MAOMETANOS BOMBA - Na mente de um
Enviado: 19 Nov 2005, 20:49
A crença na vida após a morte também é fundamental
Na mente de um homem-bomba
Ideologia, psicologia e o desejo de expulsar estrangeiros de sua terra explicam, segundo especialistas, o que leva homens e mulheres a usar seu corpo como arma de martírio em ataques suicidas
- Se não podemos viver como iguais, ao menos podemos morrer como iguais. Enquanto houver injustiça, alguém precisa se sacrificar. - Não há sacrifício na vingança. Se você mata, não há diferença entre o invasor e a vítima. - Pelo menos na morte temos o paraíso. - Não tem paraíso. Isso só existe na tua cabeça. - Prefiro ter o paraíso na minha cabeça do que viver nesse inferno.
O diálogo acima é parte do filme palestino Paradise Now (algo como Paraíso Agora) e mostra os conflitos na mente de um homem-bomba a caminho do "martírio". O cenário é a Cisjordânia, mas poderia ser o Iraque, a Indonésia, a Rússia, a Índia, o Paquistão ou a Grã-Bretanha.
Entre outras conseqüências, o 11 de Setembro nos EUA popularizou o terrorista suicida no mundo. Depois dos atentados contra as torres gêmeas em Nova York, veio a guerra no Iraque, e atualmente é raro haver um dia em que um homem-bomba não acione seus explosivos em algum canto do país árabe. A maioria das mortes violentas no Iraque - seja de americanos ou de iraquianos - ocorre em um atentado suicida.
Apesar dessa repentina multiplicação, não é fácil desvendar a mente de um homem-bomba. A primeira dificuldade é ter acesso a um. De longe, especialistas e estudiosos do assunto concordam que dois fatores acompanham o suicida em sua decisão de se explodir: a ideologia e a psicologia. Outros somam a esses um terceiro: o patriotismo, ou o desejo de expulsar estrangeiros de seu território. A crença na vida após a morte também é fundamental, como se percebe em outro diálogo de Paradise Now (ainda sem data para estrear no Brasil):
- E o que acontece depois?
- Será recebido por dois anjos.
Mas captar os diálogos reais dos terroristas que se explodem diariamente é outra história. Em julho, a revista americana Time conseguiu conversar com um jovem iraquiano candidato a homem-bomba.
Marwan, como ele se identificou, era um adolescente comum até a invasão dos EUA. Ia bem na escola, ajudava o pai em casa e, apesar de ser sunita, não gostava muito de Saddam Hussein. Quando o ditador caiu e os soldados americanos continuaram no país, ele se irritou. A raiva encontrou vazão quando um grupo de rebeldes passou por sua vizinhança, na cidade de Falluja, convocando insatisfeitos para lutarem contra os americanos.
Marwan se juntou aos rebeldes em abril de 2003, depois de participar de um protesto que foi repelido a tiros por soldados dos EUA. Começou em pequenos grupos, roubando armas de depósitos abandonados e atirando em quem vestisse a farda do inimigo. Aprimorou-se. Afastou-se da família. Resolveu ser um homem-bomba.
Marwan sonhava com a conversão do planeta ao Islã, mas não pretendia ficar vivo para ver isso acontecer. O jovem não revelou os detalhes da operação em que iria morrer, mas deixou claro que sua maior motivação era tornar-se um mártir. Não se sabe se, nos últimos meses, concretizou seus planos.
- Se tiver sorte, meu corpo será vaporizado. Não sobrará nada de mim para ser enterrado - disse à Time.
Os terroristas suicidas costumam ter em comum o fato de não conhecerem detalhes de sua missão até poucos dias antes de a realizarem. Toda a logística de um grande atentado fica a cargo dos comandantes e de especialistas em explosivos.
Homem-bomba garante que todos são voluntários
O governo iraquiano tem uma versão distinta para o elevado número de ataques do tipo. Investigações oficiais teriam revelado que muitos carros-bomba foram acionados por controle remoto, indicando que seu motorista talvez nem soubesse da carga explosiva que carregava.
- Na maioria dos casos, os corpos dos motoristas são encontrados com as mãos amarradas ao volante. Não são voluntários - afirmou o porta-voz do ministério do Interior iraquiano, Adnan al-Juboori.
Marwan nega. Disse que todos são voluntários e refutou até a hipótese de que os suicidas usem alguma substância entorpecente para ter coragem de realizar um ataque:
- Esses homens estão prestes a ver o Criador. Você acha mesmo que eles se encontrariam bêbados ou drogados com Alá?
No caso de Marwan, sua família achou que ele foi longe demais. Mas muitos terroristas suicidas contam, além de tudo, com o apoio dos próprios pais. Foi o caso do palestino Mohammad Farhat, que se explodiu aos 19 anos dentro de um assentamento israelense. Entrevistada pelo jornal jordaniano Jordan Times, sua mãe contou ter falado com o filho momentos antes de ele realizar o ataque. Ela lhe disse:
- Tome cuidado, pense em Deus, preste atenção em tudo a sua volta, se concentre na tarefa, escolha o melhor momento. Seja forte, meu filho, não hesite e ataque o mais forte que puder.
Palestinos e iraquianos têm motivações e alvos distintos. Como indianos e paquistaneses ou como os japoneses camicases da II Guerra Mundial, os primeiros a produzirem ataques suicidas em grande escala. Desde lá, o mundo viu esse tipo de ação na Guerra do Vietnã e no confronto separatista do Sri Lanka. Mas foi no confronto entre israelenses e palestinos e entre iraquianos e americanos que o fenômeno alcançou uma proporção nunca vista. O que também pode ser explicado pela gigantesca diferença no poderio bélico entre os dois lados. É o que atestou outro palestino, Yunis, entrevistado pelo Jordan Times dias antes de se explodir, há três anos:
- Não posso enfrentar um tanque que passa por cima de mim em um segundo. Então uso meu corpo como arma. Eles chamam isso de terrorismo. Eu digo que é defesa pessoal.
Opiniões
Terrorista suicida não identificado, diálogo do filme paradise now
"Prefiro ter o paraíso na minha cabeça do que viver nesse inferno."
Marwan, iraquiano entrevistado pela revista time
"Se eu tiver sorte, meu corpo será vaporizado. Não sobrará nada de mim para ser enterrado."
Yunis, palestino, dias antes de um ataque contra israel
"Eu uso o meu corpo como arma. Eles chamam de terrorismo. Eu digo que é defesa pessoal."
http://zh.clicrbs.com.br
Na mente de um homem-bomba
Ideologia, psicologia e o desejo de expulsar estrangeiros de sua terra explicam, segundo especialistas, o que leva homens e mulheres a usar seu corpo como arma de martírio em ataques suicidas
- Se não podemos viver como iguais, ao menos podemos morrer como iguais. Enquanto houver injustiça, alguém precisa se sacrificar. - Não há sacrifício na vingança. Se você mata, não há diferença entre o invasor e a vítima. - Pelo menos na morte temos o paraíso. - Não tem paraíso. Isso só existe na tua cabeça. - Prefiro ter o paraíso na minha cabeça do que viver nesse inferno.
O diálogo acima é parte do filme palestino Paradise Now (algo como Paraíso Agora) e mostra os conflitos na mente de um homem-bomba a caminho do "martírio". O cenário é a Cisjordânia, mas poderia ser o Iraque, a Indonésia, a Rússia, a Índia, o Paquistão ou a Grã-Bretanha.
Entre outras conseqüências, o 11 de Setembro nos EUA popularizou o terrorista suicida no mundo. Depois dos atentados contra as torres gêmeas em Nova York, veio a guerra no Iraque, e atualmente é raro haver um dia em que um homem-bomba não acione seus explosivos em algum canto do país árabe. A maioria das mortes violentas no Iraque - seja de americanos ou de iraquianos - ocorre em um atentado suicida.
Apesar dessa repentina multiplicação, não é fácil desvendar a mente de um homem-bomba. A primeira dificuldade é ter acesso a um. De longe, especialistas e estudiosos do assunto concordam que dois fatores acompanham o suicida em sua decisão de se explodir: a ideologia e a psicologia. Outros somam a esses um terceiro: o patriotismo, ou o desejo de expulsar estrangeiros de seu território. A crença na vida após a morte também é fundamental, como se percebe em outro diálogo de Paradise Now (ainda sem data para estrear no Brasil):
- E o que acontece depois?
- Será recebido por dois anjos.
Mas captar os diálogos reais dos terroristas que se explodem diariamente é outra história. Em julho, a revista americana Time conseguiu conversar com um jovem iraquiano candidato a homem-bomba.
Marwan, como ele se identificou, era um adolescente comum até a invasão dos EUA. Ia bem na escola, ajudava o pai em casa e, apesar de ser sunita, não gostava muito de Saddam Hussein. Quando o ditador caiu e os soldados americanos continuaram no país, ele se irritou. A raiva encontrou vazão quando um grupo de rebeldes passou por sua vizinhança, na cidade de Falluja, convocando insatisfeitos para lutarem contra os americanos.
Marwan se juntou aos rebeldes em abril de 2003, depois de participar de um protesto que foi repelido a tiros por soldados dos EUA. Começou em pequenos grupos, roubando armas de depósitos abandonados e atirando em quem vestisse a farda do inimigo. Aprimorou-se. Afastou-se da família. Resolveu ser um homem-bomba.
Marwan sonhava com a conversão do planeta ao Islã, mas não pretendia ficar vivo para ver isso acontecer. O jovem não revelou os detalhes da operação em que iria morrer, mas deixou claro que sua maior motivação era tornar-se um mártir. Não se sabe se, nos últimos meses, concretizou seus planos.
- Se tiver sorte, meu corpo será vaporizado. Não sobrará nada de mim para ser enterrado - disse à Time.
Os terroristas suicidas costumam ter em comum o fato de não conhecerem detalhes de sua missão até poucos dias antes de a realizarem. Toda a logística de um grande atentado fica a cargo dos comandantes e de especialistas em explosivos.
Homem-bomba garante que todos são voluntários
O governo iraquiano tem uma versão distinta para o elevado número de ataques do tipo. Investigações oficiais teriam revelado que muitos carros-bomba foram acionados por controle remoto, indicando que seu motorista talvez nem soubesse da carga explosiva que carregava.
- Na maioria dos casos, os corpos dos motoristas são encontrados com as mãos amarradas ao volante. Não são voluntários - afirmou o porta-voz do ministério do Interior iraquiano, Adnan al-Juboori.
Marwan nega. Disse que todos são voluntários e refutou até a hipótese de que os suicidas usem alguma substância entorpecente para ter coragem de realizar um ataque:
- Esses homens estão prestes a ver o Criador. Você acha mesmo que eles se encontrariam bêbados ou drogados com Alá?
No caso de Marwan, sua família achou que ele foi longe demais. Mas muitos terroristas suicidas contam, além de tudo, com o apoio dos próprios pais. Foi o caso do palestino Mohammad Farhat, que se explodiu aos 19 anos dentro de um assentamento israelense. Entrevistada pelo jornal jordaniano Jordan Times, sua mãe contou ter falado com o filho momentos antes de ele realizar o ataque. Ela lhe disse:
- Tome cuidado, pense em Deus, preste atenção em tudo a sua volta, se concentre na tarefa, escolha o melhor momento. Seja forte, meu filho, não hesite e ataque o mais forte que puder.
Palestinos e iraquianos têm motivações e alvos distintos. Como indianos e paquistaneses ou como os japoneses camicases da II Guerra Mundial, os primeiros a produzirem ataques suicidas em grande escala. Desde lá, o mundo viu esse tipo de ação na Guerra do Vietnã e no confronto separatista do Sri Lanka. Mas foi no confronto entre israelenses e palestinos e entre iraquianos e americanos que o fenômeno alcançou uma proporção nunca vista. O que também pode ser explicado pela gigantesca diferença no poderio bélico entre os dois lados. É o que atestou outro palestino, Yunis, entrevistado pelo Jordan Times dias antes de se explodir, há três anos:
- Não posso enfrentar um tanque que passa por cima de mim em um segundo. Então uso meu corpo como arma. Eles chamam isso de terrorismo. Eu digo que é defesa pessoal.
Opiniões
Terrorista suicida não identificado, diálogo do filme paradise now
"Prefiro ter o paraíso na minha cabeça do que viver nesse inferno."
Marwan, iraquiano entrevistado pela revista time
"Se eu tiver sorte, meu corpo será vaporizado. Não sobrará nada de mim para ser enterrado."
Yunis, palestino, dias antes de um ataque contra israel
"Eu uso o meu corpo como arma. Eles chamam de terrorismo. Eu digo que é defesa pessoal."
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