O país não precisa de um terceiro turno
Enviado: 25 Out 2006, 18:04
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Essas eleições ocorrem sob o signo do confronto. Embora os atores envolvidos no pleito se movam no cenário político, onde a memória pode ser relativa e atende a conveniências políticas, o grau de radicalismo do pleito só é comparável às eleições de 1989, onde um candidato outsider, Fernando Collor de Mello, que não tinha nada a perder, promoveu uma guerra suja contra adversários, destruiu reputações e construiu uma vitória por cima dos escombros. O governo Collor mostrou que construir é mais difícil do que destruir.
Com essa história no passado recente, é normal que o país se aflija com declarações pouco prudentes de seus candidatos a presidente e de seus aliados. O processo eleitoral acaba no domingo, dia 29. Que na segunda, dia 30, não se inicie o terceiro turno. Como mostra o programa dos dois candidatos que, nas urnas, disputam a vaga presidencial pelos próximos quatro anos, os brasileiros acalentam uma expectativa, esta amplamente majoritária: o Brasil precisa crescer e tem pressa.
Louve-se o governador reeleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), que, embora na mesma trincheira eleitoral de Geraldo Alckmin, admite que, fechadas as urnas, o compromisso com o Brasil deve prevalecer. "As disputas existem, mas são circunstanciais e efêmeras. Qualquer que seja o resultado da eleição, e acho que com Geraldo isso seria mais fácil, temos uma agenda de um país a ser construído", afirmou, em entrevista ao Valor, publicada na edição de ontem ("Aécio lidera governadores para as reformas".
O bom senso do governador não tem correspondência no próprio candidato do partido. No programa "Roda Viva" exibido no domingo, Alckmin acenou com um terceiro turno, ao afirmar que a oposição não dará trégua ao governo, caso Lula vença as eleições. Embora com frases politicamente corretas - "Quem ganha governa, quem perde fiscaliza. Não querer que se fiscalize é não ter apreço pela democracia" -, sua afirmação reverberou ameaças do cardinalato tucano, o que, no mínimo, deixa o país inseguro sobre o clima político que regerá um provável próximo mandato do presidente Lula. O trabalho de fiscalização das oposições está sendo feito, de forma eficiente, nas instâncias competentes - dentro do Congresso, em uma profusão de CPIs que ocuparam todo o noticiário político pelo menos no último ano. Fora do Legislativo, o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça fazem o seu trabalho. As instituições brasileiras resistiram bravamente à crise política do último ano; a economia também. Todos cumprem o seu papel - e não se pode, em nenhum momento, acusar a PF, o Ministério Público ou mesmo a Corregedoria Geral da República de terem sido lenientes com o partido de Lula. Basta ver o número de petistas investigados e indiciados.
É preciso, no entanto, confiar nas instituições que resistem a crises e dar tempo a elas para que indiciem e julguem com segurança, sem deixar vítimas pelo caminho. Confiando nelas, é necessário que governo e oposição assumam a responsabilidade de dar tranqüilidade para o país produzir, reduzir suas desigualdades e encontrar o lugar que lhe cabe no cenário internacional.
Não ajudam declarações feitas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que chegou a comparar Lula a Hitler. Ele sabe que isso não é verdade. Também não ajuda o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, dizer que o PSDB usa "tática fascista" de incriminação de grupos. Ele também sabe que não é verdade. Não é bom, já na boca das urnas e com a perspectiva de vencer as eleições, o presidente Lula subir no palanque e alardear que a oposição deveria "rezar" para ele ganhar.
As eleições estão próximas e não é hora, ao contrário do que diz a lógica eleitoral, de subir o tom. Isso porque os ânimos já se exacerbaram antes do final do processo e deixaram muitas cicatrizes. Nem governo nem oposição, terão maioria parlamentar para governar. Ganhe Lula, ou ganhe Alckmin, será necessária uma negociação para fazer andar o país. Se não acontecer isso, o Brasil estará condenado a dar passos de tartaruga - e isso, em algum momento, virá a comprometer o que foi o bom saldo da última década: a estabilidade econômica e a redução das desigualdades sociais, ambas decorrentes de um processo que se iniciou nos governos tucanos de FHC e continua no governo Lula. Tucanos e petistas têm que preservar essa obra, que é conjunta.
Essas eleições ocorrem sob o signo do confronto. Embora os atores envolvidos no pleito se movam no cenário político, onde a memória pode ser relativa e atende a conveniências políticas, o grau de radicalismo do pleito só é comparável às eleições de 1989, onde um candidato outsider, Fernando Collor de Mello, que não tinha nada a perder, promoveu uma guerra suja contra adversários, destruiu reputações e construiu uma vitória por cima dos escombros. O governo Collor mostrou que construir é mais difícil do que destruir.
Com essa história no passado recente, é normal que o país se aflija com declarações pouco prudentes de seus candidatos a presidente e de seus aliados. O processo eleitoral acaba no domingo, dia 29. Que na segunda, dia 30, não se inicie o terceiro turno. Como mostra o programa dos dois candidatos que, nas urnas, disputam a vaga presidencial pelos próximos quatro anos, os brasileiros acalentam uma expectativa, esta amplamente majoritária: o Brasil precisa crescer e tem pressa.
Louve-se o governador reeleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), que, embora na mesma trincheira eleitoral de Geraldo Alckmin, admite que, fechadas as urnas, o compromisso com o Brasil deve prevalecer. "As disputas existem, mas são circunstanciais e efêmeras. Qualquer que seja o resultado da eleição, e acho que com Geraldo isso seria mais fácil, temos uma agenda de um país a ser construído", afirmou, em entrevista ao Valor, publicada na edição de ontem ("Aécio lidera governadores para as reformas".
O bom senso do governador não tem correspondência no próprio candidato do partido. No programa "Roda Viva" exibido no domingo, Alckmin acenou com um terceiro turno, ao afirmar que a oposição não dará trégua ao governo, caso Lula vença as eleições. Embora com frases politicamente corretas - "Quem ganha governa, quem perde fiscaliza. Não querer que se fiscalize é não ter apreço pela democracia" -, sua afirmação reverberou ameaças do cardinalato tucano, o que, no mínimo, deixa o país inseguro sobre o clima político que regerá um provável próximo mandato do presidente Lula. O trabalho de fiscalização das oposições está sendo feito, de forma eficiente, nas instâncias competentes - dentro do Congresso, em uma profusão de CPIs que ocuparam todo o noticiário político pelo menos no último ano. Fora do Legislativo, o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça fazem o seu trabalho. As instituições brasileiras resistiram bravamente à crise política do último ano; a economia também. Todos cumprem o seu papel - e não se pode, em nenhum momento, acusar a PF, o Ministério Público ou mesmo a Corregedoria Geral da República de terem sido lenientes com o partido de Lula. Basta ver o número de petistas investigados e indiciados.
É preciso, no entanto, confiar nas instituições que resistem a crises e dar tempo a elas para que indiciem e julguem com segurança, sem deixar vítimas pelo caminho. Confiando nelas, é necessário que governo e oposição assumam a responsabilidade de dar tranqüilidade para o país produzir, reduzir suas desigualdades e encontrar o lugar que lhe cabe no cenário internacional.
Não ajudam declarações feitas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que chegou a comparar Lula a Hitler. Ele sabe que isso não é verdade. Também não ajuda o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, dizer que o PSDB usa "tática fascista" de incriminação de grupos. Ele também sabe que não é verdade. Não é bom, já na boca das urnas e com a perspectiva de vencer as eleições, o presidente Lula subir no palanque e alardear que a oposição deveria "rezar" para ele ganhar.
As eleições estão próximas e não é hora, ao contrário do que diz a lógica eleitoral, de subir o tom. Isso porque os ânimos já se exacerbaram antes do final do processo e deixaram muitas cicatrizes. Nem governo nem oposição, terão maioria parlamentar para governar. Ganhe Lula, ou ganhe Alckmin, será necessária uma negociação para fazer andar o país. Se não acontecer isso, o Brasil estará condenado a dar passos de tartaruga - e isso, em algum momento, virá a comprometer o que foi o bom saldo da última década: a estabilidade econômica e a redução das desigualdades sociais, ambas decorrentes de um processo que se iniciou nos governos tucanos de FHC e continua no governo Lula. Tucanos e petistas têm que preservar essa obra, que é conjunta.