Síndrome do emputecimento progressivo

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Spitfire
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Síndrome do emputecimento progressivo

Mensagem por Spitfire »

SÍNDROME DO EMPUTECIMENTO PROGRESSIVO

Falta povo neste país. Até um tempo atrás, a opinião corrente era de que "cada povo tem o governo que merece". Mentira! Qualquer governo, por mais safado que seja, ainda é muito para esse povo sem brios, sem vergonha na cara, esse povo burro e ridiculamente humilde, vaquinha de presépio que engole tudo até o talo, até a última gota, todos os sapos, todos os calangos, esse povo cativo, covarde, sempre com o rabo entre as pernas, esse povo sem História, sem memória, sem moral, sem dignidade, esse povo que marchou com Deus, pela família, esse povo que deu seu ouro para o bem do Brasil, esse povo que vive coçando a virilha, que bebe cerveja sem colarinho, lê horóscopo e coluna social, esse povo que encoxa mulher no ônibus, que cheira cola, esse povo que é puxa saco do gerente, alcagüete de polícia, esse povo que, em dia de greve de ônibus, pega táxi pra ir pro escritório, que pega avião para assistir Chitãozinho & Xororó em Las Vegas, esse povo que se forma publicitário pra vestir um espartilho negro e ficar todo dia de quatro alimentando uma boa carreira, esse povo que come merda, respira merda, pensa merda, faz na entrada, na saída, no meio e ainda deixa um pouco atrás da porta, pra ser encontrado no dia seguinte, esse povo cujo lema oficial é Capricha, que o freguês é novo, esse povo que ouve as FMs, acredita no Jornal Nacional, que é sócio do Círculo do Livro, que coleciona figurinhas do Jáspions e Change-men, que vai ao cinema ver 9 e Meia Semanas de Amor, esse povo besta que deixa a Xuxa fazer a cabeça de seus filhos, que compra O Nome da Rosa e O Pêndulo de Foucault e não lê, que ouve hip-hop, compra discos da Joana, Tom Waits, Almir Guineto, esse povo que tem sempre um cunhado no Detran e um terreninho em Guarulhos pra passar pra frente, esse povo que é de esquerda até arrumar um cabidão na Eletropaulo, esse povo que tem filhos com nomes tipo Daniela, Priscila, Tiago, Evelyn, Patrícia, Graziela, Leandro, Vanessa, Camila, Letícia, Cristiane, Andréia, Diego, Érica, esse povo que paga uma fortuna por um vídeo cassete e só assiste bosta, esse povo místico que foi sebastianista por tabela, esse povo cujo ancestral índio acolheu o português de braços abertos em 1500, que rezou a 1ª missa bem comportado junto com os jesuítas, esse povo que recebeu a independência do Imperador da colônia, esse povo que proclamou a República e botou um militar no lugar do rei, esse povo cujo maior representante socialista se diz herdeiro político do maior ditador brasileiro.
Esse povo que sabe mais de horóscopo chinês do que dos direitos civis, que sabe mais de I Ching, Tarô, Cabala e Kardecismo do que da História do Brasil, que entende mais sobre os mistérios da Ilha de Páscoa, Triângulo das Bermudas e da Atlântida do que de política, geografia e literatura, esse povo que antes de perguntar o nome da pessoa, pergunta o signo e o ascendente, esse povo que faz mapa astral, que só tem orgasmo quando o parceiro nasceu no segundo decanato, esse povo que acha que Lobsang Rampa é realmente indiano, esse povo que conhece mais de Chico Xavier e André Luiz do que Antônio Conselheiro e Chico Mendes, esse povo que lê Khalil Gibran, Richard Bach e Castañeda, esse povo que devia saber que espírito de luz é apenas um funcionário fantasma da Eletropaulo e a Terceira Visão nada mais é que o olho do cu.
Esse povo jovem que só lê gibi, bebe Bliss, suco de frutas, que come sanduíche natural, esse povo que faz ponto na escadaria do Objetivo, que troca as minas por qualquer joguinho de basquete ou vôlei, esse povo cheio de espinhas na cara, filho da classe média, que não consegue articular frases com sentido, esse povo que fez de uma tábua de madeira com quatro rodinhas embaixo uma filosofia de vida, esse povo que chama camisinha de capote mas não usa porque acha que AIDS só dá nos outros, que faz taekwondô, que brinca com videogames, que vai votar no Maluf, esse povinho bunda que esmerdeia as paredes da cidade com idiotices como tchenchos, xila, the vadios, Mafia, fobia, paranoya, hoysten, esse povo que é da geração saúde, que cuida das calorias, que malha nas academias pra ter um corpinho legal, mas não trepa, que tem a pele dourada, olhinho puxado, vesguinho e lábio carnudo mas não beija nem chupa pescoço, esse povo que vive medindo no vidro do metrô se a bundinha está empinada, mas não solta o rabo, esse povo que é boy e desce pela porta de trás do ônibus, esse povo que abre a Chiclete com Banana só pra ver as tiras do Bob Cuspe e pula as páginas de texto, que diz ferinha, gato, pegas, tchurminha, maromba, tipo assim, esse povo que toca três bronhas por dia, 21 por semana, 84 por mês, 985 por ano e perto de 8 mil até os 16 anos, esse povo que ouve The Cult, Pet Shop Boys, Morrisey, esse povo que hoje reclama da falta de liberdade, mas amanhã, ao assumir o cargo de vice-presidente da fábrica do papai, na primeira greve com certeza vai mandar a polícia descer o cacete na peãozada.

Pobre Brasil, desde sempre. :emoticon8:

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Hrrr
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Re.: Síndrome do emputecimento progressivo

Mensagem por Hrrr »

que troço eh isso?

musica do chiclete com banana?
artigo tosco sem paragrafos tirado de uma fonte obscura?
JINGOL BEL, JINGOL BEL DENNY NO COTEL... :emoticon266:

i am gonna score... h-hah-hah-hah-hah-hah...

plante uma arvore por dia com um clic

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Spitfire
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Re.: Síndrome do emputecimento progressivo

Mensagem por Spitfire »

Chiclete com banana era um fanzine underground escrito pelo Angeli, Laerte e Clauco. :emoticon4:

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Hrrr
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Re: Re.: Síndrome do emputecimento progressivo

Mensagem por Hrrr »

Spitfire escreveu:Chiclete com banana era um fanzine underground escrito pelo Angeli, Laerte e Clauco. :emoticon4:


eh eu lembro das tiras deles que saiam em um jornal daqui :emoticon1:
JINGOL BEL, JINGOL BEL DENNY NO COTEL... :emoticon266:

i am gonna score... h-hah-hah-hah-hah-hah...

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francioalmeida
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Re.: Síndrome do emputecimento progressivo

Mensagem por francioalmeida »

Ei!, Eu assístia o Jáspion. Qual o problema nisso? :emoticon3:

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clara campos
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Re: Síndrome do emputecimento progressivo

Mensagem por clara campos »

Spitfire escreveu: O Pêndulo de Foucault e não lê

não admira... o livro é uma seca mesmo, porcaria dew dinheiro mal gasto :emoticon5:
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

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Fernando Silva
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Re.: Síndrome do emputecimento progressivo

Mensagem por Fernando Silva »

Arthur Dapieve - "O Globo" 06/10/06

Darth Vader

Sim, senhores, é preciso mudar o povo

Campanhas eleitorais não geram tantos fatos quanto frases para o folclore político. Nisso, ao menos, Luiz Inácio Lula da Silva mostra-se imbatível diante de um Geraldo Alckmin que nada às braçadas em platitudes. Meninos aloprados, traído como Cristo, aula de sociologia, oncinha beber água, excepcional Collor formam um corpus extraordinário.

Um mês atrás, por exemplo, quando o presidente reinava soberano nas intenções de voto, ele falou à Convenção Nacional de Pastores da Assembléia de Deus e cometeu um ato falho que deixaria Freud, não esse, o outro, assanhado. Ao criticar a oposição por supostamente querer mudar o povo, deixou subentendido que não queria mudar o povo.

"Nada mais sagrado do que um governo cuidar dos seus filhos", disse. "Tem gente incomodada.

Tem gente agora achando até que pobre não pode mais votar porque está votando em mim. Daqui a pouco eles vão propor a mudança do povo. E nós sabemos que, quando as pessoas começam a duvidar do povo, e querem criar um povo melhor do que o nosso povo, o Hitler serve como experiência de quem quer criar uma raça superior." Agora, antes do segundo turno que todos julgavam impossível, Lula deve estar reconsiderando muito do que disse nos últimos dois anos. Quando nada, no caso da declaração paternalista, porque sabe que não reduziu a pobreza a ponto de não-pobres constituírem mais da metade da população — e não terem votado nele no primeiro turno. Espero, portanto, que atine o que significa, em última instância, não querer mudar o povo.

Sempre votei em candidatos majoritários ou proporcionais que quisessem (ou dissessem querer, é verdade, a gente se decepciona pacas) mudar o povo. Inclusive, por duas vezes, no próprio Lula. Acho, aliás, que esta é a missão sagrada da política: mudar o povo, proporcionando-lhe educação, saúde, trabalho, transporte, segurança, lazer.

Esta mudança, então, não implica nenhuma suposta depuração genética, como a empreendida por Hitler na Alemanha e nos países invadidos. Nem nenhuma sujeição ideológica, como a perpetrada pelo companheiro Stalin na URSS e nos países satélites. Projetos que visam homogeneizar o homem terminam na matança dos diferentes.

Aqui ou alhures, claro, "povo" é uma palavra calhorda, de mascaramento de diferenças numa massa amorfa, retoricamente manobrável, que faz pouco dos interesses divergentes entre classes, grupos e indivíduos. Nossos bem-nascidos usam o termo por julgarem-no um sinônimo politicamente correto para "pobres".

Lula, porém, ora usa um ora usa outro, sem medo, transformando-os numa entidade positiva, antagonista das sempre demonizadas "elites" (e sua fiel lacaia, a "imprensa", tratada como monolítica).

Pergunto-me se Lula, ao ouvir no rádio de pilha que o seu Corinthians "luta para se manter na elite do futebol brasileiro", acha isso mau. Penso que não. Ingressar ou manterse numa elite — esportiva, operária, intelectual e, last but not least, política — é coisa muito boa. A menos que isso se dê por armação em cima dos outros e não por mérito próprio.

Mudar o pobre brasileiro significa abrir-lhe a porta da frente, apontar-lhe com uma mesura o elevador social, para que ele se torne uma elite entre os povos. Não no sentido hitlerista ou stalinista, mas no do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. Mais saúde, mais escolaridade, mais crescimento econômico, mais riqueza compartilhada.

Foi isso que esperei de cada candidato a presidente que sufraguei até hoje. Era isso que eu esperaria de Cristovam Buarque. Dos eleitos, vi movimentos nesta direção feitos tanto por Fernando Henrique, cujo Plano Real estabilizou a moeda e estancou uma das fontes da desigualdade, quanto por Lula, ao propor o Fome Zero, ao discutir a adoção de cotas raciais no Ensino Superior e ao encampar o programa Bolsa Família, ex-Bolsa Escola.

Pena que ficaram nisso, pouco em doze anos de governo. Corroído por dentro, corroído por acólitos e aliados, corroído por sucessivos escândalos de corrupção, Lula arquivou o Fome Zero e subverteu o Bolsa Família, transformando-o em mera esmola ao eximir os recebedores de manter as crianças na escola (o trabalho infantil não voltou a crescer no Brasil por outra razão).

Deles, o governo do PT não exige mais a "contrapartida social" que quis implantar, em troca de financiamentos, na produção cinematográfica.

É isso que significa não querer mudar o povo: mantê-lo dependente do Estado, longe dos instrumentos necessários para fazê-lo progredir por conta própria. Parodiando, mais uma vez, uma metáfora cara a Lula nos seus tempos de candidato da oposição, pode-se dizer que o seu governo distribui peixinhos, mas tranca as varas de pescar no Tesouro.

Afinal, qualquer marxista de porta de sindicato sabe, mudar as condições materiais dos pobres significa mudar também a sua cabeça. Era isso que, em seu ato falho, o presidente dizia não poder aceitar. Não no momento em que a permanência no poder o fez refém da imobilidade social representada pelos "leais e decentes" Suassuna, Sarney, Barbalho, Newtão, Maluf. Collor vem aí, aguarde. E Alckmin fecha com Garotinho...

Às vezes, Lula me lembra "Guerra nas estrelas": nascido Anakin Skywalker, "o escolhido" deixou-se arrastar pelo lado negro da força e virou Darth Vader. Puta tragédia.

Trancado