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Em Moscou, Hugo Chávez compra armas

Enviado: 28 Jul 2006, 11:57
por spink
Le Monde


28/07/2006

Em Moscou, Hugo Chávez compra armas e busca um apoio político

Apesar de rechaçar um pedido de Washington para não efetivar os negócios com o líder venezuelano, Putin não dará o apoio político que este espera dele

Madeleine Vatel
correspondente em Moscou, Rússia

Na turnê que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, empreendeu em parte para sondar o sentimento anti-Estados Unidos, nada diz que é na Rússia que ele encontrará a maior satisfação. Depois de visitar o Belarus e Moscou, as próximas etapas da sua viagem serão o Irã, o Vietnã, o Catar e o Mali. "Assim como o Belarus, nós estamos presos nos maxilares do imperialismo e da hegemonia", declarou ele em Minsk.

Logo após ter aterrissado em Moscou depois de uma visita na província, Hugo Chávez agradeceu ao presidente russo, Vladimir Putin pelo seu apoio. De fato, pouco antes deste encontro, o ministre russo da defesa, Serguei Ivanov, havia respondido a Washington que ele não reconsideraria sua venda de armamentos para a Venezuela, ao contrário do que lhe pedira Tom Casey, o porta-voz adjunto do Departamento de Estado. Os Estados Unidos consideram Hugo Chávez como uma fonte de desestabilização para o continente americano.

Moscou negociou, na quinta-feira (27/07), com o presidente Chávez a venda de aviões de caça russos Sukhoi-30 e de helicópteros de combate. O total da conta ficou acima de US$ 3 bilhões (R$ 6,59 bilhões), segundo informou Serguei Tchemezov, da agência nacional russa de exportação das armas. As negociações também incluíram a construção de uma usina de produção de fuzis Kalachnikov e a fabricação de tubos para a construção de um gasoduto.

Para a Rússia, este negócio constitui um primeiro passo rumo ao mercado da América Latina. Desde a sua ascensão ao poder, em 2000, Vladimir Putin vem tentando reatar laços com o outro continente. Ele tenta garantir a sobrevivência do complexo militar-industrial russo, no momento em que as encomendas nacionais não mobilizam mais do que um quarto do potencial das empresas militares herdadas da União Soviética. A razão disso é que este setor perdeu durante os anos 90 a sua clientela tradicional na Europa do Leste e em alguns países árabes.

Em relação ao chefe carismático de esquerda venezuelana, Moscou insiste no aspecto comercial das transações e faz passar o caráter ideológico em segundo plano. Ainda assim, Hugo Chávez segue contando com um apoio político por parte de Moscou. Mais exatamente, o apoio que lhe permitirá esperar galgar um assento como membro não-permanente do Conselho de Segurança.

Política multipolar

"Contudo, Chávez veio buscar aqui algo que Putin não irá querer lhe dar. Não é do interesse da Rússia agir no sentido de cultivar uma guerra fria ou incentivar reivindicações terceiro-mundistas", estima Denis Dragounski, em artigo publicado na revista olítica "Cosmopolite". Segundo ele, a Rússia está distante do que era a União Soviética, "que cantarolava o hino de Pinochet". Ela se limitará, portanto, a uma forma de diálogo que não prejudicará suas relações com os países ocidentais.

Contudo, a visita de Chávez oferece a Moscou, que está sentado sobre imensas reservas petrolíferas, a possibilidade de afirmar uma política externa multipolar. Além disso, os dois presidentes vão certamente compartilhar suas aspirações a exercer um papel de líder continental, de líder de pulso firme.