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3 textos sobre a demencia cristã

Enviado: 05 Nov 2006, 10:50
por Steve
http://www.ateismo.net

vitimização
A ACLU (American Civil Liberties Union), uma organização que luta pela defesa dos direitos consagrados dos americanos, com especial ênfase nos últimos tempos na defesa da liberdade religiosa (que inclui para a ACLU a liberdade de não professar alguma religião), lançou mais uma campanha que lhe vai continuar a valer os epítetos de anti-cristianismo por parte dos claramente «perseguidos» e «discriminados» cristãos americanos!

De facto, depois da acção que resultou na retirada dos «Dez Mandamentos» das salas de tribunal em dois condados do Kentucky a ACLU tenta agora que nas salas dos tribunais da Carolina do Norte seja possível que as pessoas chamadas a depor o possam fazer sobre os livros sagrados das respectivas religiões. Baseados na legislação estadual que prevê que os depoimentos sejam precedidos de um juramento nas «Escrituras Sagradas». Já é permitido que os ateístas apenas afirmem que o seu depoimento é verdadeiro mas os testemunhos de quaisquer crentes são precedidos de juramentos com a mão assente na Bíblia.

Como seria de esperar, os maníacos da perseguição cristãos já se lamentam que a organização a que chamam Anti Catholic Liberties Union, esquecendo as vezes em que a ACLU saiu em defesa da sua confissão, pretende retirar referências históricas ao cristianismo. Certamente acrescentarão à sua (longa) lista de «perseguições» e alvos de ódio da organização, que já inclui os cristãos e os «Dez Mandamentos», um outro alvo, neste caso a Bíblia.

Esta mania de vitimização exibida pelos cristãos quando coarctados nas suas pretensões integristas e hegemónicas já enjoa mesmo! Mania omnipresente em todas as latitudes e em todas as variantes cristãs. Estou, por exemplo, a lembrar-me das carpiduras de anti-catolicismo em relação à decisão de vetar Rocco Buttiglione para uma posição na Comissão Europeia que lhe permitiria impor as políticas de homofobia e discriminação das mulheres tão queridas à hierarquia católica!




Presunção e água benta...
O Cardeal Renato Raffaele Martino, responsável máximo do Conselho pela Justiça e pela Paz do Vaticano, garante que há uma nova «Inquisição» anti-católica na Europa, adiantando, como exemplo, a campanha para impedir Rocco Butiglione de se tornar comissário europeu.

Foi esta nova Inquisição, nomeadamente o comité para as liberdades civis do Parlamento Europeu, que votou contra a candidatura de Buttiglione depois deste candidamente ter afirmado que a homossexualidade era um pecado e que o casamento existe apenas para que as mulheres tenham filhos e sejam protegidas pelos seus maridos. Afirmando uns dias depois que as mães solteiras não são boas pessoas.

Esta presunção do Vaticano de se achar perseguido quando os seus sequazes são democraticamente vetados para posições que lhes permitam impor as suas políticas de homofobia e discriminação das mulheres já enjoa!

Suponho que na sua vitimização autista os dignos eclesiásticos e seus prosélitos não se apercebam do tiro no pé que constitui a comparação de uma votação para um cargo numa instituição democrática com uma instituição absolutista que assassinou no decurso da sua tenebrosa existência muitas centenas de milhares de inocentes. Entre os quais exactamente os grupos que pretendiam continuar a discriminar: mulheres (estima-se entre seiscentos mil e nove milhões o número de «bruxas» queimadas na fogueira) e homossexuais!



Totalitaritarismo e vitimização: a invenção da cristofobia
Como já referi, as religiões alimentam-se de «mártires» e sem estes fenecem. Em particular a ICAR agita incessantemente a bandeira de supostas perseguições a cristãos, pois como afirmou Edward Novak, secretário da Congregação para as Causas dos Santos, «De um mártir» nascem «centenas, milhares» de novos fiéis. Isto é, para angariar clientela e inflamar os fundamentalistas é necessário inventar perseguições e glorificar os «mártires» que se «sacrificam» em nome de uma qualquer «causa» cristã, seja ela o aborto ou a Inquisição «anti-católica» que rejeitou Rocco Buttiglione.

O cúmulo do absurdo da cristianovitimização pode ser apreciado nas manobras e pressão exercidas pelo Vaticano para que seja aprovado um novo termo: a «cristianofobia».

Este termo recente foi rapidamente incorporado no léxico dos fundamentalistas que querem submeter todos aos ditames do Vaticano, com especial reprodução mediática após a publicação do livro «Política sem Deus. Europa e América, o cubo e a catedral» (Edições Cristandade), do teólogo católico George Weigel. De facto, desde a sua publicação que os fanáticos cristãos gritam «cristofobia» sempre que os poderes públicos não condescendem em transcrever na letra da lei os anacrónicos (e acéfalos) ditames da Igreja de Roma.

George Weigel, conhecido por ser o biógrafo de João Paulo II («Testemunho de esperança»), interroga-se sobre as razões que levam os intelectuais europeus a serem «cristianofóbicos» (sinónimo de laicos para os fundamentalistas católicos). Claro que a resposta óbvia é completamente ignorada e para conduzir os mais incautos à resposta convoluta e falsa que a ICAR pretende passar - e como subproduto alimentar a desconfiança em relação aos intelectuais de cuja influência perniciosa se devem afastar os «simples» cristãos - Weigel lança-se numa série de lucubrações erróneas.

Nomeadamente sobre a razão porque a «nata» da intelectualidade neste continente não reconhece que os males que assolaram (e assolam ) a Europa desde o início do século XX, proeminente entre esses males a II Guerra Mundial e concomitantemente o nazismo, se devem a uma «laicidade radical», ao «drama do humanismo ateísta», termo cunhado pelo jesuita Henri de Lubac no livro homónimo.

Lubac argumentava, na linha do revisionismo histórico Icariano, que a crise civilizacional que atravessou a Europa durante a II Guerra, isto é países católicos ou predominantemente católicos contra os aliados (países anglicanos, protestantes e ateus) se devia à rejeição de Deus em nome da liberdade humana. Na realidade, a série de posts (incompleta) sobre o que se passou na época revela como absurda a pretensão católica. Não foi a rejeição de Deus que motivou o Holocausto, Deus esteve presente em todos os discursos que convenceram os cristãos habitantes dos países do Eixo de que aquela era uma «guerra justa». «Guerras justas» que continuam a ser a praga anacrónica da modernidade.

A «guerra justa» movida pelo devoto teólogo é agora a desacreditação dos intelectuais europeus, incluindo católicos «liberais», que supostamente manifestam em elevado grau essa cristofobia porque assumem (correctamente) que o «único espaço público que garante o pluralismo, tolerância, civismo e democracia é um espaço público que é completamente ateu», isto é um espaço público laico, uma abominação aos olhos dos fundamentalistas cristãos.

Assim, Weigel identifica oito aspectos ou dimensões que, na opinião de Weigel, dissociam a «ética» cristã, especialmente na versão exegética do Vaticano, da ética expressa no direito da Europa, segundo ele comprometida com os direitos humanos, com a democracia e com o império da lei. Quais são então para o teólogo católico as 8 fontes de «cristofobia»?

Alguns das fontes identificadas são constatações de factos, históricos e político-sociais, embora com algumas omissões e distorções que pretendem conduzir um leitor menos esclarecido às conclusões (erradas) pretendidas, nomeadamente que todos os males do mundo advêm da rejeição de Deus da praça pública.

O ponto 1 é absolutamente certeiro e verdadeiro. Se abstrairmos o revisionismo histórico católico que persiste em lavar a História e tentar vender o nazismo como sinónimo de ateísmo, reproduzido em itálico, não podia estar mais de acordo com o teólogo:

1. [A primeira componente dessa cristofobia é] a experiência do Holocausto no século XX e a convicção que se tem em círculos intelectuais e políticos europeus de que as atrocidades genocidas da shoah foram consequência lógica do antijudaísmo cristão que atravessa a história europeia. Por conseguinte, uma Europa que grita «Nunca mais» ante a tragédia de Auschwitz e todas as outras, tem de dizer «Não!» à possibilidade de que o Cristianismo tenha algo a ver com uma Europa tolerante.

O ponto 4 é absolutamente cretino, isto é, o teólogo que esquece convenientemente quem deu o poder ou quem estava no poder nos países que se aliaram a Hitler e na própria Alemanha, carpe a «contínua quebra do papel dominante» dos «partidos políticos democrata-cristãos na Europa». Ou seja, para Weigel os eleitores que votam em outros partidos fazem-no não por razões políticas mas sim porque são «cristofóbicos».

Carpimento que continua na quinta dimensão em que Weigel considera cristofobia o facto de se «identificar o Cristianismo com a direita» e muitos descreverem a democracia cristã «como xenófoba, racista, intolerante, fanática, estreita de visão, de corte nacionalista e tudo o que Europa não deveria ser».

A sétima dimensão é um dos pontos, em conjunto com o primeiro, mais importantes da lista (porque revisonistas da História) já que neste ponto Weigel ulula contra os intelectuais que alimentam «uma visão distorcida da história europeia» que enraíza a «democracia no Iluminismo» raízes «que são as que alimentam o projecto democrático» e esquecem as raízes cristãs da «democracia na Europa cristã anterior ao Iluminismo». Não sei se o devoto católico inclui, como alguns dos nossos leitores, esse instrumento fundamental para a democracia (?) e tolerância cristãs medievais que foi a Inquisição...