Os cinco anos do 11/9 e o fundamentalismo cristão
Enviado: 04 Set 2006, 15:30
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Uns poucos dias depois da afirmação do governo Bush de que afinal o quadro no Iraque revertera, com enorme redução no número de mortes de iraquianos em uma única semana, o Pentágono é forçado a reconhecer o contrário: a útima avaliação ampla da segurança aponta o aumento da violência sectária e uma insurgência "potente". Foi esse o destaque de sábado na primeira página do "New York Times".
A ironia é que o governo Bush prepara-se para comemorar o quinto aniversário do 11/9, que lhe deu sua única bandeira - a da "guerra ao terrorismo". Passaram-se cinco anos e os americanos ainda não ousam perguntar: se essa guerra imaginária é tão importante, se Bush apresenta-se como herói da luta contra o terrorismo, por que esqueceu Osama Bin Laden e atacou Saddam Hussein, que nada tinha a ver com o 11/9.
Na campanha da reeleição em 2004, ele se beneficiou ainda de mais uma guerra - a da direita religiosa, em várias frentes, com respaldo da mesma mídia que antes amplificara a pregação obscurantista republicana. E ao ser conhecido o resultado da votação, extremistas evangélicos, considerando-se vitoriosos, passaram a cobrar a fatura do presidente. Uma cobrança que nos anos seguintes só fez crescer.
A guerra da Fox contra o Natal
Os assanhados líderes evangélicos foram a extremos. Num episódio insólito, Pat Robertson até ameaçou (em novembro de 2005) os fiéis de uma comunidade da Pensilvânia que ficaram contra o ensino do que fundamentalistas cristãos chamam de "intelligent design", a teoria bíblica da criação. Disse: "Vocês rejeitaram Deus, agora só lhes resta esperar a vingança divina - vem aí um desastre natural devastador".
Em outra frente da direita religiosa ocorreu também conflito insólito. Insuflados pela rede Fox News, do magnata australiano da imprensa de escândalos Rupert Murdoch, cristãos fanáticos investiram contra grandes redes varejistas - em especial Wal-Mart, a maior do mundo. Ela foi acusada de sabotar os cristãos com a nova linha de seu apelo de vendas de fim de ano - "Boas Festas" em vez de "Feliz Natal".
Percebendo o potencial da controvérsia e a indignação fundamentalista ante a mudança de enfoque do comércio varejista, um apresentador de "talk show" da Fox, John Gibson, lançou antes do Natal passado o livro "A guerra contra o Natal". Ali alegou que, sendo os cristãos 85% da população, o que deve ser festejado no fim do ano é o Natal, não o Hannukah judeu ou festas equivalentes de muçulmanos, africanos etc.
O comércio quer faturar mais - daí ampliar o apelo de vendas, que deixava de ser só cristão ("Merry Christmas"), tornando-se "Happy Holidays". A Wal-Mart quer vender a fiéis de todas as religiões, por isso tornou-se alvo de Gibson e da Fox. Mas a campanha da direita cristã, respaldada pelo império Murdoch, veio em mau momento para a Wal-Mart, que antes já estava na alça de mira da esquerda (pela conduta antitrabalhista e reacionária).
O 11/9 como vingança divina
O caso do televangelista Robertson, candidato presidencial derrotado nas primárias de 1988, não é menos instigante. Fundador da Christian Broadcasting Network (Rede de Emissoras Cristãs) e da Christian Coalition (Coalizão Cristã), ele controla há anos influente facção do Partido Republicano. Mete-se em negócios duvidosos, como a exploração de minas de ouro na Libéria, mas a religião é sua mina mais lucrativa.
Entre as façanhas de Robertson está até a conclamação ao governo Bush em favor do assassinato do presidente da Venezuela. Depois foi ainda mais longe ao ameaçar uma comunidade da Pensilvânia com a "vingança de Deus". A nova cruzada do pastor fanático é contra a teoria da evolução, de Darwin. Para neutralizá-la, ele e seus fundamentalistas cristãos exigem o ensino da teoria bíblica da criação.
Os cientistas e a área acadêmica não vetam a teoria bíblica ("intelligent design") mas acham, para desespero dos fundamentalistas, que deve ser ensinada em aula de religião, não de ciências. Já a "ameaça divina" do televangelista apenas reeditou o que dissera logo depois do 11/9. Lançara então a tese de que o ataque ao World Trade Center foi castigo de Deus contra gays, lésbicas, feministas, a imoralidade e a permissividade.
Uns poucos dias depois da afirmação do governo Bush de que afinal o quadro no Iraque revertera, com enorme redução no número de mortes de iraquianos em uma única semana, o Pentágono é forçado a reconhecer o contrário: a útima avaliação ampla da segurança aponta o aumento da violência sectária e uma insurgência "potente". Foi esse o destaque de sábado na primeira página do "New York Times".
A ironia é que o governo Bush prepara-se para comemorar o quinto aniversário do 11/9, que lhe deu sua única bandeira - a da "guerra ao terrorismo". Passaram-se cinco anos e os americanos ainda não ousam perguntar: se essa guerra imaginária é tão importante, se Bush apresenta-se como herói da luta contra o terrorismo, por que esqueceu Osama Bin Laden e atacou Saddam Hussein, que nada tinha a ver com o 11/9.
Na campanha da reeleição em 2004, ele se beneficiou ainda de mais uma guerra - a da direita religiosa, em várias frentes, com respaldo da mesma mídia que antes amplificara a pregação obscurantista republicana. E ao ser conhecido o resultado da votação, extremistas evangélicos, considerando-se vitoriosos, passaram a cobrar a fatura do presidente. Uma cobrança que nos anos seguintes só fez crescer.
A guerra da Fox contra o Natal
Os assanhados líderes evangélicos foram a extremos. Num episódio insólito, Pat Robertson até ameaçou (em novembro de 2005) os fiéis de uma comunidade da Pensilvânia que ficaram contra o ensino do que fundamentalistas cristãos chamam de "intelligent design", a teoria bíblica da criação. Disse: "Vocês rejeitaram Deus, agora só lhes resta esperar a vingança divina - vem aí um desastre natural devastador".
Em outra frente da direita religiosa ocorreu também conflito insólito. Insuflados pela rede Fox News, do magnata australiano da imprensa de escândalos Rupert Murdoch, cristãos fanáticos investiram contra grandes redes varejistas - em especial Wal-Mart, a maior do mundo. Ela foi acusada de sabotar os cristãos com a nova linha de seu apelo de vendas de fim de ano - "Boas Festas" em vez de "Feliz Natal".
Percebendo o potencial da controvérsia e a indignação fundamentalista ante a mudança de enfoque do comércio varejista, um apresentador de "talk show" da Fox, John Gibson, lançou antes do Natal passado o livro "A guerra contra o Natal". Ali alegou que, sendo os cristãos 85% da população, o que deve ser festejado no fim do ano é o Natal, não o Hannukah judeu ou festas equivalentes de muçulmanos, africanos etc.
O comércio quer faturar mais - daí ampliar o apelo de vendas, que deixava de ser só cristão ("Merry Christmas"), tornando-se "Happy Holidays". A Wal-Mart quer vender a fiéis de todas as religiões, por isso tornou-se alvo de Gibson e da Fox. Mas a campanha da direita cristã, respaldada pelo império Murdoch, veio em mau momento para a Wal-Mart, que antes já estava na alça de mira da esquerda (pela conduta antitrabalhista e reacionária).
O 11/9 como vingança divina
O caso do televangelista Robertson, candidato presidencial derrotado nas primárias de 1988, não é menos instigante. Fundador da Christian Broadcasting Network (Rede de Emissoras Cristãs) e da Christian Coalition (Coalizão Cristã), ele controla há anos influente facção do Partido Republicano. Mete-se em negócios duvidosos, como a exploração de minas de ouro na Libéria, mas a religião é sua mina mais lucrativa.
Entre as façanhas de Robertson está até a conclamação ao governo Bush em favor do assassinato do presidente da Venezuela. Depois foi ainda mais longe ao ameaçar uma comunidade da Pensilvânia com a "vingança de Deus". A nova cruzada do pastor fanático é contra a teoria da evolução, de Darwin. Para neutralizá-la, ele e seus fundamentalistas cristãos exigem o ensino da teoria bíblica da criação.
Os cientistas e a área acadêmica não vetam a teoria bíblica ("intelligent design") mas acham, para desespero dos fundamentalistas, que deve ser ensinada em aula de religião, não de ciências. Já a "ameaça divina" do televangelista apenas reeditou o que dissera logo depois do 11/9. Lançara então a tese de que o ataque ao World Trade Center foi castigo de Deus contra gays, lésbicas, feministas, a imoralidade e a permissividade.