A farsa das cotas universitárias : os números não batem!
Enviado: 06 Jul 2006, 16:56
A Parte e O Todo: a farsa das cotas e a aritmética do MEC, que precisa de cota de matemáticos
por Reinaldo Azevedo
O que vocês lerão a seguir é a desmontagem de uma farsa: a do suposto perfil racial da universidade que estaria em desacordo com o da sociedade e justificaria as cotas. Trata-se de uma versão com cortes de um texto que escrevi para o site Primeira Leitura no dia 16 de março de 2005. Continua mais atual do que antes, porque, agora, a votação vem aí. A tendência é que se aprovem as cotas a partir de uma interpretação estúpida de dados mentirosos. É um texto longo, impróprio para blog, sei disso. E publico mesmo assim. Há muitos outros assuntos depois (ou antes) dele. Vamos lá.
No dia 11 de março do ano passado, vieram a público dados do 2º Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior. O levantamento, sob a orientação do próprio Ministério da Educação, foi feito pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace) e pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e ouviu 34 mil alunos Brasil afora. Não fossem as cotas universitárias um equívoco monumental no que respeita ao Estado de Direito, os números dessa pesquisa indicaram a sua absoluta desnecessidade.
Segundo o que nos foi dado conhecer do levantamento, que foi censurado, 42,8% dos estudantes tinham renda familiar de até R$ 927 — vindos, pois, das classes C, D e E, e 46,2% fizeram o ensino médio em escolas públicas. Declararam-se pretos 5,9% dos estudantes, exatamente o percentual de pessoas que se autodefiniram como negras na Pnad de 2003, do IBGE. Os brancos somavam 59,4% do total, pouco mais do que os 52,1% registrados pela Pnad. E disseram-se pardos 28,3% dos alunos, enquanto, de acordo com o IBGE, 41,4% da população brasileira é parda.
O que se seguiu, então, serve de ilustração e evidência das muitas tentações totalitárias e práticas autoritárias que estão em curso. Conhecidos os primeiros números do levantamento daquela sexta, dia 11, a divulgação do conjunto da pesquisa estava marcada para a segunda seguinte, dia 14. Tarso Genro, então ministro da educação, fez o quê? Cancelou a sua divulgação, que estava marcada para as 10h daquele dia no auditório do edifício-sede do MEC.
Em nota oficial, o então secretário-executivo do ministério disse que o Fonaprace só avisou o ministério sobre a divulgação “quando faltavam trinta minutos para o seu início, o que levou à inviabilidade da cerimônia”. Não é verdade. O secretário de Ensino Superior do MEC, Nelson Maculan, a presidente da Andifes, reitora Ana Lúcia Gazzola (UFMG), e o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz — todos titulares dos cargos, então —, entre outros, estavam convidados e sabiam da entrevista coletiva para divulgação do levantamento desde o dia 11. Na agenda do ministro Agnelo da segunda, dia 14, constava a participação de solenidade no MEC, às 10h. Isso tudo é fato, não é interpretação.
A ética da mentira
Com algum cinismo, é preciso admitir que até a mentira comporta certa ética; vale dizer, a invencionice ou a verdade fraudada requerem alguns rigores de verossimilhança. Nem isso foi devidamente observado nesse caso. A decisão do MEC foi, obviamente, outra: amoitar e acoitar o que não interessava.
Pondo, então, em curso um entendimento certamente bem particular do que vem a ser o “republicanismo”, o ministro Tarso Genro resolveu combater aquela pesquisa com outra, como se tudo se limitasse a uma guerra de versões para conquistar a opinião pública. No dia 14 de março, uma terça-feira, entrou no ar no site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC, “dados preliminares” de outro levantamento, o Questionário Socieconômico do Exame Nacional de Cursos.
Seriam números que justificariam as cotas. A síntese era a seguinte: os brancos, nas universidades, seriam 72,9% em 2003, para uma população de 52,1%. Os negros estariam sub-representados: 5,9% no país contra 3,6% nos campi universitários.
O MEC tem todo o direito de divulgar as pesquisas e os levantamentos que quiser. Mas não tem o direito de mentir. Então eram mentirosas aquelas desculpas de que a primeira pesquisa teve adiada a sua divulgação por causa de um problema de agenda. O proselitismo armado para fazer circular este outro levantamento indica que se estava apenas preparando um “contra-ataque”.
Pesquisas que não concorram para justificar as escolhas feitas pelo governo são submetidas a um crivo; as que justificam ganham logo o estatuto de verdade inquestionável. Vejam só: Tarso Genro poderia ter escolhido o saudável caminho do debate “republicano”, como ele gosta de dizer. Escolheu a truculência: optou por interditar o debate quando julgou que os argumentos técnicos caminhavam contra a sua tese.
Novilíngua orwelliana
O texto que aparece no site oficial para interpretar os dados desse levantamento que estaria a indicar a presença desproporcional de brancos nos bancos universitários é um exemplo de tudo o que não se deve e não se pode fazer com uma pesquisa. Os leitores podem ir direto à fonte se quiserem clicando aqui.
Para começo de conversa, uma redação oblíqua, organizada mais para esconder do que para revelar dados, não deixa explícito que o tal questionário mistura tanto alunos das escolas públicas como alunos das escolas privadas. Os dados do próprio questionário revelam (e questionário não tem nem mesmo fundamento científico) que, auferidos os números apenas das escolas federais, os brancos não seriam 72,9%, mas 62% — enquanto, na sociedade, são 52,1%. Ah, então aqueles 72% eram um número de propaganda!
A primeira ilação lógica a se fazer dos dados que o próprio governo abraça como justificadores das cotas é que se tenta impor às universidades públicas um índice de reserva de vagas usando como argumento os números do conjunto dos universitários brasileiros, incluindo as escolas privadas.
Mas isso não é o mais grave, não. O texto do MEC também escolhe o caminho da matemática perturbada pelo proselitismo para se justificar. E produz uma mentira gigantesca.
Diz que, dado o perfil racial dos estudantes que eles próprios usam, que já é distorcido, chegar-se-ia à igualdade apenas em 20 anos. É mentira! Segundo o próprio ministério, em 2000, os negros eram 2,2% dos estudantes universitários, e 3,6% em 2003 — quando ainda não havia cotas no país. Tomemos uma base 100 como referência: no intervalo dado, o número de negros na universidade cresceu, então, 63,63%!!!
Mantido constante esse crescimento (e quem adota a constante é o MEC, não eu), passariam, em igual intervalo, a ser 5,89% em 2006 (contra uma presença de 5,9% na sociedade brasileira) e 9,6% em 2009. Em nome da justiça bastarda de Tarso, teria chegado a hora de arrancar negros das universidades.
A mentira se estende ao caso dos pardos. Segundo o tal questionário, eram 13,6% em 2000 e 20,5% em 2003. Logo, cresceram 50,73%. Mantendo-se a lógica dos intervalos, seriam 30,89% em 2006 e 46,57% em 2009 — hoje, são 41,4% da população. Vale dizer: depois de o Brasil ter de arrancar os pretos das universidades (em nome da justiça racial, é claro), terá chegado a hora, em 2009, de expulsar a super-representação de pardos.
E, amigos, sim, vamos nos preparar para garantir cotas para os brancos. Como? Segundo os números mentirosos do MEC, eles eram 80,5% em 2000 e 72,9% em 2003. Logo, no período, encolheram 9,44%. Encolhendo assim, sempre na mesma toada, serão 66,01% em 2006, 59,77% em 2009, 54,12% em 2012 e 49,03% em 2015. Como são 52,1% da população, tudo o mais constante, teremos de garantir cotas para os brancos.
Sim, vocês repararam, não é? Os negros já atingiriam a proporção de sua participação na sociedade neste 2006, os pardos, em 2009, mas seria preciso esperar 2012 para que a presença de brancos nos campi fosse compatível com a sua presença na sociedade. Creio que, entre 2009 e 2012, as vagas seria ocupadas por miasmas da burrice militante. A lambança de dados é do MEC, que, não sabendo o que diz, também não sabe fazer conta.
De resto, vejam lá no site deles o quadro que tomo como referência. Os números são obviamente furados. Reparem como os dados de 2001 são a negação da tendência expressa em 2000 e depois em 2002 e 2003. Não servem para nada. O governo deveria ter respeitado o trabalho feito pelo Fonaprace e pela Andifes. Mas está desesperado em busca de argumentos. E seus argumentos não resistem a uma calculadora.
Grande e monumental bobagem
As duas pesquisas, tanto aquela combatida pelo MEC como esta agora usada pelo próprio ministério para se justificar, dão conta da grande farsa que é a imposição de cotas nas universidades brasileiras. Há um problema de mérito, de fundo, já dito tantas vezes, mas que não me furtarei a dizer outra vez: universidade é lugar de produção de conhecimento, de ciência, não de fazer justiça social, que tem de ser alcançada no ensino fundamental e médio, que está na penúria.
Mais: para impor o modelo, o MEC obriga as universidades a fraudar a Constituição, tratando desigualmente os cidadãos. Pior do que tudo isso: tenta-se impor a medida ao arrepio de qualquer número ou dado objetivo, mesmo aqueles que o governo teria para se defender.
Do conjunto do que aqui se diz, quero chamar a atenção para uma questão em particular. Digamos que a matemática do MEC estivesse certa; digamos que as cotas fossem tecnicamente justificadas; digamos que aquela primeira pesquisa contivesse algum viés, digamos tudo isso, e, ainda assim, o governo não poderia ter escolhido o caminho que escolheu: vetou a divulgação de uma pesquisa, usou falsas desculpas; revelou as reais intenções ao combater aqueles dados com outros de seu agrado e, ainda por cima, fez uma leitura absolutamente prejudicada de seus resultados.
A matemática certamente depõe contra o MEC. Mas seu erro principal é mesmo de política.
Blog do Reinaldo Azevedo
por Reinaldo Azevedo
O que vocês lerão a seguir é a desmontagem de uma farsa: a do suposto perfil racial da universidade que estaria em desacordo com o da sociedade e justificaria as cotas. Trata-se de uma versão com cortes de um texto que escrevi para o site Primeira Leitura no dia 16 de março de 2005. Continua mais atual do que antes, porque, agora, a votação vem aí. A tendência é que se aprovem as cotas a partir de uma interpretação estúpida de dados mentirosos. É um texto longo, impróprio para blog, sei disso. E publico mesmo assim. Há muitos outros assuntos depois (ou antes) dele. Vamos lá.
No dia 11 de março do ano passado, vieram a público dados do 2º Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior. O levantamento, sob a orientação do próprio Ministério da Educação, foi feito pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace) e pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e ouviu 34 mil alunos Brasil afora. Não fossem as cotas universitárias um equívoco monumental no que respeita ao Estado de Direito, os números dessa pesquisa indicaram a sua absoluta desnecessidade.
Segundo o que nos foi dado conhecer do levantamento, que foi censurado, 42,8% dos estudantes tinham renda familiar de até R$ 927 — vindos, pois, das classes C, D e E, e 46,2% fizeram o ensino médio em escolas públicas. Declararam-se pretos 5,9% dos estudantes, exatamente o percentual de pessoas que se autodefiniram como negras na Pnad de 2003, do IBGE. Os brancos somavam 59,4% do total, pouco mais do que os 52,1% registrados pela Pnad. E disseram-se pardos 28,3% dos alunos, enquanto, de acordo com o IBGE, 41,4% da população brasileira é parda.
O que se seguiu, então, serve de ilustração e evidência das muitas tentações totalitárias e práticas autoritárias que estão em curso. Conhecidos os primeiros números do levantamento daquela sexta, dia 11, a divulgação do conjunto da pesquisa estava marcada para a segunda seguinte, dia 14. Tarso Genro, então ministro da educação, fez o quê? Cancelou a sua divulgação, que estava marcada para as 10h daquele dia no auditório do edifício-sede do MEC.
Em nota oficial, o então secretário-executivo do ministério disse que o Fonaprace só avisou o ministério sobre a divulgação “quando faltavam trinta minutos para o seu início, o que levou à inviabilidade da cerimônia”. Não é verdade. O secretário de Ensino Superior do MEC, Nelson Maculan, a presidente da Andifes, reitora Ana Lúcia Gazzola (UFMG), e o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz — todos titulares dos cargos, então —, entre outros, estavam convidados e sabiam da entrevista coletiva para divulgação do levantamento desde o dia 11. Na agenda do ministro Agnelo da segunda, dia 14, constava a participação de solenidade no MEC, às 10h. Isso tudo é fato, não é interpretação.
A ética da mentira
Com algum cinismo, é preciso admitir que até a mentira comporta certa ética; vale dizer, a invencionice ou a verdade fraudada requerem alguns rigores de verossimilhança. Nem isso foi devidamente observado nesse caso. A decisão do MEC foi, obviamente, outra: amoitar e acoitar o que não interessava.
Pondo, então, em curso um entendimento certamente bem particular do que vem a ser o “republicanismo”, o ministro Tarso Genro resolveu combater aquela pesquisa com outra, como se tudo se limitasse a uma guerra de versões para conquistar a opinião pública. No dia 14 de março, uma terça-feira, entrou no ar no site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC, “dados preliminares” de outro levantamento, o Questionário Socieconômico do Exame Nacional de Cursos.
Seriam números que justificariam as cotas. A síntese era a seguinte: os brancos, nas universidades, seriam 72,9% em 2003, para uma população de 52,1%. Os negros estariam sub-representados: 5,9% no país contra 3,6% nos campi universitários.
O MEC tem todo o direito de divulgar as pesquisas e os levantamentos que quiser. Mas não tem o direito de mentir. Então eram mentirosas aquelas desculpas de que a primeira pesquisa teve adiada a sua divulgação por causa de um problema de agenda. O proselitismo armado para fazer circular este outro levantamento indica que se estava apenas preparando um “contra-ataque”.
Pesquisas que não concorram para justificar as escolhas feitas pelo governo são submetidas a um crivo; as que justificam ganham logo o estatuto de verdade inquestionável. Vejam só: Tarso Genro poderia ter escolhido o saudável caminho do debate “republicano”, como ele gosta de dizer. Escolheu a truculência: optou por interditar o debate quando julgou que os argumentos técnicos caminhavam contra a sua tese.
Novilíngua orwelliana
O texto que aparece no site oficial para interpretar os dados desse levantamento que estaria a indicar a presença desproporcional de brancos nos bancos universitários é um exemplo de tudo o que não se deve e não se pode fazer com uma pesquisa. Os leitores podem ir direto à fonte se quiserem clicando aqui.
Para começo de conversa, uma redação oblíqua, organizada mais para esconder do que para revelar dados, não deixa explícito que o tal questionário mistura tanto alunos das escolas públicas como alunos das escolas privadas. Os dados do próprio questionário revelam (e questionário não tem nem mesmo fundamento científico) que, auferidos os números apenas das escolas federais, os brancos não seriam 72,9%, mas 62% — enquanto, na sociedade, são 52,1%. Ah, então aqueles 72% eram um número de propaganda!
A primeira ilação lógica a se fazer dos dados que o próprio governo abraça como justificadores das cotas é que se tenta impor às universidades públicas um índice de reserva de vagas usando como argumento os números do conjunto dos universitários brasileiros, incluindo as escolas privadas.
Mas isso não é o mais grave, não. O texto do MEC também escolhe o caminho da matemática perturbada pelo proselitismo para se justificar. E produz uma mentira gigantesca.
Diz que, dado o perfil racial dos estudantes que eles próprios usam, que já é distorcido, chegar-se-ia à igualdade apenas em 20 anos. É mentira! Segundo o próprio ministério, em 2000, os negros eram 2,2% dos estudantes universitários, e 3,6% em 2003 — quando ainda não havia cotas no país. Tomemos uma base 100 como referência: no intervalo dado, o número de negros na universidade cresceu, então, 63,63%!!!
Mantido constante esse crescimento (e quem adota a constante é o MEC, não eu), passariam, em igual intervalo, a ser 5,89% em 2006 (contra uma presença de 5,9% na sociedade brasileira) e 9,6% em 2009. Em nome da justiça bastarda de Tarso, teria chegado a hora de arrancar negros das universidades.
A mentira se estende ao caso dos pardos. Segundo o tal questionário, eram 13,6% em 2000 e 20,5% em 2003. Logo, cresceram 50,73%. Mantendo-se a lógica dos intervalos, seriam 30,89% em 2006 e 46,57% em 2009 — hoje, são 41,4% da população. Vale dizer: depois de o Brasil ter de arrancar os pretos das universidades (em nome da justiça racial, é claro), terá chegado a hora, em 2009, de expulsar a super-representação de pardos.
E, amigos, sim, vamos nos preparar para garantir cotas para os brancos. Como? Segundo os números mentirosos do MEC, eles eram 80,5% em 2000 e 72,9% em 2003. Logo, no período, encolheram 9,44%. Encolhendo assim, sempre na mesma toada, serão 66,01% em 2006, 59,77% em 2009, 54,12% em 2012 e 49,03% em 2015. Como são 52,1% da população, tudo o mais constante, teremos de garantir cotas para os brancos.
Sim, vocês repararam, não é? Os negros já atingiriam a proporção de sua participação na sociedade neste 2006, os pardos, em 2009, mas seria preciso esperar 2012 para que a presença de brancos nos campi fosse compatível com a sua presença na sociedade. Creio que, entre 2009 e 2012, as vagas seria ocupadas por miasmas da burrice militante. A lambança de dados é do MEC, que, não sabendo o que diz, também não sabe fazer conta.
De resto, vejam lá no site deles o quadro que tomo como referência. Os números são obviamente furados. Reparem como os dados de 2001 são a negação da tendência expressa em 2000 e depois em 2002 e 2003. Não servem para nada. O governo deveria ter respeitado o trabalho feito pelo Fonaprace e pela Andifes. Mas está desesperado em busca de argumentos. E seus argumentos não resistem a uma calculadora.
Grande e monumental bobagem
As duas pesquisas, tanto aquela combatida pelo MEC como esta agora usada pelo próprio ministério para se justificar, dão conta da grande farsa que é a imposição de cotas nas universidades brasileiras. Há um problema de mérito, de fundo, já dito tantas vezes, mas que não me furtarei a dizer outra vez: universidade é lugar de produção de conhecimento, de ciência, não de fazer justiça social, que tem de ser alcançada no ensino fundamental e médio, que está na penúria.
Mais: para impor o modelo, o MEC obriga as universidades a fraudar a Constituição, tratando desigualmente os cidadãos. Pior do que tudo isso: tenta-se impor a medida ao arrepio de qualquer número ou dado objetivo, mesmo aqueles que o governo teria para se defender.
Do conjunto do que aqui se diz, quero chamar a atenção para uma questão em particular. Digamos que a matemática do MEC estivesse certa; digamos que as cotas fossem tecnicamente justificadas; digamos que aquela primeira pesquisa contivesse algum viés, digamos tudo isso, e, ainda assim, o governo não poderia ter escolhido o caminho que escolheu: vetou a divulgação de uma pesquisa, usou falsas desculpas; revelou as reais intenções ao combater aqueles dados com outros de seu agrado e, ainda por cima, fez uma leitura absolutamente prejudicada de seus resultados.
A matemática certamente depõe contra o MEC. Mas seu erro principal é mesmo de política.
Blog do Reinaldo Azevedo