Taxista é morto por ateus
Enviado: 07 Set 2006, 11:15

"Músicas mórbidas e desenhos anticristãos motivaram polícia a investigar suposta ligação entre os jovens e rituais"
Crime de gêmeos intriga Santo Ângelo
Sepultados ontem, irmãos que mataram taxista tinham fama de tímidos, soturnos e questionadores
SILVANA DE CASTRO/ Missões/Casa Zero Hora
Na véspera de completar 20 anos, os gêmeos Adriano e Evandro Kasteler Bortolazzi foram sepultados, em Santo Ângelo, nas Missões. Os irmãos mataram o taxista Roger Menezes, 26 anos, na noite de segunda-feira, e morreram durante a operação policial montada para capturá-los.
A forma como os gêmeos perderam a vida não está esclarecida. Pode ter sido no confronto a tiros com policiais durante a perseguição. Mas não está descartado que um irmão tenha matado o outro e depois se suicidado. Não se sabe o motivo pelo qual assassinaram o taxista.
Tímidos, os garotos eram vistos como estranhos. Não se enturmavam e vestiam roupas pretas até na padaria da família, onde trabalhavam. O ato dos jovens está sendo tratado inicialmente como latrocínio (roubo com morte), segundo a delegada Tanea Bratz. Em razão dos materiais encontrados com eles - letras de músicas mórbidas e desenhos anticristãos -, a investigação vai apurar a prática de rituais macabros.
Após fecharem o estabelecimento da família, às 19h de segunda-feira, Adriano e Evandro pegaram o revólver do pai, um soldado da Brigada Militar, e seguiram para a Estação Rodoviária. De cabelos longos, barbudos e com roupas parecidas, os jovens chamaram a atenção dos taxistas daquele ponto. Menezes aceitou fazer uma corrida para eles até São Luiz Gonzaga.
A cinco quilômetros dali, a viagem se encerrou. Os gêmeos balearam Menezes na cabeça e feriram-no à faca. Ainda com vida, o taxista foi abandonado na margem da RS-344. O carro, a dois quilômetros adiante.
- Eram bem fechados. Só falavam se tu perguntavas alguma coisa. Conversavam entre eles - diz um vizinho que prefere não se identificar.
Filhos de um soldado da Brigada Militar, Evandro e Adriano moravam com a mãe, uma irmã deficiente de 19 anos e um irmão de cinco. O pai, José Bortolazzi, 41 anos, integra a força-tarefa da Penitenciária Estadual do Jacuí, em Charqueadas. Havia dois anos, tinha pedido transferência de Pelotas para morar nas Missões. Segundo ele, os gêmeos ficaram contrariados.
Ateus, jovens desafiavam professor de religião
Adriano concluiu o Ensino Médio no ano passado. Evandro concluiria neste ano, mas abandonou as aulas. Eram freqüentadores de lan house.
- Eles gostavam de rock. Escreviam as besteiras deles. Gostavam de jogos de terror, de computador, de videogame - disse Bortolazzi.
Segundo o soldado, os filhos não fumavam e só bebiam leite. Apesar de calados, demonstravam ter opinião quando o assunto era religião. Ateus, já haviam buscado respostas em diferentes religiões. Nas aulas de ensino religioso do Colégio Estadual Missões, costumavam questionavam o professor João Schneider, em particular, no final da aula ou no recreio.
- Um dia fiz uma oração na sala de aula e disse: "vamos rezar para aqueles que não acreditam em Deus". O rapaz saiu furioso e foi reclamar com o diretor - contou o professor.
Schneider era o professor com quem eles mantinham mais contato:
- Via neles uma mistura de tristeza e prepotência.
( silvana.castro@zerohora.com.br )
Conteúdo estranho
Em uma pasta que um dos jovens carregava, havia 16 folhas, com textos escritos a mão, que pareciam letras de músicas. Abaixo, um deles:
"Eu sou um assassino e estou mirando uma arma para a sua cabeça...
Eu vejo o seu sangue escorrendo, seu corpo em decomposição, alimentando os vermes
Você está morto, não adiantou rezar, Deus não pôde salvar porque ele não existe..."