Mercados não falham, os indivíduos sim
por João Luiz Mauad em 30 de junho de 2006
Resumo: O mercado não existe para suprir as necessidades de todos, dar emprego e bons salários a cada um ou transformar-nos em seres igualmente inteligentes, sagazes, dedicados e, conseqüentemente, ricos e prósperos.
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É bastante comum a falácia segundo a qual "o governo deve intervir sempre que houver mau funcionamento dos mercados".
Ultimamente, não foram raras as vezes que ouvi, até de conceituados analistas, a estapafúrdia afirmação de que como o mercado não conseguiu resolver o problema da VARIG, era necessário que o governo interviesse para salvaguardar os interesses de empregados e clientes.
Esse tipo de argumento não tem qualquer validade, pois traz embutida a falsa premissa de que “os mercados falham”. Segundo Glenn Woiceshyn, “para que algo (ou alguém) falhe é preciso que não consiga atingir o objetivo para o qual foi projetado ou que seria capaz de alcançar caso funcionasse perfeitamente. Por exemplo: uma válvula que não abriu quando deveria ou um estudante inteligente que tirou nota baixa no teste de matemática.”
Como já foi dito aqui em artigos anteriores, o mercado não é um objeto, um sujeito, uma organização ou uma corporação. Dele não se pode esperar que atinja determinado objetivo previamente planejado ou que “funcione perfeitamente”.
O mercado é um processo complexo e espontâneo que envolve o intercâmbio de produtos e serviços em larga escala. Um processo mediante o qual, como nos lembra Von Mises, cada agente planeja e age por si mesmo, buscando satisfazer os seus próprios interesses, sem que ninguém lhe diga o que deve ou não fazer. Logo, a essência do mecanismo de mercado é a liberdade de ação e escolha dos indivíduos. Liberdade, como nos lembra Bastiat, envolve falibilidade, que por sua vez é proveniente das diferentes avaliações de cada pessoa.
Os homens são constantemente vítimas de seus próprios juízos e paixões. Nem sempre são capazes de classificar os seus desejos segundo a ordem mais razoável.
Um valor determinado pode ser imputado a um bem ou serviço, sem que haja uma coincidência logicamente plausível entre aquele valor e a utilidade desse bem ou serviço. Quem irá negar que o exercício da liberdade de escolha traz embutida a possibilidade de equívocos? O defeito, no entanto, como é fácil deduzir, não está no processo de intercâmbio, mas na imperfeição dos agentes (seres humanos).
Quem alega que o “mercado falhou” é porque não tem a menor idéia do funcionamento desse maravilhoso processo e imputa a ele determinados “objetivos” e “obrigações” que jamais poderia atingir ou satisfazer.
O mercado não existe, como acreditam alguns, para suprir as necessidades de todos, dar emprego e bons salários a cada um ou transformar-nos em seres igualmente inteligentes, sagazes, dedicados e, conseqüentemente, ricos e prósperos. Não há como evitar que os indivíduos façam escolhas erradas, tenham desejos e ambições diferentes, trabalhem, consumam ou poupem uns mais do que os outros e assim por diante. Se eu compro uma geladeira esperando que ela vá estar sempre sortida com tudo aquilo de que mais gosto, ainda que eu não a abasteça, a falha certamente não será do equipamento, mas unicamente minha.
Da mesma forma, não se pode cobrar do mercado aquilo que ele não pode fazer. A alegação de mau funcionamento é usada amiúde para justificar a interferência dos governos nos mercados. Essa intromissão pode vir na forma de controles de preços, regulamentações, restrições à importação, taxações e isenções as mais diversas, leis de salário mínimo, etc. O efeito desse tipo de práticas costuma ser nefasto, pois desestimula a inovação, amarra a produtividade, pune a eficiência, produz inflação e, não raro, obstrui a geração de riqueza em escala maciça.
É estúpido pensar em funcionários públicos como seres diferentes, isentos de imperfeição, como se fossem super-homens, imunes às paixões e à falibilidade do restante da humanidade.
Ao contrário do que imaginam os ingênuos, as decisões de políticos e burocratas em assuntos de mercado costumam estar erradas com maior freqüência do que se supõe, principalmente porque versam sobre assuntos que, na maioria das vezes, não lhes dizem respeito.
O padre jesuíta espanhol Juan de Mariana (1536 – 1624), um dos precursores do liberalismo clássico, explicava esse fato dizendo que “um governante não conhece todas as pessoas nem todos os fatos, ou, pelo menos, todas as circunstâncias que os envolvem. Forçoso, portanto, é que caiam em muitos e graves erros”. Para complicar ainda mais as coisas, os erros dos agentes públicos possuem uma capacidade quase ilimitada de produzir danos.
O suíço Benjamim Constant (1767 – 1830), ao enumerar as razões por que, segundo ele, deve-se limitar ao máximo a intervenção do Estado nas vidas das pessoas, foi incisivo e muito feliz ao afirmar que “os erros da lei espalham seus efeitos negativos sobre toda a nação, ao contrário dos erros individuais, cujo escopo é limitado”.
Por isso, prossegue o pensador, é muito mais difícil e “leva muito mais tempo para corrigir os danos causados por uma norma legal errônea do que os prejuízos causados pelas ações e escolhas dos indivíduos.”
fonte : Mídia Sem Máscara
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