Alckmin, a paulicéia desvairada
Enviado: 12 Out 2006, 11:44
Gilson Caroni Filho
A "Paulicéia Desvairada", de Mário de Andrade, é poética de indiscutível qualidade. Um balanço das contradições vivas na alma do autor frente à modernização de São Paulo. "Estes homens de São Paulo/Todos iguais e desiguais/ Quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos/ Parecem-me macacos/ uns macacos". Simultaneamente a capital paulista é a tumba de homens massacrados pelas "monções de ambição" de capitalistas e o palco multicolorido de festas. Os versos expressam a vida no que ela tem de mais atordoante: indeterminação e liberdade.
A "Paulicéia Desvairada" de Geraldo Alckmin, candidato tucano à Presidência, comporta uma prática narrativa tão pouco comprometida com a verossimilhança que talvez seja mais apropriado falarmos em farsa, uma modalidade burlesca do teatro político apresentado de forma recorrente pelas classes dominantes brasileiras. Misturando gêneros distintos, importa da tragédia o "Coro" que, na adaptação à luta política, tem seu papel de intermediação entre platéia e personagem desempenhado de forma uníssona pela grande imprensa.
Ao contrário da poética de Mário, a farsa de Alckmin substitui a indeterminação pelo cálculo e a vida pela política enfeudada pelo mercado. É preciso um pouco de impostura para o bom desempenho, mas isso o ex-governador paulista, sobejamente, tem. Quando declara, em entrevista à Folha de S. Paulo, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está a sua direita neste segundo turno, demonstra fazer pouco do arquétipo espacial trazido à política pela Revolução Francesa. “Sou mais à esquerda do que ele no apreço à democracia e no sentido econômico". Não lhe faltará o “Coro" de articulistas e colunistas de plantão.
Mas já que “apreço não tem preço", vamos fazer brevíssimas comparações entre as gestões dos dois candidatos. Lula à frente do Governo Federal e Alckmin, no comando de São Paulo.
Desde que tomou posse, o governo petista estancou o processo de privatização e sucateamento do parque produtivo. Combinou, em doses perfeitas, estabilização com redistribuição de renda. O recorde inédito nas exportações (US$ 60 bilhões) se fez acompanhar de aquecimento do mercado interno, responsável pela geração de quatro milhões de novos empregos formais entre 2003 e 2005.
Os números de São Paulo são reveladores do “apreço” do ex-governador. Como destaca Altamiro Borges desde a criação do Programa Estadual de Desestatização(PED), "setores estratégicos da economia paulista foram vendidos para monopólios privados, especialmente estrangeiros, por preços irrisórios". Eletropaulo, CPFL, Cesp, Comgás e Ceagesp foram simplesmente doados à iniciativa privada. Somando-se a isso parcela considerável da malha viária e ações da Nossa Caixa Previdência, “a alienação de todo esse patrimônio totalizou R$ 35,6 bilhões”. Desnecessário dizer que o Estado perdeu capacidade indutora para investir no desenvolvimento”.
É esse o pequeno laboratório que o “esquerdismo do Opus Dei pretende estender ao país, dando continuidade à privatização predadora dos dois mandatos de FHC? Não tenham dúvida, Alckmin se candidata à Presidência, mas sonha com o Vice-Reinado prometido pelas grandes corporações transacionais. Ah, paulicéia desvairada, quantos desvalidos produziria seu eventual retorno ao poder?
O governo Lula conviveu com três Comissões Parlamentares de Inquérito. Nunca se combateu tanto a corrupção como nos últimos três anos. As ações articuladas entre Polícia Federal, Controladoria Geral da União (CGU), Receita Federal e Ministério Público desbarataram 75 quadrilhas. Destas, apenas 9 começaram neste governo. Do restante, 61 começaram a agir no governo FHC.
Já o “apreço” à democracia de Geraldo Alckmin se expressa em 69 pedidos de CPIs abortados pelo ex-governador mediante a utilização de artifícios legais herdados da ditadura militar. Prezado cidadão, destas solicitações abafadas, 37 eram para investigar fraudes e casos de corrupção praticados diretamente pela administração estadual. Ah, paulicéia desvairada, sabemos desde o século XVII que a "hipocrisia é o tributo que vício paga à virtude". Eis uma reforma tributária que o moralismo udenista jamais irá propor. Nem como panacéia desvairada.
"Os caminhões rodando, as carroças rodando,
rápidas as ruas se desenrolando,
rumor surdo e rouco, estrépitos, estalidos...
E o largo coro de ouro das sacas de café!... (...)
Oh! este orgulho máximo de ser paulistanamente!!!"
(Mário de Andrade)
http://agenciacartamaior.uol.com.br/tem ... na_id=3336
A "Paulicéia Desvairada", de Mário de Andrade, é poética de indiscutível qualidade. Um balanço das contradições vivas na alma do autor frente à modernização de São Paulo. "Estes homens de São Paulo/Todos iguais e desiguais/ Quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos/ Parecem-me macacos/ uns macacos". Simultaneamente a capital paulista é a tumba de homens massacrados pelas "monções de ambição" de capitalistas e o palco multicolorido de festas. Os versos expressam a vida no que ela tem de mais atordoante: indeterminação e liberdade.
A "Paulicéia Desvairada" de Geraldo Alckmin, candidato tucano à Presidência, comporta uma prática narrativa tão pouco comprometida com a verossimilhança que talvez seja mais apropriado falarmos em farsa, uma modalidade burlesca do teatro político apresentado de forma recorrente pelas classes dominantes brasileiras. Misturando gêneros distintos, importa da tragédia o "Coro" que, na adaptação à luta política, tem seu papel de intermediação entre platéia e personagem desempenhado de forma uníssona pela grande imprensa.
Ao contrário da poética de Mário, a farsa de Alckmin substitui a indeterminação pelo cálculo e a vida pela política enfeudada pelo mercado. É preciso um pouco de impostura para o bom desempenho, mas isso o ex-governador paulista, sobejamente, tem. Quando declara, em entrevista à Folha de S. Paulo, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está a sua direita neste segundo turno, demonstra fazer pouco do arquétipo espacial trazido à política pela Revolução Francesa. “Sou mais à esquerda do que ele no apreço à democracia e no sentido econômico". Não lhe faltará o “Coro" de articulistas e colunistas de plantão.
Mas já que “apreço não tem preço", vamos fazer brevíssimas comparações entre as gestões dos dois candidatos. Lula à frente do Governo Federal e Alckmin, no comando de São Paulo.
Desde que tomou posse, o governo petista estancou o processo de privatização e sucateamento do parque produtivo. Combinou, em doses perfeitas, estabilização com redistribuição de renda. O recorde inédito nas exportações (US$ 60 bilhões) se fez acompanhar de aquecimento do mercado interno, responsável pela geração de quatro milhões de novos empregos formais entre 2003 e 2005.
Os números de São Paulo são reveladores do “apreço” do ex-governador. Como destaca Altamiro Borges desde a criação do Programa Estadual de Desestatização(PED), "setores estratégicos da economia paulista foram vendidos para monopólios privados, especialmente estrangeiros, por preços irrisórios". Eletropaulo, CPFL, Cesp, Comgás e Ceagesp foram simplesmente doados à iniciativa privada. Somando-se a isso parcela considerável da malha viária e ações da Nossa Caixa Previdência, “a alienação de todo esse patrimônio totalizou R$ 35,6 bilhões”. Desnecessário dizer que o Estado perdeu capacidade indutora para investir no desenvolvimento”.
É esse o pequeno laboratório que o “esquerdismo do Opus Dei pretende estender ao país, dando continuidade à privatização predadora dos dois mandatos de FHC? Não tenham dúvida, Alckmin se candidata à Presidência, mas sonha com o Vice-Reinado prometido pelas grandes corporações transacionais. Ah, paulicéia desvairada, quantos desvalidos produziria seu eventual retorno ao poder?
O governo Lula conviveu com três Comissões Parlamentares de Inquérito. Nunca se combateu tanto a corrupção como nos últimos três anos. As ações articuladas entre Polícia Federal, Controladoria Geral da União (CGU), Receita Federal e Ministério Público desbarataram 75 quadrilhas. Destas, apenas 9 começaram neste governo. Do restante, 61 começaram a agir no governo FHC.
Já o “apreço” à democracia de Geraldo Alckmin se expressa em 69 pedidos de CPIs abortados pelo ex-governador mediante a utilização de artifícios legais herdados da ditadura militar. Prezado cidadão, destas solicitações abafadas, 37 eram para investigar fraudes e casos de corrupção praticados diretamente pela administração estadual. Ah, paulicéia desvairada, sabemos desde o século XVII que a "hipocrisia é o tributo que vício paga à virtude". Eis uma reforma tributária que o moralismo udenista jamais irá propor. Nem como panacéia desvairada.
"Os caminhões rodando, as carroças rodando,
rápidas as ruas se desenrolando,
rumor surdo e rouco, estrépitos, estalidos...
E o largo coro de ouro das sacas de café!... (...)
Oh! este orgulho máximo de ser paulistanamente!!!"
(Mário de Andrade)
http://agenciacartamaior.uol.com.br/tem ... na_id=3336