Entrevista com Al Gore
Enviado: 22 Jul 2006, 11:15
Der Spiegel
Entrevista com Al Gore: "Já estou envolvido em uma campanha"
Andreas Borcholte e Martin Wolf
O ex vice-presidente americano Al Gore fala sobre seu documentário "Uma Verdade Inconveniente" [An Inconvenient Truth], sua batalha contra o aquecimento global e os rumores de sua volta a política na corrida para a Casa Branca em 2008.
Spiegel - Senhor Gore, que tipo de carro o senhor dirige?
Al Gore - Cerca de um ano atrás compramos um híbrido, mas eu nao dirijo muito. Mudamos todo o nosso estilo de vida. Tomamos a decisao de ser "neutros em carbono" e eliminar qualquer contribuiçao de CO2 ao meio ambiente. Até mesmo "Uma Verdade Inconveniente" foi produzido em parte usando energias alternativas, livres de carbono. A Paramount também tomou a decisao de que a turne e as atividades promocionais fossem feitas de maneira neutra em carbono.
Spiegel - Mas todo o seu nobre compromisso parece ser apenas uma gota no balde. O senhor continua dizendo que só temos dez anos antes que a mudança climática comece a destruir a humanidade.
Gore - Sim. Bem, eu acho que vamos solucionar a crise. Mas há necessidade de muitas mudanças rapidamente.
Spiegel - O senhor anuncia o filme como "de longe o filme mais aterrorizante que voce verá". Para os europeus, o aspecto mais terrível é como a maioria dos americanos parece mal informada sobre o aquecimento global. Como o senhor explica isso?
Gore - O objetivo do filme e do livro é mudar isso. Mas, quanto a por que isso acontece: as companhias de petróleo e de carvao tem demasiada influencia nos EUA.
Spiegel - E o motivo dessa influencia é que as indústrias estao intimamente ligadas ao governo americano? Afinal, seu sucessor, o vice-presidente Dick Cheney, foi executivo-chefe da Halliburton, uma companhia de serviços de petróleo.
Gore - Sim. A liderança faz uma diferença na maneira como as pessoas pensam. Bush e Cheney nos levaram na direçao errada. Mas também é verdade que muitos democratas resistem a mudanças sobre essa questao. Eu acho que tem a ver com nossa história política e cultural, com nossa "mentalidade de fronteira", que significava partir em busca de novos horizonte, e hoje acho que influencia nosso hábito de dirigir grandes distâncias.
Spiegel - Todo o estilo de vida americano é "maior que a vida". Grandes carros, mansoes, ar-condicionado... O modo de vida precisa mudar?
Gore - Quando os EUA aderirem ao Tratado de Kioto ou a um Tratado mais duro que possa substituí-lo, entao as pessoas de outros países que hoje se sentem bem sobre o que estao fazendo, em parte porque contrasta com a má atuaçao dos EUA, terao de pensar duas vezes. Todos terao de verificar se estao fazendo o suficiente. Esse é o outro motivo pelo qual é tao importante para os EUA se unirem a comunidade mundial - para que o mundo possa continuar fazendo a próxima série de grandes mudanças.
Spiegel - Com todo o respeito pelo seu otimismo, a guerra no Iraque nao foi travada para garantir o suprimento de petróleo adequado para os EUA?
Gore - O sistema funciona mais ou menos assim, se voce examinar o padrao geral: os EUA pedem dinheiro emprestado a China para comprar petróleo do golfo Pérsico e queimá-lo em casa - de maneiras que destroem o planeta. Isso nao é bom. Precisamos mudar tudo isso.
Spiegel - O petróleo e o gás estao se tornando moeda de troca em um jogo de poder global. Dick Cheney acaba de acusar a Rússia de sabotar a Ucrânia com seu monopólio estatal do gás, a Gazprom.
Gore - Ele está certo sobre isso, mas nao acho que realmente se preocupou até que algumas companhias de petróleo começaram a perder contratos na Rússia.
Spiegel - Ele ainda age como o diretor de uma corporaçao de serviços de petróleo?
Gore - Bem, devo adverti-lo de que comecei a temer que eu estivesse perdendo minha objetividade sobre Bush e Cheney.
Spiegel - Esses problemas seriam mais fáceis de solucionar se o
homem no comando fosse um ambientalista?
Gore - Para onde voce quer ir com essa pergunta?
Spiegel - O senhor parece compreender. Vai concorrer para a Casa Branca em 2008?
Gore - Sou um político em recuperaçao. Já concorri em quatro campanhas nacionais. Já fiz isso. Encontrei outras maneiras de servir ao meu país, e gosto delas. Quando estou apresentando meu show de slides, vejo muito reconhecimento na platéia e depois escuto como as pessoas estao mudando suas vidas por causa dos slides ou do filme. Sinto-me realizado com isso. E também me sinto bem por pensar que estou fazendo progressos.
Spiegel - Onde o senhor ve esse progresso?
Gore - Penso que a mudança está acontecendo: 85 ministros evangélicos conservadores, que há muito apoiavam o presidente Bush, acabam de anunciar sua oposiçao as políticas dele sobre a crise climática e pediram que suas congregaçoes solucionem a crise. Diversos líderes de grandes empresas que apoiaram Bush, incluindo o executivo-chefe da General Electric, agora romperam com Bush sobre essa questao; 230 cidades, muitas delas com prefeitos republicanos, ratificaram independentemente o Tratado de Kioto.
Organizaçoes populares em todos os estados estao recolhendo assinaturas e se organizando. Todas essas coisas juntas fazem acreditar que a mensagem está tendo um impacto. E agora existe outra voz no debate: a mae natureza falou.
Spiegel - O senhor quer dizer desastres naturais como o furacao Katrina?
Gore - Esse foi um toque de despertar para milhoes de americanos.
Spiegel - O senhor deveria ter feito mais sobre a mudança climática quando estava na Casa Branca?
Gore - Bem, eu gostei de ser o governo Clinton-Gore. Orgulho-me do trabalho que fizemos. Eu ajudei a conseguir o avanço em Kioto e trabalhei muito para fazer mudanças na política ambiental americana. Mas nao era o meu governo. Eu fazia parte dele. E aprendi naquele processo que a necessidade mais urgente nos EUA é mudar a mentalidade da populaçao americana. Porque os políticos, nao importa quem seja, nao importa se sao ambientalistas ou nao, conseguirao fazer mais ou menos dependendo de como as pessoas sintam a crise.
Spiegel - O senhor quer transformar isso de uma questao política em uma questao moral?
Gore - Sim, sim. O movimento de direitos civis nos EUA começou a fazer progresso quando foi redefinido como uma questao moral. E a crise climática deve ser vista como uma questao moral e uma responsabilidade ética, mais que uma questao política, porque a sobrevivencia da civilizaçao humana está em risco. Só temos um planeta, temos um futuro comum, e nao é republicano ou democrata ou conservador ou liberal.
Spiegel - Alguns republicanos chamariam o senhor de um "abraçador de árvores" que está fora de contato com os problemas da classe média americana.
Gore - Em primeiro lugar, é um mito dizer, como dizem as vezes, que voce tem de escolher entre o meio ambiente e a economia. Bilhoes de dólares estao sendo faturados por companhias que apresentam soluçoes para essa crise. Os antigos padroes nao sao tao agradáveis, de qualquer modo: ficar em engarrafamentos de trânsito, respirar poluiçao. Eu gostaria de ter sistemas ferroviários leves e transportes de massa confortáveis. Podemos melhorar a qualidade de vida, criar mais empregos e aumentar as rendas ao limpar o meio ambiente. Veja a indústria automobilística: os republicanos e outros afirmaram que nos EUA deveríamos ter os piores padroes de eficiencia de consumo do mundo para ajudar a General Motors e a Ford. O que está acontecendo com a GM e a Ford?
Spiegel - Estao perdendo mercado.
Gore - Sim. E empresas que estao se saindo bem sao companhias como a Toyota. Cada Prius (carro híbrido) que eles fazem tem uma longa lista de espera.
Spiegel - Alguns grandes poluidores começaram a mudar. O senhor mencionou a GE, e a Exxon Mobile começou a colocar temas ambientais em seus anúncios.
Gore - A Exxon Mobile está fingindo dizer uma coisa positiva sobre o meio ambiente. Eles chamam isso de "lavagem verde". Eles sao os piores adversários quando se trata de tentar solucionar a crise. Gastam bilhoes de dólares por ano para divulgar falsas informaçoes sobre o aquecimento global.
É chocante, na verdade. É o que as companhias de tabaco fizeram para enganar as pessoas sobre a ciencia ligada ao hábito de fumar e as doenças do pulmao. É a mesma coisa. Eles deveriam se envergonhar.
Spiegel - Quem vai liderar os democratas em 2008 se o senhor nao estiver disponível? Hillary Clinton?
Gore - Nao sei. É cedo demais para dizer.
Spiegel - A revista "Vanity Fair" chamou "Uma Verdade Inconveniente" de "talvez o filme mais importante do ano" e o colocou na capa de sua "Ediçao Verde".
Gore - ... juntamente com Julia Roberts e George Clooney.
Spiegel - E a "New Yorker" o chamou de "Sr. Ozônio", como um super-herói. A "Economist" acredita que o senhor é um rival viável para Hillary Clinton. O senhor se sente pelo menos um pouco lisonjeado por todos o considerarem um candidato para 2008?
Gore - É claro. Sou humano. Mas também já estou bastante velho e passei por muita coisa na política para levar isso muito a sério. Já estou envolvido em uma campanha, mas nao é uma campanha por uma candidatura, é uma campanha por uma causa. E a causa é mudar a mentalidade das pessoas em todo o mundo, especialmente nos EUA, sobre por que precisamos resolver a crise climática. Se nao fizermos isso, todo o resto nao importa. Nao interessa como voce será lembrado nos livros de história se nao houver livros de história. E ninguém para ler! (risos)
Spiegel - Quando o senhor descobriu seu senso de humor negro? Depois da eleiçao de 2000?
Gore - Dizem que muita comédia nasce da dor. Meu senso de humor sempre se beneficia das baixas expectativas.
Spiegel - Senhor Gore, muito obrigado por esta entrevista.
Sobre Al Gore:
Albert "Al" Arnold Gore, 58, foi vice-presidente dos EUA no governo de Bill Clinton, de 1993 até janeiro de 2001. Em novembro de 2000 ele disputou a presidencia e perdeu em uma disputa apertada e polemica para George W. Bush.
Depois Al Gore fundou um canal de TV; ele também trabalha como palestrante universitário e gerente financeiro. Principalmente, faz campanhas pelo meio ambiente e ultimamente colocou sua causa em um filme. O documentário "Uma Verdade Inconveniente", que mostra Gore como uma Cassandra surpreendentemente carismática e incansável, advertindo sobre a mudança climatica, entusiasmou os críticos americanos, assim como os cinéfilos. O filme estréia esta semana no Festival de Cinema de Munique.
Entrevista com Al Gore: "Já estou envolvido em uma campanha"
Andreas Borcholte e Martin Wolf
O ex vice-presidente americano Al Gore fala sobre seu documentário "Uma Verdade Inconveniente" [An Inconvenient Truth], sua batalha contra o aquecimento global e os rumores de sua volta a política na corrida para a Casa Branca em 2008.
Spiegel - Senhor Gore, que tipo de carro o senhor dirige?
Al Gore - Cerca de um ano atrás compramos um híbrido, mas eu nao dirijo muito. Mudamos todo o nosso estilo de vida. Tomamos a decisao de ser "neutros em carbono" e eliminar qualquer contribuiçao de CO2 ao meio ambiente. Até mesmo "Uma Verdade Inconveniente" foi produzido em parte usando energias alternativas, livres de carbono. A Paramount também tomou a decisao de que a turne e as atividades promocionais fossem feitas de maneira neutra em carbono.
Spiegel - Mas todo o seu nobre compromisso parece ser apenas uma gota no balde. O senhor continua dizendo que só temos dez anos antes que a mudança climática comece a destruir a humanidade.
Gore - Sim. Bem, eu acho que vamos solucionar a crise. Mas há necessidade de muitas mudanças rapidamente.
Spiegel - O senhor anuncia o filme como "de longe o filme mais aterrorizante que voce verá". Para os europeus, o aspecto mais terrível é como a maioria dos americanos parece mal informada sobre o aquecimento global. Como o senhor explica isso?
Gore - O objetivo do filme e do livro é mudar isso. Mas, quanto a por que isso acontece: as companhias de petróleo e de carvao tem demasiada influencia nos EUA.
Spiegel - E o motivo dessa influencia é que as indústrias estao intimamente ligadas ao governo americano? Afinal, seu sucessor, o vice-presidente Dick Cheney, foi executivo-chefe da Halliburton, uma companhia de serviços de petróleo.
Gore - Sim. A liderança faz uma diferença na maneira como as pessoas pensam. Bush e Cheney nos levaram na direçao errada. Mas também é verdade que muitos democratas resistem a mudanças sobre essa questao. Eu acho que tem a ver com nossa história política e cultural, com nossa "mentalidade de fronteira", que significava partir em busca de novos horizonte, e hoje acho que influencia nosso hábito de dirigir grandes distâncias.
Spiegel - Todo o estilo de vida americano é "maior que a vida". Grandes carros, mansoes, ar-condicionado... O modo de vida precisa mudar?
Gore - Quando os EUA aderirem ao Tratado de Kioto ou a um Tratado mais duro que possa substituí-lo, entao as pessoas de outros países que hoje se sentem bem sobre o que estao fazendo, em parte porque contrasta com a má atuaçao dos EUA, terao de pensar duas vezes. Todos terao de verificar se estao fazendo o suficiente. Esse é o outro motivo pelo qual é tao importante para os EUA se unirem a comunidade mundial - para que o mundo possa continuar fazendo a próxima série de grandes mudanças.
Spiegel - Com todo o respeito pelo seu otimismo, a guerra no Iraque nao foi travada para garantir o suprimento de petróleo adequado para os EUA?
Gore - O sistema funciona mais ou menos assim, se voce examinar o padrao geral: os EUA pedem dinheiro emprestado a China para comprar petróleo do golfo Pérsico e queimá-lo em casa - de maneiras que destroem o planeta. Isso nao é bom. Precisamos mudar tudo isso.
Spiegel - O petróleo e o gás estao se tornando moeda de troca em um jogo de poder global. Dick Cheney acaba de acusar a Rússia de sabotar a Ucrânia com seu monopólio estatal do gás, a Gazprom.
Gore - Ele está certo sobre isso, mas nao acho que realmente se preocupou até que algumas companhias de petróleo começaram a perder contratos na Rússia.
Spiegel - Ele ainda age como o diretor de uma corporaçao de serviços de petróleo?
Gore - Bem, devo adverti-lo de que comecei a temer que eu estivesse perdendo minha objetividade sobre Bush e Cheney.
Spiegel - Esses problemas seriam mais fáceis de solucionar se o
homem no comando fosse um ambientalista?
Gore - Para onde voce quer ir com essa pergunta?
Spiegel - O senhor parece compreender. Vai concorrer para a Casa Branca em 2008?
Gore - Sou um político em recuperaçao. Já concorri em quatro campanhas nacionais. Já fiz isso. Encontrei outras maneiras de servir ao meu país, e gosto delas. Quando estou apresentando meu show de slides, vejo muito reconhecimento na platéia e depois escuto como as pessoas estao mudando suas vidas por causa dos slides ou do filme. Sinto-me realizado com isso. E também me sinto bem por pensar que estou fazendo progressos.
Spiegel - Onde o senhor ve esse progresso?
Gore - Penso que a mudança está acontecendo: 85 ministros evangélicos conservadores, que há muito apoiavam o presidente Bush, acabam de anunciar sua oposiçao as políticas dele sobre a crise climática e pediram que suas congregaçoes solucionem a crise. Diversos líderes de grandes empresas que apoiaram Bush, incluindo o executivo-chefe da General Electric, agora romperam com Bush sobre essa questao; 230 cidades, muitas delas com prefeitos republicanos, ratificaram independentemente o Tratado de Kioto.
Organizaçoes populares em todos os estados estao recolhendo assinaturas e se organizando. Todas essas coisas juntas fazem acreditar que a mensagem está tendo um impacto. E agora existe outra voz no debate: a mae natureza falou.
Spiegel - O senhor quer dizer desastres naturais como o furacao Katrina?
Gore - Esse foi um toque de despertar para milhoes de americanos.
Spiegel - O senhor deveria ter feito mais sobre a mudança climática quando estava na Casa Branca?
Gore - Bem, eu gostei de ser o governo Clinton-Gore. Orgulho-me do trabalho que fizemos. Eu ajudei a conseguir o avanço em Kioto e trabalhei muito para fazer mudanças na política ambiental americana. Mas nao era o meu governo. Eu fazia parte dele. E aprendi naquele processo que a necessidade mais urgente nos EUA é mudar a mentalidade da populaçao americana. Porque os políticos, nao importa quem seja, nao importa se sao ambientalistas ou nao, conseguirao fazer mais ou menos dependendo de como as pessoas sintam a crise.
Spiegel - O senhor quer transformar isso de uma questao política em uma questao moral?
Gore - Sim, sim. O movimento de direitos civis nos EUA começou a fazer progresso quando foi redefinido como uma questao moral. E a crise climática deve ser vista como uma questao moral e uma responsabilidade ética, mais que uma questao política, porque a sobrevivencia da civilizaçao humana está em risco. Só temos um planeta, temos um futuro comum, e nao é republicano ou democrata ou conservador ou liberal.
Spiegel - Alguns republicanos chamariam o senhor de um "abraçador de árvores" que está fora de contato com os problemas da classe média americana.
Gore - Em primeiro lugar, é um mito dizer, como dizem as vezes, que voce tem de escolher entre o meio ambiente e a economia. Bilhoes de dólares estao sendo faturados por companhias que apresentam soluçoes para essa crise. Os antigos padroes nao sao tao agradáveis, de qualquer modo: ficar em engarrafamentos de trânsito, respirar poluiçao. Eu gostaria de ter sistemas ferroviários leves e transportes de massa confortáveis. Podemos melhorar a qualidade de vida, criar mais empregos e aumentar as rendas ao limpar o meio ambiente. Veja a indústria automobilística: os republicanos e outros afirmaram que nos EUA deveríamos ter os piores padroes de eficiencia de consumo do mundo para ajudar a General Motors e a Ford. O que está acontecendo com a GM e a Ford?
Spiegel - Estao perdendo mercado.
Gore - Sim. E empresas que estao se saindo bem sao companhias como a Toyota. Cada Prius (carro híbrido) que eles fazem tem uma longa lista de espera.
Spiegel - Alguns grandes poluidores começaram a mudar. O senhor mencionou a GE, e a Exxon Mobile começou a colocar temas ambientais em seus anúncios.
Gore - A Exxon Mobile está fingindo dizer uma coisa positiva sobre o meio ambiente. Eles chamam isso de "lavagem verde". Eles sao os piores adversários quando se trata de tentar solucionar a crise. Gastam bilhoes de dólares por ano para divulgar falsas informaçoes sobre o aquecimento global.
É chocante, na verdade. É o que as companhias de tabaco fizeram para enganar as pessoas sobre a ciencia ligada ao hábito de fumar e as doenças do pulmao. É a mesma coisa. Eles deveriam se envergonhar.
Spiegel - Quem vai liderar os democratas em 2008 se o senhor nao estiver disponível? Hillary Clinton?
Gore - Nao sei. É cedo demais para dizer.
Spiegel - A revista "Vanity Fair" chamou "Uma Verdade Inconveniente" de "talvez o filme mais importante do ano" e o colocou na capa de sua "Ediçao Verde".
Gore - ... juntamente com Julia Roberts e George Clooney.
Spiegel - E a "New Yorker" o chamou de "Sr. Ozônio", como um super-herói. A "Economist" acredita que o senhor é um rival viável para Hillary Clinton. O senhor se sente pelo menos um pouco lisonjeado por todos o considerarem um candidato para 2008?
Gore - É claro. Sou humano. Mas também já estou bastante velho e passei por muita coisa na política para levar isso muito a sério. Já estou envolvido em uma campanha, mas nao é uma campanha por uma candidatura, é uma campanha por uma causa. E a causa é mudar a mentalidade das pessoas em todo o mundo, especialmente nos EUA, sobre por que precisamos resolver a crise climática. Se nao fizermos isso, todo o resto nao importa. Nao interessa como voce será lembrado nos livros de história se nao houver livros de história. E ninguém para ler! (risos)
Spiegel - Quando o senhor descobriu seu senso de humor negro? Depois da eleiçao de 2000?
Gore - Dizem que muita comédia nasce da dor. Meu senso de humor sempre se beneficia das baixas expectativas.
Spiegel - Senhor Gore, muito obrigado por esta entrevista.
Sobre Al Gore:
Albert "Al" Arnold Gore, 58, foi vice-presidente dos EUA no governo de Bill Clinton, de 1993 até janeiro de 2001. Em novembro de 2000 ele disputou a presidencia e perdeu em uma disputa apertada e polemica para George W. Bush.
Depois Al Gore fundou um canal de TV; ele também trabalha como palestrante universitário e gerente financeiro. Principalmente, faz campanhas pelo meio ambiente e ultimamente colocou sua causa em um filme. O documentário "Uma Verdade Inconveniente", que mostra Gore como uma Cassandra surpreendentemente carismática e incansável, advertindo sobre a mudança climatica, entusiasmou os críticos americanos, assim como os cinéfilos. O filme estréia esta semana no Festival de Cinema de Munique.