EUA afinal acordam do pesadelo bushista
Enviado: 15 Jul 2006, 16:08
Tribuna da Imprensa
EUA afinal acordam do pesadelo bushista
É fácil entender, aqui nos EUA, porque os americanos, numa margem de 3 por 1, declaram-se fartos do atual Congresso controlado pelos republicanos e esperam ansiosos o restabelecimento da maioria perdida há 12 anos pelos democratas. A útima pesquisa com esses dados foi revelada ontem pela Associated Press e a Ipsos, mas a tendência nesse sentido já estava bem clara há um par de meses.
Em 1994, quando o Congresso foi tomado pela revolução conservadora (Contrato com a América) do Partido Republicano, sob a liderança de Newt Gingrich, o presidente Bill Clinton estava no segundo ano do primeiro mandato. Uma sucessão de escândalos de corrupção logo varreria Gingrich da presidência da Câmara, enquanto Clinton era reeleito e conseguia derrotar o complô do impeachment.
No desdobramento, os republicanos afinal retomaram a Casa Branca com a fraude eleitoral da Flórida - o que permitiu a George W. Bush faturar a histeria patrioteira em seguida ao 11/9 e inventar guerras no Afeganistão e Iraque, mantendo os EUA no clima de medo que favoreceu a reeleição. Só agora o país acorda para a mentirada oficial, rebaixa o ibope presidencial e radicaliza o repúdio ao Congresso republicano.
Trilha de fraude e vingança
Depois de desmentidas, uma a uma, as razões invocadas para a guerra do Iraque - onde 2.500 soldados dos EUA já morreram e 20 a 30 mil foram reduzidos pelos ferimentos graves à condição de incapacitados -, os americanos finalmente percebem a fraude do conjunto de promessas do presidente republicano, da mágica grotesca do petróleo barato à fantasia ridícula de um "tsunami democrático" no Oriente Médio.
Como costumava alertar o primeiro dos republicanos, Abraham Lincoln, pode ser possível enganar todo o povo durante parte do tempo, ou parte do povo todo o tempo, mas não todo o povo durante todo o tempo. Daí o compreensível temor de Bush, na sua atual fase de "pato manco", de sair da Casa Branca em 2008 não com a fantasia de herói, usada depois do 11/9, mas como o governante despreparado que sempre foi.
Neste momento as fraudes e trapalhadas do governo Bush reaparecem a cada dia nas primeiras páginas e no horário nobre. Esta semana, por exemplo, o vice Dick Cheney - com o ex-chefe de gabinete Lewis (Scooter) Libby - e o ex-alto assessor do presidente, Karl Rove, passaram a ser processados por Valerie Plame, cuja identidade de agente da CIA eles revelaram numa operação de vingança da Casa Branca.
A lei republicana de Reagan
O caso Plame é sugestivo mas parece corriqueiro. Jornais publicaram a notícia de que ela era especialista em armas de destruição em massa (ADM) no setor clandestino da CIA. Tal tipo de revelação tornou-se crime quando o presidente Ronald Reagan sancionou lei nesse sentido, proposta pelos próprios republicanos. Isso porque quando agentes são identificados deixam de ter utilidade para a CIA.
Foi o que aconteceu com Valerie Plame. Em coincidência reveladora, na véspera da publicação da notícia o marido dela, ex-embaixador Joseph Wilson, escrevera no "New York Times" um artigo mostrando que o presidente Bush mentira em janeiro de 2003, ao afirmar em discurso no Congresso que Saddam Hussein tinha tentado comprar urânio na África para programa de armas nucleares do Iraque.
A mentira tinha por objetivo amedrontar os americanos e justificar a guerra desencadeada semanas depois. Daí a fúria da vingança oficial. Cheney, Libby e Rove "plantaram" a notícia nos jornais como uma espécie de aviso a qualquer um que estivesse tentado a criticar o presidente. Na sua atual ação cível, Plame reclama indenização por ter perdido o emprego e a carreira devido à vingança do governo.
Atraindo e exportando o terror
Ela tem boas chances de ganhar a ação, já que o jornalista que primeiro publicou a notícia, o ultraconservador Bob Novak, já admitiu ter recebido a informação de Rove e também de Libby (que teve autorização explícita de Cheney para repassá-la). Mas essa é apenas uma entre as numerosas trapalhadas do governo Bush. Outras pipocam intermitentemente, aqui e ali, num processo incontrolável.
Detalhes novos das torpezas relacionadas à fantasia bushista das ADM do Iraque tornaram-se até monótonos. Depois que a versão ficou amplamente desmentida, em seguida à invasão americana, por técnicos e especialistas em armas, Bush passou a vender ao país, com pompa e circunstância, a outra fraude - de que, devido à guerra, o Iraque tornou-se um farol democrático a iluminar todo o Oriente Médio.
Na verdade, as ditaduras da região ficaram piores - são mais sanguinárias. E o Iraque tornou-se um ímã capaz de atrair terroristas do mundo inteiro, enquanto as facções sunita e xiita enfrentam-se diariamente em explosões sectárias, massacres, execuções sumárias de esquadrões da morte militares e policiais. Em lugar do tsunami democrático, há um país conflagrado, que exporta para os vizinhos o ódio aos EUA.
EUA afinal acordam do pesadelo bushista
É fácil entender, aqui nos EUA, porque os americanos, numa margem de 3 por 1, declaram-se fartos do atual Congresso controlado pelos republicanos e esperam ansiosos o restabelecimento da maioria perdida há 12 anos pelos democratas. A útima pesquisa com esses dados foi revelada ontem pela Associated Press e a Ipsos, mas a tendência nesse sentido já estava bem clara há um par de meses.
Em 1994, quando o Congresso foi tomado pela revolução conservadora (Contrato com a América) do Partido Republicano, sob a liderança de Newt Gingrich, o presidente Bill Clinton estava no segundo ano do primeiro mandato. Uma sucessão de escândalos de corrupção logo varreria Gingrich da presidência da Câmara, enquanto Clinton era reeleito e conseguia derrotar o complô do impeachment.
No desdobramento, os republicanos afinal retomaram a Casa Branca com a fraude eleitoral da Flórida - o que permitiu a George W. Bush faturar a histeria patrioteira em seguida ao 11/9 e inventar guerras no Afeganistão e Iraque, mantendo os EUA no clima de medo que favoreceu a reeleição. Só agora o país acorda para a mentirada oficial, rebaixa o ibope presidencial e radicaliza o repúdio ao Congresso republicano.
Trilha de fraude e vingança
Depois de desmentidas, uma a uma, as razões invocadas para a guerra do Iraque - onde 2.500 soldados dos EUA já morreram e 20 a 30 mil foram reduzidos pelos ferimentos graves à condição de incapacitados -, os americanos finalmente percebem a fraude do conjunto de promessas do presidente republicano, da mágica grotesca do petróleo barato à fantasia ridícula de um "tsunami democrático" no Oriente Médio.
Como costumava alertar o primeiro dos republicanos, Abraham Lincoln, pode ser possível enganar todo o povo durante parte do tempo, ou parte do povo todo o tempo, mas não todo o povo durante todo o tempo. Daí o compreensível temor de Bush, na sua atual fase de "pato manco", de sair da Casa Branca em 2008 não com a fantasia de herói, usada depois do 11/9, mas como o governante despreparado que sempre foi.
Neste momento as fraudes e trapalhadas do governo Bush reaparecem a cada dia nas primeiras páginas e no horário nobre. Esta semana, por exemplo, o vice Dick Cheney - com o ex-chefe de gabinete Lewis (Scooter) Libby - e o ex-alto assessor do presidente, Karl Rove, passaram a ser processados por Valerie Plame, cuja identidade de agente da CIA eles revelaram numa operação de vingança da Casa Branca.
A lei republicana de Reagan
O caso Plame é sugestivo mas parece corriqueiro. Jornais publicaram a notícia de que ela era especialista em armas de destruição em massa (ADM) no setor clandestino da CIA. Tal tipo de revelação tornou-se crime quando o presidente Ronald Reagan sancionou lei nesse sentido, proposta pelos próprios republicanos. Isso porque quando agentes são identificados deixam de ter utilidade para a CIA.
Foi o que aconteceu com Valerie Plame. Em coincidência reveladora, na véspera da publicação da notícia o marido dela, ex-embaixador Joseph Wilson, escrevera no "New York Times" um artigo mostrando que o presidente Bush mentira em janeiro de 2003, ao afirmar em discurso no Congresso que Saddam Hussein tinha tentado comprar urânio na África para programa de armas nucleares do Iraque.
A mentira tinha por objetivo amedrontar os americanos e justificar a guerra desencadeada semanas depois. Daí a fúria da vingança oficial. Cheney, Libby e Rove "plantaram" a notícia nos jornais como uma espécie de aviso a qualquer um que estivesse tentado a criticar o presidente. Na sua atual ação cível, Plame reclama indenização por ter perdido o emprego e a carreira devido à vingança do governo.
Atraindo e exportando o terror
Ela tem boas chances de ganhar a ação, já que o jornalista que primeiro publicou a notícia, o ultraconservador Bob Novak, já admitiu ter recebido a informação de Rove e também de Libby (que teve autorização explícita de Cheney para repassá-la). Mas essa é apenas uma entre as numerosas trapalhadas do governo Bush. Outras pipocam intermitentemente, aqui e ali, num processo incontrolável.
Detalhes novos das torpezas relacionadas à fantasia bushista das ADM do Iraque tornaram-se até monótonos. Depois que a versão ficou amplamente desmentida, em seguida à invasão americana, por técnicos e especialistas em armas, Bush passou a vender ao país, com pompa e circunstância, a outra fraude - de que, devido à guerra, o Iraque tornou-se um farol democrático a iluminar todo o Oriente Médio.
Na verdade, as ditaduras da região ficaram piores - são mais sanguinárias. E o Iraque tornou-se um ímã capaz de atrair terroristas do mundo inteiro, enquanto as facções sunita e xiita enfrentam-se diariamente em explosões sectárias, massacres, execuções sumárias de esquadrões da morte militares e policiais. Em lugar do tsunami democrático, há um país conflagrado, que exporta para os vizinhos o ódio aos EUA.