Os neopentecostais se apegam ao AT?
Enviado: 27 Out 2005, 16:40
Que as igrejas pentecostais têm igual apreço tanto pelo Antigo Testamento como pelo Novo Testamento parece ser meio óbvio, tendo em vista que são adeptos fundamentalistas da sola scriptura.
Porém, no meu convívio com crentes das mais variadas igrejas e seitas e na constante observação dos crentes que adentram o fórum RV, desenvolvi a seguinte constatação:
Os neopentecostais, como segmento do protestantismo pentecostal, ao conceberem-se como antítese do ramo do cristianismo que julgam totalmente equivocado e idólatra - o catolicismo - apegaram-se ainda mais aos textos do Antigo Testamento judaico; creio que para confrontar a legitimação histórica que o catolicismo apregoa para si, vez que o protestantismo - corrijam-me se estiver equivocado - renega a maior parte do que se produziu nos mais de de 1.500 anos de história, filosofia e teologia cristã (além da liturgia) desenvolvidos no seio do catolicismo antes do cisma protestante que teve Lutero como ponta-de-lança.
Percebo que, embora digam que a única solução para o ser humano santificar-se e ser salvo é seguir os ensinamentos de Jesus - o que remeteria como parâmetro de importância dentro da liturgia e outros aspectos do neopentecostalismo o maior estudo e apreço do Novo Testamento, que abrange a vida de Jesus, os feitos e ensinamentos dos apóstolos e o livro das revelações, em detrimento dos livros do Antigo Testamento hebreu -, os crentes parecem necessitar impingir um igual destaque ao AT; o qual é tomado como alegoria (ou não tão ao pé da letra) por outras facções cristãs; talvez pelo fato de, ao renegarem tudo o que remete à tradição cristã praticamente desde Cristo até o já citado cisma protestante, necessitaram manter um imaginário fértil de exemplos de fé que não necessitasse recorrer sempre à tradição comum ao catolicismo que os faria prenderem-se apenas ao NT (que tornaria a tal pregação da palavra um porre de tão repetitivo).
Friso aqui que a liturgia católica embasa-se tão somente no NT, tomando o AT como tradição.
Assim, na busca por verdadeiros exemplos de fé e obediência a deus, acabaram, paradoxalmente, por remeter-se a personagens anteriores à época da pregação de Cristo, que é o ícone máximo de sua tradição, ao lado e junto de deus, o que faz pensar por que grandes exemplos de fé transbordantes de graça divina abundam antes de Jesus e são exíguos após sua passagem por aqui, restringindo-se somente às figuras conhecidas do cristianismo primitivo, presentes nos evangelhos - fica parecendo que a pregação de Jesus não rendeu muito em termos de formar vultos - não ícones ou ídolos, que vão contra os dogmas da fé protestante - que possam ser reconhecidos como exemplo de fé e obediência a deus.
Afirmo isto pelo fato de que parece que os patriarcas, os profetas, os heróis, enfim, os grandes personagens do AT, passaram a ocupar o imaginário dos neopentecostais a lacuna deixada pelos santos e suas vidas virtuosas no catolicismo - deve-se frisar que os personagens do AT, apesar de serem também considerados no catolicismo, assumem uma menor importância como exemplos de fé e obediência a deus do que os contemporâneos de Jesus, os pais da igreja (apóstolos) e demais santos e mártires.
Ou seja, no catolicismo, dá-se importância àqueles que ouviram as palavras de Cristo e lutaram para formar uma igreja (apóstolos, santos e mártires) e os grandes exemplos de fé e obediência do neopentecostalismo geralmente são fuguras anteriores ao adevento de Cristo.
Não que os neopentecostais façam orações pedindo a Sophonias, Jeroboão, Abraão ou Davi interceções junto a deus (o que contraria seus dogmas), como os católicos fazem aos santos com os quais se identificam, mas percebo que na liturgia neopentecostal - e digo isso após ter presenciado cultos e programas televisivos que assim escoram o que afirmo - a vida dos personagens consagrados no AT torna-se exemplo a ser seguido, ou seja, as escolhas que tais figuras míticas (ou personagens reais elevados à categoria de mito, tanto faz) fazem para ter a benção divina ou serem agraciados por deus com alguma benesse são tidos como exemplo a ser seguido e elevados a uma espécie de pedestal de adoração - não como os santos do catolicismo idólatra é claro, mas são ao menos considerados homens e mulheres de caráter irrepreensível ou de qualidades especiais ou pessoas especiais apenas por sua devoção e obediência a deus, de maneira que os seus atos em favor da fé e a sua subordinação à divindade contam como parâmetro de comportamento cuja busca se espera que todo crente empreenda -, de modo que pode-se afirmar que existe uma espécie de mitologia cristã pentecostal ou neopentecostal da mesma forma que no catolicismo existe a hagiografia*, só que com personagens retirados de épocas anteriores aos ensinamentos de Cristo, que é quem veio, segundo os mesmos, trazer a boa-nova, tornando sua liturgia um tanto confusa e surreal.
Sendo assim, curiosamente, parece que as religiões; mesmo que contenham dogmas claros que façam referência à exclusividade de adoração a um deus (no caso do cristianismo protestante, deus e seu filho Jesus de Nazaré, mais o espírito santo de deus); não sobrevivem sem um panteão menor que lhes confira credibilidade com o seu exemplo de fé e sua adoração e obediência (algo comum às diversas mitologias de outros povos), nem que seja de uma maneira tão tortuosa e não-conseqüente como o pentecostalismo.
*Hagiografia (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre) = Hagiografia é o estudo da biografia dos santos, beatos e servos de Deus proclamados por algumas igrejas cristãs, pela sua vida e pela prática de virtudes heróicas.
Porém, no meu convívio com crentes das mais variadas igrejas e seitas e na constante observação dos crentes que adentram o fórum RV, desenvolvi a seguinte constatação:
Os neopentecostais, como segmento do protestantismo pentecostal, ao conceberem-se como antítese do ramo do cristianismo que julgam totalmente equivocado e idólatra - o catolicismo - apegaram-se ainda mais aos textos do Antigo Testamento judaico; creio que para confrontar a legitimação histórica que o catolicismo apregoa para si, vez que o protestantismo - corrijam-me se estiver equivocado - renega a maior parte do que se produziu nos mais de de 1.500 anos de história, filosofia e teologia cristã (além da liturgia) desenvolvidos no seio do catolicismo antes do cisma protestante que teve Lutero como ponta-de-lança.
Percebo que, embora digam que a única solução para o ser humano santificar-se e ser salvo é seguir os ensinamentos de Jesus - o que remeteria como parâmetro de importância dentro da liturgia e outros aspectos do neopentecostalismo o maior estudo e apreço do Novo Testamento, que abrange a vida de Jesus, os feitos e ensinamentos dos apóstolos e o livro das revelações, em detrimento dos livros do Antigo Testamento hebreu -, os crentes parecem necessitar impingir um igual destaque ao AT; o qual é tomado como alegoria (ou não tão ao pé da letra) por outras facções cristãs; talvez pelo fato de, ao renegarem tudo o que remete à tradição cristã praticamente desde Cristo até o já citado cisma protestante, necessitaram manter um imaginário fértil de exemplos de fé que não necessitasse recorrer sempre à tradição comum ao catolicismo que os faria prenderem-se apenas ao NT (que tornaria a tal pregação da palavra um porre de tão repetitivo).
Friso aqui que a liturgia católica embasa-se tão somente no NT, tomando o AT como tradição.
Assim, na busca por verdadeiros exemplos de fé e obediência a deus, acabaram, paradoxalmente, por remeter-se a personagens anteriores à época da pregação de Cristo, que é o ícone máximo de sua tradição, ao lado e junto de deus, o que faz pensar por que grandes exemplos de fé transbordantes de graça divina abundam antes de Jesus e são exíguos após sua passagem por aqui, restringindo-se somente às figuras conhecidas do cristianismo primitivo, presentes nos evangelhos - fica parecendo que a pregação de Jesus não rendeu muito em termos de formar vultos - não ícones ou ídolos, que vão contra os dogmas da fé protestante - que possam ser reconhecidos como exemplo de fé e obediência a deus.
Afirmo isto pelo fato de que parece que os patriarcas, os profetas, os heróis, enfim, os grandes personagens do AT, passaram a ocupar o imaginário dos neopentecostais a lacuna deixada pelos santos e suas vidas virtuosas no catolicismo - deve-se frisar que os personagens do AT, apesar de serem também considerados no catolicismo, assumem uma menor importância como exemplos de fé e obediência a deus do que os contemporâneos de Jesus, os pais da igreja (apóstolos) e demais santos e mártires.
Ou seja, no catolicismo, dá-se importância àqueles que ouviram as palavras de Cristo e lutaram para formar uma igreja (apóstolos, santos e mártires) e os grandes exemplos de fé e obediência do neopentecostalismo geralmente são fuguras anteriores ao adevento de Cristo.
Não que os neopentecostais façam orações pedindo a Sophonias, Jeroboão, Abraão ou Davi interceções junto a deus (o que contraria seus dogmas), como os católicos fazem aos santos com os quais se identificam, mas percebo que na liturgia neopentecostal - e digo isso após ter presenciado cultos e programas televisivos que assim escoram o que afirmo - a vida dos personagens consagrados no AT torna-se exemplo a ser seguido, ou seja, as escolhas que tais figuras míticas (ou personagens reais elevados à categoria de mito, tanto faz) fazem para ter a benção divina ou serem agraciados por deus com alguma benesse são tidos como exemplo a ser seguido e elevados a uma espécie de pedestal de adoração - não como os santos do catolicismo idólatra é claro, mas são ao menos considerados homens e mulheres de caráter irrepreensível ou de qualidades especiais ou pessoas especiais apenas por sua devoção e obediência a deus, de maneira que os seus atos em favor da fé e a sua subordinação à divindade contam como parâmetro de comportamento cuja busca se espera que todo crente empreenda -, de modo que pode-se afirmar que existe uma espécie de mitologia cristã pentecostal ou neopentecostal da mesma forma que no catolicismo existe a hagiografia*, só que com personagens retirados de épocas anteriores aos ensinamentos de Cristo, que é quem veio, segundo os mesmos, trazer a boa-nova, tornando sua liturgia um tanto confusa e surreal.
Sendo assim, curiosamente, parece que as religiões; mesmo que contenham dogmas claros que façam referência à exclusividade de adoração a um deus (no caso do cristianismo protestante, deus e seu filho Jesus de Nazaré, mais o espírito santo de deus); não sobrevivem sem um panteão menor que lhes confira credibilidade com o seu exemplo de fé e sua adoração e obediência (algo comum às diversas mitologias de outros povos), nem que seja de uma maneira tão tortuosa e não-conseqüente como o pentecostalismo.
*Hagiografia (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre) = Hagiografia é o estudo da biografia dos santos, beatos e servos de Deus proclamados por algumas igrejas cristãs, pela sua vida e pela prática de virtudes heróicas.