Fonte
Faranaz Keshavjee *
Quinta-feira, 10, 12.30, liga-me do aeroporto de Lisboa a amiga Margo de regresso de uma curta estada nos Açores e a caminho de Londres, encontrava-se "stuck at the airport". Afinal, o voo fora apenas adiantado para umas horas mais tarde e só houve tempo para uma curta conversa. A frase que registei melhor no presente contexto foi: " pois é, tu deves sentir-te "stressada" com estas coisas ultimamente". Acho que todos nós, mas eu principalmente, pela forma abusiva, violenta e monolítica como tratam os muçulmanos nas notícias do "Ocidente".
Desde então, já se ouviram vozes que alertaram para os perigos de posturas generalistas e essencialmente xenófobas relativas aos muçulmanos e às consequências negativas e igualmente violentas que elas podem provocar. As notícias de sábado trouxeram elementos muito interessantes sobre o perfil de alguns dos alegados terroristas, alguns dos quais recém-convertidos ao Islão (o que não deixa de ser muito interessante para eventual análise sociológica), para um alegado crime, que alegadamente sucederia um destes dias. É preciso perceber as coisas nesta esfera da possibilidade, porque afinal, ainda são tudo suspeitas. E mais, porque sucedem numa altura em que a popularidade de Bush e de Blair se encontrava em baixa. E depois, porque havia que legitimar todo este discurso sobre o combate aos "terroristas islâmicos" no Líbano face ao massacre e terrorismo provocado por Israel.
Há algo de estranho nisto tudo, porque me parece um bocado o resultado de uma paranóia, e um descontrolo total da polícia e dos serviços secretos, que prendem e libertam as pessoas, e tudo acontece por causa de um telefonema que acha que um indivíduo que desde que se tornou muçulmano passou a ter um comportamento estranho... e agora que se tem conhecimento do plano A falta precaver contra um plano B...
Tomei conhecimento que os serviços de informação aqui entre nós são treinados em Israel e com os americanos (o que não ajuda em nada o seu saber sobre os muçulmanos) e, sinceramente, o nível baixo dos seus conhecimentos e informação deixou-me pasmada imaginando o que se deve passar pelo resto do mundo "ocidental" com quem esta gente treina a sua arte! Começo a dar razão a Robert Fisk, o correspondente do Independent e autor de algumas obras notáveis, sobre esta teoria xenófoba, racista e anti-islâmica que prolifera no "ocidente".
É claro que sou a favor da erradicação dos terroristas, da identificação das fontes do terror, e da sua eliminação, mas sou a favor da eliminação de TODAS as formas de terror e de violência, incluindo a de Israel contra o Líbano, do Hezbollah contra Israel, das de Guantánamo e daquelas que sucedem todos os dias no Iraque pelas próprias "forças da paz" sobre mulheres, jovens e famílias que morrem violadas, abusadas e violentadas, e do sadismo terrorista que se usa nas prisões e ruas iraquianas, em favor da imposição de um modelo de democracia importado por realidades onde a pena de morte e outras aberrações sociais e políticas prevalecem como é o caso dos EUA.
Para mim, isto está tudo ligado, e quando não está passa a estar a partir do momento em que cada sujeito que marcha nas manifestações de paz nas ruas da Europa está contra a guerra deixando de se identificar com o seu próprio governo e adoptando a ideologia dos jovens muçulmanos com quem vai aos cafés, estuda na mesma escola e joga futebol. Parece-me ser esta uma hipótese sociológica possível para perceber porque jovens "brancos", sem histórias de desemprego ou exclusão social, como se crê serem estes que estão entre os 24 ou agora, 23, que estão a ser julgados em Londres, e que se converteram ao Islão, possam alegadamente envolver-se em terrorismos.
Precisamos de análises rigorosas e profundas que permitam conhecer mais sobre os motivos. Ninguém conseguiu até hoje dar uma explicação plausível e convincente do que leva brancos ou não brancos, e muçulmanos, a planear e executar estes crimes. Toda a investigação em sociologia ou psicologia da criminalidade produz explicações recorrendo-se às histórias, vivências, violências e outras aberrações sofridas pelos criminosos e justificativas dos seus actos. No caso dos terrorismos praticados por muçulmanos, a única explicação que se apresenta, e que é completamente idiota e infantilizada, é a da génese e origem do Islão.
Ficam por explicar os impactos psicossociais de racismos nacionalistas francês, inglês ou outro qualquer por essa Europa fora, que passam de geração em geração, de formas subtis ou óbvias, e registos como "go home, you paki", um insulto que eu mesma, portuguesíssima de gema!, recebi no metro em Londres, ou os tijolos com que miúdos ingleses apedrejavam as janelas de velhotas indianas e muçulmanas que não falavam uma palavra de inglês quando chegaram a um bairro londrino depois de expulsas por Idi Amin no Uganda, e depois de o governo britânico ter achado a brilhante solução de integração para estes grupos de gentes, misturando-os com o resto dos ingleses que os olhavam de lado, porque não passam de "bloody foreigners", afastando os membros de famílias vários quilómetros de distância para não proporcionar a segregação e alienação.
Mas a alienação e exclusão sociais não são produto da vida em comunidade senão da ausência de critérios e políticas de integração pluralistas. Estes são alguns exemplos entre muitos outros que podemos encontrar pela Europa e que podem ter impactos negativos na forma como se constrói, e destrói, a identidade social de gerações marcadas pelo estigma da diferença e da inferioridade.
Se há condicionantes sociológicas e políticas que servem de ingredientes para comportamentos criminosos, a verdade é que sem dinheiro não se conseguem arquitectar terrorismos à escala que conhecemos. Então, quem lhes paga para isto? Certamente, como já ficou provado com Bin Laden & cia, esse vem principalmente da Arábia Saudita e das suas escolas mais fundamentalistas, que por sua vez é o aliado mais apreciado pelos Estados Unidos, porque lhes permitem sentar-se sobre o petróleo - e daqui a conivência do Ocidente com um regime e com a fonte que alimenta muitos males no mundo. Vamos lá, então, identificar os verdadeiros fascistas.
Depois do falhanço do comunismo, o "Ocidente" tinha de encontrar um novo inimigo ideológico a combater e esse é o Islão. Depois de George W. fiquei a conhecer outro discurso fascista - o de Vasco Pulido Valente. Na crónica do dia 12 faz distinção entre "ocidente" e "Islamismo" englobando, ainda por cima, nesta última categoria, tanto os moderados como os radicais.
A forma como escreve tem, essencialmente, dois problemas graves. O primeiro é que não existe tal coisa chamada "Islamismo", pois a pluralidade e diversidade de interpretações e de aculturações do Islão pelos muçulmanos espalhados pelos vários continentes do mundo torna claro que os "ismos" trazem o perigo de uma visão monolítica de uma fé com doutrinas e escolas de pensamento das mais variadas, e que é portanto, um erro colocá-los a todos no mesmo cesto. Depois, não sabemos todos que há milhões de ocidentais que são muçulmanos e que esse ocidente não existiria se não fosse porque se "orientou" tantas vezes para o Outro, para a sua própria sabedoria e evolução? E mais, quando VPV apresenta o bi-polarismo entre ricos e pobres, e África e Ásia por contraposição à Europa, colocando os muçulmanos na categoria inferior, não pode esquecer que a superioridade monetária ou outra qualquer desse Ocidente de que se envaidece existiu graças à opressão e exploração desses mesmos que agora critica e que acha que deveriam agradecer pelos direitos e liberdades de que gozam, finalmente!
O que incomoda a muitos dos muçulmanos, pelo menos aos ocidentais, é esta obsessão por categorizar todos os males do mundo como uma doença congénita que o Islão traz em si e que contagia todos os muçulmanos, em qualquer parte do mundo, fazendo de todos e de cada um inimigos de quem devemos desconfiar, e potenciais terroristas.
As opiniões facciosas e falaciosas que acabam por moldar o senso-comum têm o perigo de provocar a violência sistémica, porque a esta se responde ainda com maior violência, e sobretudo, provocam o sentimento de identificação social e religiosa que, embora diferente quanto à essência das formas e crenças, aproxima e assemelha o propósito e a causa de existir para ver reposicionada a justiça num mundo já de si tão cheio de iniquidades. É preciso ter cuidado! Mas com aquilo que dizemos!
* Membro da comunidade ismaelita
Cuidado, são "islamitas"!
Cuidado, são "islamitas"!
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
- Poindexter
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Re: Cuidado, são "islamitas"!
As notícias de sábado trouxeram elementos muito interessantes sobre o perfil de alguns dos alegados terroristas, alguns dos quais recém-convertidos ao Islão (o que não deixa de ser muito interessante para eventual análise sociológica), para um alegado crime, que alegadamente sucederia um destes dias.
Se o Governo não evita o atentado, é incompetente. Se evita, evitou um "alegado" atentado de "alegados" terroristas que "alegadamente" ocorreria... é crítica de qualquer jeito.
É claro que sou a favor da erradicação dos terroristas, da identificação das fontes do terror, e da sua eliminação, mas sou a favor da eliminação de TODAS as formas de terror e de violência...
Claro! A solução está em abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas!
... incluindo a de Israel contra o Líbano, do Hezbollah contra Israel, das de Guantánamo e daquelas que sucedem todos os dias no Iraque pelas próprias "forças da paz" sobre mulheres, jovens e famílias que morrem violadas, abusadas e violentadas, e do sadismo terrorista que se usa nas prisões e ruas iraquianas, em favor da imposição de um modelo de democracia importado por realidades onde a pena de morte e outras aberrações sociais e políticas prevalecem como é o caso dos EUA.
Com certeza, não havia Pena de Morte no regime de Saddam!

Engraçado alguém que se diz contra "toda forma de violência" ter se lembrado de mencionar o regime carcerário dos E.U.A. no Iraque e não mencionar o regime carcerário de Saddam...
Precisamos de análises rigorosas e profundas que permitam conhecer mais sobre os motivos. Ninguém conseguiu até hoje dar uma explicação plausível e convincente do que leva brancos ou não brancos, e muçulmanos, a planear e executar estes crimes. Toda a investigação em sociologia ou psicologia da criminalidade produz explicações recorrendo-se às histórias, vivências, violências e outras aberrações sofridas pelos criminosos e justificativas dos seus actos. No caso dos terrorismos praticados por muçulmanos, a única explicação que se apresenta, e que é completamente idiota e infantilizada, é a da génese e origem do Islão.
Tradução: "como não gostei da conclusão, ela é completamente idiota e infantilizada".
Ficam por explicar os impactos psicossociais de racismos nacionalistas francês, inglês ou outro qualquer por essa Europa fora, que passam de geração em geração, de formas subtis ou óbvias, e registos como "go home, you paki", um insulto que eu mesma, portuguesíssima de gema!, recebi no metro em Londres, ou os tijolos com que miúdos ingleses apedrejavam as janelas de velhotas indianas e muçulmanas que não falavam uma palavra de inglês quando chegaram a um bairro londrino depois de expulsas por Idi Amin no Uganda, e depois de o governo britânico ter achado a brilhante solução de integração para estes grupos de gentes, misturando-os com o resto dos ingleses que os olhavam de lado, porque não passam de "bloody foreigners", afastando os membros de famílias vários quilómetros de distância para não proporcionar a segregação e alienação.
Falta a autora explicar porque nenhum não muçulmano não pode SEQUER ENTRAR em Meca.
Mas a alienação e exclusão sociais não são produto da vida em comunidade senão da ausência de critérios e políticas de integração pluralistas. Estes são alguns exemplos entre muitos outros que podemos encontrar pela Europa e que podem ter impactos negativos na forma como se constrói, e destrói, a identidade social de gerações marcadas pelo estigma da diferença e da inferioridade.
Se há condicionantes sociológicas e políticas que servem de ingredientes para comportamentos criminosos, a verdade é que sem dinheiro não se conseguem arquitectar terrorismos à escala que conhecemos. Então, quem lhes paga para isto? Certamente, como já ficou provado com Bin Laden & cia, esse vem principalmente da Arábia Saudita e das suas escolas mais fundamentalistas, que por sua vez é o aliado mais apreciado pelos Estados Unidos, porque lhes permitem sentar-se sobre o petróleo - e daqui a conivência do Ocidente com um regime e com a fonte que alimenta muitos males no mundo. Vamos lá, então, identificar os verdadeiros fascistas.
Depois do falhanço do comunismo, o "Ocidente" tinha de encontrar um novo inimigo ideológico a combater e esse é o Islão. Depois de George W. fiquei a conhecer outro discurso fascista - o de Vasco Pulido Valente. Na crónica do dia 12 faz distinção entre "ocidente" e "Islamismo" englobando, ainda por cima, nesta última categoria, tanto os moderados como os radicais.
A forma como escreve tem, essencialmente, dois problemas graves. O primeiro é que não existe tal coisa chamada "Islamismo", pois a pluralidade e diversidade de interpretações e de aculturações do Islão pelos muçulmanos espalhados pelos vários continentes do mundo torna claro que os "ismos" trazem o perigo de uma visão monolítica de uma fé com doutrinas e escolas de pensamento das mais variadas, e que é portanto, um erro colocá-los a todos no mesmo cesto.
Lei de Godwin.
... porque se "orientou" tantas vezes para o Outro

E mais, quando VPV apresenta o bi-polarismo entre ricos e pobres, e África e Ásia por contraposição à Europa, colocando os muçulmanos na categoria inferior, não pode esquecer que a superioridade monetária ou outra qualquer desse Ocidente de que se envaidece existiu graças à opressão e exploração desses mesmos que agora critica e que acha que deveriam agradecer pelos direitos e liberdades de que gozam, finalmente!
A velha ladainha de "opressão" e "exploração" como herança maldita, como se a Europa não tivesse sido praticamente toda tomada pela Alemanha na década de 40 e pela França no começo do séc XIX...
Si Pelé es rey, Maradona es D10S.
Ciertas cosas no tienen precio.
¿Dónde está el Hexa?
Retrato não romantizado sobre o Comun*smo no século XX.
A child, not a choice.
Quem Henry por último Henry melhor.
O grito liberalista em favor da prostituição já chegou à este fórum.
Lamentável...
O que vem de baixo, além de não me atingir, reforça ainda mais as minhas idéias.
The Only Difference Between Suicide And Martyrdom Is Press Coverage
Ciertas cosas no tienen precio.
¿Dónde está el Hexa?
Retrato não romantizado sobre o Comun*smo no século XX.
A child, not a choice.
Quem Henry por último Henry melhor.
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Lamentável...
O que vem de baixo, além de não me atingir, reforça ainda mais as minhas idéias.
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