Contradições de Lula
Enviado: 12 Ago 2006, 14:40
CANDIDATO À REELEIÇÃO, O PRESIDENTE LULA NA PRÁTICA ADOTOU ONTEM, NA ENTREVISTA AO “JORNAL NACIONAL”, O TOM ESQUEÇAM O QUE EU DISSE. O PETISTA NEGOU, ERROU OU SE CONTRADISSE SOBRE QUESTÕES IMPORTANTES DE SEU GOVERNO:
"O Globo" 11/08/2006
DIRCEU E PALOCCI: Lula disse que demitiu os dois ministros para afirmar que pune quem comete erros. Nos dois casos, porém, ele resistiu o quanto pôde a evidências e à participação tanto de Dirceu, no caso do mensalão, como de Palocci, no escândalo do caseiro. Dirceu já tinha sobrevivido ao caso Waldomiro Diniz. E só se afastou do cargo de chefe da Casa Civil quando sua permanência lá tornara-se insustentável pela pressão das investigações das CPIs. Mesmo assim, pediu demissão. No caso de Palocci, Lula aceitou seu pedido de afastamento - e também apenas quando já não dava mais para negar a participação do então ministro da Fazenda na violação ilegal do sigilo bancário do caseiro que o acusara.
MÁCULA DO PT: Ontem Lula disse que os escândalos do valerioduto e do mensalão “não maculam” o PT, mas as pessoas. As pessoas a que o presidente se refere, porém, eram toda a cúpula de seu partido - o presidente, o secretário-geral, o tesoureiro. Sobre qualquer um deles, inclusive, o presidente não ensaiou ontem qualquer defesa. A culpa é dos outros - pessoas - não do PT nem dele, disse nas entrelinhas.
TRAIDORES: Novamente se recusou a citar os nomes dos que supostamente o traíram.
CPIs: Foi impreciso ao dizer que nunca pediu punição para alguém ainda não condenado. Quando era oposição, ele fez isso em diversos episódios, inclusive com hoje aliados seus como Jader Barbalho, acusado de fraudes contra a Sudam e que hoje integra o conselho político de sua campanha e até opina sobre ética.
CGU: Disse que foi ele quem criou a Controladoria Geral da União, que na verdade foi criada em 2001 pelo presidente Fernando Henrique.
OKAMOTTO: Ao falar do pagamento da dívida de R$29,4 mil com o PT, paga por seu amigo Paulo Okamotto, alegou que este errou ao não descontar na rescisão do contrato com o PT. Minutos depois, porém, disse que não pagou porque não havia dívida. E não explicou por que, tendo patrimônio de quase R$1 milhão, deixou Okamotto pagar.
CANDIDATO TENTOU SE EQUILIBRAR ENTRE A FIDELIDADE AOS ‘IRMÃOS’ E A NECESSIDADE DE CONVENCER O ELEITORADO DE QUE NADA SABIA SOBRE O MENSALÃO
Tenso, Lula procura se distanciar de aliados
Luiz Inácio Lula da Silva é um candidato preocupado em se desvencilhar de amigos e aliados nesta campanha eleitoral. Aos olhos dos eleitores, pelo menos.
Ontem, em entrevista à Rede Globo, Lula tentou manter distância de antigos aliados, com os quais governou o Partido dos Trabalhadores até à chegada ao centro do poder, em 2003. O caso do mensalão “não macula o PT”, disse Lula, “pode macular pessoas”.
Referia-se a alguns dos companheiros da cúpula petista que, em janeiro de 2003, subiram com ele a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília: os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, o ex-presidente do seu partido José Genoino, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e seu secretário de finanças pessoais, Paulo Okamotto, entre outros.
Visivelmente nervoso diante das luzes e lentes da televisão, Lula tentou se livrar do “peso” que, eventualmente, aliados como esses possam ter na sua eleição.
Titubeante, mostrou-se contraditório. Primeiro, atribuiu responsabilidade pelo mensalão aos fiéis aliados (“lamento profundamente que companheiros tenham feito coisas que ainda vão ser julgadas”). Em seguida, considerou-se responsável (“por qualquer erro que qualquer funcionário público cometa no Brasil”).
O candidato à reeleição quis apresentar um presidente da República vigilante, incisivo e decidido e afirmou ter demitido os ministros Dirceu e Palocci. Os arquivos do Planalto guardam os originais das cartas de ambos - e eles jamais foram demitidos pelo chefe, pediram demissão depois de prolongada agonia na Casa Civil (Dirceu) e na Fazenda (Palocci).
Também tentou passar a impressão de um presidente absolutamente isento e fiel seguidor do princípio de não interferência nos demais poderes da República. Mas não foi exatamente isso o que ocorreu nas investigações do Congresso sobre o caso do mensalão.
O governo empenhou todos os esforços para, primeiro, impedir a Comissão Parlamentar de Inquérito. Depois, para retardar o processo de investigação - bancos estatais e fundos de pensão, por exemplo, foram alvo de seguidas queixas do comando da CPI.
Houve momentos em que senadores e deputados encarregados da investigação precisaram recorrer à ajuda do procurador-geral da República para conseguir que órgãos federais apresentassem documentos solicitados três meses antes. O governo Lula nunca facilitou as investigações da CPI dos Correios, ao contrário, como registram os anais da comissão.
Ontem, na televisão, Lula mostrou-se um candidato tenso, quase à beira de um ataque de nervos, tentando se equilibrar entre a fidelidade aos “irmãos”- como costumava se referir, em público, a Palocci e Genoino - e a necessidade de fazer o eleitorado acreditar que nada sabia, por era apenas o presidente da República.
"O Globo" 11/08/2006
DIRCEU E PALOCCI: Lula disse que demitiu os dois ministros para afirmar que pune quem comete erros. Nos dois casos, porém, ele resistiu o quanto pôde a evidências e à participação tanto de Dirceu, no caso do mensalão, como de Palocci, no escândalo do caseiro. Dirceu já tinha sobrevivido ao caso Waldomiro Diniz. E só se afastou do cargo de chefe da Casa Civil quando sua permanência lá tornara-se insustentável pela pressão das investigações das CPIs. Mesmo assim, pediu demissão. No caso de Palocci, Lula aceitou seu pedido de afastamento - e também apenas quando já não dava mais para negar a participação do então ministro da Fazenda na violação ilegal do sigilo bancário do caseiro que o acusara.
MÁCULA DO PT: Ontem Lula disse que os escândalos do valerioduto e do mensalão “não maculam” o PT, mas as pessoas. As pessoas a que o presidente se refere, porém, eram toda a cúpula de seu partido - o presidente, o secretário-geral, o tesoureiro. Sobre qualquer um deles, inclusive, o presidente não ensaiou ontem qualquer defesa. A culpa é dos outros - pessoas - não do PT nem dele, disse nas entrelinhas.
TRAIDORES: Novamente se recusou a citar os nomes dos que supostamente o traíram.
CPIs: Foi impreciso ao dizer que nunca pediu punição para alguém ainda não condenado. Quando era oposição, ele fez isso em diversos episódios, inclusive com hoje aliados seus como Jader Barbalho, acusado de fraudes contra a Sudam e que hoje integra o conselho político de sua campanha e até opina sobre ética.
CGU: Disse que foi ele quem criou a Controladoria Geral da União, que na verdade foi criada em 2001 pelo presidente Fernando Henrique.
OKAMOTTO: Ao falar do pagamento da dívida de R$29,4 mil com o PT, paga por seu amigo Paulo Okamotto, alegou que este errou ao não descontar na rescisão do contrato com o PT. Minutos depois, porém, disse que não pagou porque não havia dívida. E não explicou por que, tendo patrimônio de quase R$1 milhão, deixou Okamotto pagar.
CANDIDATO TENTOU SE EQUILIBRAR ENTRE A FIDELIDADE AOS ‘IRMÃOS’ E A NECESSIDADE DE CONVENCER O ELEITORADO DE QUE NADA SABIA SOBRE O MENSALÃO
Tenso, Lula procura se distanciar de aliados
Luiz Inácio Lula da Silva é um candidato preocupado em se desvencilhar de amigos e aliados nesta campanha eleitoral. Aos olhos dos eleitores, pelo menos.
Ontem, em entrevista à Rede Globo, Lula tentou manter distância de antigos aliados, com os quais governou o Partido dos Trabalhadores até à chegada ao centro do poder, em 2003. O caso do mensalão “não macula o PT”, disse Lula, “pode macular pessoas”.
Referia-se a alguns dos companheiros da cúpula petista que, em janeiro de 2003, subiram com ele a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília: os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, o ex-presidente do seu partido José Genoino, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e seu secretário de finanças pessoais, Paulo Okamotto, entre outros.
Visivelmente nervoso diante das luzes e lentes da televisão, Lula tentou se livrar do “peso” que, eventualmente, aliados como esses possam ter na sua eleição.
Titubeante, mostrou-se contraditório. Primeiro, atribuiu responsabilidade pelo mensalão aos fiéis aliados (“lamento profundamente que companheiros tenham feito coisas que ainda vão ser julgadas”). Em seguida, considerou-se responsável (“por qualquer erro que qualquer funcionário público cometa no Brasil”).
O candidato à reeleição quis apresentar um presidente da República vigilante, incisivo e decidido e afirmou ter demitido os ministros Dirceu e Palocci. Os arquivos do Planalto guardam os originais das cartas de ambos - e eles jamais foram demitidos pelo chefe, pediram demissão depois de prolongada agonia na Casa Civil (Dirceu) e na Fazenda (Palocci).
Também tentou passar a impressão de um presidente absolutamente isento e fiel seguidor do princípio de não interferência nos demais poderes da República. Mas não foi exatamente isso o que ocorreu nas investigações do Congresso sobre o caso do mensalão.
O governo empenhou todos os esforços para, primeiro, impedir a Comissão Parlamentar de Inquérito. Depois, para retardar o processo de investigação - bancos estatais e fundos de pensão, por exemplo, foram alvo de seguidas queixas do comando da CPI.
Houve momentos em que senadores e deputados encarregados da investigação precisaram recorrer à ajuda do procurador-geral da República para conseguir que órgãos federais apresentassem documentos solicitados três meses antes. O governo Lula nunca facilitou as investigações da CPI dos Correios, ao contrário, como registram os anais da comissão.
Ontem, na televisão, Lula mostrou-se um candidato tenso, quase à beira de um ataque de nervos, tentando se equilibrar entre a fidelidade aos “irmãos”- como costumava se referir, em público, a Palocci e Genoino - e a necessidade de fazer o eleitorado acreditar que nada sabia, por era apenas o presidente da República.