando panelas e frigideiras, mas acho que poderia dizer que eles estão de certa forma conectados a essas tarefas", afirma Norton. "Tenho certeza de que um dos motivos pelos quais ainda estou vivo é o fato de manter ativa a minha vida sexual, e as roupas de couro fazem parte dela."
Em uma descrição de baixo para cima, Norton veste: botas de construção ou botas negras de caubói de cano longo, que ele comprou durante uma viagem a Bancoc; calças compridas ou shorts de couro, dependendo do tempo; tiras de couro e correntes sobre o peito e ombros; um piercing de prata em cada mamilo; roupas de couro enfeitadas com broches dos clubes do couro que visitou; e boné de motocicleta em estilo policial.
O efeito é surpreendente, especialmente quando se leva em consideração a idade avançada de Norton. Ao usar roupas comuns, Norton tem o aspecto de um duende, com tufos de cabelos brancos em torno da cabeça e uma voz estridente como a de um sapo. Ele observa, chateado: "Para mim, ser macho é quase que uma impossibilidade".
Porém, ao usar as vestes de couro negro, ele desafia quase todas os estereótipos de um amável avô ou bisavô. E, caso alguém pergunte, ele não se acanha em dizer que, para ele, o couro é sexy, e o tipo de sexo que prefere é o sadomasoquista.
"Sei que as minhas vestes de couro podem chocar as pessoas", diz Norton. "Sei que esse é um assunto provocante. Tem gente que fica realmente perturbada com coisas como o sadomasoquismo."
Ele gostaria de fazer algumas observações sobre o sadomasoquismo. Primeiro, as atividades sadomasoquistas são consensuais. Segundo, dentro do leque de coisas que excitam as pessoas, um pouco de dor ou de couro não é algo de muito estranho. Finalmente, nem todo gay usa roupas de couro. "Existem todos os tipos de gays", explica Norton. A roupa veste o homem, mas ela não faz o indivíduo. Veja, por exemplo, o meu caso: eu uso couro, gosto de sadomasoquismo e sou vice-presidente do Stars. Mas também sou vice-presidente do grupo local Phi Beta Kappa".