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Enviado: 21 Set 2006, 23:15
por Steve
http://www.ateismo.net

Dar a outra face
A mensagem da Bíblia é, no seu global, extremamente bélica e intolerante.
Tanto no Antigo Testamento, como no Novo Testamento.

Jesus é esclarecedor: «não vos venho trazer a Paz, mas a Espada».


Apesar de dezenas e dezenas de citações que comprovam estas minhas alegações (e apesar das maiores igrejas cristãs terem todo um historial que as ilustra em actos, guerras e agressões e respectivas fundamentações teológicas), todos os cristãos que conheço acham tais alegações disparatadas.

Tentam refutá-las com base em interpretações distorcidas que traiem a mensagem bíblica. Caso a caso, citação a citação, é fácil desconstruir tais patéticas interpretações que tentam negar o óbvio: o carácter bélico da mensagem bíblica.

Outra linha de argumentação, e esta já merece mais crédito, é a exposição de outras passagens que evocam a mensagem oposta. Apelam à Paz e à piedade. Em actos concretos.
É óbvio que tais passagens são dezenas de vezes menos frequentes que as restantes (e não exagero: é mesmo outra ordem de grandeza!). Mas as mensagens não se medem «ao litro»: se bem que tal disparidade na frequência dos apelos para a guerra e para a paz não possa ser ignorada, a verdade é que cada um dos apelos à paz merece ser estudado com cuidado, para que se poder concluir algo a respeito do teor mais ou menos bélico da Bíblia.

Uma das mais importantes afirmações que Jesus faz a este respeito é a seguinte: «Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda» (Mt. 5, 39).


Importa debruçarmo-nos sobre esta passagem. Ela é muito importante, uma das que mais influencia a percepção (distorcida) que as pessoas têm daquilo que é a mensagem de Jesus. Quando eu era mais novo (e cristão) achava estas palavras ousadas, revolucionárias, e seu conteúdo profundo. Muita gente acha isso...

...E não se apercebe que são um enorme e patético disparate.


Se mais pessoas seguissem este conselho, o mundo seria pior. Os agressores teriam mais incentivos (e menos riscos) para agredirem. Os agredidos eram mais humilhados e injustiçados. Os povos conheceriam melhor o domínio, o saque e a pilhagem, e os corruptos, os invasores, os saqueadores teriam ainda menos quem lhes fizesse frente.

Se a Inglaterra, a Rússia, e os Estados Unidos tivessem dado ouvidos a Jesus, não saberemos quantas suásticas teriam sido edificadas, após o domínio nazi que teria sido incontestado. É um exemplo insignificante, pequeno, no imenso oceano de exemplos em todas as escalas, em tantos episódios no dia-a-dia. Se muitos seguissem tal conselho, as guerras e agressões não iriam diminuir, aumentariam alimentadas por tão delicioso incentivo.

Não há razões para preocupação, é claro. A verdade é que as palavras de Jesus são tão disparatadas, que não existe sequer o risco de serem levadas a sério, mesmo por aqueles que as acham tão belas. Mesmo esses facilmente se apercebem que não as podem pôr em prática, pois o bom senso sobrepõem-se, e existe uma noção intuitiva de que a justiça não poderia prevalecer dessa forma (e isso dificilmente seria louvável) e de que as consequências de tal atitude seriam o abuso incondicional por parte dos piores entre os piores. Muitos podem continuar a gostar de tal passagem, desligando-a completamente daquilo que seria afectar a sua vida por tais palavras. E bendita incoerência essa!


Não me interpretem mal: não venho aqui defender que nunca se deve perdoar, ou outras teses bélicas do género propaladas na Bíblia (lembram-se do «olho por olho»?). Há casos em que se deve retaliar, e outros em que se deve perdoar - qualquer incondicional será disparatado. Os estudiosos da ética e da teoria dos jogos têm chegado a resultados muito interessantes a este respeito. O jogo do prisioneiro, tão simples, tem dado bases sólidas para que o conhecimento avance neste domínio e se chegue cada vez mais longe.

Há casos em que a agressão deve ser perdoada, e outros em que se deve retaliar. Mas no que respeita à informação, o ideal é que o agressor espere sempre a retaliação, para que diminua o seu incentivo para agredir. O erro presente neste disparate de Jesus não está, portanto, apenas ao nível do incondicional como ao nível da informação. Ou seja: não é apenas errado perdoar sempre, e em qualquer situação, como também é indesejável que os agressores esperem que tal aconteça.


Assim sendo, depois de tantos incentivos que a Bíblia dá para a guerra e para agressão, nesta passagem apelando à Paz, só não se incentiva mais a guerra porque, por ser tão disparatada, está fora de questão que seja posta em prática.
# um artigo de João Vasco, publicado às 14:04 # 0 comments # 42 comentários # debater #

Islão e democracia
Em sociedades em que a religião é obrigatória o condicionamento da opinião pública começa na infância pela manipulação das crianças e pela fanatização que conduz ao martírio e ao crime.

O Islão de hoje não é diferente do catolicismo medieval mas este, graças à descoberta da cultura helénica e do direito romano, encontrou forças para usar a razão e contestar a fé, para fazer a Reforma e retirar ao Papa o poder temporal.

O direito divino, como origem do poder, foi substituído pela legitimidade democrática e a secularização tornou as sociedades abertas, tolerantes e plurais. A fé foi remetida para esfera privada e as convulsões surgem quando os crentes pretendem fazer proselitismo através do aparelho de Estado.

Hoje, é o protestantismo evangélico que lidera o fundamentalismo cristão nos EUA, em clara violação da Constituição e da vontade dos seus fundadores. A Igreja Ortodoxa tem dificuldade em aceitar a separação do Estado e tem uma exegese de pendor francamente reaccionário.

Mas é no Islão que os constrangimentos sociais e a violência clerical empurra os crentes para a irracionalidade da fé e a aceitação acrítica do Corão. Como há muito desistiram de questionar o que o clero diz que o Profeta disse e quer, há um permanente conflito com a modernidade e uma violência incompatível com a civilização.

A laicidade que libertou o Ocidente da tutela clerical é impensável onde o clero islâmico tem o poder absoluto no campo económico, político, militar, assistencial e ideológico.

Tal como durante a inquisição era impossível contestar a autoridade do Papa e o seu poder, também nas teocracias islâmicas é impossível discutir a desigualdade da mulher, o adultério, a poligamia, o repúdio, a guerra santa e o pluralismo.

As religiões são, por natureza, totalitárias e avessas à modernidade. Ao atribuírem aos livros sagrados a vontade literal de Deus ditada a um eleito como versão definitiva, acaba com a discussão e com a vida do réprobo enquanto a separação entre a Igreja e o estado se não afirmar.

É esse passo que parece estar cada vez mais longe nas teocracias islâmicas e que propicia o confronto entre a fé e a modernidade.

Contrariamente ao que têm afirmado os bispos católicos os árabes não temem a liberdade religiosa que, segundo sondagens, é o que mais apreciam no Ocidente. São os clérigos que se assustam com a possibilidade de verem os seus crentes a renunciar à fé.

A liberdade, a democracia e, sobretudo, a perda de direitos sobre a mulher, assusta-os. É por isso que não renunciam à sharia, que não dispensam uma boa decapitação a quem renuncie à fé, uma alegre lapidação à mulher adúltera e uma divertida amputação para quem roube.

O que está em curso é uma luta desesperada contra a modernidade por uma civilização falhada.