Milhões para o comunismo
Enviado: 02 Nov 2006, 14:46
El País
02/11/2006
Milhões para o comunismo
Um aposentado alemão doa sua herança para um pequeno partido maoísta-leninista
Cecilia Fleta
Se os pais de Michael May levantassem a cabeça e vissem o que seu filho fez com a herança que lhe deixaram, voltariam a morrer de desgosto. Quando Michael May, arquiteto aposentado de 57 anos, herdou depois da morte de sua mãe, há dois anos, decidiu fazer uma grande doação ao Partido Marxista-Leninista da Alemanha (MLPD na sigla em alemão).
Até hoje o MLPD, que tem apenas 2.300 afiliados e não é representado em nenhum Parlamento alemão, recebeu de May 2,5 milhões de euros, a maior soma já doada a um partido alemão desde a Segunda Guerra Mundial. "Meus pais não teriam gostado", ele reconhece. "Certamente teriam preferido que eu doasse para alguma organização de caridade", acrescenta. May defende sua decisão.
Depois de 25 anos trabalhando na mineração no vale do Ruhr, explica, chegou à conclusão de que o MLPD era o único que apoiava os trabalhadores. Hoje continua sua atividade política no partido e no sindicato da mineradora IG BCE, participando de todos os atos e manifestações.
May não era minerador. Era o arquiteto que elaborava os relatórios periciais dos danos que a extração nas minas provoca nos edifícios situados na superfície. Mas como funcionário da Deutsche Steinkohle AG, a empresa que explora todas as minas de carvão da Alemanha, fez causa comum com os mineradores.
Hoje, aposentado precocemente com um salário de 2 mil euros, ganha o suficiente para seus gastos e não precisa de luxos. Além de dinheiro, May herdou duas casas em Düsseldorf, uma das quais vendeu. A outra, um prédio de apartamentos alugados, continua sendo dele. Mesmo assim, mora de aluguel: paga 400 euros mensais por uma casa em um agradável bairro de casas de tijolo chamado Meerbeck. Conduz o mesmo Skoda Fabia que tem há anos e afirma que nem os luxos nem as grandes viagens atraem sua atenção. E quando viaja paga com sua aposentadoria.
"Não preciso de dinheiro. Meus pais me deram o suficiente: educação, estudos, uma formação intelectual para me valer na vida." Da mesma maneira, considera que sua filha de 29 anos teve todas as facilidades para estudar e garantir um futuro. A herança procede das poupanças de toda a vida de seu pai, arquiteto com escritório próprio em Düsseldorf.
Para Stefan Engel, presidente do MLPD, a doação de May não foi uma surpresa.
"Há mais de 20 anos ele disse que nos daria sua herança", afirma Engel em seu escritório na sede central do partido em Gelsenkirchen. Em fase de reorganização, o partido está montando novas sede em várias cidades do país e treinando pessoal para elas. A isso será dedicada a doação de May.
O MLPD é submetido à vigilância do Instituto Federal para a Proteção da Constituição (BfV), o serviço secreto interno alemão, devido à sua "orientação maoísta-stalinista" e sua incompatibilidade com a Constituição alemã. Para Michael May, o que não é compatível com a Constituição é o sistema atual, no qual as grandes empresas nadam em benefícios às custas de reduzir suas folhas de pagamentos. "Se a democracia é o sistema em que as massas decidem, então não é esse o nome que deveria receber esse sistema governado pelas grandes empresas e os bancos", denuncia.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
02/11/2006
Milhões para o comunismo
Um aposentado alemão doa sua herança para um pequeno partido maoísta-leninista
Cecilia Fleta
Se os pais de Michael May levantassem a cabeça e vissem o que seu filho fez com a herança que lhe deixaram, voltariam a morrer de desgosto. Quando Michael May, arquiteto aposentado de 57 anos, herdou depois da morte de sua mãe, há dois anos, decidiu fazer uma grande doação ao Partido Marxista-Leninista da Alemanha (MLPD na sigla em alemão).
Até hoje o MLPD, que tem apenas 2.300 afiliados e não é representado em nenhum Parlamento alemão, recebeu de May 2,5 milhões de euros, a maior soma já doada a um partido alemão desde a Segunda Guerra Mundial. "Meus pais não teriam gostado", ele reconhece. "Certamente teriam preferido que eu doasse para alguma organização de caridade", acrescenta. May defende sua decisão.
Depois de 25 anos trabalhando na mineração no vale do Ruhr, explica, chegou à conclusão de que o MLPD era o único que apoiava os trabalhadores. Hoje continua sua atividade política no partido e no sindicato da mineradora IG BCE, participando de todos os atos e manifestações.
May não era minerador. Era o arquiteto que elaborava os relatórios periciais dos danos que a extração nas minas provoca nos edifícios situados na superfície. Mas como funcionário da Deutsche Steinkohle AG, a empresa que explora todas as minas de carvão da Alemanha, fez causa comum com os mineradores.
Hoje, aposentado precocemente com um salário de 2 mil euros, ganha o suficiente para seus gastos e não precisa de luxos. Além de dinheiro, May herdou duas casas em Düsseldorf, uma das quais vendeu. A outra, um prédio de apartamentos alugados, continua sendo dele. Mesmo assim, mora de aluguel: paga 400 euros mensais por uma casa em um agradável bairro de casas de tijolo chamado Meerbeck. Conduz o mesmo Skoda Fabia que tem há anos e afirma que nem os luxos nem as grandes viagens atraem sua atenção. E quando viaja paga com sua aposentadoria.
"Não preciso de dinheiro. Meus pais me deram o suficiente: educação, estudos, uma formação intelectual para me valer na vida." Da mesma maneira, considera que sua filha de 29 anos teve todas as facilidades para estudar e garantir um futuro. A herança procede das poupanças de toda a vida de seu pai, arquiteto com escritório próprio em Düsseldorf.
Para Stefan Engel, presidente do MLPD, a doação de May não foi uma surpresa.
"Há mais de 20 anos ele disse que nos daria sua herança", afirma Engel em seu escritório na sede central do partido em Gelsenkirchen. Em fase de reorganização, o partido está montando novas sede em várias cidades do país e treinando pessoal para elas. A isso será dedicada a doação de May.
O MLPD é submetido à vigilância do Instituto Federal para a Proteção da Constituição (BfV), o serviço secreto interno alemão, devido à sua "orientação maoísta-stalinista" e sua incompatibilidade com a Constituição alemã. Para Michael May, o que não é compatível com a Constituição é o sistema atual, no qual as grandes empresas nadam em benefícios às custas de reduzir suas folhas de pagamentos. "Se a democracia é o sistema em que as massas decidem, então não é esse o nome que deveria receber esse sistema governado pelas grandes empresas e os bancos", denuncia.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves