Modelo norte-americano inspira o fim do vestibular
Enviado: 30 Set 2006, 12:58
Todo vestibulando, aluno de cursinho ou não, que estude feito um louco, certamente adoraria que o vestibular acabasse de vez. Os baianos, pelo menos, já podem começar a comemorar. Se depender do reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar Monteiro de Almeida Filho, reeleito em maio, a mudança no sistema de aprovação para o ensino universitário chegará em breve (Leia aqui a entrevista com o reitor).
Desde quando assumiu, ele defende uma reforma curricular que exclua o vestibular como método de admissão. Para ele, é preciso que a universidade passe por uma ampla reforma curricular, com a criação de um curso de 3 anos de formação geral, incluindo aulas de História, Filosofia, Antropologia, Cultura, Línguas, Informática, Política, Cidadania, entre outras. Nesse período, os alunos passariam por uma avaliação anual, de cujo rendimento dependeria o ingresso no curso profissionalizante de fato. Assim, segundo ele, "a universidade está cumprindo seu papel de uma formação mais ampla".
O modelo proposto foi apresentado pelo reitor nesta semana em um congresso sobre educação em São Paulo. Ele se inspira em métodos já adotados em universidades dos Estados Unidos e da Europa. A grande questão que ele desperta, no entanto, é como selecionar os alunos para o ingresso na faculdade. "Nesse caso, o Enem pode ser esse critério", afirma o Naomar, citando o Exame Nacional do Ensino Médio, aplicado pelo governo federal. A prova tem como diferencial avaliar a competência dos alunos em assimilar o que é mostrado em sala de aula com a prática do dia-a-dia, deixando de exigir muitas fórmulas ou equações decoradas.
Cursinhos pré-vestibulares divergem sobre a validade da proposta. José Tadeu Terra, diretor do COC em São Paulo, avalia que a medida tenta democratizar a universidade. "Ele (Naomar) tenta implantar uma mudança estrutural. A mudança de conteúdo pra competência." Mas Terra concorda que a mudança no processo seletivo seja uma discussão complexa: "Nossa estrutura é 'conteudista' por excelência e está ligada a 'saber é ter conteúdo'. O mérito era ter conteúdo, independente do que ele era", referindo-se aos ensinamentos de cursinho que muitas vezes não são usados na faculdade.
Já o diretor do Etapa em São Paulo, Carlos Eduardo Bindi, declara-se contra a idéia: "Eu sou a favor da manutenção do mérito pra fazer a seleção". Para ele, a falta de democratização não é causada pela universidade, mas por problemas estruturais na educação. "Pegar pessoas que não saibam escrever, fazer conta e dar a elas um diploma é um crime, porque elas não serão selecionadas pelo vestibular, mas pelo mercado de trabalho", argumenta. Ele diz ainda que o Enem não é a forma mais adequada para a seleção, justamente por ser uma prova mais simples que os vestibulares mais disputados, e, por isso, ter muitos casos de empate.
Pelo lado dos estudantes, Gustavo Petta, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) se mostra favorável ao esquema proposto. "Acho que toda medida que possa diminuir o impacto da exclusão do vestibular é interessante", diz. Ele informa que a UNE ainda vai estudar com calma a proposta do reitor da UFBA, mas acha que ela é importante para aumentar a pressão por um bom ensino médio. "Com a proliferação dos cursinhos, você acaba escondendo a realidade. Porque as famílias de classe média, que têm poder de fazer pressão, colocam os filhos no cursinho, eles passam, e as universidades não sofrem o impacto dessa realidade (da má qualidade do ensino médio)".
O reitor Naomar, que já era famoso desde 2004, quando transformou a UFBA na primeira universidade federal a reservar cotas para alunos de escolas públicas, agora pretende alterar totalmente a forma de ensino universitário no país. "O que se está buscando são os alunos mais talentosos, mais competentes, não os que tiveram mais memorização ou adestramento, que, na prática, é o que se termina avaliando com o vestibular", conclui.
http://terramagazine.terra.com.br/inter ... 81,00.html
Desde quando assumiu, ele defende uma reforma curricular que exclua o vestibular como método de admissão. Para ele, é preciso que a universidade passe por uma ampla reforma curricular, com a criação de um curso de 3 anos de formação geral, incluindo aulas de História, Filosofia, Antropologia, Cultura, Línguas, Informática, Política, Cidadania, entre outras. Nesse período, os alunos passariam por uma avaliação anual, de cujo rendimento dependeria o ingresso no curso profissionalizante de fato. Assim, segundo ele, "a universidade está cumprindo seu papel de uma formação mais ampla".
O modelo proposto foi apresentado pelo reitor nesta semana em um congresso sobre educação em São Paulo. Ele se inspira em métodos já adotados em universidades dos Estados Unidos e da Europa. A grande questão que ele desperta, no entanto, é como selecionar os alunos para o ingresso na faculdade. "Nesse caso, o Enem pode ser esse critério", afirma o Naomar, citando o Exame Nacional do Ensino Médio, aplicado pelo governo federal. A prova tem como diferencial avaliar a competência dos alunos em assimilar o que é mostrado em sala de aula com a prática do dia-a-dia, deixando de exigir muitas fórmulas ou equações decoradas.
Cursinhos pré-vestibulares divergem sobre a validade da proposta. José Tadeu Terra, diretor do COC em São Paulo, avalia que a medida tenta democratizar a universidade. "Ele (Naomar) tenta implantar uma mudança estrutural. A mudança de conteúdo pra competência." Mas Terra concorda que a mudança no processo seletivo seja uma discussão complexa: "Nossa estrutura é 'conteudista' por excelência e está ligada a 'saber é ter conteúdo'. O mérito era ter conteúdo, independente do que ele era", referindo-se aos ensinamentos de cursinho que muitas vezes não são usados na faculdade.
Já o diretor do Etapa em São Paulo, Carlos Eduardo Bindi, declara-se contra a idéia: "Eu sou a favor da manutenção do mérito pra fazer a seleção". Para ele, a falta de democratização não é causada pela universidade, mas por problemas estruturais na educação. "Pegar pessoas que não saibam escrever, fazer conta e dar a elas um diploma é um crime, porque elas não serão selecionadas pelo vestibular, mas pelo mercado de trabalho", argumenta. Ele diz ainda que o Enem não é a forma mais adequada para a seleção, justamente por ser uma prova mais simples que os vestibulares mais disputados, e, por isso, ter muitos casos de empate.
Pelo lado dos estudantes, Gustavo Petta, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) se mostra favorável ao esquema proposto. "Acho que toda medida que possa diminuir o impacto da exclusão do vestibular é interessante", diz. Ele informa que a UNE ainda vai estudar com calma a proposta do reitor da UFBA, mas acha que ela é importante para aumentar a pressão por um bom ensino médio. "Com a proliferação dos cursinhos, você acaba escondendo a realidade. Porque as famílias de classe média, que têm poder de fazer pressão, colocam os filhos no cursinho, eles passam, e as universidades não sofrem o impacto dessa realidade (da má qualidade do ensino médio)".
O reitor Naomar, que já era famoso desde 2004, quando transformou a UFBA na primeira universidade federal a reservar cotas para alunos de escolas públicas, agora pretende alterar totalmente a forma de ensino universitário no país. "O que se está buscando são os alunos mais talentosos, mais competentes, não os que tiveram mais memorização ou adestramento, que, na prática, é o que se termina avaliando com o vestibular", conclui.
http://terramagazine.terra.com.br/inter ... 81,00.html