Botanico escreveu:Steve escreveu:Apesar de o papa João Paulo II ter mostrado uma deferência ao Brasil ao canonizar a primeira santa brasileira, a Santa Paulina, e fazer três visitas ao país, isso não impediu um declínio considerável no número de católicos no país durante seu papado.
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Um detalhe: a tal Paulina aí NÃO ERA BRASILEIRA, apenas atuou no Brasil, mas, salvo engano, era italiana. O católico brasileiro ainda continua rezando para santo multinacional, como diz Chico Anísio.
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RELIGIÃO - Pedofilia afasta fiéis
Ullisses Campbell
Aumento de casos de exploração sexual envolvendo padres põe em alerta a Igreja Católica, que teme a evasão de devotos. Nos últimos 10 anos, rebanho diminuiu 11%, enquanto os evangélicos cresceram 70%
As recentes denúncias de pedofilia envolvendo padres preocupam a cúpula da Igreja Católica no Brasil. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) teme que haja uma evasão de fiéis em função dos escândalos de crimes sexuais praticados por sacerdotes. Na última semana, o padre Félix Barbosa Cordeiro, da paróquia de São Luís (MA), foi flagrado com quatro menores em um motel. Preso, ele assumiu o crime.
O preocupação da Igreja Católica não ocorre à toa. Números do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (Ceris), organismo da própria Igreja, revelam que o rebanho de fiéis católicos sofreu uma baixa de 11% nos últimos dez anos. Enquanto isso, a população evangélica deu um salto de 70% no mesmo período. Ainda assim, o Brasil ainda é o maior país católico do mundo.
Para o dom Anuar Battisti, coordenador da Comissão Episcopal dos Ministérios Ordenados da CNBB, as denúncias de pedofilia envolvendo padres fazem com que os fiéis católicos que já estão em dúvida quanto à permanência na Igreja Católica tomem a decisão de migrar para outras religiões. “Quem já está na ‘corda bamba’, larga o catolicismo e parte para as igrejas mais acolhedoras”, observa o bispo.
A empregada doméstica Maria Sandra Sousa, 29 anos, nasceu no Maranhão e foi batizada na Igreja Católica por um padre. Há um ano, entrou em depressão por uma série de razões pessoais e profissionais. Na época, disse para si mesma que só se curaria do mal com a ajuda de Deus. Maria procurou um padre, mas ela não levou fé na cura. “O padre é um homem muito distante da gente”, analisa. Carente de ajuda religiosa, a doméstica foi parar na Igreja Universal do Reino de Deus, onde se diz curada. “Já pensei em voltar para a Igreja Católica, mas com essas denúncias de padres que fazem sexo com crianças acabei mudando de idéia”, conta.
Suspeitos
Segundo documento do Vaticano, 1,5 mil dos 18 mil padres que atuam no Brasil estão sendo investigados por suspeita de crimes sexuais. A maioria é acusado de pedofilia. “Esse número é lamentável e nos entristece muito. Mas é preciso lembrar que não é o padre que faz a igreja”, ressalta dom Anuar. Para justificar a evasão de católicos, o bispo observa que os fiéis conscientes da verdadeira missão da igreja sabem que os escândalos de pedofilia são casos isolados. “Há homens casados que são pedófilos também”, compara.
O teólogo Rubert Mokazel acredita que os fiéis católicos partem para outras igrejas porque o padre é um ser reservado e muito distante no dia-a-dia. “Quando sai na imprensa um caso de pedofilia envolvendo padre, como o ocorrido no Maranhão, todos os fiéis ficam abalados. É como se a confiança depositada naquele homem que representa o Nosso Senhor fosse quebrada para sempre”, diz o teólogo, da Universidade Católica do Rio de Janeiro. Ele destaca ainda que a popularização da democracia e o avanço da liberdade religiosa também contam para o crescimento de outras religiões.
A dona-de-casa Antônia Maria Mendes, 37 anos, perdeu a confiança em padres. No início do ano, ela proibiu que seu filho, João Mendes da Silva, 9 anos, freqüentasse as aulas de catequese na Igreja Nossa Senhora de Lourdes, na Ceilândia. Apesar do conteúdo ser importante para a primeira comunhão, não houve acordo. “Nunca ouvi falar que o padre dessa igreja fosse pedófilo. Mas não quis arriscar”, diz a dona-de-casa. Há três meses, Antônia entrou na Igreja niversal. “Vim trazida por uma amiga, mas não sou fanática nem concordo com tudo o que os pastores pregam”, ressalta.
O bispo Anuar Battisti diz que a Ceris da CNBB investigou as causas que levam um fiel a deixar o catolicismo. Nesse estudo, descobriu-se que os fiéis que deixam a Igreja Católica não param em nenhuma religião. “São pessoas que mudam porque buscam coisas que a nossa igreja não oferece, como curas milagrosas e prosperidade imediata na vida. Como as igrejas evangélicas são bem menores, elas acabam sendo mais pessoais e agressivas na abordagem. Já a Igreja Católica é uma instituição grande e ainda sofre com falta de sacerdotes”, analisa o bispo.
Quanto ao escândalo dos padres pedófilos, dom Anuar explica aos fiéis que a Igreja Católica vai reforçar os testes e exames psicológicos que são feitos com os seminaristas que se preparam para o sacerdócio. A idéia é identificar desvios de conduta nos seminaristas ainda nos cursos de formação. “No fundo, entendo os fiéis que abandonam a igreja por causa desses escândalos. Numa situação como essa, prevalece o salmo 112 da Bíblia, que diz o seguinte: ‘maldito homem que confia no homem’”.
Entendo os fiéis que abandonam a igreja por causa desses escândalos
Dom Anuar Battisti, coordenador da Comissão Episcopal dos Ministérios Ordenados da CNBB
O número
1,5 mil é o número de padres envolvidos em casos de abuso sexual
* Praticantes em fuga
Como o número de católicos diminui no Brasil, à medida que o de evangélicos cresceu
Em 1940, católicos representavam 95,2% da população brasileira
Na década de 90, esse percentual caiu para 73,8%
Levando em conta o crescimento populacional, em uma década, a população de católicos caiu 11,9% no país
Já a população evangélica deu um salto de 70% em 10 anos, subindo de 9,05% em 1991, para 15,45% em 2001
Mesmo perdendo fiéis, a Igreja Católica continua soberana no país, com aproximadamente 125 milhões de adeptos
Atualmente, o Vaticano investiga no Brasil 1,5 mil padres suspeitos de envolvimento em crimes sexuais.
Por que a Igreja Católica perde seguidores:
Os escândalos envolvendo padres pedófilos, a popularização da democracia e o avanço da liberdade religiosa são apontados por especialistas como as principais razões para o crescimento de outras religiões.
A população de evangélicos avança porque seus líderes exploram, em cultos, os escândalos dos padres pedófilos. Além do mais, segundo estudiosos, as igrejas protestantes são mais acolhedoras em seus templos e dão mais assistência à camada mais pobre da população.
* Processo em andamento
O padre maranhense Félix Barbosa Carreiro, de 43 anos, deve ser indiciado por exploração sexual comercial de menores. De acordo com a delegada Ana Karla Silvestre, que está a frente da investigação, esse enquadramento foi escolhido por ser bastante abrangente. “Ouvimos 24 vítimas e detectamos que ele cometeu vários crimes. Porém, o enquadramento de exploração sexual comercial abarca todos os demais”, afirma. Alguns dos jovens que depuseram já não são mais adolescentes, mas sofreram abusos antes de completar 18 anos e também deverão constar no inquérito como vítimas.
O inquérito, que deve ser concluído antes de sexta-feira, será encaminhado à 2ª Vara Criminal de São Luís, que é especializada em crimes contra a criança e adolescente. A partir daí, os documentos vão para o Ministério Público, que terá cinco dias para formular uma denúncia contra Carreiro. O religioso foi preso na madrugada do último dia 5 em um motel de São Luís, na companhia de quatro jovens, sendo que dois deles eram adolescentes – um de 14 e outro de 17 anos. De acordo com as investigações, o padre esteve pelo menos 50 vezes no motel onde foi preso e pagava aos adolescentes aliciados uma quantia que variava entre R$ 20 e R$ 200. O pagamento era feito em dinheiro ou na forma de presentes, como roupas e ingressos para shows.
Antes de ser preso, Carreiro já havia sido investigado pelo MP por causa de denúncias de abuso sexual contra adolescentes em uma outra paróquia de São Luís. Na ocasião, o caso foi arquivado por falta de provas e o padre, transferido para a paróquia onde estava lotado até ser flagrado pela polícia. O arcebispo emérito de São Luís e administrador arquidiocesano, dom Paulo Ponte, admitiu que sabia da conduta inadequada de Carreiro. Segundo ele, na época da investigação do MP o religioso foi submetido a tratamento psicológico.
A conclusão do inquérito policial sobre o padre Félix Barbosa Carreiro não põe fim às investigações sobre a conduta sexual de outros padres de São Luís. O superintendente de Polícia Civil da capital, Marcos Afonso Júnior, disse que as informações sobre novos fatos ligados à exploração sexual de menores por padres serão investigadas em um outro inquérito. “A delegada vai pedir o desmembramento da investigação em outro inquérito”, disse o delegado.