Passou do limite
Segundo levantamento da ong novaiorquina Human Rights Watch, há uma diferença clara entre os bombardeios aéreos nas campanhas militares no Kosovo, no Afeganistão, no Iraque – e esta, agora, no Líbano. A diferença é que Israel não parece estar nada preocupado em diferenciar alvos militares de civis. Eles morrem demais.
Isto é um problema.
Quem é pró-guerra descarta análise de ong que faz vigília pelos direitos humanos com muita facilidade. Só que não se trata de discutir se a guerra é justificada ou não; trata-se de discutir como ela está sendo lutada. O parâmetro só pode ser um, que é o do vago traço de civilidade numa guerra: a Convenção de Genebra.
Não importa se o Hezbolá é um Estado nacional ou não. A partir do momento em que é um partido com representação no Congresso e no governo, está legalmente obrigado a seguir as Convenções. E está em flagrante delito. Tomar prisioneiros, durante um conflito bélico, é legal. Usá-los para fazer exigências descaracteriza a prisão, passa a ser seqüestro. Violação primeira, crime de guerra.
A Convenção, assinada em 1948, é radical na distinção entre alvos civis e militares. Alvos civis simplesmente não são tolerados. Estando em guerra, o Hezbolá pode disparar contra Israel. Usar foguetes Katyushas, não pode. Eles não são confiáveis, impossível prever onde vão parar. Portanto seu uso é ilegal e é considerado um ataque deliberado contra alvos civis.
Israel tem motivo para entrar em guerra.
A guerra de Israel começou a ficar complicada quando bombardeou o Aeroporto de Beirute. Se o país puder provar que, naquele momento, o aeroporto fazia parte do esforço de guerra do Hezbolá, então é jogo jogado, alvo legítimo. O mesmo vale para pontes e estradas, já que há sempre a possibilidade de uso militar. O bombardeio de estradas que são a única rota de fuga para refugiados não é.
Assim como, não importa se há milicianos do Hezbolá em uma vizinhança, como aconteceu na pequena cidade de Srifa. Lá, um ataque custou a vida de 42 pessoas. Quase nunca é legítimo, segundo a Convenção de Genebra, usar instalações elétricas como alvo. Se de fato prejudicam o adversário, dificultam o funcionamento de hospitais custando a vida de mais civis.
Uma guerra que tem por objetivo causar sofrimento a civis na esperança de que eliminem o poder de um grupo não apenas é estrategicamente questionável como é uma flagrante violação de Genebra. Reagir militarmente é uma coisa. Botar um país que não tem como se defender abaixo é covardia. Hora de parar.
Não há qualquer pacifismo por aqui – o pacifismo não resolve conflitos legítimos e, reitere-se, Israel tinha motivo de guerra. Mas há uma diferença entre a guerra legítima e a barbárie. Não adianta argumentar que o Hezbolá não segue tampouco se preocupa em seguir a Convenção de Genebra. Não é mesmo o que se espera de um grupo terrorista. São bárbaros.
Israel é que não tem este direito. E, dados todos os indícios, Israel também não parece estar lá muito preocupado em seguir um documento que assinou de bom grado logo após sua fundação. Mais que isso: a Convenção de Genebra foi criada justamente para que aquilo que os nazistas fizeram nunca mais encontrasse qualquer rastro de legitimidade; para que nunca mais alguém pudesse dizer ‘estou seguindo ordens’ e pronto. Israel e a Convenção de Genebra são filhos legítimos da mesma mãe terrível. É bom que se entendam. O cessar-fogo é, a estas alturas, um dever moral.
http://pedrodoria.nominimo.com.br/?p=1245
Passou do limite
Re.: Passou do limite
Finalmente uma opinião centrada. 

- clara campos
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Re.: Passou do limite
acredita!!!!
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)
Re.: Passou do limite
Bom texto!
"Nunca te justifiques. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam" - Desconhecido

