PCC planeja ataques em mais cinco estados
Lucas Figueiredo
Do Estado de Minas
06/08/2006
11h41-Depois de patrocinar duas ondas de violência em São Paulo, em maio e julho deste ano, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) planeja intensificar suas ações em cinco outros estados: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Pernambuco e Espírito Santo. A meta do PCC é retomar os ataques em estados considerados vulneráveis e, num segundo momento, tentar expandir suas ações para o Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde, até agora, a resistência à organização tem se mostrado bem-sucedida.A descoberta dos planos do PCC foi feita a partir de interceptações telefônicas de criminosos presos em São Paulo. Autoridades dos estados alvos estão trocando informações com o objetivo de frustar futuros planos do PCC. A Polícia Federal também acompanha a situação.
Nas conversas gravadas, detentos ligados à organização criminosa estimulam bandidos que estão em liberdade a migrarem para outros estados, a fim de fugir da repressão da polícia paulista. Apontado como principal líder do PCC, Marcos Camacho, o Marcola, chegou a enviar um comparsa a outras regiões do país para estabelecer contatos com a bandidagem local.A prioridade do PCC é o Mato Grosso do Sul, onde a organização realizou violentos motins no mês passado e em junho. O estado seria o mais frágil às ações da facção. As polícias Civil e Militar estão em alerta para a possibilidade de novos ataques, sobretudo no Dia dos Pais, no próximo domingo. Autoridades, agentes penitenciários e policiais também foram aconselhados a redobrar a vigilância contra possíveis atentados.Pela sua proximidade com a fronteira com o Paraguai, o Mato Grosso do Sul é considerado hoje um dos principais pontos de apoio do PCC. Semana retrasada, oito integrantes do PCC foram presos na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, que faz divisa com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Outros criminosos que atuam na região, como Irineu Pingo Soligo, continuam sendo procurados.
Pernambuco
A polícia paulista também alertou as autoridades pernambucanas que Marcola enviara uma mulher a Recife para articular ações do PCC. A criminosa foi monitorada todo o tempo e, após fazer os contados, foi presa. O primeiro sinal de que Pernambuco estava na mira do PCC foi emitido em maio, quando a Polícia Civil prendeu, em Recife e Caruaru (a 130km da capital pernambucana), sete pessoas ligadas à organização.
No momento da prisão, o grupo se preparava para incendiar ônibus com bombas caseiras feitas com gasolina. Dos sete presos, somente três eram de Pernambuco. Os outros eram de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Ceará.De acordo com integrantes da CPI no Tráfico de Armas, já foram identificados em Pernambuco pelo menos 41 bandidos ligados à facção criminosa paulista. O número, porém, tende a crescer, já que, segundo as investigações, o PCC tem conseguido cooptar novos seguidores no Nordeste.
Outro estado considerado “frágil” pelo PCC é o Espírito Santo. O alerta surgiu com a prisão do criminoso Celso Miguel, em Vila Velha, na Região Metropolitana de Vitória, em 21 de julho. Foragido da Justiça de São Paulo, Celso Miguel é apontado como um dos autores dos ataques do PCC no Espírito Santo, onde 19 ônibus foram queimados no rastro das duas ondas de violência que explodiram na capital paulista.
Fora São Paulo, o Espírito Santo foi o estado onde ocorreu a pior onda de motins em presídios, com duas unidades carcerárias tomadas pelos presos simultaneamente em junho. Na ocasião, centenas de pessoas foram feitas reféns, enquanto os detentos revelados exibiam cartazes com as inscrições “PCC, agradecemos a participação”, e “PCC no ES – juntos venceremos”.
Investidas tímidas em Minas e no Rio
Até agora, por dois motivos diferentes, Minas Gerais e Rio de Janeiro continuam inacessíveis aos ataques mais violentos do Primeiro Comando da Capital (PCC). Em Minas, um eficiente trabalho de inteligência e uma dura repressão das polícias civil e militar têm conseguido frear as investidas da facção. Já no Rio, o problema do PCC são as organizações criminosas do estado — Comando Vermelho (CV), Amigo dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando (TC).
Desde maio, quando explodiu a primeira onda de violência em São Paulo, as polícias mineiras têm trabalhado para evitar que o fenômeno se instale no estado. Em blitzen nos presídios mineiros, já foram encontradas cópias do estatuto do PCC — um conjunto de 17 regras a serem seguidas por seus s integrantes. O último item do estatuto já fala na política de expansão: “A médio e longo prazos, nos consolidaremos em nível nacional”.
Minas consta da lista de estados com presença da facção criminosa paulista divulgada recentemente pela CPI do Tráfico de Armas. Ações preventivas no território mineiro próximo à fronteira com São Paulo já resultaram na prisão de pelo menos seis criminosos ligados ao PCC. Nos presídios de Minas, estão sendo monitorados detentos com potencial para, da cadeia, liderar ataques no estado.
Até agora, Minas passou praticamente incólume à onda de violência promovida pelo PCC em São Paulo e, em menor intensidade, em outros estados, como Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. As únicas ações ocorridas em território mineiro são consideradas de pequeno porte se comparadas com às dezenas de mortes de policiais e agentes penitenciários ocorridas em São Paulo.
No Rio, o PCC tem uma parceria estratégica com o Comando Vermelho. Isso não significa, contudo, que a facção criminosa paulista tenha trânsito livre no território fluminense. Ao contrário, o PCC evita promover ações no Rio para não despertar o ciúmes do CV, da ADA e do TC.
O estatuto do PCC fala na parceria com o Comando Vermelho. “Em coligação com CV, iremos revolucionar o país dentro das prisões. Nosso braço armado será o terror dos poderosos opressores e tiranos que usam o Anexo de Taubaté e Bangu I do Rio de Janeiro como instrumento de vingança da sociedade na fabricação de monstros”, diz o documento. (LF)
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