- Cartas Marcadas
Rodrigo Constantino
O presidente Lula, interessado somente na sua reeleição, devolveu ao PMDB o comando integral dos Correios. A estatal, que emprega mais de cem mil funcionários, esteve no epicentro do escândalo de corrupção que assolou o governo Lula recentemente. Em troca, o partido de Sarney garante apoio maciço à reeleição de Lula, que no passado considerava o mesmo Sarney o próprio demônio em pessoa. Em política, como vemos, vale tudo pelo poder.
Governo não tem que ser empresário. No modelo de mercado livre, sobrevivem as empresas que melhor atendem a demanda dos consumidores, e essa é a verdadeira função das empresas. Estatais acabam sendo utilizadas como moeda política, palco de infindável corrupção e uso eleitoreiro. Pela própria natureza da estatal, ela será sempre mais ineficiente que a empresa privada. Quem duvida, precisa apenas dar uma olhada nas mudanças de gestão da Usiminas, Vale, CSN, Embraer e Telebrás, além das ferrovias, claro. As mudanças são chocantes. Os consumidores recebem melhores produtos, os empregados aderem ao modelo mais justo e meritocrático da gestão focada no lucro, os acionistas assumem os riscos do negócio e recebem os dividendos por isto, e os cofres públicos ainda aumentam com a maior arrecadação de impostos. Só quem perde com a privatização de uma estatal são os parasitas que vivem de mamatas e privilégios concedidos pelo governo, às custas dos consumidores e pagadores de impostos.
Nos Estados Unidos, país cujo PIB ultrapassa US$ 13 trilhões por ano, existem empresas privadas competindo no setor de serviço de entrega, todas buscando a maximização dos lucros. Por isso funciona tão bem. A Fedex tem um lucro anual acima de US$ 1,5 bilhão, e seu valor de mercado está em US$ 35 bilhões. A empresa emprega menos de 90 mil pessoas. O lucro dos Correios, em contrapartida, não chega a US$ 200 milhões. A UPS lucra quase US$ 4 bilhões por ano, valendo cerca de US$ 90 bilhões em bolsa. A Expeditors lucra mais de US$ 200 milhões e vale quase US$ 12 bilhões. A empresa emprega cerca de 10 mil funcionários, ou uns 10% do quadro de colaboradores dos Correios, gerando, entretanto, um lucro maior. Fora estas, existem várias outras empresas privadas competindo no livre mercado de transporte de cargas genéricas. Alguém realmente acha que o serviço de entregas é melhor no Brasil que nos Estados Unidos?
Os consumidores americanos agradecem esta competição existente entre empresas privadas. Os pagadores de impostos também. Não ficam, como nós brasileiros, à mercê de um monopólio estatal ineficiente e corrupto, usado para fins políticos e cabide de empregos. Entendo que existem bons funcionários nos Correios, mas estes não têm nada a temer em uma eventual privatização. Pelo contrário: serão mais reconhecidos e melhor remunerados. A privatização dos Correios tem que ser para ontem! Não há argumentos lógicos para defender o contrário. Manter a situação atual é garantir que as cartas entregues pelos Correios sejam cartas marcadas com um selo político, onde Lula agrada seu colega Sarney enquanto o povo brasileiro paga a conta.
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