"'The Dark Side of The Moon'
"'The Dark Side of The Moon'
Le Monde
"'The Dark Side of The Moon' não é o meu disco predileto do Pink Floyd", diz Roger Waters
Em entrevista, Roger Waters, baixista, compositor e fundador do Pink Floyd, fala dos discos do grupo e de Syd Barrett, o "diamante louco", o seu fundador e inspirador, que morreu em 7 de julho passado, aos 60 anos
Bruno Lesprit
O baixista e autor-compositor do Pink Floyd, Roger Waters, 61, se apresentou nesta sexta-feira (14/07) perto de Paris. No programa do concerto, a integralidade do álbum o mais célebre do grupo britânico, "The Dark Side of The Moon" (1973). Nele, estão incluídos, entre outros, o famoso hit em forma de caixa registradora, "Money", e a balada "orgástica" para os casais dos anos 70, "The Great Gig in the Sky". O concerto foi realizado em Magny-Cours (departamento da Nièvre, a sudoeste da capital), para as comemorações do centenário do Grande Prêmio da França de Fórmula 1. Nick Mason, o baterista do Pink Floyd, que foi ressuscitado "sem previsão de continuar" em 2 de julho de 2005, por ocasião do "Live 8", um concerto planetário e humanitário, participou do espetáculo.
A seguir, trechos da entrevista que Roger Waters, uma figura central do Pink Floyd, concedeu a "Le Monde" nessa ocasião.
Le Monde - O álbum "The Dark Side of The Moon" seria a "referência
absoluta" em termos de qualidade de áudio...
Roger Waters - Eu sei evidentemente que os vendedores de equipamentos de som utilizavam este disco para testar os alto-falantes e os efeitos de estéreo. Mas o aspecto tecnológico nunca me interessou. Eu me concentro apenas na composição das músicas. Também disseram que "The Dark Side of The Moon" era inspirado em "O Mágico de Oz" (a música do álbum e as imagens do filme estariam sincronizadas). Isso é pura invencionice, uma bonita fábula.
Le Monde - O programa deste show em Magny-Cours apresenta "The Dark Side of the Moon" como sendo o primeiro álbum conceitual da história do rock. Não seria antes "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos Beatles, que foi gravado seis anos antes?
Roger Waters - "Sgt Pepper's" é um álbum conceitual? Qual seria então o seu argumento, o tema que lhe serve de conceito?
Le Monde - As músicas estão encadeadas entre elas e eles inventam uma fanfarra imaginária...
Roger Waters - Se for só isso, é um pouco magro. Mas isso não diminui em nada a importância dos Beatles, que foram o grupo o mais influente da minha geração, pelas suas inovações artísticas. Eu me lembro de ter gravado o primeiro álbum do Pink Floyd, "The Piper at The Gates of Dawn" (1967), nos estúdio de Abbey Road, em Londres. Nós éramos vizinhos, e eles estavam trabalhando justamente no álbum "Sgt Pepper's".
Havia naquela época uma emulação coletiva na Inglaterra, com todos aqueles estudantes em artes - eu mesmo estudei a arquitetura - que fundavam grupos de rock. Assim surgiram o Soft Machine, o Pink Floyd, entre outros.
Le Monde - Seria "The Dark Side" o seu álbum predileto do Pink Floyd?
Roger Waters - Não, é "The Wall" (1979), que nos gravamos na França. Ele é a síntese de todos os discos precedentes. Mas eu não gostei do filme de Alan Parker. Ele é um bom cineasta, conforme ele comprovou com "Mississippi em Chamas" (1987), mas "The Wall" é um filme sombrio demais e próximo demais, na sua forma, do videoclipe. O que eu mais gostei foi dos desenhos animados de Gerald Scarfe.
Le Monde - Até que ponto Syd Barrett, que acaba de morrer, inspirou, depois da sua saída do grupo, os álbuns do Pink Floyd?
Roger Waters - O tema da esquizofrenia impregna quase todos os álbuns do Pink Floyd, de "The Dark Side of The Moon" a "Wish You Were Here" (1975), "Animals" (1977) e "The Wall". Mas apenas a música "Shine on You Crazy Diamond" foi composta deliberadamente em homenagem a Syd, que foi fundador do Pink Floyd. Ele era um homem extremamente inteligente, culto e sensível.
Infelizmente, ele era jovem demais e sem dúvida não era capaz de se adequar ao "star system". O LSD em nada ajudou a resolver essa dificuldade; ele foi uma vítima dos excessos da época. Nós não podíamos continuar com ele, pois isso o teria prejudicado ainda mais. Os membros do grupo ficaram em contato com Syd, principalmente David Gilmour, que produziu seus álbuns solo, "The Madcap Laughs" e "Barrett" (ambos de 1970).
Le Monde - Junto com o guitarrista David Gilmour, o senhor compartilha nas estradas, nas suas turnês, a herança do Pink Floyd. O senhor já assistiu a um dos seus shows?
Roger Waters - Nunca. Mas eu ouvi, por acaso, o seu álbum ao vivo, "The Delicate Sound of Thunder" [de fato um disco ao vivo do Pink Floyd, então liderado por Gilmour, de 1988, com versões de sucessos antigos do grupo], que eu achei medíocre. Dave é um excelente guitarrista e um bom cantor, mas, quando se trata do Pink Floyd, ele não entende o que ele está interpretando, uma vez que eu sou o autor das letras.
Le Monde - O senhor está voltando à Borgonha, mais de trinta anos depois da passagem da turnê "The Dark Side of The Moon" em Dijon. Quais recordações o senhor conservou desta época?
Roger Waters - Nenhuma. Na época, eu fumava - cigarros de maconha -, e eles atacam a memória. Eu nunca fui atraído pelas drogas mais pesadas. O dramático exemplo de Syd Barrett me dissuadiu de tentar a experiência.
Nós tocamos em Magny-Cours cerca de quinze músicas, a integralidade de "Dark Side" e mais algumas novidades. O grupo inclui o guitarrista Andy Fairweather-Low, o meu filho Harry e, para alguns números, Nick Mason (baterista do Pink Floyd), que se diz feliz por estar aqui, uma vez que ele é piloto de competição.
Le Monde - Muitos descrevem o Radiohead como sendo o herdeiro do Pink Floyd. O que acha disso?
Roger Waters - Eu ouvi um disco desse grupo, "O.K. Computer", do qual eu ouvira falar mil maravilhas. Mas eu não fiquei nem um pouco impressionado. É muito sombrio, e a voz de Thom Yorke é chorada demais. Na maioria dos casos, a música atual me deixa totalmente indiferente. Prefiro ouvir antes (a ópera) "Norma" (de Vincenzo Bellini), cantado por Maria Callas.
"'The Dark Side of The Moon' não é o meu disco predileto do Pink Floyd", diz Roger Waters
Em entrevista, Roger Waters, baixista, compositor e fundador do Pink Floyd, fala dos discos do grupo e de Syd Barrett, o "diamante louco", o seu fundador e inspirador, que morreu em 7 de julho passado, aos 60 anos
Bruno Lesprit
O baixista e autor-compositor do Pink Floyd, Roger Waters, 61, se apresentou nesta sexta-feira (14/07) perto de Paris. No programa do concerto, a integralidade do álbum o mais célebre do grupo britânico, "The Dark Side of The Moon" (1973). Nele, estão incluídos, entre outros, o famoso hit em forma de caixa registradora, "Money", e a balada "orgástica" para os casais dos anos 70, "The Great Gig in the Sky". O concerto foi realizado em Magny-Cours (departamento da Nièvre, a sudoeste da capital), para as comemorações do centenário do Grande Prêmio da França de Fórmula 1. Nick Mason, o baterista do Pink Floyd, que foi ressuscitado "sem previsão de continuar" em 2 de julho de 2005, por ocasião do "Live 8", um concerto planetário e humanitário, participou do espetáculo.
A seguir, trechos da entrevista que Roger Waters, uma figura central do Pink Floyd, concedeu a "Le Monde" nessa ocasião.
Le Monde - O álbum "The Dark Side of The Moon" seria a "referência
absoluta" em termos de qualidade de áudio...
Roger Waters - Eu sei evidentemente que os vendedores de equipamentos de som utilizavam este disco para testar os alto-falantes e os efeitos de estéreo. Mas o aspecto tecnológico nunca me interessou. Eu me concentro apenas na composição das músicas. Também disseram que "The Dark Side of The Moon" era inspirado em "O Mágico de Oz" (a música do álbum e as imagens do filme estariam sincronizadas). Isso é pura invencionice, uma bonita fábula.
Le Monde - O programa deste show em Magny-Cours apresenta "The Dark Side of the Moon" como sendo o primeiro álbum conceitual da história do rock. Não seria antes "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos Beatles, que foi gravado seis anos antes?
Roger Waters - "Sgt Pepper's" é um álbum conceitual? Qual seria então o seu argumento, o tema que lhe serve de conceito?
Le Monde - As músicas estão encadeadas entre elas e eles inventam uma fanfarra imaginária...
Roger Waters - Se for só isso, é um pouco magro. Mas isso não diminui em nada a importância dos Beatles, que foram o grupo o mais influente da minha geração, pelas suas inovações artísticas. Eu me lembro de ter gravado o primeiro álbum do Pink Floyd, "The Piper at The Gates of Dawn" (1967), nos estúdio de Abbey Road, em Londres. Nós éramos vizinhos, e eles estavam trabalhando justamente no álbum "Sgt Pepper's".
Havia naquela época uma emulação coletiva na Inglaterra, com todos aqueles estudantes em artes - eu mesmo estudei a arquitetura - que fundavam grupos de rock. Assim surgiram o Soft Machine, o Pink Floyd, entre outros.
Le Monde - Seria "The Dark Side" o seu álbum predileto do Pink Floyd?
Roger Waters - Não, é "The Wall" (1979), que nos gravamos na França. Ele é a síntese de todos os discos precedentes. Mas eu não gostei do filme de Alan Parker. Ele é um bom cineasta, conforme ele comprovou com "Mississippi em Chamas" (1987), mas "The Wall" é um filme sombrio demais e próximo demais, na sua forma, do videoclipe. O que eu mais gostei foi dos desenhos animados de Gerald Scarfe.
Le Monde - Até que ponto Syd Barrett, que acaba de morrer, inspirou, depois da sua saída do grupo, os álbuns do Pink Floyd?
Roger Waters - O tema da esquizofrenia impregna quase todos os álbuns do Pink Floyd, de "The Dark Side of The Moon" a "Wish You Were Here" (1975), "Animals" (1977) e "The Wall". Mas apenas a música "Shine on You Crazy Diamond" foi composta deliberadamente em homenagem a Syd, que foi fundador do Pink Floyd. Ele era um homem extremamente inteligente, culto e sensível.
Infelizmente, ele era jovem demais e sem dúvida não era capaz de se adequar ao "star system". O LSD em nada ajudou a resolver essa dificuldade; ele foi uma vítima dos excessos da época. Nós não podíamos continuar com ele, pois isso o teria prejudicado ainda mais. Os membros do grupo ficaram em contato com Syd, principalmente David Gilmour, que produziu seus álbuns solo, "The Madcap Laughs" e "Barrett" (ambos de 1970).
Le Monde - Junto com o guitarrista David Gilmour, o senhor compartilha nas estradas, nas suas turnês, a herança do Pink Floyd. O senhor já assistiu a um dos seus shows?
Roger Waters - Nunca. Mas eu ouvi, por acaso, o seu álbum ao vivo, "The Delicate Sound of Thunder" [de fato um disco ao vivo do Pink Floyd, então liderado por Gilmour, de 1988, com versões de sucessos antigos do grupo], que eu achei medíocre. Dave é um excelente guitarrista e um bom cantor, mas, quando se trata do Pink Floyd, ele não entende o que ele está interpretando, uma vez que eu sou o autor das letras.
Le Monde - O senhor está voltando à Borgonha, mais de trinta anos depois da passagem da turnê "The Dark Side of The Moon" em Dijon. Quais recordações o senhor conservou desta época?
Roger Waters - Nenhuma. Na época, eu fumava - cigarros de maconha -, e eles atacam a memória. Eu nunca fui atraído pelas drogas mais pesadas. O dramático exemplo de Syd Barrett me dissuadiu de tentar a experiência.
Nós tocamos em Magny-Cours cerca de quinze músicas, a integralidade de "Dark Side" e mais algumas novidades. O grupo inclui o guitarrista Andy Fairweather-Low, o meu filho Harry e, para alguns números, Nick Mason (baterista do Pink Floyd), que se diz feliz por estar aqui, uma vez que ele é piloto de competição.
Le Monde - Muitos descrevem o Radiohead como sendo o herdeiro do Pink Floyd. O que acha disso?
Roger Waters - Eu ouvi um disco desse grupo, "O.K. Computer", do qual eu ouvira falar mil maravilhas. Mas eu não fiquei nem um pouco impressionado. É muito sombrio, e a voz de Thom Yorke é chorada demais. Na maioria dos casos, a música atual me deixa totalmente indiferente. Prefiro ouvir antes (a ópera) "Norma" (de Vincenzo Bellini), cantado por Maria Callas.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
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Re.: "
É óbvio que ele diria The Wall, já que é o único disco cujos direitos são de sua propriedade.
Agora está aí um cara que gosta mais de criticar as coisas que eu. Sr. Roger Waters.
Agora está aí um cara que gosta mais de criticar as coisas que eu. Sr. Roger Waters.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem
Re.: "
Também não acho "Dark Side of the Moon" o melhor disco do Pink Floyd, mas "The Wall" está ainda mais longe de ser.
Outro motivo para ele achar "The Wall" o melhor é que é nele que ele conta ao mundo o fato de ser "uma vítima da 2ª Guerra".
Outro motivo para ele achar "The Wall" o melhor é que é nele que ele conta ao mundo o fato de ser "uma vítima da 2ª Guerra".
Quidquid latine dictum sit, altum viditur.
Re: Re.: "
Snake escreveu:Outro motivo para ele achar "The Wall" o melhor é que é nele que ele conta ao mundo o fato de ser "uma vítima da 2ª Guerra".
Não é em "The Final Cut" onde isso é mais acentuado?
Re.: "
The Dark Side Of The Moon é o melhor e pronto.
Re.: "
Nem ele nem eu achamos.
- Nospheratu
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