Tópico sobre ÉTICA
Enviado: 27 Out 2005, 21:24
Este tópico foi aberto no antigo RéV. Eu o trago aqui:
http://www.forumnow.com.br/vip/mensagen ... &pag=2&v=1
Eu argumentava contra o relativismo moral:
moral não consiste em apenas um conjunto de orações na voz imperativa, por exemplo:
"Não matar"
"Não roubar"
"Não sair pelado na rua"
"Dar esmolas para quem pedir"
etc.
De cada ação deve-se extrair a máxima que a prescreve e julgar se esta consiste ou não numa lei universalmente válida. Ilustrarei como isto é feito com um exemplo banal e outro mais sério:
Compartilhamento de música pela internet: Digamos que um usuário do soulseek baixe músicas indiscriminadamente em relação aos usuário, mas para não perder velocidade de download, não compartilhe músicas para upload. Se ele parasse para refletir a máxima que prescreve sua ação, concluiria que esta seria:
"Extrai deste recurso o que você quiser, mas por benefício pessoal, não colabore em coisa alguma com este".
Se julgarmos a possibilidade de todos agirem segundo esta máxima, chegaríamos à conclusão de que ela cairia em contradição. Oras, se ninguém colaborar em disponibilizar recursos, não haverá recursos a serem usufruídos, sendo, portanto, inútil a ação de não disponibilizar recursos para maximizar a velocidade de extração destes. A máxima, portanto, não é universalmente aplicável, o que a torna desprovida de valor moral.
Estupro: Qual a máxima que prescreve a ação de um estuprador? Não vejo outra senão esta:
"Busca o prazer para ti mesmo que a custo do sofrimento alheio"
Mais uma vez, se julgarmos a possibilidade de todos agirem segundo esta máxima, chegaríamos à conclusão de que ela cairia em contradição. Se todos buscassem o prazer a custo do sofrimento alheio, o segundo predominaria sobre o primeiro na vida de todas pessoas. Ninguém teria sucesso em se aprazer, pois mesmo que conseguisse por um instante, no seguinte o sofrimento ofuscaria esta conquista.
Já posso antecipar algumas críticas a este sistema, entre elas a de que ele justificaria qualquer ação quando o agente acreditasse estar agindo da forma que todos deveriam agir, como no caso do proselitismo religioso. Mas isto se deve ao mal julgamento, quando a formalidade da máxima não é corretamente transcendida de seu conteúdo. Por exemplo:
Proselitismo: Um religioso aspira pelo domínio absoluto de sua religião. Para tal, esforça-se em propagá-la, mesmo que desrespeitando a religião alheia. Se por um breve momento de lucidez ele fosse capaz de julgar corretamente a validade moral da sua ação, o primeiro passo seria encontrar a máxima que a prescreve, que é:
"Tendo certeza de seu ideal, divulgue-o, mesmo que inconvenientemente".
O segundo passo seria julgar a validade universal da máxima. Oras, se todos se esforçassem em impor uns aos outros aquilo que acreditam, ninguém teria sucesso algum neste empreendimento. Mesmo que arrebanha-se novos prosélitos para sua religião, também teria mais apostatas, o que faria deste empreendimento um martírio anállogo ao de Tântalo.
Outra crítica comum é de que este sistema é muito inflexivel, tratando como ilícito tanto o "roubar uma casa para arrecadar fundos para encher o nariz de pó" quanto o "roubar feijão do supermercado para alimentar a família que passa fome". Minha resposta a este tipo de crítica é que a inflexibilidade não é do sistema, mas da capacidade do crítico em discernir que as duas ações são regidas por máximas distintas.
http://www.forumnow.com.br/vip/mensagen ... &pag=2&v=1
Eu argumentava contra o relativismo moral:
moral não consiste em apenas um conjunto de orações na voz imperativa, por exemplo:
"Não matar"
"Não roubar"
"Não sair pelado na rua"
"Dar esmolas para quem pedir"
etc.
De cada ação deve-se extrair a máxima que a prescreve e julgar se esta consiste ou não numa lei universalmente válida. Ilustrarei como isto é feito com um exemplo banal e outro mais sério:
Compartilhamento de música pela internet: Digamos que um usuário do soulseek baixe músicas indiscriminadamente em relação aos usuário, mas para não perder velocidade de download, não compartilhe músicas para upload. Se ele parasse para refletir a máxima que prescreve sua ação, concluiria que esta seria:
"Extrai deste recurso o que você quiser, mas por benefício pessoal, não colabore em coisa alguma com este".
Se julgarmos a possibilidade de todos agirem segundo esta máxima, chegaríamos à conclusão de que ela cairia em contradição. Oras, se ninguém colaborar em disponibilizar recursos, não haverá recursos a serem usufruídos, sendo, portanto, inútil a ação de não disponibilizar recursos para maximizar a velocidade de extração destes. A máxima, portanto, não é universalmente aplicável, o que a torna desprovida de valor moral.
Estupro: Qual a máxima que prescreve a ação de um estuprador? Não vejo outra senão esta:
"Busca o prazer para ti mesmo que a custo do sofrimento alheio"
Mais uma vez, se julgarmos a possibilidade de todos agirem segundo esta máxima, chegaríamos à conclusão de que ela cairia em contradição. Se todos buscassem o prazer a custo do sofrimento alheio, o segundo predominaria sobre o primeiro na vida de todas pessoas. Ninguém teria sucesso em se aprazer, pois mesmo que conseguisse por um instante, no seguinte o sofrimento ofuscaria esta conquista.
Já posso antecipar algumas críticas a este sistema, entre elas a de que ele justificaria qualquer ação quando o agente acreditasse estar agindo da forma que todos deveriam agir, como no caso do proselitismo religioso. Mas isto se deve ao mal julgamento, quando a formalidade da máxima não é corretamente transcendida de seu conteúdo. Por exemplo:
Proselitismo: Um religioso aspira pelo domínio absoluto de sua religião. Para tal, esforça-se em propagá-la, mesmo que desrespeitando a religião alheia. Se por um breve momento de lucidez ele fosse capaz de julgar corretamente a validade moral da sua ação, o primeiro passo seria encontrar a máxima que a prescreve, que é:
"Tendo certeza de seu ideal, divulgue-o, mesmo que inconvenientemente".
O segundo passo seria julgar a validade universal da máxima. Oras, se todos se esforçassem em impor uns aos outros aquilo que acreditam, ninguém teria sucesso algum neste empreendimento. Mesmo que arrebanha-se novos prosélitos para sua religião, também teria mais apostatas, o que faria deste empreendimento um martírio anállogo ao de Tântalo.
Outra crítica comum é de que este sistema é muito inflexivel, tratando como ilícito tanto o "roubar uma casa para arrecadar fundos para encher o nariz de pó" quanto o "roubar feijão do supermercado para alimentar a família que passa fome". Minha resposta a este tipo de crítica é que a inflexibilidade não é do sistema, mas da capacidade do crítico em discernir que as duas ações são regidas por máximas distintas.