Cresce o racismo na Argentina
Enviado: 18 Jul 2006, 14:08
El País
18/07/2006
Cresce o racismo na Argentina
Relatório da comunidade judia indica que os atos de anti-semitismo aumentaram nos últimos anos
Jorge Marirrodriga
em Buenos Aires
Nas ruas de Buenos Aires não é difícil encontrar edifícios em cujas calçadas foram instalados pilares para impedir que veículos estacionem diante deles.
Esses obstáculos são uma forma de proteção, mas ao mesmo tempo indicam que muitos desses imóveis estão relacionados à comunidade judaica. A Argentina comemora hoje o 12º aniversário do pior atentado de sua história: a explosão da Mutual Judia Argentina (AMIA), que custou a vida de 84 pessoas. Num país em que os atos racistas aumentam a cada ano, apesar dos esforços das autoridades, várias instituições - meios de comunicação, escolas, a Igreja Católica - decidiram cercar-se por um dia desses pilares e sentir-se "marcados".
"Um dos muitos estigmas deixados por esse terrível fato foi a necessidade de instalar barreiras, que, em caráter de defesas, podemos encontrar nas entidades da comunidade judia. No início essas construções causaram estupor, mas hoje não assombram mais ninguém", explica Mariela Ivanier, assessora de imprensa da AMIA.
Segundo um relatório elaborado pela DAIA, o organismo que representa a comunidade judia argentina, 2005 foi o o ano em que se registraram mais fatos de anti-semitismo dos últimos oito, ocorrendo um notável aumento - quase o dobro - em relação aos anos anteriores. Esses fatos vão desde o aparecimento de grafites nos edifícios - do tipo "aqui mora um judeu, não o queremos mais no bairro" -, até a agressão física. Entre estas destaca-se a surra que três skinheads deram em um jovem num bairro central de Buenos Aires. Um juiz condenou os agressores a visitar com seus pais o Museu do Holocausto na capital argentina. No outro extremo, depois de quatro anos de processo, um homem que agrediu um idoso sobrevivente do holocausto aos gritos de "deveriam ter matado mais judeus" recebeu apenas uma condenação por lesões, embora posteriormente tenha sido acrescentado um agravante de discriminação racial.
"Deveria haver uma vontade política decidida que preveja a revisão dos conteúdos educativos", salienta Mario Feferbaun, presidente da Fundação Memória do Holocausto, partidário da criação de programas para os educadores em temas de direitos humanos e de discriminação, "e de que sejam feitos relatórios regulares sobre anti-semitismo, islamofobia, discriminação de ciganos, aborígines e minorias religiosas".
Os ataques racistas não são dirigidos somente à comunidade judia - cerca de 250 mil pessoas em Buenos Aires -, mas também a outras, como a coreana, a chinesa e a cigana. Tudo isso em uma sociedade composta majoritariamente por descendentes de imigrantes. São especialmente preocupantes as afirmações como a do líder do poderoso sindicato de caminhoneiros, Hugo Moyano, que pediu o boicote aos supermercados de propriedade de orientais, e, para criticar a estes, atacou judeus, "galegos" - espanhóis e seus descendentes - e "tanos" - italianos e seus descendentes. Depois da comoção causada por suas declarações, Moyano anunciou que se desculparia, mas isso nunca aconteceu.
Os meios de comunicação argentinos denunciaram o ressurgimento da literatura racista e especialmente a difusão de "Mein Kampf", o livro em que Adolf Hitler assentou as bases da ideologia nazista. "É muito mais que um livro, é o suporte do nazismo e sua difusão deveria ser proibida", afirma Jorge Kirszebaum, presidente da DAIA.
O governo de Néstor Kirchner adotou medidas concretas como gestos de apoio para eliminar qualquer mensagem ambígua em relação ao racismo.
Entre estes destacam-se a revogação pública de uma diretriz secreta de 1938 que custou a vida de milhares de judeus argentinos sob o regime nazista alemão, a retirada de um monumento aos funcionários que aplicaram essas diretrizes e a constante presença de membros do governo em atos de condenação ao racismo.
18/07/2006
Cresce o racismo na Argentina
Relatório da comunidade judia indica que os atos de anti-semitismo aumentaram nos últimos anos
Jorge Marirrodriga
em Buenos Aires
Nas ruas de Buenos Aires não é difícil encontrar edifícios em cujas calçadas foram instalados pilares para impedir que veículos estacionem diante deles.
Esses obstáculos são uma forma de proteção, mas ao mesmo tempo indicam que muitos desses imóveis estão relacionados à comunidade judaica. A Argentina comemora hoje o 12º aniversário do pior atentado de sua história: a explosão da Mutual Judia Argentina (AMIA), que custou a vida de 84 pessoas. Num país em que os atos racistas aumentam a cada ano, apesar dos esforços das autoridades, várias instituições - meios de comunicação, escolas, a Igreja Católica - decidiram cercar-se por um dia desses pilares e sentir-se "marcados".
"Um dos muitos estigmas deixados por esse terrível fato foi a necessidade de instalar barreiras, que, em caráter de defesas, podemos encontrar nas entidades da comunidade judia. No início essas construções causaram estupor, mas hoje não assombram mais ninguém", explica Mariela Ivanier, assessora de imprensa da AMIA.
Segundo um relatório elaborado pela DAIA, o organismo que representa a comunidade judia argentina, 2005 foi o o ano em que se registraram mais fatos de anti-semitismo dos últimos oito, ocorrendo um notável aumento - quase o dobro - em relação aos anos anteriores. Esses fatos vão desde o aparecimento de grafites nos edifícios - do tipo "aqui mora um judeu, não o queremos mais no bairro" -, até a agressão física. Entre estas destaca-se a surra que três skinheads deram em um jovem num bairro central de Buenos Aires. Um juiz condenou os agressores a visitar com seus pais o Museu do Holocausto na capital argentina. No outro extremo, depois de quatro anos de processo, um homem que agrediu um idoso sobrevivente do holocausto aos gritos de "deveriam ter matado mais judeus" recebeu apenas uma condenação por lesões, embora posteriormente tenha sido acrescentado um agravante de discriminação racial.
"Deveria haver uma vontade política decidida que preveja a revisão dos conteúdos educativos", salienta Mario Feferbaun, presidente da Fundação Memória do Holocausto, partidário da criação de programas para os educadores em temas de direitos humanos e de discriminação, "e de que sejam feitos relatórios regulares sobre anti-semitismo, islamofobia, discriminação de ciganos, aborígines e minorias religiosas".
Os ataques racistas não são dirigidos somente à comunidade judia - cerca de 250 mil pessoas em Buenos Aires -, mas também a outras, como a coreana, a chinesa e a cigana. Tudo isso em uma sociedade composta majoritariamente por descendentes de imigrantes. São especialmente preocupantes as afirmações como a do líder do poderoso sindicato de caminhoneiros, Hugo Moyano, que pediu o boicote aos supermercados de propriedade de orientais, e, para criticar a estes, atacou judeus, "galegos" - espanhóis e seus descendentes - e "tanos" - italianos e seus descendentes. Depois da comoção causada por suas declarações, Moyano anunciou que se desculparia, mas isso nunca aconteceu.
Os meios de comunicação argentinos denunciaram o ressurgimento da literatura racista e especialmente a difusão de "Mein Kampf", o livro em que Adolf Hitler assentou as bases da ideologia nazista. "É muito mais que um livro, é o suporte do nazismo e sua difusão deveria ser proibida", afirma Jorge Kirszebaum, presidente da DAIA.
O governo de Néstor Kirchner adotou medidas concretas como gestos de apoio para eliminar qualquer mensagem ambígua em relação ao racismo.
Entre estes destacam-se a revogação pública de uma diretriz secreta de 1938 que custou a vida de milhares de judeus argentinos sob o regime nazista alemão, a retirada de um monumento aos funcionários que aplicaram essas diretrizes e a constante presença de membros do governo em atos de condenação ao racismo.