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CRISTIANISMO

Enviado: 25 Ago 2006, 10:48
por Carlos Castelo
No cristianismo nem a moral nem a religião estão em contato com a realidade. Somente encontramos causas imaginárias (“Deus”, “alma”, “espírito”, o “livre-arbítrio” ou também o “não-livre”); efeitos imaginários (“pecado”, “salvação”, “graça”, “castigo” , remição dos pecados”); um comércio entre seres imaginários (“Deus”, “espírito”, “alma”); uma ciência natural imaginária (antropocentrismo, ausência do conceito de causa natural); uma psicologia imaginária (só erro sobre si próprio, interpretações de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo dos estados de nervus sympathicus, com auxílio da linguagem figurada da idiossincracia religioso-moral – “arrependimento”, “remorso”, “tentação do demônio”, “presença de Deus”); uma teologia imaginária (“o reino de Deus”, “o juízo final”, a “vida eterna”).
Este universo de ficções puras distigue-se pela sua grande desvantagem, do mundo dos sonhos, que pelo menos reflete a realidade, ao passo que este não faz mais do que falseá-la, desprezá-la e negá-la. Depois de ter criado o conceito “natureza” como oposição ao conceito “Deus” , “natural” tornou-se forçosamente sinônimo de “desprezível”, pois que todo esse mundo de ficções tem a sua origem no ódio contra o natural, contra a realidade! É a expressão de um profundo mal-estar perante o real... Mas eis que tudo se explica. Quem terá razões pra fugir da realidade através da mentira? Só a quem ela fizer sofrer. Mas sofrer pela realidade significa que se é realmente falho...O predomínio do sentimento de pena sobre o sentimento de prazer é a causa desta moral e desta religião fictícias; mas um tal excesso estabelece a forma para a decadência...

Nietzsche – O Anticristo, af.XV.