TV mostra como Irã decretou execução de jovem de 16 anos
Enviado: 28 Jul 2006, 15:11
"Adolescentes iranianos não se assustam quando são parados pela polícia moral, uma ocorrência comum no Irã. Atefah já havia sido presa por ir a uma festa e por ficar sozinha em um carro com um garoto, recebendo sua primeira sentença por "atentado contra a castidade" aos 13 anos.
"
TV mostra como Irã decretou execução de jovem de 16 anos
Da BBC Brasil
27/07/2006
19h51-Um documentário da BBC revelou uma série de erros no julgamento islâmico que levou à execução da adolescente Atefah Sahaaleh, de 16 anos, por enforcamento em praça pública no Irã. Atefah foi morta no dia 15 de agosto de 2004 por "crimes contra a castidade". O jornal estatal a acusava de adultério e afirmava que ela tinha 22 anos. O fato era que ela tinha apenas 16 e não era casada.
Na época do enforcamento de Atefah, na cidade de Neka, a jornalista Aiseh Amini ouviu rumores de que ela era apenas uma adolescente e resolveu descobrir mais sobre o caso. "Quando encontrei a família, eles me mostraram a certidão de nascimento e de óbito. Ambos diziam que ela havia nascido em 1988. Isso me deu legitimidade para investigar o caso", disse Amini.
Vida conturbada
Atefah teve uma infância conturbada. Sua mãe morreu quando ela tinha quatro anos e o pai se tornou viciado em drogas em seguida. Ela foi criada pelos avós, que segundo relatos eram distantes e não demonstravam nenhuma afeição a ela. Numa cidade como Neka, sob controle das autoridades religiosas, Atefah – que sempre andava sozinha – era considerada suspeita.
Foi uma questão de tempo até ela chamar a atenção da "polícia moral", um braço da Guarda Revolucionária Islâmica, cujo trabalho é reforçar os valores do código islâmico nas ruas do Irã. Ao lado de assassinato e tráfico de drogas, sexo fora do casamento é um crime capital no Irã.
No ano da morte de Atefah, pelo menos 159 pessoas foram executadas de acordo com a lei islâmica. Em número de pessoas executadas pelo Estado em 2004, o Irã ficou atrás apenas da China.
Relações Secretas
Adolescentes iranianos não se assustam quando são parados pela polícia moral, uma ocorrência comum no Irã. Atefah já havia sido presa por ir a uma festa e por ficar sozinha em um carro com um garoto, recebendo sua primeira sentença por "atentado contra a castidade" aos 13 anos.
A natureza exata do crime não é conhecida, mas ela teve de passar um tempo curto na prisão e recebeu cem chibatadas. Quando voltou para casa, Atefah disse a pessoas próximas que as chibatadas não foram sua única punição na prisão. Ela contou que havia sofrido abuso por parte dos guardas.
Depois que foi libertada, Atefah começou uma relação violenta com um homem que tinha três vezes a sua idade, o ex-guarda revolucionário, Ali Darabi, de 51 anos. Darabi era casado e tinha filhos, mas isso não impediu que ele estuprasse Atefah diversas vezes.
Ela manteve a relação em segredo, não mencionando nada para a família ou as autoridades.
Abaixo-assinado
As circunstâncias da última prisão de Atefah foram incomuns. A polícia moral disse ter recebido um abaixo-assinado de moradores locais dizendo que Atefah era "uma fonte de imoralidade e um exemplo terrível para as meninas da área". O problema é que não havia nenhuma assinatura no abaixo-assinado, a não ser aquelas dos próprios policiais. Três dias depois de sua prisão, Atefah estava numa corte sendo julgada pela lei islâmica. O juiz era o poderoso Haji Rezai, o chefe do Poder Judiciário de Neka.
Não há transcrição do julgamento, mas sabe-se que, pela primeira vez, Atefah revelou ter sofrido abuso sexual por Ali Darabi. No entanto, a idade para sexo consensual para meninas pela lei islâmica é de nove anos e estupro é um crime quase impossível de ser provado numa corte iraniana. "A palavra dos homens é aceita muito mais facilmente do que a das mulheres", diz o advogado iraniano exilado Mohammad Hoshi. "Eles sempre podem dizer: 'ela me provocou' ou 'ela não estava usando uma roupa apropriada'."
Desespero
Quando Atefah percebeu que não tinha saída, ela gritou com o juiz e arrancou seu véu em protesto. Foi o golpe fatal. Ela foi condenada à execução por enforcamento, enquanto Darabi recebeu 95 chibatadas. Logo após a execução, documentos que foram enviados à Suprema Corte de Apelação descreviam Atefah como tendo 22 anos. A família nunca foi informada disso.
"O juiz e o advogado de Atefah, apontado pela corte, não fizeram nada para descobrir sua verdadeira idade", diz o pai dela. Uma testemunha diz que o juiz determinou a idade de Atefah apenas olhando para seu corpo. Às seis da manhã do dia da execução, o juiz Rezai colocou a corda em torno do pescoço da jovem, antes que ela fosse pendurada na forca para morrer.
Dor e morte
O Poder Judiciário iraniano foi procurado pela equipe do documentário, mas se negou a fazer qualquer declaração. Eles nunca admitiram que tivessem ocorrido erros no julgamento. A organização de direitos humanos Anistia Internacional diz estar preocupada que as execuções estejam se tornando mais freqüentes no governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad, que defende uma volta aos valores da revolução. Para o pai de Atefah, a dor continua: "Ela era meu amor, meu coração... Eu fiz tudo por ela, tudo o que pude. Ele não teve a chance de se despedir".
http://noticias.correioweb.com.br/mater ... 83&sub=BBC
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TV mostra como Irã decretou execução de jovem de 16 anos
Da BBC Brasil
27/07/2006
19h51-Um documentário da BBC revelou uma série de erros no julgamento islâmico que levou à execução da adolescente Atefah Sahaaleh, de 16 anos, por enforcamento em praça pública no Irã. Atefah foi morta no dia 15 de agosto de 2004 por "crimes contra a castidade". O jornal estatal a acusava de adultério e afirmava que ela tinha 22 anos. O fato era que ela tinha apenas 16 e não era casada.
Na época do enforcamento de Atefah, na cidade de Neka, a jornalista Aiseh Amini ouviu rumores de que ela era apenas uma adolescente e resolveu descobrir mais sobre o caso. "Quando encontrei a família, eles me mostraram a certidão de nascimento e de óbito. Ambos diziam que ela havia nascido em 1988. Isso me deu legitimidade para investigar o caso", disse Amini.
Vida conturbada
Atefah teve uma infância conturbada. Sua mãe morreu quando ela tinha quatro anos e o pai se tornou viciado em drogas em seguida. Ela foi criada pelos avós, que segundo relatos eram distantes e não demonstravam nenhuma afeição a ela. Numa cidade como Neka, sob controle das autoridades religiosas, Atefah – que sempre andava sozinha – era considerada suspeita.
Foi uma questão de tempo até ela chamar a atenção da "polícia moral", um braço da Guarda Revolucionária Islâmica, cujo trabalho é reforçar os valores do código islâmico nas ruas do Irã. Ao lado de assassinato e tráfico de drogas, sexo fora do casamento é um crime capital no Irã.
No ano da morte de Atefah, pelo menos 159 pessoas foram executadas de acordo com a lei islâmica. Em número de pessoas executadas pelo Estado em 2004, o Irã ficou atrás apenas da China.
Relações Secretas
Adolescentes iranianos não se assustam quando são parados pela polícia moral, uma ocorrência comum no Irã. Atefah já havia sido presa por ir a uma festa e por ficar sozinha em um carro com um garoto, recebendo sua primeira sentença por "atentado contra a castidade" aos 13 anos.
A natureza exata do crime não é conhecida, mas ela teve de passar um tempo curto na prisão e recebeu cem chibatadas. Quando voltou para casa, Atefah disse a pessoas próximas que as chibatadas não foram sua única punição na prisão. Ela contou que havia sofrido abuso por parte dos guardas.
Depois que foi libertada, Atefah começou uma relação violenta com um homem que tinha três vezes a sua idade, o ex-guarda revolucionário, Ali Darabi, de 51 anos. Darabi era casado e tinha filhos, mas isso não impediu que ele estuprasse Atefah diversas vezes.
Ela manteve a relação em segredo, não mencionando nada para a família ou as autoridades.
Abaixo-assinado
As circunstâncias da última prisão de Atefah foram incomuns. A polícia moral disse ter recebido um abaixo-assinado de moradores locais dizendo que Atefah era "uma fonte de imoralidade e um exemplo terrível para as meninas da área". O problema é que não havia nenhuma assinatura no abaixo-assinado, a não ser aquelas dos próprios policiais. Três dias depois de sua prisão, Atefah estava numa corte sendo julgada pela lei islâmica. O juiz era o poderoso Haji Rezai, o chefe do Poder Judiciário de Neka.
Não há transcrição do julgamento, mas sabe-se que, pela primeira vez, Atefah revelou ter sofrido abuso sexual por Ali Darabi. No entanto, a idade para sexo consensual para meninas pela lei islâmica é de nove anos e estupro é um crime quase impossível de ser provado numa corte iraniana. "A palavra dos homens é aceita muito mais facilmente do que a das mulheres", diz o advogado iraniano exilado Mohammad Hoshi. "Eles sempre podem dizer: 'ela me provocou' ou 'ela não estava usando uma roupa apropriada'."
Desespero
Quando Atefah percebeu que não tinha saída, ela gritou com o juiz e arrancou seu véu em protesto. Foi o golpe fatal. Ela foi condenada à execução por enforcamento, enquanto Darabi recebeu 95 chibatadas. Logo após a execução, documentos que foram enviados à Suprema Corte de Apelação descreviam Atefah como tendo 22 anos. A família nunca foi informada disso.
"O juiz e o advogado de Atefah, apontado pela corte, não fizeram nada para descobrir sua verdadeira idade", diz o pai dela. Uma testemunha diz que o juiz determinou a idade de Atefah apenas olhando para seu corpo. Às seis da manhã do dia da execução, o juiz Rezai colocou a corda em torno do pescoço da jovem, antes que ela fosse pendurada na forca para morrer.
Dor e morte
O Poder Judiciário iraniano foi procurado pela equipe do documentário, mas se negou a fazer qualquer declaração. Eles nunca admitiram que tivessem ocorrido erros no julgamento. A organização de direitos humanos Anistia Internacional diz estar preocupada que as execuções estejam se tornando mais freqüentes no governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad, que defende uma volta aos valores da revolução. Para o pai de Atefah, a dor continua: "Ela era meu amor, meu coração... Eu fiz tudo por ela, tudo o que pude. Ele não teve a chance de se despedir".
http://noticias.correioweb.com.br/mater ... 83&sub=BBC