Jogo de compadres
Enviado: 28 Jun 2006, 02:22
19/06/2006 - 19h18
"Jogos de compadres" em Copas envolveram até o Brasil
Da Redação
Em São Paulo
As circunstâncias de Inglaterra x Suécia, em que um empate assegura vagas para os dois países em detrimento de outro que segue com chances, não são novidade em Copas do Mundo. Alguns jogos em que determinados resultados interessavam aos dois times acabaram com a fama de "jogos de compadres". Uns foram escandalosos, outros sutis a ponto de ninguém confirmar. E um deles, que envolveu o Brasil, foi folclórico.
Arquivo Folha Imagem
O Brasil de 54 não entendeu que podia fazer um "jogo de compadres"
Na 1ª fase da Copa de 1954, Brasil e Iugoslávia empatavam em 1 a 1. O resultado classificava a ambos para a fase seguinte e eliminava a França, que tinha um ponto a menos.
Porém, os jogadores brasileiros desconheciam o regulamento e forçaram o ritmo do jogo para buscar a vitória que eles julgavam necessária --portanto, causando desgaste físico para as duas equipes.
Os iugoslavos gesticulavam para esclarecer aos brasileiros que o empate era bom para todos e fazer com que eles diminuíssem o ritmo. Não adiantou: a seleção brasileira chegou a pensar que era provocação e, quando o jogo acabou empatado, saiu desolada de campo achando que tinha sido eliminada.
Outro jogo de última rodada de 1ª fase foi o histórico duelo entre Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental. Os orientais, bem mais fracos, venceram por 1 a 0.
Até hoje, os jogadores que atuaram naquela partida juram que se dedicaram totalmente em busca da vitória. Apesar de serem todos alemães separados apenas pela divisão política daquela época, vencer o outro era uma questão de honra e perder era um vexame.
Pois os alemães ocidentais passaram pelo "vexame". Só que, na segunda fase (que era disputada em grupos e não em mata-mata), caíram na chave mais fraca, deixando a Alemanha Oriental no grupo que tinha Brasil e Holanda. Ficou para as histórias do futebol a suspeita de que o "vexame" tinha sido calculado. A Alemanha Ocidental acabou campeã daquela Copa.
Os alemães voltaram a protagonizar um "jogo de compadres" em 1982. Este foi bem mais escandaloso. Países germânicos, Alemanha e Áustria foram a campo sabendo que ambos se classificariam para a segunda fase se o resultado fosse 1 a 0 para a Alemanha.
COMPADRES DAS COPAS
1954
Brasil 1 x 1 Iugoslávia
1974
Alemanha Ocidental 0 x 1 Alemanha Oriental
1978
Argentina 6 x 0 Peru
1982
Alemanha Ocidental 1 x 0 Áustria
Por uma sutileza dos critérios de desempate, qualquer outro resultado classificaria apenas um dos dois e a Argélia ficaria com a outra vaga. Então a Alemanha fez seu gol aos 10min do 1º tempo e os 80 minutos restantes foram uma desavergonhada e cínica enrolação, com os dois times tocando a bola de lado e não chegando perto do gol adversário.
A torcida presente vaiou o tempo todo. A Argélia pediu que a Fifa anulasse o jogo ou punisse os envolvidos. O técnico Henri Michel, da seleção da França, foi irônico e disse que alemães e austríacos mereciam o Prêmio Nobel da Paz. Apesar dos protestos mundiais, o resultado foi mantido.
A suspeita goleada de 6 a 0 da Argentina sobre o Peru em 1978 (que classificou os argentinos para a final e eliminou o Brasil no saldo de gols) seria um "jogo de compadres", com os peruanos apáticos e deixando os argentinos fazerem dois gols a mais do que precisavam. Mas esse jogo lendário tem uma diferença sutil.
Já eliminado, o Peru não tinha nada a ganhar em termos de campeonato com tal resultado. Embora as suspeitas e indícios de suborno de jogadores e até de autoridades do governo peruano sugiram que a equipe e o país tinham algo a ganhar fora do campo.
Um detalhe adicional: o goleiro Quiroga, do Peru, era um argentino naturalizado.
"Jogos de compadres" em Copas envolveram até o Brasil
Da Redação
Em São Paulo
As circunstâncias de Inglaterra x Suécia, em que um empate assegura vagas para os dois países em detrimento de outro que segue com chances, não são novidade em Copas do Mundo. Alguns jogos em que determinados resultados interessavam aos dois times acabaram com a fama de "jogos de compadres". Uns foram escandalosos, outros sutis a ponto de ninguém confirmar. E um deles, que envolveu o Brasil, foi folclórico.
Arquivo Folha Imagem
O Brasil de 54 não entendeu que podia fazer um "jogo de compadres"
Na 1ª fase da Copa de 1954, Brasil e Iugoslávia empatavam em 1 a 1. O resultado classificava a ambos para a fase seguinte e eliminava a França, que tinha um ponto a menos.
Porém, os jogadores brasileiros desconheciam o regulamento e forçaram o ritmo do jogo para buscar a vitória que eles julgavam necessária --portanto, causando desgaste físico para as duas equipes.
Os iugoslavos gesticulavam para esclarecer aos brasileiros que o empate era bom para todos e fazer com que eles diminuíssem o ritmo. Não adiantou: a seleção brasileira chegou a pensar que era provocação e, quando o jogo acabou empatado, saiu desolada de campo achando que tinha sido eliminada.
Outro jogo de última rodada de 1ª fase foi o histórico duelo entre Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental. Os orientais, bem mais fracos, venceram por 1 a 0.
Até hoje, os jogadores que atuaram naquela partida juram que se dedicaram totalmente em busca da vitória. Apesar de serem todos alemães separados apenas pela divisão política daquela época, vencer o outro era uma questão de honra e perder era um vexame.
Pois os alemães ocidentais passaram pelo "vexame". Só que, na segunda fase (que era disputada em grupos e não em mata-mata), caíram na chave mais fraca, deixando a Alemanha Oriental no grupo que tinha Brasil e Holanda. Ficou para as histórias do futebol a suspeita de que o "vexame" tinha sido calculado. A Alemanha Ocidental acabou campeã daquela Copa.
Os alemães voltaram a protagonizar um "jogo de compadres" em 1982. Este foi bem mais escandaloso. Países germânicos, Alemanha e Áustria foram a campo sabendo que ambos se classificariam para a segunda fase se o resultado fosse 1 a 0 para a Alemanha.
COMPADRES DAS COPAS
1954
Brasil 1 x 1 Iugoslávia
1974
Alemanha Ocidental 0 x 1 Alemanha Oriental
1978
Argentina 6 x 0 Peru
1982
Alemanha Ocidental 1 x 0 Áustria
Por uma sutileza dos critérios de desempate, qualquer outro resultado classificaria apenas um dos dois e a Argélia ficaria com a outra vaga. Então a Alemanha fez seu gol aos 10min do 1º tempo e os 80 minutos restantes foram uma desavergonhada e cínica enrolação, com os dois times tocando a bola de lado e não chegando perto do gol adversário.
A torcida presente vaiou o tempo todo. A Argélia pediu que a Fifa anulasse o jogo ou punisse os envolvidos. O técnico Henri Michel, da seleção da França, foi irônico e disse que alemães e austríacos mereciam o Prêmio Nobel da Paz. Apesar dos protestos mundiais, o resultado foi mantido.
A suspeita goleada de 6 a 0 da Argentina sobre o Peru em 1978 (que classificou os argentinos para a final e eliminou o Brasil no saldo de gols) seria um "jogo de compadres", com os peruanos apáticos e deixando os argentinos fazerem dois gols a mais do que precisavam. Mas esse jogo lendário tem uma diferença sutil.
Já eliminado, o Peru não tinha nada a ganhar em termos de campeonato com tal resultado. Embora as suspeitas e indícios de suborno de jogadores e até de autoridades do governo peruano sugiram que a equipe e o país tinham algo a ganhar fora do campo.
Um detalhe adicional: o goleiro Quiroga, do Peru, era um argentino naturalizado.